sábado, 29 de abril de 2017

Dom Tomás, sua luta continua!


No dia 2 de maio fazemos a memória, ou seja, tornamos presente a Páscoa - plena e definitiva - de Dom Tomás Balduino. O nosso irmão Tomás - frade dominicano e bispo emérito de Goiás - há três anos “completou sua Páscoa”: passagem da morte - e tudo o que a morte significa - para a vida, vida nova em Cristo, vida segundo o Espírito de Deus. O grito que mais ouvimos na Páscoa do nosso irmão e que hoje - como “profetas da vida” - repetimos, é: Tomás vive entre nós!
Dom Tomás - homem profundamente humano e evangélico - doou sua vida a serviço dos Pobres, da Justiça e dos Direitos Humanos. Entre as muitas causas que ele defendeu, destaco três: a de uma Igreja Renovada e Libertadora, a da Reforma Agrária Popular e a dos Povos Indígenas.
A respeito da primeira causa, Tomás - à luz do Concílio Ecumênico Vaticano II e de Medellín - sonhou com uma Igreja renovada, libertadora e realmente evangélica; com uma Igreja Povo de Deus e toda ministerial; com uma Igreja Comunhão; com uma Igreja pobre, para os pobres, com os pobres e dos pobres; com um jeito novo e, ao mesmo tempo, antigo de ser Igreja; com uma Igreja de Comunidades de Base (como as primeiras Comunidades Cristãs); com uma Igreja na qual “a Comunidade de Base é a célula inicial da estrutura eclesial” (Medellín, XV,10) e “a Paróquia é um conjunto pastoral unificador das Comunidades de Base” (Ib. 13).
È este o retrato da Igreja que o Concílio e Medellín (que encarna o Concílio na América Latina e Caribe) sonharam. É este o retrato da Igreja que Tomás sonhou. Não é este também o retrato da Igreja que Jesus de Nazaré - que foi “morador de rua”, antes de nascer e nasceu como “sem-teto” - sonhou e quis?   
A respeito da segunda causa - a Reforma Agrária Popular - Tomás sempre foi solidário e deu total apoio aos trabalhadores e trabalhadoras que lutavam pelo direito à terra - terra de trabalho e terra de moradia - e pelo direito a uma agricultura familiar e comunitária agroecológica.
“A atuação de Tomás, ao lado dos pobres, no espírito da opção pelos pobres, marcou profundamente a Diocese de Goiás e seu povo. Lavradores se reuniam no Centro de Treinamento onde Dom Tomás morava, para definir suas formas de organização e suas estratégias de luta. Esta atuação provocou a ira do Governo militar e dos latifundiários que perseguiram e assassinaram algumas lideranças dos trabalhadores. Em julho de 1976, Dom Tomás foi ao sepultamento do Padre Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo, assassinados pelos jagunços, na aldeia de Merure, Mato Grosso. Em sua agenda estava programada uma outra atividade. Soube depois, por um jornalista, que durante esta atividade programada, estava sendo preparada uma emboscada para eliminá-lo” (CPT Nacional. Nota de falecimento - Dom Tomás Balduino, fundador da CPT, fez a sua Páscoa, 03/05/14).
A respeito da terceira causa - a dos Povos Indígenas - Tomás sempre lutou pela demarcação das terras dos Povos Indígenas, pela valorização de sua cultura, de suas tradições e do seu jeito comunitário de viver, que é a sociedade do “bem-viver” e “bem-conviver”, sinal concreto do Reino de Deus.
Neste breve testemunho sobre a missão e a vida do nosso irmão Tomás, não podia deixar de lembrar que ele “foi personagem fundamental no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975.  Nas duas Instituições Dom Tomás sempre teve atuação destacada, tendo sido presidente do CIMI, de 1980 a 1984 e presidente da CPT de 1999 a 2005. A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente” (CPT Nacional, Ib.).
Em sua memória, Tomás, queremos - com indignação profética - denunciar o massacre de Colniza, manifestar o nosso mais veemente repúdio e prestar a nossa total solidariedade às famílias enlutadas. 9 homens (Sebastião Ferreira de Souza, Izaul Brito dos Santos, Ezequias Santos de Oliveira, Edson Alves Antunes, Valmir Rangeu do Nascimento, Samuel Antônio da Cunha, Francisco Chaves da Silva, Fabio Rodrigues dos Santos, e Aldo Aparecido Carlini), trabalhadores rurais e pais de família, foram assassinados na quarta-feira, dia 19 deste mês, na Gleba Taquaruçu do Norte, localizada no município de Colniza, região noroeste de Mato Grosso.
Trata-se, mais uma vez, de uma barbárie - praticada pelos poderosos do agronegócio em nome da ganância e do deus dinheiro - que não pode ficar impune!
Também em sua memória, Tomás, as Entidades: Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, Comissão Pastoral da Terra CPT - Regional Goiás, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, Conferência dos Religiosos do Brasil - CRB/Goiânia e Fraternidade da Anunciação programaram a 3ª Semana Dom Tomás Balduino, que acontecerá nos dias 4 e 5 de maio próximo, em Goiânia - GO.
Segundo as Entidades, a Semana contará com dois momentos principais. “Na quinta-feira, dia 4, no espaço do Centro Cultural Cara Vídeo, à rua 83, n° 361 (Setor Sul), às 19 horas, haverá uma Celebração em que a  figura, a história, as causas e a ousadia de Dom Tomás serão trazidas à memória com o objetivo de alimentar as lutas do dia hoje. Na sexta-feira, dia 5, às 19 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFG, na Praça Universitária (Setor Universitário), será realizado um grande ato em que a realidade do momento presente será debatida, à luz do legado de Dom Tomás. Quem vai provocar para uma reflexão sobre a atual conjuntura, será uma das maiores lideranças do MST, João Pedro Stédile”.
Neste ato “será dado o informe sobre uma Grande Marcha a Brasília dos Sem-Terra e dos demais movimentos camponeses, nos próximos meses, exigindo respeito aos direitos adquiridos e denunciando os violentos ataques perpetrados pela bancada ruralista, sustentáculo do ilegítimo Governo Temer, contra os direitos de indígenas, quilombolas e demais comunidades camponesas”
Participe! Sua presença faz a diferença!
Dom Tomás, sua luta continua! 







Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 26 de abril de 2017

segunda-feira, 24 de abril de 2017

V Seminário Povos de Rua Equidade Social: Garantia de Direitos e Políticas Públicas



Precisamos “ouvir a rua”, “garantir a voz da rua ao invés de discursos”
(Relatório da 3ª Reunião de preparação do V Seminário, 2 de fevereiro/17)

De 26 a 28 de abril deste ano acontecerá em Goiânia o V Seminário “Povos de Rua. Equidade Social: Garantia de Direitos e Políticas Públicas”. Dia 26 e 27, na Praça do Trabalhador, com atividades que iniciam às 13h e terminam às 18h aproximadamente; dia 28, no Auditório Jaime Câmara (Câmara Municipal de Goiânia), com atividades que iniciam às 7:30h e terminam às 17h aproximadamente.
O Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) - que, em conjunto com a Defensoria Pública do Estado de Goiás, coordena a preparação e realização do Seminário - “é fruto da crescente indignação, violência e negação de direitos a que este público está submetido no Brasil. Seu (in)surgimento ocorreu no início dos anos 2000 como resposta a diversos episódios de violência, chacinas, torturas, promovidas contra a População Moradora de Rua”.
O MNPR-GO “é resultado de articulações, organização, sensibilização e mobilização das pessoas moradoras de rua, que tiveram e/ou têm uma trajetória de rua, em parceria com o Ministério Público de Goiás, Coordenação de Promoção de Equidade em Saúde do Estado de Goiás, Coletivo Liberdade, Centro de Referência em Direitos Humanos Padre Burnier, trabalhadoras e trabalhadores de várias instituições públicas e da sociedade civil organizada que atuam direta ou indiretamente com essa população. As articulações tiveram início no final do ano de 2012, após uma série de assassinatos de pessoas moradoras de rua na Região Metropolitana de Goiânia”.
A partir de 2014 - fortalecido pela Defensoria Pública do Estado de Goiás - o MNPR-GO, “que luta pela concretização dos direitos sociais na vida das pessoas moradoras de rua, percebeu a necessidade de criar estratégias diferenciadas e articulações que priorizassem a organização e participação social como instrumentos de promoção da cidadania dessa população”, construindo coletivamente “alternativas às iniquidades sociais a que está submetida”.
Os objetivos do V Seminário são:
  1. “Discutir questões essências concernentes à parcela da população que faz das ruas seu espaço principal de sobrevivência e trazer estratégias para combater as injustiças sociais praticadas contra estas pessoas, pauperizadas e estigmatizadas, buscando coletivamente alternativas, ações e formas de atuação junto à sociedade - goianiense e goiana - e à gestão pública, para garantia de seus direitos”.
  2. Sensibilizar a sociedade - goianiense e goiana - e o Poder Público para a responsabilidade de todas e todos na construção de perspectivas para a população moradora de rua.
  3. Potencializar e qualificar a atenção (social, educacional, profissional, de saúde, cultural, esportiva, etc.) à população moradora de rua, por meio da aproximação, escuta, diálogo, problematização e articulação entre atores sociais, comunitários e agentes do poder público que trabalham com essas populações” (Folder: V Seminário Povos de Rua).
Faço agora algumas reflexões sobre o tema do V Seminário. Equidade social é “um conjunto de práticas que pretende derrubar todas as barreiras sociais, culturais, econômicas e políticas que impliquem em exclusão ou desigualdade” (https://conceitos.com/equidade-social/).
Garantia de Direitos é “a articulação e a integração de instituições e instâncias do Poder Público na aplicação de mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos da criança e do adolescente, nos níveis federal, estadual, distrital e municipal, efetivando as normativas do Estatuto da Criança e Adolescente” (ECA, 1990) (http://educacaointegral.org.br/glossario/sistema-de-garantia-de-direitos/).
"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (Emenda Constitucional Nº 65, Art. 227, 2010).
Políticas públicas são “conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado diretamente ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que visam assegurar determinado direito de cidadania, de forma difusa ou para determinado seguimento social, cultural, étnico ou econômico. As políticas públicas correspondem a direitos assegurados constitucionalmente ou que se afirmam graças ao reconhecimento por parte da sociedade e/ou pelos poderes públicos enquanto novos direitos das pessoas, comunidades, coisas ou outros bens materiais ou imateriais”   
Ao menos nas palavras, o ideal é muito bonito. Pergunto: na sociedade capitalista em que vivemos - estruturalmente desigual, desumana, injusta e antiética - é possível viver esse ideal de Equidade Social, Garantia de Direitos e Políticas Públicas? Como sabemos, a história é dialética (ou seja, contraditória). E é nas contradições históricas que abrimos caminhos para a mudança de estruturas e outro Brasil possível.
Contudo, vale o alerta: “A misericórdia (leiam: a assistência e promoção social, as obras e programas sociais) sempre será necessária, mas não deve contribuir para criar círculos viciosos que sejam funcionais para um sistema econômico iníquo. Requer-se que as obras de misericórdia sejam acompanhadas pela busca da verdadeira justiça social” (Documento de Aparecida - DA, 385). Vamos à luta!
O Papa Francisco lembra-nos que “os pobres não estão esperando de braços cruzados a ajuda de ONGs, planos assistenciais ou soluções que nunca chegam ou, se chegam, chegam de maneira que vão em uma direção ou de anestesiar ou de domesticar. Isso é meio perigoso”. E ainda - dirigindo-se aos Movimentos Populares - afirma: “Vocês sentem que os pobres já não esperam e querem ser protagonistas, se organizam, estudam, trabalham, reivindicam e, sobretudo, praticam essa solidariedade tão especial que existe entre os que sofrem, entre os pobres, e que a nossa civilização parece ter esquecido ou, ao menos, tem muita vontade de esquecer”.  
De fato - continua Francisco - “a solidariedade é muito mais que alguns atos de generosidade esporádicos. É pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. Também é lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra, de moradia, a negação dos direitos sociais e trabalhistas”.
“A solidariedade, entendida em seu sentido mais profundo, é um modo de fazer história e é isso que os Movimentos Populares fazem”. O Papa faz um apelo: “Queremos que se ouça a sua voz, que em geral se escuta pouco. Talvez porque incomoda, talvez porque o seu grito incomoda, talvez porque se tem medo da mudança que vocês reivindicam, mas sem ir às periferias, as boas propostas e projetos, que frequentemente ouvimos nas conferências internacionais, ficam no reino da ideia, é mero projeto”.
Francisco desmascara a hipocrisia da sociedade: “Hoje vivemos em imensas cidades que se mostram modernas, orgulhosas e até vaidosas. Cidades que oferecem inúmeros prazeres e bem-estar para uma minoria feliz... mas nega-se o teto a milhares de vizinhos e irmãos nossos, inclusive crianças, e eles são chamados, elegantemente, de ‘pessoas em situação de rua’”.
E acrescenta: “È curioso como no mundo das injustiças abundam os eufemismos. Não se dizem as palavras com toda a clareza, e busca-se a realidade no eufemismo. Uma pessoa segregada, uma pessoa apartada, uma pessoa que está sofrendo a miséria, a fome, é uma pessoa em situação de rua: palavra elegante, não? (...) Em geral, por trás de um eufemismo há um crime”.
O Papa denuncia também a crueldade - que é fruto da ganância pelo deus dinheiro - das grandes cidades: “Vivemos em cidades que constroem torres, centros comerciais, fazem negócios imobiliários... mas abandonam uma parte de si nas margens, nas periferias. Como dói escutar que as Ocupações pobres são marginalizadas ou, pior, quer-se erradicá-las! São cruéis as imagens dos despejos forçados, dos tratores derrubando barracos, imagens tão parecidas às da guerra. E isso se vê hoje”. (Discurso do Papa Francisco. 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Roma, 27-29/10/14). Meditemos as palavras do nosso irmão Francisco!
Participemos do Seminário Povos de Rua e - dia 28 - também da Greve Geral Nacional contra as Reformas (ou melhor, Antirreformas) da Previdência, Trabalhista e a Lei da Terceirização: uma maldade diabólica que clama diante de Deus.




Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 19 de abril de 2017

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Páscoa: Passagem das “Reformas da Morte” para as “Reformas da Vida”


Páscoa é Passagem da Morte para a Vida: vida nova em Cristo, vida de ressuscitados e ressuscitadas, vida de irmãos e irmãs, vida de igualdade, vida de justiça e paz, vida de solidariedade, vida de amor. Páscoa é vitória da vida sobre a morte e tudo o que a morte significa.
Todos e todas que nas diferentes situações de morte (de não-vida) lutamos pela vida - vida humana e todas as formas de vida - fazemos a Páscoa acontecer na história do ser humano e do mundo.
“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). “Sabemos que a criação toda geme até agora e sofre dores de parto” (Rm 22,8). O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15).  
No Brasil - que é um dos países mais desiguais do mundo - o Governo ilegítimo do golpista Michel Temer e o Congresso Nacional, em sua maioria a serviço dos detentores do poder econômico e envolvido em graves esquemas de corrupção, pretendem - com as Reformas (ou melhor, Contrarreformas) da Previdência e Trabalhista e a Lei da Terceirização - aprofundar sempre mais o abismo entre ricos e pobres, institucionalizá-lo e legaliza-lo, cortando direitos dos trabalhadores/as, conquistados a duras penas e com muita luta. Essas Reformas são na realidade “Reformas da Morte”, obras do deus dinheiro e de seus agentes adoradores.
É impressionante ver a insensibilidade e a frieza com que esses agentes adoradores do deus dinheiro - verdadeiros idolatras - defendem as “Reformas da Morte”. A respeito, por exemplo, da Terceirização, vejam a cara de pau do golpista Michel Temer: “Mesmo com a greve geral articulada pelas maiores Centrais Sindicais para 28 de abril, Michel Temer elogia processo de aprovação da nova Lei” (O Popular, 11/04/17, p.6). É incrível!  
“Este Governo - como diz a senadora Gleisi Hoffmann - abriu as portas do inferno. Soltou sobre o povo os demônios das Reformas da Previdência, Trabalhista e da Terceirização” (Folha de S. Paulo, 29/03/17, p. A4).
O Comitê Goiano contra as Reformas da Previdência e Trabalhista e a Lei da Terceirização (formado por Centrais Sindicais, Movimentos Populares e outras Entidades), no Folheto “Reaja! Dia 28/04 a classe trabalhadora vai parar o Brasil”, nos ajuda a entender porque essas medidas são injustas.
A Reforma da Previdência é injusta porque:
  1.  “Não propõe receber as dívidas bilionárias das grandes empresas devedoras do sistema previdenciário (JBS, Itaú, Bradesco, etc.).
  2.  Não vai combater a sonegação de impostos pelas grandes empresas.
  3.  Não vai tributar as grandes fortunas.
  4.  Apenas a classe trabalhadora é sacrificada, mais uma vez.
  5.  Não vai auditar as contas da Previdência.
  6.  Vai continuar destinando receitas da Seguridade Social para outros fins”.
A Reforma Trabalhista é injusta porque:
  1.  “Desregulamenta direitos e regulamenta restrições.
  2.  Vai acabar com a Justiça e o Direito do Trabalho.
  3.  Patrões e empregados promoverão negociações à revelia da legislação trabalhista.
  4. Sem legislação trabalhista, a primeira consequência será a redução drástica de salário. E quanto menores os salários, menores serão também os benefícios previdenciários, aposentadorias e pensões.
  5. Haverá jornada de trabalho intermitente, com o trabalhador ficando inteiramente à disposição do patrão e recebendo pagamento apenas pelas horar trabalhadas.
  6. Haverá também contratos temporários com validade de 180 dias.
  7.  Haverá ainda demissões mais baratas, com redução da multa do FGTS”.
A Lei da Terceirização (aprovada pela Câmara dos Deputados em 22 de março e sancionada pelo golpista Michel Temer em 31 do mesmo mês) é injusta porque:
  1. “Baixa salários e gera instabilidade de emprego. Os terceirizados ganham, em média, 30% a menos que os empregados diretos.
  2. As condições de trabalho similares à escravidão podem aumentar. A mão de obra terceirizada é usada pelo empregador para fugir de suas responsabilidades trabalhistas.
  3.  Um terceirizado trabalha, em média de horas, 3 horas semanais a mais que os trabalhadores diretamente contratados.
  4.  Prejudica a saúde e a segurança do trabalhador. Nos últimos anos, nada menos que 80% dos acidentes de trabalho no Brasil ocorreram com trabalhadores terceirizados.
  5.  A responsabilização patronal fica mais difícil”.
Todos e todas que queremos um outro Brasil possível, mais humano e mais justo, precisamos com urgência nos unir na luta para fazer acontecer a Páscoa (a Passagem) das “Reformas da Morte” (uma verdadeira iniquidade diabólica) para as “Reformas da Vida”
No dia 28 de abril vamos parar o Brasil com Greve Geral, mostrando aos que se consideram donos absolutos desse “sistema econômico iníquo” que o Povo unido jamais será vencido. O Povo no poder!
“Vitória! Tu reinarás! Ó Cruz, Tu nos salvarás! Brilhante sobre o mundo, que vive sem Tua Luz, Tu és um sol fecundo de amor e de paz, ó Cruz!”.
Feliz Páscoa, Feliz Passagem das “Reformas da Morte” para as “Reformas da Vida”!  








Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 12 de abril de 2017

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Estratégias comuns em todas as linhas de ação dos Movimentos Populares (5ª e última parte)



Continuo apresentando (é a última parte) as estratégias comuns em todas as linhas de ação dos Movimentos Populares sobre os temas debatidos no 3º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (3º EMMP).
Sobre Migração e Refugiados, os Movimentos Populares chegam às seguintes conclusões: “O problema da migração compreende duas dimensões principais, a econômica e a social. O cenário de crise global que estamos vivendo no século XXI, como expressou Francisco, cumpre o objetivo de maximizar o lucro das multinacionais que governam o mundo (reparem: que governam o mundo!) e causam o saque e a espoliação dos bens comuns. Quantos se encontram na impossibilidade de acesso à terra, à casa (moradia) e ao trabalho se veem obrigados a emigrar, a buscar refúgio em outras terras, procurando um lugar para viver uma vida digna. A migração é um ato de desumanização: os deslocados por causa das guerras e dos desastres ambientais, ou por motivos econômicos sofrem a perseguição, a discriminação e a criminalização por parte das autoridades dos países de destinação. A imigração traz consigo problemas como o tráfico, a prostituição e o narcotráfico, em que os poderosos abusam dos que são totalmente indefesos”.
Os Movimentos Populares propõem-se a:

  1. “Exigir dos Estados e dos governos a aplicação do Plano de Ação do Decênio Internacional dos Afrodescendentes 2015-2024, aprovado pelas Nações Unidas.
  2. Reivindicar a existência de uma cidadania universal, que enfraqueça as fronteiras e estabeleça uma política migratória inclusiva, instando os Estados a assegurarem novos lugares de acolhida que respeitem os direitos dos migrantes e dos deslocados internos e a criar mecanismos de acesso à casa, ao trabalho, à saúde e educação das crianças.
  3. Criar um observatório que permita classificar atores e características dos fatos de violência em todas as regiões e países do mundo.
  4. Criar tribunais internacionais de opinião em grau de impor penalidades de natureza ética e simbólica para criar consciência em nível internacional.
  5. Criar um fundo econômico mundial no quadro das Nações Unidas que permita uma intervenção imediata diante de situações de risco que possam provocar migrações e deslocamentos da população, como terremotos, furacões, ciclones e epidemias.
  6. Reafirmar o direito à autodeterminação dos povos e das nações de viverem em paz em seus territórios.
  7. Exigir o reconhecimento internacional dos migrantes e dos deslocados por razões econômicas sob o status de ‘refugiados’, expressando uma profunda rejeição dos ‘campos de refugiados’, como lugares de profunda marginalização e propondo a construção de locais de integração, convivência e diálogo onde se respeite a dignidade das pessoas, promovendo a cultura do encontro (reparem: a cultura do encontro!)”.
Em síntese, as estratégias comuns sobre Migração e Refugiados são: as ações em favor: do Plano de Ação do Decênio Internacional dos Afrodescendentes 2015-2024, de uma cidadania universal, de um observatório dos fatos de violência em todas as regiões e países do mundo, de tribunais internacionais de opinião, de um fundo econômico mundial no quadro das Nações Unidas, do direito à autodeterminação dos povos e das nações, e do reconhecimento internacional dos migrantes e dos deslocados por razões econômicas como “refugiados”.
Concluindo, as estratégias comuns em todas as linhas de ação dos Movimentos Populares são ferramentas que os Movimentos usam para avançarem sempre mais em sua luta por um mundo mais justo e mais igualitário.
Termino essa série de artigos convencido que os dois Documentos finais do 3º EMMP “Propostas de ação transformadora” e “Estratégias comuns em todas as linhas de ação” (Síntese dos trabalhos de grupos) são um roteiro de um programa político de governo.
Oxalá, os Movimentos Populares, as Centrais de Movimentos Populares, os Sindicatos de Trabalhadores/as, as Centrais Sindicais de Trabalhadores/as e os Partidos Políticos Populares do Brasil (unidos nas diferenças) elaborassem - a partir de suas bases e à luz dessas Propostas e Estratégias - um programa político de governo possível!
Oxalá (depois de elaborado o programa), escolhessem, entre eles e elas, um candidato ou candidata à Presidente em 2018, que assumisse esse programa e - organicamente ligado a todas as Organizações Populares e seus aliados/as - se comprometesse a cumpri-lo!
Permito-me sonhar! Quem sabe, o sonho se torne realidade! A esperança nunca morre!






Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 05 de abril de 2017