"Para que toda a humanidade se abra à esperança de um MUNDO NOVO" (Oração Eucarística VI-D)
▼
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Irmã Katherine: uma santa de nossos dias
No dia 9 desse mês de abril/12, segunda feira na oitava da Páscoa e primeiro dia do Tempo Pascal, faleceu, na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, a Irmã Katherine Marie Popowich, missionária da Congregação Irmãs de São José de Rochester, com 84 anos de idade e 66 anos de vida religiosa. Ela, cuja vida foi uma caminhada pascal, “completou sua Páscoa”, chegou à Páscoa definitiva, à plenitude da Páscoa.
Na Igreja da Comunidade Jesus de Nazaré do Jardim Curitiba II, durante o velório, na Missa de corpo presente e na Missa de 7º dia, ouvimos emocionados - de pessoas que conheceram e conviveram com a Irmã Katharine - muitos testemunhos de apreço sobre a religiosa missionária, que nos edificaram a todos/as. Ela era realmente uma pessoa de profunda sensibilidade humana, uma verdadeira discípula missionária de Jesus, que viveu a radicalidade evangélica.
A Irmã Katherine “foi uma das fundadoras da missão das Irmãs de São José de Rochester no Brasil, chegando ao Brasil em 1964, em resposta ao chamado do Vaticano II que convidou Congregações Religiosas para mandar Irmãs para servir na America Latina. Durante 48 anos, ela conviveu com o povo em Paranaiguara, São Simão, Cachoeira Alta e Goiânia - GO, e Uberlândia - MG. Em seu grande amor pela Congregação, ela iniciou os encontros nacionais e internacionais das Irmãs de São José e serviu como presidente da CRB (Conferencia dos Religiosos do Brasil - GO) nos anos 90”.
Chegando no Brasil, a religiosa missionária “iniciou seu ministério como professora e diretora nas Escolas Municipais de Paranaiguara, onde a educação ainda se encontrava em fase inicial, e como agente de pastoral na Diocese de Jataí, permanecendo nesta Diocese até 1984, quando foi transferida para Uberlândia - MG. Desde 1989 tem se doado a serviço do povo nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) nos bairros de Nova Esperança, Jardim Curitiba, na região Noroeste da cidade de Goiânia conhecida como ‘Alto da Poeira’".
A Irmã Katherine - que era usuária do SUS - “foi uma militante apaixonada e grande defensora do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo servido no Conselho Municipal de Saúde por muitos anos, se afastando de suas atividades como Conselheira em dezembro de 2011. Ela serviu como presidente do Conselho Municipal de Saúde de Goiânia em 2000-2001. Contribuiu para que fosse construída a Maternidade Nascer Cidadão, no Jardim Curitiba III, com uma proposta alternativa de parto humanizado. Lutou também pela Maternidade Dona Íris e pelo CAPS na Vila Mutirão. Ela sempre incentivou os outros usuários e usuárias a participarem do Conselho Municipal de Saúde e de Conselhos locais” (Falecimento da Irmã Katherine em Goiânia: http://www.isjbrasil.com.br/index.php?page=noticia&id_noticia=706 - 10/04/12).
O SUS, que em teoria é um dos melhores planos de saúde pública, na prática - pela falta de infra-estrutura adequada, de recursos humanos e financeiros - é ainda muito precário e longe do ideal de saúde pública sonhado pela Irmã Katherine. Mesmo nessas condições, existem nas Unidades de Saúde Pública muitas pessoas (médicos/as, enfermeiros/as e outros agentes de saúde) que trabalham com dedicação e amor a serviço do povo.
A Irmã Katherine acreditava que é possível uma política de saúde pública fraterna e de qualidade para todos/as. E é por isso que, com muita garra, a religiosa missionária ajudou a consolidar o SUS em Goiânia e a implantar a Maternidade Nascer Cidadão. Fraternidade e saúde pública, diz a Campanha da Fraternidade 2012.
Entre as diversas homenagens que a Irmã Katherine recebeu, a de Madrinha da Maternidade Nascer Cidadão foi a que mais a emocionou. Em sua última entrevista à Prefeitura de Goiânia, ela disse: "Para quem auxiliou na implantação da Maternidade Nascer Cidadão e dedicou muito a quem precisa, é um grande privilégio poder ser homenageada por Goiânia e o que é melhor, representando as mulheres da região’’ (http://www.prefeituragoiania.stiloweb.com.br/site/goianianoticias.php?tla=2&cod=6351 - 11/04/12).
A Irmã Katherine era uma mulher pioneira, que encorajava, cutucava e incentivava a todos/as. Ela se identificava com a Igreja das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs): uma Igreja simples, fraterna, evangélica, toda ministerial (servidora) e Povo de Deus. Nestes últimos tempos, a religiosa missionária foi a pessoa que mais divulgou o Documento 92 da CNBB: Mensagem ao Povo de Deus sobre as Comunidades Eclesiais de Base, resumindo o Documento e traduzindo-o numa linguagem acessível.
“A ultima imagem de Irmã Katherine - diz a Irmã Elenice Buoro - que guardo no coração e na retina é a de uma peregrina subindo com dificuldade, mas com persistência, a rampa do Santuário de Trindade, no dia 27 de outubro de 2011, na caminhada das CEBs, apoiada de um lado numa Irmã e do outro segurando-se no corrimão. Imagem certamente do que foi sua vida: Uma busca constante e persistente de Deus junto com os irmãos e irmãs, em Comunidade, para fazer acontecer o Reino, sobretudo junto dos mais pobres e excluídos” (Falecimento da Irmã Katherine em Goiânia. Site citado).
Como falei no velório e na Missa de 7º dia, entre as muitas virtudes e qualidades da Irmã Katherine, destaco três: a serenidade de uma mulher de Deus, de muita fé e sempre sorridente; a firmeza de uma mulher forte, corajosa, guerreira, uma verdadeira profetisa, que denunciava as situações de injustiça e de violação dos direitos humanos, mas que também - entranhadamente solidária com os empobrecidos, oprimidos e excluídos - lutava para mudar estas situações; e a sabedoria do Espírito Santo que - fascinada por Jesus de Nazaré e seu projeto de vida - a impelia a estar sempre atenta aos sinais dos tempos como apelos de Deus e, em sintonia com a vida e o sofrimento do nosso povo, a tornava capaz de dar o conselho certo na hora certa.
Por ter tido a felicidade de conhecer a Irmã Katherine e de conviver com ela em diversos momentos - que foi uma experiência muito enriquecedora - posso, sem nenhuma dúvida, afirmar que a Irmã Katherine é uma santa dos nossos dias e pedir: Santa Katherine, Roga pelo nosso povo! Roga pela Igreja! Roga por nós!
(Mais notícias sobre a Irmã Katherine nos sites: http://www.saude.goiania.go.gov.br/html/noticia/12/01/especialkhaterine.shtml
http://www.arquidiocesedegoiania.org.br/site/donwloads/cadernosaude.pdf
e no livro: Margaret Brennan, SSJ. A Boa Chuva. As Irmãs de São José de Rochester no Brasil - 1964-2004. Edição em português, Goiânia - GO, 2006)
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 20/04/12, p. 06
http://www.dmdigital.com.br/novo/#!/view?e=20120420&p=26
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=66247
http://marujo-do-caete.blogspot.com.br/
http://minutonoticias.com.br/irma-katherine-uma-santa-dos-nossos-dias
http://correiodobrasil.com.br/irma-katherine-uma-santa-dos-nossos-dias/437253/
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG aposentado
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Páscoa: uma reflexão teológico-pastoral
A Páscoa - passagem da morte para a vida (vida de ressuscitados, vida nova em Cristo, vida segundo o Espírito) - acontece no mundo na medida em que o ser humano se humaniza, naturalizando-se (vivendo em comunhão com a natureza e suas formas de vida) e o mundo se naturaliza, humanizando-se (vivendo em comunhão com o ser humano e sua forma de vida). A Páscoa, podemos dizer, é a utopia de um humanismo naturalizado e de um naturalismo humanizado, acontecendo. "A criação toda geme e sofre dores de parto até agora. E não somente ela, mas também nós, que possuímos os primeiros frutos do Espírito, gememos no íntimo, esperando a adoção, a libertação para nosso corpo” (Rm 8, 22-23).
O ser humano - como tudo o que existe - é um ser-no-mundo (a mundanidade é constitutiva do ser humano e de todos os seres). O ser humano, porém, sabe (tem consciência) que é um ser-no-mundo (a consciência é constitutiva do ser humano). Por isso, ele é também um ser-com-o-mundo (material e vivente), com-os-outros (semelhantes) e com-o-Outro absoluto” (Deus). A alteridade mundana (cósmica), a alteridade humana e a alteridade divina são as dimensões e relações fundamentais do ser humano. Elas se desdobram em muitas dimensões e relações e constituem sua identidade. O ser humano, portanto, é um ser pluridimensional e pluri-relacional.
As dimensões e relações do ser humano são históricas, situadas (no espaço) e datadas (no tempo). Sendo históricas, elas são estruturais (sociais, econômicas, políticas, ecológicas, culturais) e individuais ou interindividuais (corpóreas - incluindo a sexualidade -, bio-psíquicas, espirituais ou pessoais). Toda dimensão e relação marca o ser humano todo, mas não é a totalidade do ser humano.
Fazer acontecer a Páscoa (passagem) significa humanizar naturalizando e naturalizar humanizando as dimensões e relações do ser humano no mundo. Significa fazer acontecer o Amor em todas essas dimensões e relações. Significa passar, sempre mais, de uma vida de desamor (egoísmo) para uma vida de amor.
Quando afirmamos que Deus é Amor, afirmamos, em primeiro lugar, que Deus é. "Eu sou Aquele que sou” (Ex 3, 14). Deus é a plenitude do Ser. O ser humano (homem e mulher) - como tudo o que existe - é, porque Deus é. Deus é a fonte do ser nos seres. "Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At, 17, 28).
Cada um de nós pode dizer: Eu sou "eu" antes que alguém possa entrar em contato comigo, mas eu não sou "eu" (no sentido estrito do verbo ser) sem a "presença ontológica" (em linguagem filosófica) ou a "presença criadora” (em linguagem teológica) de Deus que me "põe" no ser, como "põe" no ser tudo o que existe. Neste sentido, Deus é mais íntimo a mim do que eu mesmo (cf. Santo Agostinho, Confissões, III, 6, 11). "Quando eu me torno presente, 'íntimo', a mim mesmo, Deus, de certo modo, 'já' está em mim: presente em mim antes de mim mesmo" (L. Podeur. Imagem moderna do mundo e Fé cristã. Paulinas, São Paulo, 1977, p. 127). A "presença ontológica" ou a "presença criadora” de Deus atinge o real por dentro e não por fora; é nisso que se funda toda relação para com Deus. Pela "presença ontológica" ou "presença criadora”, "Deus está no mais profundo da realidade; ele é o fundo, porque é o fundamento transcendente (absoluto) de tudo" (Ib. p. 128).
Em segundo lugar (em sentido lógico e não cronológico), depois de afirmar que Deus é, afirmamos que Deus é Amor (cf. 1Jo 4, 8). O amor é a natureza de Deus, é o ser de Deus. Ora, o ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus, por amor e para amar, e, portanto, ele também é amor". Deus disse: ‘façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança’” (Gn 1, 26). O amor - que é a natureza de Deus - é também a natureza do ser humano, é o ser do ser humano. "O amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva” (S. Agostinho. Confissões, XIII, 9).
O que significa para o ser humano ser amor? O amor define e envolve a totalidade do ser humano no mundo, a totalidade de sua existência, em todas as suas dimensões e relações, para com o mundo (material e vivente), para com os outros (semelhantes) e para com o Outro absoluto (Deus), no mundo. O ser humano existe para amar, é a sua condição existencial. "Somos o que amamos” (S. Agostinho. Cidade de Deus, XIV, 28), isto é, nossa essência está definida pelo que amamos.
Mas o que é realmente amar? Amar é a vocação ontológica do ser humano, ou seja, a vocação do ser humano enquanto ser humano. Amando, o ser humano encontra o verdadeiro sentido da vida; amando, ele é feliz, realizado. "Ama e faze o que quiseres. Se te calas, cala-te movido pelo amor; se falas em tom alto, fala por amor; se corriges, corrige por amor; se perdoas, perdoa por amor. Tem no fundo do coração a raiz do amor: dessa raiz não pode sair senão o bem!" (S. Agostinho. Comentário à Primeira Carta de João, VII, 8).
E o que significa amar? Se amar é a vocação ontológica do ser humano, amar significa "ser mais”, significa ser sempre mais ser humano e viver sempre mais intensamente (profundamente) sua humanidade, em todas as dimensões e relações. O ser humano é um "vir-a-ser”, um ser de busca permanente.
A vocação ontológica se constitui (se realiza) e acontece na história (no tempo e no espaço). Há uma dialeticidade, ou, em outras palavras, uma interação entre o ontológico e o histórico. Podemos dizer que o ser humano é enquanto histórico e é histórico enquanto é. A vocação ontológica do ser humano torna-se vocação histórica. O ser humano é chamado (permito-me criar uma palavra) a "amorizar” o mundo e a sociedade na qual ele vive, isto é, a impregnar esse mundo e essa sociedade de amor.
A Páscoa acontece onde o Amor acontece. Sejamos, hoje, os agentes da Páscoa, até a Páscoa definitiva.
(Veja também o meu Artigo: A festa do Divino Pai Eterno. Uma reflexão teológico-pastoral.
Em Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 02/07/11, p. 4, ou em: http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=N&cod=58062;http://www.diocesedecaxias.org.br/conteudo_artigos.php?cod_artigo=504;http://www.claudiocarvalhaes.com/uncategorized-pt-br/a-festa-do-divino-pai-eterno-uma-reflexao-teologico-pastoral/.
No presente escrito, retomo algumas reflexões desse Artigo).
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 13/04/12, p. 02
http://www.dmdigital.com.br/novo/?ref=dmsite#!/view?e=20120413&p=18
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=65974
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG aposentado
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
O ser humano - como tudo o que existe - é um ser-no-mundo (a mundanidade é constitutiva do ser humano e de todos os seres). O ser humano, porém, sabe (tem consciência) que é um ser-no-mundo (a consciência é constitutiva do ser humano). Por isso, ele é também um ser-com-o-mundo (material e vivente), com-os-outros (semelhantes) e com-o-Outro absoluto” (Deus). A alteridade mundana (cósmica), a alteridade humana e a alteridade divina são as dimensões e relações fundamentais do ser humano. Elas se desdobram em muitas dimensões e relações e constituem sua identidade. O ser humano, portanto, é um ser pluridimensional e pluri-relacional.
As dimensões e relações do ser humano são históricas, situadas (no espaço) e datadas (no tempo). Sendo históricas, elas são estruturais (sociais, econômicas, políticas, ecológicas, culturais) e individuais ou interindividuais (corpóreas - incluindo a sexualidade -, bio-psíquicas, espirituais ou pessoais). Toda dimensão e relação marca o ser humano todo, mas não é a totalidade do ser humano.
Fazer acontecer a Páscoa (passagem) significa humanizar naturalizando e naturalizar humanizando as dimensões e relações do ser humano no mundo. Significa fazer acontecer o Amor em todas essas dimensões e relações. Significa passar, sempre mais, de uma vida de desamor (egoísmo) para uma vida de amor.
Quando afirmamos que Deus é Amor, afirmamos, em primeiro lugar, que Deus é. "Eu sou Aquele que sou” (Ex 3, 14). Deus é a plenitude do Ser. O ser humano (homem e mulher) - como tudo o que existe - é, porque Deus é. Deus é a fonte do ser nos seres. "Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At, 17, 28).
Cada um de nós pode dizer: Eu sou "eu" antes que alguém possa entrar em contato comigo, mas eu não sou "eu" (no sentido estrito do verbo ser) sem a "presença ontológica" (em linguagem filosófica) ou a "presença criadora” (em linguagem teológica) de Deus que me "põe" no ser, como "põe" no ser tudo o que existe. Neste sentido, Deus é mais íntimo a mim do que eu mesmo (cf. Santo Agostinho, Confissões, III, 6, 11). "Quando eu me torno presente, 'íntimo', a mim mesmo, Deus, de certo modo, 'já' está em mim: presente em mim antes de mim mesmo" (L. Podeur. Imagem moderna do mundo e Fé cristã. Paulinas, São Paulo, 1977, p. 127). A "presença ontológica" ou a "presença criadora” de Deus atinge o real por dentro e não por fora; é nisso que se funda toda relação para com Deus. Pela "presença ontológica" ou "presença criadora”, "Deus está no mais profundo da realidade; ele é o fundo, porque é o fundamento transcendente (absoluto) de tudo" (Ib. p. 128).
Em segundo lugar (em sentido lógico e não cronológico), depois de afirmar que Deus é, afirmamos que Deus é Amor (cf. 1Jo 4, 8). O amor é a natureza de Deus, é o ser de Deus. Ora, o ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus, por amor e para amar, e, portanto, ele também é amor". Deus disse: ‘façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança’” (Gn 1, 26). O amor - que é a natureza de Deus - é também a natureza do ser humano, é o ser do ser humano. "O amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva” (S. Agostinho. Confissões, XIII, 9).
O que significa para o ser humano ser amor? O amor define e envolve a totalidade do ser humano no mundo, a totalidade de sua existência, em todas as suas dimensões e relações, para com o mundo (material e vivente), para com os outros (semelhantes) e para com o Outro absoluto (Deus), no mundo. O ser humano existe para amar, é a sua condição existencial. "Somos o que amamos” (S. Agostinho. Cidade de Deus, XIV, 28), isto é, nossa essência está definida pelo que amamos.
Mas o que é realmente amar? Amar é a vocação ontológica do ser humano, ou seja, a vocação do ser humano enquanto ser humano. Amando, o ser humano encontra o verdadeiro sentido da vida; amando, ele é feliz, realizado. "Ama e faze o que quiseres. Se te calas, cala-te movido pelo amor; se falas em tom alto, fala por amor; se corriges, corrige por amor; se perdoas, perdoa por amor. Tem no fundo do coração a raiz do amor: dessa raiz não pode sair senão o bem!" (S. Agostinho. Comentário à Primeira Carta de João, VII, 8).
E o que significa amar? Se amar é a vocação ontológica do ser humano, amar significa "ser mais”, significa ser sempre mais ser humano e viver sempre mais intensamente (profundamente) sua humanidade, em todas as dimensões e relações. O ser humano é um "vir-a-ser”, um ser de busca permanente.
A vocação ontológica se constitui (se realiza) e acontece na história (no tempo e no espaço). Há uma dialeticidade, ou, em outras palavras, uma interação entre o ontológico e o histórico. Podemos dizer que o ser humano é enquanto histórico e é histórico enquanto é. A vocação ontológica do ser humano torna-se vocação histórica. O ser humano é chamado (permito-me criar uma palavra) a "amorizar” o mundo e a sociedade na qual ele vive, isto é, a impregnar esse mundo e essa sociedade de amor.
A Páscoa acontece onde o Amor acontece. Sejamos, hoje, os agentes da Páscoa, até a Páscoa definitiva.
(Veja também o meu Artigo: A festa do Divino Pai Eterno. Uma reflexão teológico-pastoral.
Em Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 02/07/11, p. 4, ou em: http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=N&cod=58062;http://www.diocesedecaxias.org.br/conteudo_artigos.php?cod_artigo=504;http://www.claudiocarvalhaes.com/uncategorized-pt-br/a-festa-do-divino-pai-eterno-uma-reflexao-teologico-pastoral/.
No presente escrito, retomo algumas reflexões desse Artigo).
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 13/04/12, p. 02
http://www.dmdigital.com.br/novo/?ref=dmsite#!/view?e=20120413&p=18
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=65974
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG aposentado
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Tempo Pascal
O Ano Litúrgico “compreende dois tempos fortes: o Ciclo Pascal, tendo como centro o Tríduo Pascal, a Quaresma como preparação e o Tempo Pascal como prolongamento; o Ciclo do Natal, com sua preparação no Advento e o seu prolongamento até a festa do Batismo do Senhor. Além destes dois, temos o Tempo Comum” (CNBB, Guia Litúrgico-Pastoral. Edições CNBB, p. 11).
O Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor começa na 5ª feira santa à noite (depois do por do sol), com a Celebração da Ceia (mandamento do amor, lava-pés) e vai até à tarde do domingo da Páscoa da Ressurreição com as Vésperas. O Tríduo Pascal (o Cristo Crucificado, Sepultado e Ressuscitado) é o ápice do Ano Litúrgico porque celebra a Morte e a Ressurreição do Senhor, “quando Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida” (Normas sobre o Ano Litúrgico e o Calendário - NALC, 18).
O Tempo Pascal é de 50 dias, entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes. É o tempo da alegria e da exultação, um só dia de festa, “um grande domingo”. São dias de Páscoa e não após Páscoa (cf. NALC, 22). “Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa e são celebrados como solenidades do Senhor” (NALC, 24). “Ressuscitados com Cristo, cantamos sua glória, sua vitória sobre a morte. O ‘aleluia’ volta a ressoar em nossos lábios, invadindo todo o nosso ser com ardor sempre crescente, pois ‘as coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo’” (CNBB, Guia Litúrgico-Pastoral, p. 88).
A solenidade da Ascensão, no Brasil, é celebrada no 7º domingo da Páscoa. A semana seguinte, até Pentecostes, caracteriza-se pela preparação à celebração da vinda do Espírito Santo. Em sintonia com as outras Igrejas cristãs, nesta semana realizamos no Brasil a “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos” (cf. Diretório Ecumênico, 22 e 24).
Para os cristãos, a Páscoa (até a Páscoa definitiva) é o acontecimento histórico central. Celebrar ou fazer a memória da Páscoa (Mistério Pascal) significa torná-la presente no mundo de hoje, vivenciá-la em todas as dimensões da vida humana e cósmica. A Liturgia é a celebração da Vida no Mistério Pascal e, ao mesmo tempo, a celebração do Mistério Pascal na Vida. A espiritualidade é - em seu sentido mais profundo - espiritualidade pascal. Vejamos o porquê.
Em primeiro lugar (no sentido lógico e não cronológico), a espiritualidade é o jeito “humano” de ser do ser humano e envolve o ser humano todo, em todas as suas dimensões e relações. Ela perpassa, impregna e absorve a totalidade do ser humano, a totalidade de sua existência.
Como, porém, o ser humano, por ser histórico (situado e datado), é um "vir-a-ser" e um ser de busca permanente, ele pode - ao longo de sua vida no mundo e na sociedade - adquirir uma profundidade e intensidade sempre maior na vivência do "humano", até o fim da vida. Portanto, a espiritualidade é, antes de tudo, espiritualidade humana. Ser espirituais significa ser “humanos”, viver a humanidade em graus crescentes de profundidade e intensidade. Nunca ninguém exagera em ser “humano”, nunca ninguém é “humano” demais.
Para os cristãos, à luz da fé, a espiritualidade humana é espiritualidade cristã. Não pode, porém, ser espiritualidade cristã se não for primeiro (sempre no sentido lógico e não cronológico) espiritualidade humana. A espiritualidade cristã é uma espiritualidade radicalmente humana. Os cristãos, em nome de sua fé, não têm o direito de ser omissos, mas devem estar sempre na linha de frente em todas as lutas que visam tornar a sociedade e o mundo mais humanos.
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos seres humanos de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração” (Concílio Vaticano II. A Igreja no mundo de hoje - GS, 1). Trata-se de uma solidariedade (compaixão) entranhável dos cristãos com toda a humanidade. Na prática e não só na teoria, os cristãos deveriam ser, por assim dizer, especialistas em humanidade.
Os cristãos acreditam que "o mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado. (…) Cristo manifesta plenamente o ser humano ao próprio ser humano e lhe descobre a sua altíssima vocação" (GS, 22). "Todo aquele que segue Cristo, o Homem perfeito, torna-se ele também mais ser humano" (GS, 41). "A razão principal da dignidade humana consiste na vocação do ser humano para a comunhão com Deus" (GS, 19). "A fé esclarece todas as coisas com luz nova. Manifesta o plano divino sobre a vocação integral do ser humano. E por isso orienta a mente para soluções plenamente humanas" (GS, 11).
Reparem que o texto não diz “soluções não somente humanas, mas também sobrenaturais” (visão dualista da vida humana), mas diz “soluções plenamente humanas”. Para os cristãos, o plenamente humano inclui a dimensão da fé. O cristianismo é um humanismo pleno, um humanismo radical. Pela fé, os cristãos descobrem sempre mais claramente o verdadeiro sentido da vida (na história), até o seu pleno, último e definitivo sentido (na meta-história).
Pela centralidade da Páscoa na vida dos cristãos, a espiritualidade cristã é, pois, espiritualidade pascal: cristológica, pneumatológica e trinitária (comunitária - eclesial). Viver a espiritualidade pascal significa viver como Jesus viveu, morrer como Jesus morreu, ressuscitar como Jesus ressuscitou. Em outras palavras, viver a espiritualidade pascal significa fazer acontecer a Páscoa de Jesus na vida pessoal, na história humana e no mundo todo. A Páscoa (o mistério pascal), que é passagem da morte (e de tudo o que a morte significa) para a vida (vida nova em Cristo, vida segundo o Espírito) é uma realidade dinâmica (processual), que impregna a totalidade da existência humana no mundo.
Para os cristãos, a vida é uma caminhada pascal, que faz o Reino de Deus acontecer, até a Páscoa definitiva, que é a plenitude do Reino de Deus, a plenitude da Vida e da Felicidade. Que a nossa espiritualidade seja realmente - e sempre mais - espiritualidade pascal!
Obs.: Veja também o meu artigo Espiritualidade pascal: no Diário da Manhã, 21/04/11, p. 15, ou no link: http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=N&cod=55841.
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 01/04/12, p. 07
http://www.dmdigital.com.br/novo/?ref=dmsite#!/view?e=20120401&p=23
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=65643
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG aposentado
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
O Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor começa na 5ª feira santa à noite (depois do por do sol), com a Celebração da Ceia (mandamento do amor, lava-pés) e vai até à tarde do domingo da Páscoa da Ressurreição com as Vésperas. O Tríduo Pascal (o Cristo Crucificado, Sepultado e Ressuscitado) é o ápice do Ano Litúrgico porque celebra a Morte e a Ressurreição do Senhor, “quando Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida” (Normas sobre o Ano Litúrgico e o Calendário - NALC, 18).
O Tempo Pascal é de 50 dias, entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes. É o tempo da alegria e da exultação, um só dia de festa, “um grande domingo”. São dias de Páscoa e não após Páscoa (cf. NALC, 22). “Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa e são celebrados como solenidades do Senhor” (NALC, 24). “Ressuscitados com Cristo, cantamos sua glória, sua vitória sobre a morte. O ‘aleluia’ volta a ressoar em nossos lábios, invadindo todo o nosso ser com ardor sempre crescente, pois ‘as coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo’” (CNBB, Guia Litúrgico-Pastoral, p. 88).
A solenidade da Ascensão, no Brasil, é celebrada no 7º domingo da Páscoa. A semana seguinte, até Pentecostes, caracteriza-se pela preparação à celebração da vinda do Espírito Santo. Em sintonia com as outras Igrejas cristãs, nesta semana realizamos no Brasil a “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos” (cf. Diretório Ecumênico, 22 e 24).
Para os cristãos, a Páscoa (até a Páscoa definitiva) é o acontecimento histórico central. Celebrar ou fazer a memória da Páscoa (Mistério Pascal) significa torná-la presente no mundo de hoje, vivenciá-la em todas as dimensões da vida humana e cósmica. A Liturgia é a celebração da Vida no Mistério Pascal e, ao mesmo tempo, a celebração do Mistério Pascal na Vida. A espiritualidade é - em seu sentido mais profundo - espiritualidade pascal. Vejamos o porquê.
Em primeiro lugar (no sentido lógico e não cronológico), a espiritualidade é o jeito “humano” de ser do ser humano e envolve o ser humano todo, em todas as suas dimensões e relações. Ela perpassa, impregna e absorve a totalidade do ser humano, a totalidade de sua existência.
Como, porém, o ser humano, por ser histórico (situado e datado), é um "vir-a-ser" e um ser de busca permanente, ele pode - ao longo de sua vida no mundo e na sociedade - adquirir uma profundidade e intensidade sempre maior na vivência do "humano", até o fim da vida. Portanto, a espiritualidade é, antes de tudo, espiritualidade humana. Ser espirituais significa ser “humanos”, viver a humanidade em graus crescentes de profundidade e intensidade. Nunca ninguém exagera em ser “humano”, nunca ninguém é “humano” demais.
Para os cristãos, à luz da fé, a espiritualidade humana é espiritualidade cristã. Não pode, porém, ser espiritualidade cristã se não for primeiro (sempre no sentido lógico e não cronológico) espiritualidade humana. A espiritualidade cristã é uma espiritualidade radicalmente humana. Os cristãos, em nome de sua fé, não têm o direito de ser omissos, mas devem estar sempre na linha de frente em todas as lutas que visam tornar a sociedade e o mundo mais humanos.
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos seres humanos de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração” (Concílio Vaticano II. A Igreja no mundo de hoje - GS, 1). Trata-se de uma solidariedade (compaixão) entranhável dos cristãos com toda a humanidade. Na prática e não só na teoria, os cristãos deveriam ser, por assim dizer, especialistas em humanidade.
Os cristãos acreditam que "o mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado. (…) Cristo manifesta plenamente o ser humano ao próprio ser humano e lhe descobre a sua altíssima vocação" (GS, 22). "Todo aquele que segue Cristo, o Homem perfeito, torna-se ele também mais ser humano" (GS, 41). "A razão principal da dignidade humana consiste na vocação do ser humano para a comunhão com Deus" (GS, 19). "A fé esclarece todas as coisas com luz nova. Manifesta o plano divino sobre a vocação integral do ser humano. E por isso orienta a mente para soluções plenamente humanas" (GS, 11).
Reparem que o texto não diz “soluções não somente humanas, mas também sobrenaturais” (visão dualista da vida humana), mas diz “soluções plenamente humanas”. Para os cristãos, o plenamente humano inclui a dimensão da fé. O cristianismo é um humanismo pleno, um humanismo radical. Pela fé, os cristãos descobrem sempre mais claramente o verdadeiro sentido da vida (na história), até o seu pleno, último e definitivo sentido (na meta-história).
Pela centralidade da Páscoa na vida dos cristãos, a espiritualidade cristã é, pois, espiritualidade pascal: cristológica, pneumatológica e trinitária (comunitária - eclesial). Viver a espiritualidade pascal significa viver como Jesus viveu, morrer como Jesus morreu, ressuscitar como Jesus ressuscitou. Em outras palavras, viver a espiritualidade pascal significa fazer acontecer a Páscoa de Jesus na vida pessoal, na história humana e no mundo todo. A Páscoa (o mistério pascal), que é passagem da morte (e de tudo o que a morte significa) para a vida (vida nova em Cristo, vida segundo o Espírito) é uma realidade dinâmica (processual), que impregna a totalidade da existência humana no mundo.
Para os cristãos, a vida é uma caminhada pascal, que faz o Reino de Deus acontecer, até a Páscoa definitiva, que é a plenitude do Reino de Deus, a plenitude da Vida e da Felicidade. Que a nossa espiritualidade seja realmente - e sempre mais - espiritualidade pascal!
Obs.: Veja também o meu artigo Espiritualidade pascal: no Diário da Manhã, 21/04/11, p. 15, ou no link: http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=N&cod=55841.
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 01/04/12, p. 07
http://www.dmdigital.com.br/novo/?ref=dmsite#!/view?e=20120401&p=23
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=65643
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG aposentado
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br