sábado, 21 de dezembro de 2019

O Natal de Jesus tem lado


O Natal - e toda a vida de Jesus - tem lado, o dos pobres: os oprimidos, os excluídos, os descartados e todos aqueles e aquelas que - na sociedade - não têm voz e vez. Desde o nascimento até a morte na cruz. Jesus sempre se identificou e solidarizou com os pobres. 
Ainda no seio de sua mãe Maria, Jesus foi “morador de rua”. Para cumprir o decreto de recenseamento, ordenado pelo imperador Augusto, “José, que era da família e descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida” (Lc 2,4-5). Maria - antes de encontrar um estábulo para dar à luz - deve ter perambulado e dormido, com seu esposo José, nas ruas de Belém.
    Jesus nasceu como “sem-teto”. Enquanto Maria e José estavam em Belém, “completaram-se os dias para o parto. Ela deu à luz seu filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles dentro da casa” (Ib. 2,6-7).
     Jesus anunciou a Boa Notícia do seu nascimento aos “sem-terra”, os pastores de ovelhas da época, malvistos e desprezados pelos poderosos, porque ocupavam os campos com seus rebanhos. O mensageiro de Deus disse aos pastores: “Não tenhais medo! Porque eis que lhes anuncio a Boa Notícia, uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias e Senhor” (Ib. 2,10-11).
     Jesus foi “migrante e refugiado” no Egito por causa da ganância de Herodes que queria matá-lo. O mensageiro de Deus falou em sonho a José: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito. Fique aí até que eu lhe avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo. Ele se levantou, e de noite pegou o menino e a mãe dele, e foi para o Egito. E aí ficou até a morte de Herodes” (Mt. 2,13-15).
    Jesus foi “carpinteiro” com seu pai José. A respeito de Jesus, as pessoas diziam: “De onde vêm essa sabedoria e esses milagres? Esse homem não é o filho do carpinteiro?” (Ib. 13,54-55). “Esse homem não é o carpinteiro?” (Mc 6,3).
Em sua vida pública - anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus - Jesus foi sempre próximo e entranhadamente solidário com os pobres. Entre os muitos exemplos que poderíamos lembrar, cito o do homem com a mão direita seca. “Jesus disse ao homem: ‘Levante-se e fique no meio’. ‘Estenda a mão’. O homem assim o fez e sua mão ficou boa” (Lc 6,8.10).
Jesus denunciou - cheio de indignação - a hipocrisia dos fariseus e doutores da Lei. “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23,27-28).
Depois de celebrar a última Ceia com os discípulos e lavar seus pés, Jesus foi preso e acusado de “subverter” o povo. “Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc 23,2). Em seguida, foi morto na cruz como criminoso. “Jesus deu um forte grito: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito’. Dizendo isso, espirou” (Ib. 23,46).
Jesus - o Libertador, o Salvador, o Filho de Deus - ressuscitou dos mortos. Às mulheres, angustiadas por não ter encontrado o corpo de Jesus no túmulo, os mensageiros de Deus disseram: “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou!’” (Ib. 24,5-6).
Jesus Ressuscitado enviou o Espírito Santo aos discípulos. “Ele lhes disse: ‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês’. Tendo falado isso, soprou sobre eles, dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20,21-22).
Jesus Ressuscitado continua vivo na Comunidade dos seus seguidores e seguidoras. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles” (Mt 18,20). “Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Ib. 28,20).
Por fim, pergunto: hoje, onde vai ser o Natal de Jesus? Com certeza, ele não vai ser nos palácios dos poderosos - opressores do povo - e nem nas Igrejas luxuosas e cheias de ouro. O Natal de Jesus vai ser nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nos Movimentos Populares, Sindicais e Políticos (entre outros), que - com garra, coragem e muita fé - lutam pela vida. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Neste ano, um dos lugares do Natal de Jesus é, sem dúvida nenhuma, a “Ocupação Alto da Boa Vista” em Aparecida de Goiânia - GO, cujos moradores - que lutam unidos pelo direito à moradia - são ameaçados de despejo iminente. Juízes e juízas, cuidado! Não deem liminares de reintegração de posse injustas, iníquas e cruéis, mesmo que sejam legais! Com essas liminares, vocês mandam despejar Jesus na pessoa dos pobres! Lembrem-se: a justiça de Deus demora, mas não falha!
Que o Natal 2019 seja feliz e renove a nossa esperança! Que o lado de Jesus seja sempre o nosso lado! E que o Ano 2020 seja de muita luta por um Mundo Novo. (Se Deus quiser, voltarei a escrever em fevereiro próximo) 

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 17 de dezembro de 2019

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Alerta de Tsunami iminente - A revolução digital que vem Livro-Agenda Latino-americana Mundial 2020


O “Livro-Agenda Latino-americana Mundial” é “o livro latino-americano mais difundido, cada ano, dentro e fora do Continente”. Ele é “sinal de comunhão continental e mundial entre as pessoas e as comunidades que vibram e se comprometem com as Grandes Causas da Pátria Grande, como resposta aos desafios da Pátria Maior” (pág. 1).
Este Livro-Agenda, “além do uso pessoal, pretende ser um instrumento pedagógico para comunicadores, educadores populares, agentes de pastoral, animadores de grupos, militantes...”.
Ele “é regido por um ‘ecumenismo (e macro ecumenismo) de soma’ e não ‘de subtração’” (pág. 9).
O tema do “Livro-Agenda Latino-americana Mundial 2020” é: Alerta de Tsunami iminente - A revolução digital que vem. O método (caminho) seguido é sempre “ver-discernir-agir” (“analisar-interpretar-libertar”).
Para nos ajudar no estudo e aprofundamento do tema, o Livro-Agenda disponibiliza 46 bons textos: 16 no Ver, 14 no Discernir e 16 no Agir (cf. pág. 6 - Índice). Leiamos! Vale muito a pena!
Na “Introdução fraternal”, José Maria Vigil e Pedro Casaldáliga afirmam: “Sim, é um aviso para navegadores: um tsunami está se aproximando e já estamos entrando em sua revolução. Não foi decidido por ninguém. É como a tempestade, que surge por si mesma do seio dessas águas agitadas do oceano, que vinham se carregando perigosamente com energia; são muitas forças, juntando-se que encontraram uma saída, e já não vai ser possível detê-las”.
E ainda: “Estamos diante da Revolução 4.0, que não é, tecnicamente, algo radicalmente novo, ou totalmente desconhecido”, mas é “uma convergência múltipla crescente de ciências e tecnologias”, que “vem arrasando com todo seu poder desdobrado. O vigia do barco não pode dizer muito mais. O seu papel é apenas avisar. Ele diz o que vê e é urgente que todos se preparem”.
Diante dessa revolução, “há aqueles que só veem negatividade: um aprofundamento do neoliberalismo; um novo ataque colonial do Ocidente (...); uma degradação ainda maior da raça humana, perdida pela tecnologia e pelo cientificismo”.
Outros - sobretudo jovens deslumbrados com a tecnologia - “ficam simplesmente absorvidos por suas redes sociais, suas fotos, suas listas de canções... reféns ‘dentro da caixa’, sem memória histórica e sem consciência de seu povo, apátridas e sem destino, carne de canhão para a construção de um novo mundo velho mais desigual e com mais parias de descarte que nunca”. 
O vigia deste Livro-Agenda, entre uns e outros, “urge a todos a tomar seriamente esta revolução inédita na história do mundo. Talvez, tampouco nunca tivemos tantas informações como agora sobre o que se avizinha... Nem nunca tivemos tantas formas de comunicação, de organização, de tornar potentes nossos movimentos sociais (populares), de unificar nossa voz e de fazê-la ouvir mundialmente... É a hora da ação, da ação coordenada, do sentido crítico, de possibilidades tecnológicas inéditas a nosso alcance, como nunca antes!” (pág. 10).
Por fim, na Apresentação do Livro-Agenda, José Maria Vigil e Mauro Kano fazem a todos e a todas nós um caloroso convite: “Assumamos o debate, teórico e prático, e participemos, no controle dessa Revolução Digital 4.0 que vem... É urgente pôr mãos à obra, porque neste mesmo ano de 2020, antes que termine, vai desembarcar com seus navios em nossas praias... Tsunami à vista!” (pág. 9).
A Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil é a responsável pela edição brasileira do Livro-Agenda Latino-americana Mundial (justpaz@dominicanos.org.br). 
O Livro-Agenda 2020 - pelo grande interesse que suscitou - esgotou rapidamente. Brevemente - como aconteceu com as edições anteriores -  a versão online poderá ser lida, acessando: Latino-americana Mundial 2020 (https://latinoamericana.org/digital/2020AgendaLatino-americana.pdf). 


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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 10 de dezembro de 2019


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A Garantia da Lei e da Desordem


No campo, a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é, na realidade, a Garantia da Lei e da Desordem (GLD). A estrutura fundiária do Brasil, ou seja, a forma como são distribuídas as propriedades rurais - além de ser extremamente conservadora - é uma “desordem legalizada e institucionalizada”, uma das faces mais perversas e iníquas do pecado estrutural: pecado sócio-econômico-político-ecológico-cultural.
Os grandes latifúndios - 1% dos donos de terras - ocupam 44,4% das terras do Brasil. A maior concentração fundiária ocorre nas Regiões Centro-Oeste e Nordeste. Os Trabalhadores Rurais - em sua maioria - não tem sequer um pedaço de terra para produzir (produção familiar e comunitária agroecológica) e viver com dignidade.
Segundo o pensamento de Santo Tomás de Aquino - que posteriormente foi assumido pelo Ensino Social da Igreja - a destinação dos bens (no nosso caso aqui, da terra) para o uso (com o cuidado necessário) de todos os seres humanos, é um direito primário e a posse (ou propriedade), um direito secundário (nunca absoluto), que deve ter sempre uma função social. Quando o direito secundário se sobrepõe ao direito primário (prejudicando ou impedindo sua realização: o acesso aos bens - inclusive à terra - de todos/as) é injusto e antiético. Portanto, lutar pela Reforma Agrária Popular é um direito humano urgente e inadiável.
Hoje, a GLO (ou, melhor, GLD) é uma operação de segurança autorizada pelo Poder Executivo que pode durar meses e inclui a participação de agentes civis e militares, como das Forças Armadas e da Polícia Federal. É papel dos Governos Estaduais acionar forças de segurança locais para fazer cumprir decisões judiciais.
Depois do “massacre de Eldorado do Carajás” em 1996 (19 trabalhadores rurais mortos) - que teve uma repercussão negativa não só no Brasil, mas também no exterior - Governos Estaduais, para evitar novas tragédias, têm adotado uma postura de cautela, protelando o cumprimento de decisões judiciais.
Jair Bolsonaro, que - como já demostrou várias vezes - pouco se importa com a vida e os direitos dos Trabalhadores/as Sem Terra (para ele são “sobras”, “material descartável”), sentiu-se incomodado com essa postura. Por isso, no dia 25 de novembro último, afirmou que pretende enviar ao Congresso um Projeto de Lei que autoriza o Governo Federal a empregar a GLO (ou, melhor, GLD) para as chamadas operações de reintegração de posse. 
O presidente - totalmente submisso aos interesses dos Ruralistas (grileiros, fazendeiros, madeireiros) e atendendo ao acordo feito com eles - não só defende a criminalização das Ocupações (que ele chama de “Invasões”) dos Sem-Terra (um direito dos trabalhadores/as), mas quer também a “intervenção federal” (com o uso das Forças Armadas e da Polícia Federal) nas operações da chamada reintegração de posse (verdadeiras operações de guerra).
A linguagem que Jair Bolsonaro usa para se referir aos Trabalhadores/as que lutam pelo direito à terra dá nojo e provoca vômito em qualquer pessoa que tem um mínimo de sensibilidade humana. “Quando marginais (reparem: “marginais”!) invadem propriedades rurais e o juiz determina a reintegração de posse, como é quase uma regra que Governadores protelem sua execução, poderia ter - pelo nosso Projeto - uma GLO do campo para chegar a tirar os caras”. E ainda: “tem de ser algo urgente. E, você dando uma resposta urgente, inibe outros de fazer isso”. “A GLO - continua o presidente -  não é uma ação social, chegar com flores na mão; é chegar preparados para acabar com a bagunça (reparem mais uma vez: “acabar com a bagunça”!)”. Presidente, chamando os Trabalhadores/as Sem Terra de “marginais e bagunceiros”, o senhor torna-se o “maior marginal e o maior bagunceiro”.
Vejam o absurdo: Jair Bolsonaro ao mesmo tempo que defende a intervenção federal nas Ocupações dos Sem-Terra, incentiva as Invasões (essas sim verdadeiras Invasões) de terras indígenas. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no ano de 2018 foram registrados 111 casos de Invasões em 76 terras indígenas. De janeiro a setembro deste ano, o número subiu para 160 Invasões em 153 terras indígenas. 
(Fonte: Gustavo Uribe. Bolsonaro quer aval do Congresso para expulsar invasor de terras nos Estados. Folha de São Paulo, 26/11/19, p. A10. Vejam também: CPT. Nota Pública - Governo cede aos Ruralistas e ameaça vida no campo. Goiânia, 25/11/19). 
Por fim, pergunto: por que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não denuncia profeticamente tamanhas barbaridades políticas e não se posiciona - clara e inequivocamente - a favor dos Movimentos dos Trabalhadores/as Sem Terra? O silêncio não é um pecado de omissão?


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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 03 de dezembro de 2019

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Não posso me calar


“Que a justiça flua como um rio
E o amor, seja a vestimenta
Dos que são conhecidos pelo nome do Senhor...
Não posso me calar, nem me acovardar”
(Carlinhos Félix)

    Em consciência, como ser humano, como cristão (que pretende ser radicalmente ser humano) e como religioso (que pretende ser radicalmente cristão) não posso me calar diante do que está acontecendo hoje no Brasil.
     No dia 21 deste mês de novembro foi lançado em Brasília pelo presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e seus apoiadores o novo partido “Aliança pelo Brasil” (esqueceram de dizer: “dos ricos”) com a sigla número 38 (igual ao calibre de um dos revólveres mais conhecidos no Brasil) e o logotipo feito com cartuchos de balas. 
     Nada contra a fundação de um novo partido, que é um direito de todos e de todas na prática política democrática. O que denuncio é o projeto político que o novo partido defende e pretende implantar (legalizar e institucionalizar) no Brasil. Trata-se de um projeto ditatorial neofascista, perverso, iniquo, desumano, injusto e antiético: um verdadeiro projeto diabólico. Usa-se o nome de Deus, a religião e a Bíblia para - calculada, interesseira, hipócrita, maldosa e cinicamente - legitimar e sacralizar esse projeto, que exclui, descarta e mata os trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo os mais pobres. 
     Pessoalmente, muitos cristãos e cristãs - profetas e profetisas da vida - se pronunciaram corajosa e destemidamente, em nome do Evangelho, contra esse projeto.  Mesmo diante de tantos testemunhos que edificam - sempre como ser humano, cristão e religioso - denuncio também, com profunda dor no coração, a omissão “oficial” e “institucional” da Igreja Católica (a minha Igreja) em nível local, regional e nacional, e também de Igrejas Evangélicas (sobretudo Neopentecostais). Não dá para entender!
    A omissão (o silêncio) é conivência com o Mal, o Antirreino de Deus na história do ser humano e do mundo, ou seja, o pecado sócio-econômico-político-cultural-ecológico. Com esse comportamento, a Igreja torna-se “Igreja de Pilatos” (que lava as mãos) e “Igreja de Judas” (que trai Jesus nos Pobres).
     A Igreja de Jesus de Nazaré não é “triunfalista” e “clerical”; não se impõe pelo poder, pela ostentação, pelo luxo e pelas “alianças diplomáticas” com os “demônios” de hoje, que são os agentes do Mal, do Antirreino de Deus. A “diplomacia” não existe no Evangelho. “Que o vosso sim seja sim, e o vosso não seja não. O que passa disso vem do Maligno” (Mt 5,37).
    Peçamos ao Espírito Santo - o Amor de Deus - que nos transforme e nos torne verdadeiros seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré, o “maior revolucionário” de todos os tempos. Em seu projeto para o mundo, Jesus de Nazaré quer que os seres humanos - homens e mulheres - vivam como irmãos e irmãs na igualdade de direitos, partilhando a vida em todas as suas dimensões e sendo - ao mesmo tempo - parte do “jardim” e “jardineiros” da nossa Irmã, Mãe Terra. É a mística do Reino de Deus. 
No cumprimento de sua missão, Jesus de Nazaré foi acusado de “subversivo”. “Encontramos esse homem fazendo subversão entre nosso povo” (Lc 23,2). “Neste tempo, um cristão que não seja revolucionário, não é cristão” (Papa Francisco. Prefácio do livro “DoCat”, “que aborda a Doutrina Social da Igreja numa linguagem jovem, acessível e dinâmica”).
Como nos ensina o Concílio Vaticano II, “a Igreja, a todo o momento tem o dever de perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de tal modo que possa responder, de maneira adaptada a cada geração, às interrogações eternas sobre o significado da vida presente e futura e de suas relações mútuas” (A Igreja no mundo de hoje - GS 4). 
     Por fim, os seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré sejamos “uma Igreja Pobre, para os Pobres, dos Pobres e com os Pobres”: o sonho do Concílio Vaticano II e de Medellín.
     Para uma visão geral do que está acontecendo hoje no Brasil e no mundo leia o artigo “A terra treme” - “Do Chile à Argélia, a rebelião se espalha e Bolsonaro se arma”, de Mario Sergio Conti (Folha de São Paulo, 23/11/19).

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 25 de novembro de 2019

domingo, 15 de setembro de 2019

Trabalhadores e estudantes unidos por um novo Brasil


Em Goiânia e em todo o país, o dia 7 de setembro, dia da Independência do Brasil (que na realidade ainda não existe), foi marcado por grandes manifestações de protesto contra o atual Governo - comprovadamente perverso, iníquo e anti-povo - que, cínica e hipocritamente, usa o nome de Deus e a sua Palavra para se autolegitimar. Trata-se de um descaramento que não tem limites!
Na manifestação de Goiânia - além de outras bandeiras de luta como moradia, emprego, saúde pública, aposentadoria, ciência e tecnologia, minorias, terras indígenas e quilombolas, Amazônia, Cerrado - destacamos dois grandes eventos unificados: o 25º Grito dos/as Excluídos/as 2019 e o 4º Tsunami da Educação. 
O Grito - desde o início - defende a “Vida em primeiro lugar” e - no lema deste ano de 2019 - denuncia “Este Sistema não Vale. Lutamos por Justiça, Direitos e Liberdade”. O Tsunami da Educação reivindica uma Educação Pública de qualidade para todos e para todas, luta contra o corte de verbas para a Educação e para a Pesquisa, não aceita a “militarização” das Escolas e defende a liberdade de ensino.
A concentração foi na Praça da Catedral Metropolitana, no Centro, a partir das 8:30 horas. Participaram da manifestação - com faixas e cartazes - Movimentos Sindicais de Trabalhadores/as (como os Trabalhadores/as da Educação e outros), Movimentos Sociais Populares (como os Moradores de Rua e outros), Movimentos Estudantis (liderados pela União Nacional dos Estudantes - UNE), Comitês ou Fóruns de Defesa dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente, Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, Pastorais Sociais Ambientais e representantes de outras Organizações Populares, totalizando cerca de 4 mil pessoas, entre as quais muitos/as jovens, que nos deram um testemunho bonito de resistência e de luta.
Na caminhada, passamos pela Praça Cívica e descemos a Avenida Goiás, finalizando o protesto na Praça do Bandeirante, às 12:30 horas. Durante a manifestação - além de músicas e cantos - tivemos muitas falas, todas demostrando indignação e vontade de lutar, unidos, por um novo Brasil. 
Iago Montalvão, 26 anos, presidente da UNE, referindo-se aos cortes na Educação e ao risco de Universidades Públicas pararem de funcionar, afirmou: “Sem ciência e Universidade não há condição de atingirmos uma autonomia, por isso viemos lutar. Queremos a verdadeira independência”.
Bia de Lima, presidente do Sindicato dos Trabalhadores/as da Educação do Estado de Goiás - SINTEGO, denunciou: “Estamos vivendo um verdadeiro desmonte da Educação. O Governo Federal já fez vários cortes no orçamento, colocando em risco o funcionamento das Universidades Federais em todo o Brasil. Sua política está destruindo a pesquisa brasileira. É um absurdo acabar com os recursos das bolsas da Capes e CNPq! No Estado de Goiás, a situação está ficando muito complicada. O Governo vira as costas para quem se dedica a Educação! Até agora não confirmou o pagamento do reajuste do Piso 2019, a Data-base dos/as administrativos/as e o cumprimento do pagamento das progressões. Estamos chegando a um ponto insustentável”. 
Sobre a situação atual dos/as excluídos/as no Brasil e no mundo, meditemos as palavras do Papa Francisco: “Hoje devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigualdade social’. Esta economia mata. Não é possível que a morte por congelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão”. “Tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois jogar fora. Assim teve início a cultura do ‘descartável’, que aliás chega a ser promovida”. “Os excluídos não são ‘explorados’, mas ‘descartados’ (resíduos, sobras)” (A Alegria do Evangelho, 53)
Na Missa do dia 8 de julho deste ano, na Basílica de São Pedro, Francisco - fazendo a memória dos seis anos de sua visita a Lampedusa - denunciou: “Os migrantes são hoje o símbolo de todos os descartados da sociedade globalizada”. Quanta crueldade e quanta desumanidade!
Em Goiânia e no Brasil inteiro, o Grito dos/as Excluídos/as 2019 foi o Grito dos/as Descartados/as. A luta por vida digna para todos/as fortalece a nossa esperança e nos une na certeza da vitória.
(Comunico aos prezados/as leitores/as que, por razões pessoais, interrompo os meus escritos semanais e - se Deus quiser - os retomarei logo que for possível)

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 12 de setembro de 2019