terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Uma Justiça “injusta”

           
Lendo a manchete “TJ aprova vale-alimentação para juiz e desembargador” (O Popular, 17/12/13, 1ª página), fiquei profundamente estarrecido e indignado.
            Lembro que - além do auxílio-alimentação (R$ 418 mensais) - os magistrados recebem também o auxílio-moradia (10%  do salário, mensalmente) e o auxílio-livro (12%  do salário, uma vez ao ano). O salário de juiz em início de carreira é cerca de R$ 22 mil e o salário do presidente do TJ-GO é cerca de R$ 30 mil. Coitados, os nossos juízes e desembargadores, estão passando necessidade! Poderiam ser inscritos no programa “Bolsa-Família”! Ironias a parte, é realmente um descaramento total.
Concordo plenamente, em gênero, número e grau, com Humberto Milhomem, quando afirma: “mais uma vez percebe-se que o Brasil é o país dos oportunistas, dos aproveitadores, das castas privilegiadas, dos marajás...”. E ainda: “a extensão do vale-refeição aos juízes e desembargadores - privilégio que outras categorias do Judiciário já possuem - é, antes de tudo, uma acinte à população”.
Para mostrar o absurdo e a imoralidade do benefício, ele lembra, como exemplo, “que os professores dos Estados e dos Municípios de todo o Brasil não têm direito sequer ao lanche servido aos alunos, muito menos ao vale-refeição. E por que essa categoria não é merecedora deste direito?”.
Humberto continua dizendo: “muitos professores, para dar conta das contas em casa, trabalham em dois turnos, tendo menos de uma hora para almoçar, uma vez que as aulas terminam às 12:15 e começam às 13 horas. Vão, então, para o segundo turno com fome, sem se alimentar. E quanto ganham os professores? O salário é de R$ 1.567,00. Isto mesmo! Com este mísero salário não têm direito ao vale-refeição”.
            A partir dessa realidade de gritante desigualdade, ele pergunta: “quanto ganha um desembargador?”. Responde: “mais de R$ 20 mil. Estes absurdos - afirma Humberto - nos fazem entender por que o Brasil é um dos países mais injustos do mundo, um país de contrastes que só crescem”
            Termina, pois, o seu desabafo, dizendo: “agora, com todos esses privilégios, por que nossa Justiça é a pior do mundo, ninguém consegue entender. Talvez esteja na hora do Governo Federal, a exemplo dos médicos, importar juristas cubanos mais eficientes e menos caninos na hora de atacar o erário” (Humberto Milhomem. Ib, 18/12/13. Carta dos leitores, p. 6).
            Humberto, todos e todas, que temos um mínimo de sensibilidade humana e de senso ético, somos solidários e solidárias com a sua justa indignação.
            Em contraste com a denúncia de Humberto, vejam agora o despudor do juiz de direito e presidente da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (ASMEGO), Gilmar Luiz Coelho. Para justificar o injustificável, a ASMEGO - através de seu presidente - “reitera que não defende nenhum tipo de privilégio para qualquer categoria. Defende, ao contrário, respeito, dignidade e igualdade no tratamento de qualquer trabalhador. Ao requerer o pagamento do direito, o fez fundamentada na Constituição Federal (artigo 129, parágrafo 4º) e na Resolução 133 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que prevê equiparação entre as carreiras da Magistratura e do Ministério Público”.
A ASMEGO ressalta “que o direito não é vedado pelo CNJ, sendo pago nos Tribunais Superiores e na imensa maioria dos Tribunais de Justiça brasileiros. Destaca que o valor aprovado pela Corte Especial do TJ-GO é bem inferior ao que é pago, por exemplo, ao MP: R$ 418,00 para magistrados, enquanto o MP paga a promotores e procuradores R$ 710,00. E também que não haverá pagamento retroativo a cinco anos, como no caso do Ministério Público” (Ib.).
Vejam, também, o despudor do promotor Alencar José Vital, presidente da Associação Goiana do Ministério Público (AGMP). Ele afirma, com todas as letras, que “não vê imoralidade no pagamento do auxílio-alimentação”. Para o promotor, “a concessão é legal e há outros benefícios que o MP-GO ainda não recebe”. E adianta: “vou atrás para recebermos”
Apresentando as razões, Alencar José diz: “o pedido do pagamento do auxílio-alimentação retroativo a 2008 e do reajuste do valor partiu da AGMP. Qual a justificativa para esse pedido? Esse benefício está previsto para o Ministério Público Federal (MPF) desde 1993. Com a criação do CNJ, passou-se a dar um caráter de similaridade nacional para os magistrados e membros do MPF. Com isso, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) reconheceu a simetria entre MPF e MPs estaduais. E é importante ressaltar que isso já vale para outros órgãos da Justiça, como STF, STJ, que já recebiam o auxílio. Nós fomos um dos últimos Estados a pagar esse benefício”.
Sobre o assunto em questão, o promotor demonstra ter uma visão meramente legalista, corporativista e egocêntrica. Nas suas palavras não transparece a mínima preocupação com a sociedade, que é estrutural e legalmente injusta, que exclui e descarta as pessoas com a maior frieza e crueldade, e que é baseada na lei do mais forte, que é a lei da barbárie.
A respeito da conquista do benefício (que, diante de Deus - tenho certeza - é um malefício), Alencar José declara: “comemoramos entre nós. A nossa obrigação, da Associação, é lutar pelos nossos direitos. Na medida em que a PGJ aquieceu a um pedido nosso, que foi feito dentro da lei, da fundamentação que se aplica a todo território nacional, não vejo problemas”.
Perguntado se, na concessão do benefício do auxílio-moradia, não há imoralidade, o promotor diz: “o norte da sociedade moral é a lei. Porque o julgamento moral dessa ou aquela ação é subjetivo. Agimos em cima da legalidade”.
Não dá para acreditar que um promotor possa, honestamente, fazer uma afirmação como essa. Até uma criança do Ensino Fundamental sabe que nem tudo o que é legal, é ético. Na sociedade, a imoralidade é, na maioria das vezes, legalizada e institucionalizada. Ora, quando a lei é injusta, toda pessoa ética tem a obrigação de não aceitar os benefícios concedidos por ela e, se for necessário - em nome do direito à “objeção de consciència” - tem também a obrigação (mesmo com risco de vida) de praticar a “desobediência civil” e de lutar para que a lei seja mudada. O comportamento ético é o comportamento mais humano possível numa determinada situação concreta.
Defender o “auxílio-alimentação e outros auxílios em causa própria, é muita cara-de-pau dos magistrados. Esses juízes e desembargadores não têm moral e, portanto, não têm condição de fazer justiça. Como podemos confiar numa Justiça “injusta”, que é um verdadeiro assalto aos cofres públicos? É lamentável que, em pleno século XXI, exista ainda tanto atraso cultural e ético.
Que - depois de recebermos, com alegria e esperança, a Boa Notícia do Natal de Jesus - 2014 seja, para todos e todas nós, um ano de muito compromisso com a construção de uma nova sociedade, justa, igualitária, de verdadeiros irmãos e irmãs. Feliz Ano Novo!


            Em tempo: voltarei a escrever no início do mês de fevereiro/14.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A Boa Notícia do Natal de Jesus, hoje

"Eu anuncio a vocês a Boa Notícia,
que será uma grande alegria para todo o povo” (Lc 2, 10)

O Evangelho de Lucas diz que, estando José e Maria em Belém, chegou a hora de Maria dar à luz. Como “não havia lugar para eles dentro de casa” (Lc 2, 7), Jesus nasceu num estábulo, “rejeitado” e “excluído” pela sociedade da época. Maria o enfaixou e o colocou numa manjedoura. “Veio para a sua casa, mas os seus não o receberam" (Jo 1, 11). Jesus - diríamos hoje - nasceu como “sem-teto”.
Antes de encontrar abrigo num estábulo, José e Maria, grávida de Jesus, perambularam nas ruas e praças de Belém, bateram em muitas portas, que - por serem pobres - sempre se fechavam na frente deles. Dormiram - penso eu - debaixo das marquises nessas mesmas ruas e praças. Hoje diríamos que Jesus, ainda no seio de Maria, foi “morador de rua”.
Os pastores foram os primeiros que receberam a Boa Notícia do Natal de Jesus. "Eu anuncio a vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura" (Lc 2, 10-12).
Os pastores foram às pressas se encontrar com José e Maria, e o recém-nascido. Voltaram louvando e glorificando a Deus, e tornaram-se os primeiros anunciadores da Boa Notícia do Natal de Jesus.
Quem eram os pastores? Eram pessoas "odiadas por não respeitar as propriedades alheias, ocupando-as com seus rebanhos e cobrando preços exorbitantes pelos produtos. Um pastor - segundo o Talmud babilônico - não podia ser eleito ao cargo de juiz ou testemunha nos tribunais, por causa da má fama e do desrespeito à propriedade" (Pe. José Bortolini, Roteiros homiléticos. Paulus, 2006, p. 3 - Missa da noite de Natal). Os pastores não eram, portanto, considerados "pessoas de bem". Eram - diríamos hoje - os “sem-terra” da época de Jesus.
E o Natal de Jesus, hoje? Quem são os pastores, hoje? A partir da nossa realidade e à luz da mensagem do Evangelho, podemos afirmar que os pastores são, hoje:
- os “moradores de rua”, que a sociedade hipócrita, injusta e excludente considera “lixo humano” e que são barbarmante assassinados, com a anuência silenciosa das chamadas “pessoas de bem”;
- os “sem-teto”, que, como verdadeiros heróis e verdadeiras heroínas, lutam incansavelmente pelo direito à moradia digna;
- os “sem-terra”, que, unidos e organizados em movimentos, combatem o latifúndio, reivindicam uma verdadeira reforma agrária e defendem o direito à terra de trabalho;
- os “presos”, que, considerados a escória da sociedade, vivem nas cadéias (verdadeiros depósitos de “lixo humano”) em condições degradantes e subumanas;
- os “desempregados”, que, como massa sobrante, descartável e excluída do direito à cidadania, não encontram trabalho para poder sustentar com dignidade a si e a suas famílias;
- os “subempregados” que são explorados por empresas gananciosas, que visam somente o lucro;
- os “trabalhadores”, que - mesmo empregados, na rede pública ou privada - trabalham o dia inteiro e ganham um salário de fome;
- os “doentes”, que, por omissão de socorro, morrem à mingua, devido a uma saúde pública, que é uma verdadeira calamidade;
- os “jovens”, que - envolvidos no mundo das drogas, por falta de políticas públicas de qualidade - são cruelmente exterminados;
- enfim, “todos aqueles e aquelas” que - solidários com os empobrecidos, oprimidos e excluídos da sociedade - denunciam profeticamente as injustiças e lutam, com muito amor e esperança, por um mundo novo, que, à luz da Fé, é o Reino de Deus, acontecendo na história humana e cósmica.
Hoje, são estes os pastores, os primeiros que recebem, com alegria, a Boa Notícia do Natal de Jesus em seu meio. Hoje, são estes os pastores, que, louvando e glorificando a Deus, se tornam os primeiros anunciadores dessa Boa Notícia para todos nós.
Há poucos dias, recebi da Pastoral do Povo da Rua do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia - que acompanho de perto - o convite (o mais honroso da minha vida) para ajudar a servir o almoço a cerca de 100 Moradores de Rua e para almoçar junto com eles. Conversando com os Moradores de Rua, fiquei profundamente impressionado com a sensibilidade humana desses nossos irmãos e irmãs, sofridos e “descartados” pela sociedade.

Fiquei também muito sensibilizado e edificado pelo testemunho de ternura com que a Neusa, a Madalena e a equipe de voluntários trataram os Moradores de Rua. Todos receberam uma cesta de Natal, preparada com carinho e amor de irmãos e irmãs.
Para mim e para todos e todas que estávamos lá, foram eles e elas os primeiros e as primeiras que - numa situação de muito sofrimento - receberam, com grande alergria e esperança, a Boa Notícia do Natal de Jesus. Foram eles e elas os primeiros e as primeiras que anunciaram essa Boa Notícia para todos e todas nós.
No juízo final, “os justos perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? O Rei responderá: em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 37-40) 
Atenção, meus irmãos e minhãs irmãs! Não nos iludamos, procurando a Boa Notícia do Natal de Jesus onde ela não se encontra. Procuremo-la onde ela realmente se faz ouvir e onde ecoa com toda força profética. Feliz Natal!.

Leia também os artigos:
Jesus, o “sem-teto” de Belém, em:
Jesus, “morador de rua” em Belém, em:

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Parem a execução de Moradores de Rua!

Em Goiânia, entre a noite do dia 4 e a madrugada do dia 5 deste mês, foram barbaramente executados mais três Moradores de Rua: Ricardo Jorge Teixeira Figueiredo (o português), de 30 anos e dois outros homens ainda sem identificação.  
O delegado Adriano Costa, adjunto da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH), disse que não há nenhuma ligação entre os três casos e nenhuma relação com grupo de extermínio, porque cada caso aconteceu de uma forma diversa do outro.
Delegado Adriano, o senhor não acha que assassinar Moradores de Rua, de forma diversa, pode ser proposital (para despistar), provando justamente o contrário daquilo que o senhor diz? Como o senhor tem o despudor de afirmar que se trata de “problemas pontuais”, quando, somente na capital, em pouco mais de um ano, foram executados 44 (ou 48, segundo uma outra fonte) Moradores de Rua?  Se realmente - pelas investigações feitas - a maioria das execuções está ligada ao acerto de contas entre Moradores de Rua e traficantes, o que tem - ou, quem está - por trás de tudo isso? O fato de a DIH se achar na obrigação de dizer - toda vez que acontecem assassinatos de Moradores de Rua - que não existe grupo de extermínio, não suscita muitas desconfianças?
Infelizmente, matar Moradores de Rua tornou-se habitual e Goiânia, em proporção à sua população, ocupa o primeiro lugar no Brasil. É uma situação que clama por justiça diante de Deus!
Apesar de tantas reuniões, de tantas conversas e de tantas promessas, a ineficiência dos Poderes Executivo e Legislativo (Municipal, Estadual e Federal) é assusdora, com a leniência do Judiciário e a omissão do Ministério Público.
Falou-se diversas vezes na federalização dos assassinatos de Moradores de Rua de Goiânia. Segundo a Midia noticiou, alguns pedidos já foram feitos, mas até agora nada de concreto aconteceu e a matança continua.
Diante dos três últimos assassinatos, na manhã do dia 6 do mês corrente, numa reunião extraordinária do Comitê Pop Rua (órgão da Prefeitura de Goiânia, criado para instituir políticas para a População em situação de Rua), com a participação de um representante da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR), foi anunciado que a referida Secretaria encaminhou o pedido ao Superior Tribunal de Justiça (STF) para a federalização das investigações dos crimes. A mesma ação já foi feita junto à Procuradoria-Geral da República (PGR).
A busca de uma solução para os assassinatos dos Moradores de Rua de Goiânia é de urgência urgentíssima. Não dá mais para esperar! O que todos e todas desejamos é que as providências tomadas não fiquem - mais uma vez - só em palavras, mas cheguem, com rapidez, a resultados concretos.
            Em nome da Pastoral do Povo de Rua do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia e, penso poder dizer também, em nome de todos aqueles e aquelas que lutam na defesa dos Direitos Humanos, de maneira especial, da vida dos Moradores de Rua, faço novamente (já fiz no início do mês de abril deste ano) à ministra Maria do Rosário, da SDH-PR, quatro apelos dramáticos:
1.    Que, na Grande Goiânia, os Moradores de Rua sejam incluídos, com a máxima urgência, no Sistema de Proteção a Pessoas Ameaçadas do Governo Federal;
2. Que as investigações das mortes de Moradores de Rua sejam federalizadas imediatamente;
3.    Que os resultados das investigações sejam públicos e amplamente divulgados na Mídia;
4.    Que os responsáveis sejam processados, julgados e condenados com rigor e rapidez.

            Chega de tanta barbárie! Em nome de Deus, parem a execução de Moradores de Rua, nossos irmãos e irmãs! 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Para que “nossa agenda” seja em favor da Vida [Agenda/Livro Latino-americana Mundial]

“Eu vim para que tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10)


Logo na primeira página, a Agenda/Livro Latino-americana Mundial, com palavras de extraordinária densidade humana, diz-nos - de modo resumido, mas claro - o que pretende ser e qual é o seu objetivo.

Ela é “sinal de comunhão continental e mundial entre as pessoas e as comunidades que vibram e se comprometem com as Grandes Causas da Patria Grande (América Latina), como resposta aos desafios da Patria Maior (mundo). Um anuário da esperança dos pobres do mundo, a partir da perspectiva latino-americana. Um manual companheiro para ir criando a ‘outra mundialidade’. Uma síntese da memória histórica da militância e do martírio da Nossa América. Uma antologia de solidariedade e criatividade. Uma ferramenta pedagógica para a educação, a comunicação, a ação social ou a pastoral popular. Da Pátria Grande para a Pátria Maior”.

A Agenda/Livro Latino-americana Mundial é uma “luz” que indica “caminhos”, para que “nossa agenda” seja em favor da Vida, da Justiça e da Paz, ou, em outras palavras, em favor do Reino de Deus. Ela pretende divulgar e celebrar os sinais da presença desse Reino entre nós e tudo aquilo que está sendo feito, para que estes sinais se multipliquem sempre mais. Com isso, ela fortalece a nossa esperança e nos faz acreditar que um mundo novo, igual e fraterno, é possível.  

A Agenda/Livro Latino-americana Mundial começou a ser publicada em 1990. Atualmente, ela é traduzida em seis idiomas e distribuída em 22 países. A edição 2014 traz como tema - que é um grande desafio - “Liberdade. Liberdade!”.

José Maria Vigil, apresentando a Agenda/Livro 2014, exlama: “’Liberdade, Liberdade!’. Um grito, uma bandeira, um suspiro, uma utopia perseguida e sonhada ao longo de toda a História Humana...”. Diz ainda: “faltava esse tema na já longa lista de Grandes Causas e grandes temas de reflexão do itinerário de nossa Agenda/Livro. E aqui estamos, frente a frente com ela, como ideal, como caminho, como compromisso de esperança”. 

A Agenda/Livro convida-nos a refletir sobre a liberdade a partir dos empobrecidos, oprimidos e excluídos (os “pequeninos” do Evangelho), ou seja, a partir do reverso da História. É o único caminho que torna possível a liberdade para todos e para todas. 

Na distribuição dos assuntos - tratados, como afirma José Maria Vigil, por autores “de reconhecido espírito latino-americano” - o esquema usado é sempre o do método latino-americano, tripartido: ver-julgar-agir ou analisar-interpretar-libertar. No ver, os autores analisam críticamente diversos aspectos da realidade da América Latina e do mundo. No julgar, interpretam esses aspectos da realidade com argumentos racionais (filosóficos) e argumentos racionais à luz da Fé (teológicos). No agir, indicam caminhos de libertação, que fazem acontecer a verdadeira liberdade. 

Costumamos dizer que o ser humano, enquanto ser racional, é livre. Considerando, porém, que o ser humano é um ser histórico, situado (num determinado lugar) e datado (num determinado tempo), o certo seria dizer que o ser humano tem a possibilidade de ser livre. A liberdade de fato acontece no processo histórico, que é um processo de libertação de tudo aquilo que nos impede de ser livres, em todas as dimensões da vida humana, pessoais, sociais (sócio-econômico-político-culturais-ecológicas) e cósmicas. Nós somos sujeitos desse processo histórico de libertação, mas condicionados ao lugar em que estamos e ao tempo em que vivemos. O ser humano é fruto do meio ambiente e, ao mesmo tempo, faz o meio ambiente.

Na introdução à Agenda/Livro 2014, Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix, Mato Grosso, diz que o tema liberdade é abordado “em todas suas dimensões, buscando conhecer e viver a liberdade integral, que tem muitas vertentes, que é um dom e uma conquista”. 

Diz ainda o bispo: “ser livres, tornar-se livres, acolher a liberdade como um processo espiritual e uma vivência política é ir humanizando sempre mais nossa humanidade”.

Mercedes Sosa - relata Dom Pedro - “faz um convite entranhavelmente humano”: “Irmão, dá-me tua mão, vamos juntos buscar uma coisa pequenina, que se chama liberdade”.

Por fim, podemos dizer que a nossa liberdade não termina onde começa a liberdade dos outros e das outras (liberdade em competição), mas a nossa liberdade acontece com a liberdade dos outros e das outras (liberdade em comunhão).

“A verdade os fará livres” (Jo 8, 32). “Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres” (Gl 5, 1). 

Um lembrete: no Brasil, a Agenda-Livro Latino-americana Mundial 2014 - lançada em novembro, em diversas cidades do país - pode ser adquirida pelo telefone ou via e-mail. A edição e publicação são de responsabilidade da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, sediada em Goiânia. Os pedidos devem ser feitos pelo correio eletrônico justpaz@dominicanos.org.br ou pelo telefone (62) 3229.3014, de segunda a sexta-feira, das 13:30 às 17h.

















terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Jovens desafiando jovens [10ª Assembleia do CMI]

A Rede Ecumênica de Juventude (REJU), com sede no Rio de Janeiro, participou - de 30 de outubro a 8 de novembro, na cidade sul-coreana de Busan - da 10ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). O testemunho dos jovens da Rede demonstra consciência crítica, maturidade humana e responsabilidade histórica. É realmente motivo de muita esperança. 

Quero comentar o depoimento de Alexandre Pupo Quintino, que é de uma sensibilidade e capacidade de discernimento extraordinárias. Diz o jovem: “participar de uma Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas foi um sonho para mim desde que comecei a me envolver no Movimento Ecumênico. Apesar de saber que o Ecumenismo de verdade acontece na base, nas comunidades, nas paróquias, nos bairros e cidades, a perspectiva global é essencial para o próprio conceito de Ecumenismo”. 

Continua relatando: “durante os últimos 20 dias trabalhei com 120 stewards (articuladores, orientadores, coordenadores). Jovens de todo mundo que, como eu, deixaram suas realidades, ou melhor, trouxeram um pouco delas, para Busan. Aqui nós recebemos formação e tivemos espaços de discussão e compartilhamento; além de trabalharmos na Assembleia. Fui designado para o grupo de Liturgia e Música. Nosso grupo era composto por brasileiros, canadenses, americanos, jamaicanos, coreanos, egípcios, polinésios, finlandeses, alemães, suíços, franceses. Metodistas, batistas, anglicanos, luteranos, ortodoxos, coptas, reformados, unidos”. 

Narra, ainda, Alexandre: “de partida já tivemos muitos desafios culturais e de respeito às diversidades. Imagine pensar em uma celebração que agrade a todos, não ofenda ninguém, e ao mesmo tempo seja significativa. Aí está a beleza do Movimento Ecumênico. Sob o tema ‘Deus da Vida, guia-nos à Justiça e à Paz’, nossas diferenças se tornam pequenas no distanciamento e grandes na beleza da diversidade dos dons de Deus. Cantamos em cantos gregorianos e árabes, oramos em voz alta com os coreanos, cantamos ao ritmo do tango argentino e com os tambores tradicionais da Coreia. A mensagem era uma, apesar das formas diversas. Essa grande diversidade nos lembra do primeiro ponto do tema da Assembleia: Deus da Vida. O nosso Deus é um Deus de Vida. Ele nos deu ela através do seu sopro, se submeteu a ela através do seu Filho e com ela venceu a morte através da Ressurreição. Como cristãos e cristãs, somos convidados a viver essa Vida, esse dom, essa dádiva. As diferentes culturas nos lembram da extensa dimensão desse conceito. A Vida vence a morte, a Vida é maior do que tudo que podemos entender dela, o nosso próprio Deus é Vida”.

O jovem descreve com realismo, mas com muita fé: “nestes dias ouvimos histórias e compartilhamos relatos de situações que afetam nossos contextos e nossas comunidades. Notícias de jornal, tão distantes de nós, como as situações na Síria ou no Paquistão, se tornam muito mais próximas quando as ouvimos direto daqueles que vivem na pele estas situações. Choramos com o relato do Genocídio Armênio, com as histórias do Apartheid na África do Sul, com a situação ainda sem resolução dos nossos irmãos palestinos. Aprendemos sobre questões de gênero e violência contra a mulher, sobre a história da Libéria, sobre a divisão das Coreias”. 

Alexandre faz, pois, um caloroso apelo: “olhando tudo isto, fomos desafiados por esse nosso Deus que é Vida. Sigamos em direção à Justiça e à Paz. A voz profética não terminou com os profetas do Antigo Testamento ou com a Ascensão do Cristo, ela seguiu como um mandamento a todos aqueles que estivessem dispostos ao discipulado de Jesus. Denunciar o pecado da injustiça, da morte, da opressão, da desigualdade, da guerra; e proclamar o ano aceitável, a Justiça, a Paz, a Vida plena, o Reino; é o que une cristãos do mundo inteiro ao Corpo de Cristo. É isso que nos lembra a própria Eucaristia, o Cristo que se faz realmente presente quando há partilha”.

Alexandre relata, ainda, que Olive - uma jovem coreana com a qual tiveram o prazer de conviver nos últimos dias - numa reunião com os stewards do grupo de Liturgia e Música - disse: “Vocês sabem que a sociedade coreana tem muita hierarquia e diferentes formas de tratamento de acordo com a sua idade. Hoje eu me dei conta que estamos trabalhando num comitê junto com dois dos mais famosos regentes da Coréia. Um deles, inclusive, me deu aula. Porém, aqui nos tratamos como iguais, todos dão suas opiniões, as discordâncias são reconhecidas e a igualdade prevalece, parece o Reino de Deus”. 

Que depoimento bonito e significativo! É isso que nos fortalece a todos e todas, e nos incentiva - com esperança, que já é certeza de vitória - a continuar a luta por um Mundo Novo, de justiça, igualdade, fraternidade e amor.

O jovem continua relatando: “em cada encontro e desencontro, oração, culto, conversa e jantar, nós tivemos a oportunidade única de viver essa experiência de diversidade e igualdade, unidade e respeito. Tudo foi muito intenso e vou levar muito tempo para entender o que realmente foi tudo isso, o quanto tudo isso mudou minhas perspectivas, aqueceu minha fé, renovou minha experiência com Deus”. 

Como ao fim de cada viagem, o jovem lembra, pois, do sábio ensinamento do avô: “Em uma viagem, o mais importante não são os lugares que você vai conhecer, as fotos que você vai tirar, mas as pessoas com que você vai encontrar pelo caminho que vão marcar sua vida”. 

Alexandre termina o seu depoimento, dizendo: “esta caminhada ecumênica é como uma grande peregrinação, na qual vamos encontrando pessoas diferentes que podem até se estranhar de princípio, mas que aos poucos se percebem caminhando na mesma direção. Então, os passos começam a entrar no mesmo compasso ao som da canção do Deus da Vida, e é nessa hora que lá no horizonte é possível começar a vislumbrar o Reino de Justiça e Paz. Somos todos peregrinos” (http://www.reju.org.br/noticias-conteudo.asp?cod=1634 - 14/11/13). 

Parabéns, Alexandre! O seu depoimento - que é o testemunho de uma maravilhosa experiência de Vida - é de uma profundidade teológica extraordinária, que, tenho certeza, fará um bem imenso a todos os jovens e a todas as jovens, libertando-os e libertando-as de tudo aquilo que impede a verdadeira Vida e a verdadeira Felicidade. Continue sendo profeta da Vida, sobretudo no meio dos jovens e das jovens! Um outro mundo é possível e necessário! Os jovens e as jovens são seus protagonistas, “no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial, e na construção da Vida, da Justiça e da Paz” (CF 2013: Fraternidade e Juventude). “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6, 8). Que o Natal de Jesus 2013 seja, para todos e todas nós, um Novo Natal! 

Leia também o artigo “Deus da Vida guia-nos à Justiça e à Paz” [10ª Assembleia do CMI], em:
http://www.dm.com.br/jornal/#!/view?e=20131122&p=19;
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=78785&langref=PT&cat=24.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

“Deus da Vida, guia-nos à Justiça e à Paz” [10ª Assembleia do CMI]

            Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), a principal organização ecumênica em nível internacional, que reúne 345 denominações religiosas cristãs - protestantes, evangélicas, anglicanas e ortodoxas - de mais de 110 países e territórios.
            O tema - refletido e debatido na Assembleia de Busan - foi: “Deus da Vida, guia-nos à Justiça e à Paz”. Fez alusão ao primeiro encontro do CMI em Amsterdã, em 1948, que enviou, na época, mensagem às Igrejas e ao mundo destacando o desejo: “nós pretendemos ficar juntos”.
A Mensagem final de Busan de 2013 - um documento que resume as conclusões da Assembleia - convida as Igrejas: "junte-se à Peregrinação da Justiça e da Paz". Demonstrando o sentimento de união e consenso existentes entre as muitas denominações presentes, proclama: “no amor de Jesus Cristo e pela misericórdia do Espírito Santos nós, como uma comunhão dos filhos de Deus, caminhamos juntos para o cumprimento do Reino” e “temos a intenção de caminhar juntos”.
Destaca a experiência da busca da unidade na Coréia, como um sinal de esperança no mundo. "Essa não é a única terra onde as pessoas vivem divididas, na pobreza e na riqueza, felicidade e violência, bem-estar e guerra. Nós não somos autorizados a fechar os olhos para as realidades duras ou para descansar as mãos da obra transformadora de Deus. Como uma irmandade, o CMI está em solidariedade com o povo e as Igrejas na península coreana, e com todos os que lutam pela Justiça e a Paz".
A Mensagem lembra-nos que “o CMI representa cerca de 500 milhões de membros, o maior corpo cristão fora da Igreja Católica, que são motivados nesta iniciativa ecumênica de junção, união e partilha de interesses comuns. Por aqui vemos que, ao mais alto nível oficial, todo o cristianismo está com uma disposição clara para remover o que (ainda) os separa e concentrar-se no que os pode unir”.
Mesmo reconhecendo que a Igreja Católica Romana não é membro do CMI, a Mensagem faz questão de destacar que a Igreja de Roma, em caráter oficial, “participa ativamente no movimento ecumênico” e acrescenta “que não apenas participa ativamente como é o seu principal interessado”.
Com palavras de muita esperança, afirma: “posto isto, e sendo este caminho aprofundado, qual a dificuldade em, finalmente, todos os cristãos se juntarem a Roma ao abrigo das mesmas premissas de justiça, paz, união…? Fica óbvio que nenhuma” (http://www.otempofinal.org/?p=1491;
O papa Francisco, no dia 30 de outubro, enviou uma Mensagem à Assembleia do CMI - intitulada “Periferias existenciais e família” - que foi lida pelo Card. Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. A Mensagem reconhece que “a Assembleia é o órgão de gestão mais importante do CMI, que “é convocada a cada sete anos” e que dela “participam mais de três mil representantes de 345 Igrejas e comunidades eclesiais”.
Lembrando, pois, que “a Assembleia precedente foi realizada em 2006 em Porto Alegre (RS), Francisco reitera “o empenho da Igreja Católica a continuar a cooperação de longa data com o Conselho”, destaca que “o mundo globalizado requer dos cristãos o testemunho do valor da dignidade da pessoa que vem de Deus” e defende “a educação integral dos jovens e uma promoção da pessoa que permita aos indivíduos e às comunidades crescerem em liberdade”.
            O papa Francisco explica que, “em fidelidade ao Evangelho, somos chamados a alcançar todos os que se encontram nas periferias existenciais da sociedade e a levar solidariedade aos irmãos e às irmãs mais vulneráveis”. E cita nomeadamente “os pobres, os deficientes, os nascituros e os doentes, os migrantes e os refugiados, os idosos e os jovens sem emprego”.
Francisco garante, ainda, a sua oração para que “a Assembleia contribua a dar novo impulso vital e nova visão a todos os que estão empenhados na causa sagrada da unidade dos cristãos”.

Termina a Mensagem, dizendo que “o Secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Dom Brian Farrell, guia a delegação oficial católica, composta por 25 pessoas” e reafirma que “a Igreja Católica, mesmo não sendo membro do CMI, colabora ativamente com o organismo, através principalmente do “Grupo Misto de Trabalho”, instituído em 1965. Por fim, afirma que “a Rádio Vaticano acompanha os trabalhos da Assembleia com a enviada, Philippa Hitchen (BF)” (http://www.news.va/pt/news/periferias-existenciais-e-familia-a-mensagem-do-pa).
Retomando o tema da Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos deste ano (12 a 19 de maio) do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), perguntemo-nos: o que Deus exige de nós?

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A volta do auxílio-moradia: uma sem-vergonhice parlamentar

Coitados dos deputados estaduais de Goiás! Estão sem moradia! Passam fome! Não têm dinheiro para colocar gasolina no carro! Trabalham exaustivamente em benefício do povo! Que pena! Vamos fazer uma vaquinha para ajudá-los! Eles merecem!

Ironias a parte, quando pensamos que, em matéria de sem-vergonhice, não pode ter mais nada de novo, é aí que nos surpreendemos e ficamos boquiabertos. Parece que, nessa matéria, a esperteza não tem limites. Bem que Jesus alertou: “os filhos deste mundo são mais espertos no trato uns com os outros do que os filhos da luz” (Lc 16,8).

Um exemplo paradigmático dessa sem-vergonhice é a volta do auxílio-moradia dos deputados estaduais de Goiás. Que descaramento! Após oito meses suspenso, o auxílio-moradia - por ato da mesa diretora, publicado no Diário Oficial da Casa em meados do mês passado - voltou a ser pago aos deputados estaduais de Goiás, retroativo a 1º de outubro. Além disso, o valor foi reajustado.e passa a ser de R$ 2.850, que corresponde a 75% do que é pago aos deputados federais. Até janeiro, o valor era de R$ 2.250.

O presidente da Assembleia, Helder Valin (PSDB), justifica a volta do auxílio-moradia, dizendo: “recebi o pedido assinado pelos deputados e enviei para análise da Procuradoria da Casa, que manifestou pela legalidade da concessão do benefício. Administro um colegiado e se o pedido foi feito pela maioria e não há impedimento legal, não posso me opor” (O Popular, 05/11/13, p. 10).

Senhor presidente, a mim e - tenho certeza - a todos os que têm um mínimo de senso ético, pouco importa saber se o auxílio-moradia é legal ou não. Se for legal, a lei é injusta e deve ser mudada. Digo mais: o auxílio-moradia é um deboche, uma afronta aos trabalhadores e um pontapé na cara do povo. É totalmente antiético não só para os deputados que moram na capital, mas também para os que moram no interior.

Os trabalhadores, mesmo os que trabalham na capital e moram no interior, não recebem o auxílio-moradia. Pergunto: os direitos não são iguais? Por que, então, os deputados - no lugar de pensar só nos seus interesses - não elaboram um projeto de lei que institui o auxílio-moradia para todos os trabalhadores que ganham menos de dois salários mínimos? E por que não usar o dinheiro do auxílio-moradia dos parlamentares para implementar políticas públicas em benefício dos Moradores de Rua?

É bom lembrar que, além do auxílio-moradia, os deputados - que recebem um salário aproximado de R$ 20.000 - podem gastar até R$ 23.000 mensais para a manutenção do mandato. É a chamada verba indenizatória. O dinheiro pode ser utilizado, por exemplo, com combustíveis, consultorias, diárias e na produção de materiais gráficos. O auxílio-moradia é realmente uma sem-vergonhice parlamentar! Não tem outro nome mais apropriado para tamanha falcatrua.

Não sei se por convicção ou por conveniência política, até o dia 6 deste mês, dez deputados abriram mão do valor do auxílio-moradia. Parece que, em breve, mais alguns deverão fazer o mesmo. Fiquemos de olho!
Em nome da Lei de Acesso à Informação (nº. 12.527/11), vamos exigir - como já fez a OAB-GO no dia 6 deste mês - a lista completa dos deputados estaduais de Goiás que voltaram a receber o auxílio-moradia, para que seus nomes sejam amplamente divulgados na mídia e para que esses deputados sejam definitivamente banidos da vida pública.

Tudo o que dissemos dos deputados estaduais de Goiás, vale também para os parlamentares de outros Estados e do Governo Federal, que recebem o auxílio-moradia. O pagamento do auxílio-moradia a parlamentares é uma verdadeira farra com dinheiro público.

Estava terminando este escrito, quando - tomado de profunda indignação, que revolveu as minhas entranhas - li a reportagem que relata: “além do salário, do auxílio moradia, da verba indenizatória, da verba de gabinete, dos veículos à disposição e das viagens internacionais (só em viagens internacionais, a Assembleia gastou, em um ano, cerca de R$ 900 mil), os deputados goianos também podem contar com a ajuda de custo para realizar viagens dentro do País. De julho do ano passado até o início de outubro deste ano, 18 parlamentares gastaram R$ 198,2 mil em viagens a diversos Estados brasileiros, com duração de um dia a uma semana. Até para ir a Brasília, com retorno no mesmo dia, deputados receberam ajuda de custo (R$ 500) - embora tenham carro oficial e verba indenizatória para custear despesas com alimentação e combustível” (O Popular, 11/11/13, p. 10).
  
O levantamento da reportagem não considera as viagens dentro do Estado, também pagas pela Casa. Pergunto: por que, então, a verba indenizatória de até R$ 23.000 mensais? Trata-se de um verdadeiro roubo do dinheiro público (Leia a íntegra da reportagem com a lista dos deputados que viajaram á custa do dinheiro público, em: http://www.opopular.com.br/editorias/politica/viagens-custam-quase-r-200-mil-1.425154).

Enfim, veja o absurdo. Estudo da organização Transparência Brasil “concluiu que os parlamentares brasileiros são os mais caros do mundo. Um minuto trabalhado aqui custa R$ 11.545,00 ao contribuinte. Por ano cada senador não sai por menos de R$ 33 milhões. O custo anual de um deputado é de R$ 6 milhões e 600 mil. Os valores gastos com o Congresso causam ainda mais espanto quando comparados a países mais ricos que o Brasil. Se fizermos a média dos custos de deputados e senadores, cada parlamentar no Brasil sai por R$ 10 milhões e 200 mil por ano, quando na Itália é de R$ 3 milhões e 900 mil, França: R$ 2 milhões e 800 mil, Argentina: R$ 1 milhão e 300 mil e Espanha: R$ 850 mil. Esse custo se repete nas Assembleias Legislativas e, o pior exemplo, está em Brasília. Cada um dos deputados distritais custa por ano quase R$ 10 milhões. E os vereadores do Rio e São Paulo cada um sai por pelo menos R$ 5 milhões” (http://cliquepiripiri.com.br/noticias/estudo-parlamentares-brasileiros-sao-os-mais-caros-do-mundo - 13/07/13).

Apesar de tudo o que foi dito, não podemos perder a esperança e, como afirma o papa Francisco, "o desprestígio do trabalho político precisa ser revertido, porque a política é uma forma mais elevada de caridade social. O amor social se expressa no trabalho político para o bem comum" (http://saberepoder57.blogspot.com.br/2013/07/para-meditardez-pensamentos-politicos.html - 27/07/13).

E ainda: “O futuro exige hoje a capacidade de reabilitar a política. Reabilitar a política que é uma das formas mais altas da caridade. O futuro nos exige também uma visão humanista da economia e uma política que leve cada vez mais e melhor a participação das pessoas. Evite o elitismo e erradique a pobreza” (http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/07/ou-se-aposta-no-dialogo-ou-todos-perdemos-diz-papa-em-discurso.html - 27/07/13)...

Lutemos para que este ideal - do qual estamos ainda tão longe - se torne realidade.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil Comentando a Carta Final do 24º Encontro

Nos dias 5 e 6 de outubro aconteceu em Goiânia o 24º Encontro da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil.

A Carta Final - dirigida aos irmãos e irmãs da Família Dominicana do Brasil - começa dizendo: “como irmãos e irmãs de caminhada pela construção da Justiça e Paz, nós, as 66 pessoas participantes deste Encontro, vindos dos Estados do Maranhão, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Tocantins, Pará, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Goiás, nos reunimos (...) para refletirmos sobre nosso trabalho de base e a articulação das ações de Justiça e Paz”.

O Encontro foi assessorado pela Irmã Pompea Bernasconi, religiosa das Irmãs de Nossa Senhora Cônegas de Santo Agostinho.

A Carta, logo no início, afirma: “fomos convidados/as a abrir nossos ouvidos, nossos corações e todo nosso sentimento aos anseios e sofrimentos do povo”. Depois pergunta: “mas, qual a melhor maneira de se ouvir com nitidez? E a resposta é: “a melhor forma de ouvir é estar bem próximo das pessoas, olho no olho, ‘sentindo o cheiro das ovelhas’, tocá-las”. 

A Carta nos lembra que “este foi o método de Jesus. Este deve ser o nosso”. Citando o Documento de Aparecida, afirma: é necessário “que dediquemos tempo aos pobres, prestar a eles amável atenção, escutá-los com interesse, acompanhá-los nos momentos difíceis, escolhê-los para compartilhar horas, semanas ou anos de nossas vidas, e, procurando, a partir deles, a transformação de sua situação” (397). 

Por isso - continua a Carta - “fizemos, em forma de mutirão, uma análise da conjuntura atual para sentir o que o mundo, o país, a cidade, a comunidade estão dizendo. ‘Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!’”.

Nesta análise “foi dada ênfase às manifestações que tomaram as ruas, neste ano”. Perguntamos: “em tempos de crise de trabalho de base e dificuldades mil em mobilizar o povo, como explicar essa ‘explosão de manifestações’”? 

Constatamos que “as explicações foram inúmeras e diversas. Mas, o fato delas terem partido de necessidades concretas (o transporte coletivo, e outras), sem iniciativa específica nem de Partidos Políticos, nem de Igrejas (diferente do que acontecia nos anos 70 e 80), elas têm muito a nos dizer. É necessário ouvi-las com atenção”! 

Do lado eclesial, constatou-se: “surpreendentemente, há esperanças que vêm de Roma, mas com muitos retrocessos nas Igrejas Locais”. 

Enfim, tivemos a fraterna e sábia visita do Frei Humberto, que, vindo em cadeira de rodas, fez questão de nos lembrar: “Vocês são profetas de Deus, profetas da vida”. Perguntamos, pois: “como fazer que nossas instituições eclesiais recuperem a profecia, carregando a bandeira dos anseios que vem dos gritos das ruas”? 

A Carta reconhece que do Encontro “brotaram desafios e orientações significativas”. Foram assim sintetizados:
1. “Precisamos encontrar a porta de entrada para nosso trabalho, diminuir a distância física da base. Conhecer as necessidades sentidas pelo povo. Nem sempre o que eu/nós penso/pensamos é o que povo quer; ouvir seus sonhos, desejos, esperanças, lutas, conquistas. A partir daí, conhecer suas potencialidades, despertar para a defesa e a promoção de sua dignidade e anunciar outro mundo possível, viver a solidariedade; 
2. Fomos provocados/as a nos deter na questão da mulher, que é a verdadeira protagonista no trabalho de base, mas ao mesmo tempo discriminada na sociedade e na nossa Igreja. Se na sociedade, ela vai encontrando seu espaço, mesmo que isso não atinja todas as classes, alcançando o cargo máximo na República, por que em nossa Igreja continua tão fora das instâncias de decisão (as mulheres fortes na base e fracas na hierarquia)?; 
3. Não existe trabalho de base à distância, nem por telefone ou internet, nem só nos finais de semana; 
4. Fazer com o povo, e não para o povo ou pelo povo; 
5. Formar lideranças (que pensem na comunidade) e não líderes individuais (que querem se projetar);
6. Lutar para conseguir um objetivo de cada vez e ir celebrando as pequenas vitórias; 
7. Descobrir novas praças, novas bases, para construir, a partir das ações de Justiça e Paz na ótica dos Direitos Humanos, o outro mundo que sonhamos, e que é possível e urgente. 
8. Recuperar o Jesus histórico, como condição fundamental para o trabalho de base. 
9. Celebrar o Jubileu dos 25 anos de nossa caminhada, garantindo a memória crítico-propositiva”.

A Carta termina dizendo: “agradecidos pela riqueza do Encontro, iniciamos o processo de preparação para o próximo” e estamos “cientes de que o próximo ano (2014) será marcado por comemorações importantes para toda nossa Família Dominicana: 25 anos desta Comissão de Justiça e Paz, 40 anos do martírio de Frei Tito e 500 anos da conversão de Frei Bartolomeu de Las Casas”.

Conclui, fazendo um convite: “a caminho da celebração de 800 anos de caminhada dominicana, convidamos toda a Família Dominicana do Brasil, as pessoas, Comunidades, Movimentos Sociais Populares e outras entidades parceiras a participarem de nosso 25° Encontro (Jubileu de Prata da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil) nos dias 21 e 22 de novembro de 2014, com a participação especial de Frei Timothy Radcliffe, ex Mestre da Ordem Dominicana”.

Desejando que a Família Dominicana do Brasil seja, em sua missão apostólica, sempre mais “profética”, os participantes saudámo-nos com “abraços fraternos e sororais”.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Real Conquista, palco de mentira e demagogia

Em 2012, nesta mesma época, escrevi o artigo Real Conquista, palco de covardia e arrogância. (Leia o artigo em: http://www.dmdigital.com.br/novo/#!/view?e=20121113&p=20 ou http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=71983).

Hoje, reafirmo tudo o que escrevi nesse artigo e acrescento que o Real Conquista tornou-se também palco de mentira e demagogia.
No dia 24 deste mês, em que Goiânia completou 80 anos, o governador Marconi Perillo, logo cedo - como primeiro compromisso de sua agenda - fez uma visita ao Residencial Real Conquista, na Capital, para entregar dois mil cheques Mais Moradia Melhoria, no valor total de R$ 6 milhões. Ele atendeu a todas as pessoas cadastradas pela Agência Goiana de Habitação (AGEHAB), faltando somente, para serem contempladas, cerca de 400 famílias, que ainda não concluíram seus cadastros.
Estiveram também presentes no evento o secretário chefe da Casa Civil, Vilmar Rocha; o coordenador geral da OVG, Afrêni Gonçalves, entre outras lideranças políticas e do bairro.
Marconi declarou: “estou aqui para reafirmar que todos nesse Residencial serão atendidos”. Que governador bonzinho! Será que é uma dor de consciência de efeito retardado? Tenho minhas dúvidas, mas - se fosse - seria melhor tarde do que nunca.
Em todo caso, é bom refrescar a memória do governador, que foi (e ainda é) o principal responsável da pior barbárie praticada em toda a história (80 anos) de Goiânia e uma das piores do Brasil. A respeito do caso do Parque Oeste Industrial, as operações de despejo “Inquietação” e “Triunfo” de fevereiro de 2005 - verdadeiras operações de guerra - foram realizadas por ordem do governador Marconi, que, mentindo, se submeteu covardemente aos interesses financeiros dos “coronéis” de Goiânia (leia: os donos das grandes imobiliárias).
À epoca, existiam todas as condições legais e constitucionais para que aquela área, ocupada por cerca de quatorze mil pessoas, fosse desapropriada. Só não foi feita a desapropriação, porque o governador, aliado dos “coronéis” de Goânia, não quis. A ganância e a iniquidade prevaleceram. O requinte de maldade das operações acima foi tão gritante, que até hoje clama por justiça diante de Deus.
Pedro e Wagner foram assassinados à queima-roupa (suspeita-se, com razão, de outras mortes), diversas pessoas ficaram feridas e muitas outras - sobretudo crianças e idosos - morreram depois, em consequência das condições de vida subumans a que foram relegadas por mais de três anos.
O governador, recordando o seu envolvimento com a comunidade, há mais de oito anos, declarou: “eu venho a essa região antes mesmo de ela se transformar nessa cidade dentro de Goiânia. Me recordo de pedir ao então secretário Ademir Menezes que encontrasse uma área vasta, com excelente vista e propícia para acolher famílias que sofriam com aquela situação. Retornei aqui diversas vezes desde então, e hoje tenho a satisfação de trazer mais um benefício que contribuirá para dar mais dignidade às famílias que conquistaram o seu lar”. E finalizou, dizendo: “tenho satisfação de viver em Goiânia e de ajudar esse bravo povo que a elegeu para contribuir com a sua evolução” (http://www.dm.com.br/texto/148987-marconi-entrega-cheques-moradia-no-residencial-real-conquista).
Marconi, junto com os moradores presentes, cantou os "parabéns" em comemoração ao aniversário de Goiânia. "Não quis ir ao desfile hoje. Preferi estar aqui com vocês, entregando este presente, sentindo a vibração de todos e, juntos, comemorando os 80 anos da nossa Capital" (http://www.aredacao.com.br/noticias/35466/marconi-repassa-r-6-milhoes-em-cheque-mais-moradia-a-2-mil-familias). Que descaramento!
 Governador, o senhor não entregou nenhum presente. O senhor foi eleito para servir ao povo. Com os cheques Mais Moradia Melhoria, o senhor só devolveu uma pequena parte do dinheiro, que já é do povo. É mera obrigação sua e nada mais do que isso.
Na ocasião, Marconi afirmou ainda: “para mim, palavra dita é palavra cumprida. Estamos resgatando todos os nossos compromissos de campanha e entregando para o povo importantes obras e benefícios que acreditamos serem fundamentais para a melhoria da qualidade de vida dos goianos. Governo bom é aquele que investe em obras. Mas melhor ainda é o governo que investe no ser humano”. Que palavras bonitas, senhor governador!
Veja o que, à época, o governador Marconi falou a respeito da Ocupação “Sonho Real” do Parque Oeste Industrial. “O que eu vim dizer aqui agora é que eu não vou mandar a policia. Se tiver algum policial lá, algum comandante lá, vai ser demitido e eu não aceito - essa decisão está tomada. (...) Em relação a vocês, eu já tomei uma decisão: eu não vou cumprir a ordem de reintegração (...)” (http://www.midiaindependente.org/pt/red/2005/02/307719.shtml).
Sempre à época, numa reunião da qual participei, o governador declarou, em entrevista coletiva, que já estava decidida a despropriação da área. Lembro que os moradores da Ocupação “Sonho Real” fizeram festa.
Governador, o senhor não diz: “para mim, palavra dita é palavra cumprida”. Julgue o leitor!
Afinal, por que tanta mentira e tanta demagogia? Mesmo que, por interesses pessoais escusos, algumas falsas lideranças do povo, tenham traido seus companheiros/as (um comportamento mesquinho e repugnante), passando a bajular o seu algoz (e o senhor se aproveita disso), o nosso povo, governador, sabe o que quer. Pode, às vezes, por necessidade de sobrevivência, se fazer de bobo, mas não é bobo.

Chega de enganação! Lembre-se, senhor governador, a justiça humana pode falhar, mas a justiça divina nunca falha!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Uma vitória da Educação Pública

“A greve foi suspensa, mas a luta continua”

           
Após 26 dias de paralisação, as trabalhadoras e trabalhadores da Educação da Rede Municipal de Goiânia, em assembleia, com o Plenário da Câmara superlotado de professoras, professores e auxiliares administrativos, decidiram, na manhã de segunda-feira (21), suspender a greve por 30 dias.
            Eis o comunicado do comando de greve: “Nossa greve está suspensa até dia 21 de novembro, quando realizaremos nova assembleia (com paralização) da categoria, no CEPAL do Setor Sul, às 8h. Mais informações sobre os encaminhamentos serão postados em breve. Por enquanto, retornemos às atividades, a partir de amanhã (22 de outubro). Uma greve vitoriosa em que a categoria mostrou sua força e continuará mostrando! A luta continua!”.
As educadoras e educadores - depois de feitas as devidas alterações - aceitaram o documento enviado pela Secretaria Municipal da Educação, Neyde Aparecida, que tinha sido acordado na negociação. Posteriormente, o documento foi assinado, na presença da imprensa, pelo Prefeito Paulo Garcia, pela Secretária da Educação e pelos membros da comissão de negociação.  
Reparem: trata-se de suspensão e não de fim da greve. Depois do prazo estabelecido, uma nova assembleia será realizada, definindo os rumos do Movimento. "Vamos passar um mês vigilantes. Se o acordo não for cumprido, na próxima assembleia poderemos retomar a paralisação" (professor Renato Regis, membro do comando de greve).
As trabalhadoras e trabalhadores da Educação da Rede Municipal em greve fizeram a votação na Câmara dos Vereadores, que tinham ocupado e onde estavam acampados desde o último dia 8. Com a suspensão da greve, os manifestantes deixaram também o Plenário da Casa.
Leia o documento assinado pelo Prefeito Paulo Garcia, em: http://comandodegrevegoiania.blogspot.com.br/.
Parabenizo as Trabalhadoras e Trabalhadores da Rede Municipal de Educação de Goiânia (professoras, professores e auxiliares administrativos) pela união e pela garra que tiveram e - tenho certeza - continuarão tendo na luta por seus direitos e por uma Eucação Pública de qualidade. O Movimento alcançou uma significativa vitória e - se continuar unido - alcançará muitas outras.
Pela sua seriedade e responsabilidade, o Movimento mereceu e ainda merece a solidariedade de muitas Instituições (como a UFG e outras), de Entidades de estudantes e professores e de Movimentos Sociais Populares. O Movimento das educadoras e educadores da Rede Municipal é um exemplo de organização popular promissor, que alimenta a nossa esperança num Brasil e num mundo novo.
Parabenizo também o Movimento por estar construindo um novo Sindicato: o Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (SIMSED).
Lamento e repudio o comportamento do SINTEGO, que se tornou um sindicato pelego e que, para a categoria das trabalhadoras e trabalhadores da Educação do Município de Goiâna, já morreu e foi enterrado.
Lamento e repudio o comportamento intransigente e autoritário do Governo Municipal, em relação às trabalhadoras e trabalhadores da Educação Pública. Infelizmente, só depois de muitos dias de greve (que, ao menos em parte, podiam ter sido evitados), o Prefeito, acuado pelo Movimento, resolveu ceder, abrir as negociações, dialogar  e - por razões de conveniência política (como o aniversário de Goiânia, 80 anos no dia 24 deste mês, viagens ao exterior e outras) - voltar atrás, assinando o documento. Não dá para entender como um Governo do PT trate as trabalhadoras e trabalhadores da Educação Pública de maneira tão desrespeitosa e ditatorial, ameaçando criminilizar o Movimento.
Lamento e repudio o comportamento oportunista de políticos, que - depois de terem sido sindicalistas e defensores dos trabalhadores - ocuparam cargos públicos, se deixaram corromper pelo poder e trairam seus companheiros, fazendo tudo aquilo que os outros faziam (e que eles sempre denunciaram) e até pior. É realmente um comportamento repugnante e nojento!
Lamento e repudio as manobras interesseiras e antiéticas da grande maioria dos vereadores, que se comportaram e ainda se comportam como verdadeiros inimigos da Educação Pública, criminalizando as trabalhadoras e trabalhadores da Rede Municipal de Educação.
Lamento e repudio o comportamento de políticos, que se dizem cristãos católicos (ou de outras denominações cristãs) e que, hipocritamente, usam de sua condição de pessoas ligadas à Igreja, para criminalizar as trabalhadoras e trabalhadores da Educação Pública..
Lamento e repudio o comportamento de políticos, que, por ocasião do dia do professor (15 deste mês), escreveram artigos, fazendo a apologia da educação e esquecendo, proposital e oportunisticamente, de um “detalhe”, que é a situação real da Educação Pública. Talvez, por um falso conceito de fidelidade partidária, descomprometido com a verdade e totalmente antiético, não falaram uma só palavra sobre a greve da Educação Pública Municipal.
Lamento e repudio o silêncio de políticos, que se dizem defensores dos Direitos Humanos e que, pelas mesmas razões acima expostas, esqueceram que as trabalhadoras e trabalhadores da Educação Pública são também sujeitos de Direitos Humanos.
Por fim, me dói reconhecer a omissão - que é pecado - da minha Igreja e das Instituições que levam o nome de católicas. Sempre com muita esperança, faço minhas as palavras de dom Pedro Casaldáliga, um homem de fé e um dos grandes profetas do nosso tempo. “Não devemos nos amargurar; devemos dar uma contribuição de paz e esperança; uma esperança contra toda esperança, que é a nossa, uma Esperança Pascal, que passa pela cruz, mas é uma esperança invencível. (...) Somos o povo da esperança, o povo da Páscoa; a nossa fé cristã é esperança, é confiança. Esperança confiada no Deus da vida, do amor, da liberdade, da paz, em seu Reino” (Avelino Seco. Entrevista com Dom Pedro Casaldáliga, em: Religión Digital, 07 de outubro de 2013).
Educadoras e educadores, heroínas e heróis, continuem a luta para que um dia a Educação Pública de qualidade, seja realmente um direito de todas e de todos e a prioridade das prioridades do Governo Municipal, Estadual e Federal.
A melhor maneira de comemorar o aniversário de Goiânia, seus 80 anos, no dia 24 deste mês, é comemorar uma vitória da Educação Pública Municipal. “Virá o dia em que todos, ao levantar a vista, veremos nesta terra reinar a liberdade”.