quinta-feira, 29 de março de 2018

É nas lutas do Povo que a Páscoa acontece

À luz da Fé cristã, a Páscoa (= passagem) é o acontecimento central da história do ser humano e do mundo. Fazer a memória, ou seja, tornar presente hoje a Páscoa de Jesus de Nazaré - que também é a nossa Páscoa - significa fazer acontecer a passagem de condições de vida desumanas ou menos humanas para condições de vida humanas ou mais humanas.
A vida toda de Jesus é Páscoa. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Para ser Páscoa, Jesus torna-se, de modo entranhável, próximo e solidário com todos e todas os excluídos e excluídas, descartados e descartadas da sociedade.
Ainda no seio de sua mãe, Jesus é “morador de rua”. “Não havia lugar para eles dentro de casa” (Lc 2,7). Nasce, como “sem-teto”, numa manjedoura. Exerce a profissão de carpinteiro. Em sua vida pública, denuncia - com palavras duras e sem medo - a hipocrisia religiosa dos fariseus e mestres da Lei. Sempre se coloca - como defensor - ao lado dos pobres, dos doentes, dos leprosos, dos sofredores e de todos aqueles e aquelas que não têm voz e não têm vez.
Basta lembrar os sete sinais de Jesus narrados por João, que visam libertar as pessoas de todas as barreiras que impedem a vida e a vida em plenitude: Jesus muda a água em vinho (2,1-12); Jesus cura o filho do funcionário do rei (4,46-54); Jesus faz o paralítico andar (5,1-18); Jesus realiza a partilha dos pães (6,1-15); Jesus caminha sobre as águas (6,16-21; Jesus faz o cego de nascença enxergar (9,1-41); Jesus ressuscita Lázaro (11,1-45).
A Páscoa de Jesus completa-se com sua Morte na cruz e com sua Ressurreição, que é a vitória da vida sobre a morte. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).
“Deus é Amor. Nisto se tornou visível o Amor de Deus entre nós: Deus enviou seu Filho único a este mundo, para dar-nos a vida por meio dele” (1Jo 4,8-9). O ser humano - por ser imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26) - também é Amor, chamado a “amorizar” (impregnar de amor) o mundo e a sociedade na qual vive.
Fazer acontecer a Páscoa é fazer acontecer o Amor onde a vida do ser humano e do mundo é ameaçada, negada e assassinada, como nas situações existenciais: dos Moradores e Moradoras de Rua; dos Catadores e Catadoras de Lixo; dos Encarcerados e Encarceradas; dos Sem-Terra; dos Sem-Moradia; dos Sem-Trabalho; dos Subempregados e Subempregadas; dos Trabalhadores e Trabalhadoras em condição de trabalho escravo; dos Doentes que não são atendidos pela Saúde Pública; dos Doentes que morrem à míngua por falta desse atendimento; das Crianças e Jovens que não têm uma Educação Pública de qualidade; das Crianças e Jovens que se envolvem com as drogas por falta de Políticas Públicas; das Crianças e Jovens que são assassinados por causa desse envolvimento; das Crianças e Jovens abandonados; dos Idosos e Idosas abandonados; das Mulheres marginalizadas e violentadas; do Povo que não tem uma Segurança Pública humanizada; do Povo que não tem um Transporte Público digno; das Vítimas da Fome e Subnutrição; das Vítimas do Tráfico Humano para a exploração no trabalho; das Vítimas do Tráfico Humano para a exploração sexual; das Vítimas do Tráfico Humano para a extração de órgãos; das Vítimas do Tráfico Humano de Crianças e Jovens; das Vítimas da Exploração da Terra e das Águas; das Vítimas da Violência institucionalizada e de toda Violência; de todos e todas os Excluídos e Excluídas, Descartados e Descartadas da sociedade.
Com sua prática, Jesus - o Caminho, a Verdade e a Vida - mostra-nos claramente que - para sermos Páscoa e fazermos a Páscoa acontecer, ou seja, se tornar história - precisamos ser, de modo entranhável, próximos e próximas, solidários e solidárias para com todas as vítimas da violação dos Direitos Humanos e dos Direitos da Mãe Terra. Vivenciamos a proximidade e a solidariedade participando ativamente das lutas do Povo (Movimentos Populares, Sindicatos autênticos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Partidos Políticos Populares, Organizações de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos e Outras) por um Mundo Novo: lutas sociais, econômicas, políticas, ecológicas e culturais.
Os cristãos e cristãs - que, por acreditarmos no projeto de Jesus (“vocês são todos e todas irmãos e irmãs” - Mt 23,8), somos (ou queremos ser) seus seguidores e seguidoras - devemos, em nome de nossa consciência cidadã e de nossa Fé, estar sempre na vanguarda de todas as lutas do Povo por um Mundo Novo, sendo militantes aguerridos e corajosos. Infelizmente - digo-o com muita dor no coração - não é sempre isso o que acontece!
“Amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês” (Jo 15,12). Durante a última ceia, depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus perguntou: “Vocês compreenderam o que acabei de fazer? E disse: Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,12.15).
Com humildade e gratidão reconhecemos que, muitas vezes, irmãos e irmãs nossos - que não se dizem cristãos e cristãs - são Páscoa e fazem a Páscoa acontecer - se tornar história - mais do que nós. Em diversas ocasiões, eu pude experienciar isso pessoalmente e dou graças a Deus.
Jesus não quer que o grupo dos seus seguidores e seguidoras se torne seita fechada e monopolize sua missão. Toda e qualquer ação que liberta do mal e promove a vida do ser humano e do mundo, é parte integrante da missão de Jesus. “Quem não está contra nós, está a nosso favor” (Mc 9,40).
À luz da Fé, de toda pessoa humana (cristã ou não) - cuja vida (como a de Jesus) sempre foi Páscoa e fez a Páscoa acontecer, se tornar história - em sua passagem última e definitiva para a “vida além da morte”, podemos dizer: “completou a sua Páscoa”.
"Até agora a criação toda geme e sofre dores de parto. E não somente ela, mas também nós, que possuímos os primeiros frutos do Espírito, gememos no íntimo, esperando a adoção, a libertação para nosso corpo” (Rm 8,22-23). Na linguagem bíblica, a palavra “corpo” indica a pessoa humana inteira, em todas as suas dimensões e relações.
Sejamos sempre, no mundo e na sociedade de hoje, Bons Samaritanos e Boas Samaritanas, Profetas e Profetisas da Vida, do Reino de Deus, que é a Boa Notícia de Jesus!
Com essa reflexões - que retomam e aprofundam as do artigo “Fazer acontecer a Páscoa, hoje”, de abril de 2014 - desejo  a todos e a todas uma Feliz Páscoa 2018.




Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 28 de março de 2018

sexta-feira, 23 de março de 2018

Medellín em gotas: 3ª- Modelo eclesiológico


Para refletir sobre o modelo eclesiológico da II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho de Medellín (1968) - a 3ª gota - sirvo-me da leitura - análise e interpretação - desse importante acontecimento, feita pelo teólogo Clodovis Boff.
O maior fruto da Assembleia de Medellín “foi ter dado à luz a Igreja latino-americana e caribenha como latino-americana e caribenha. Os Documentos de Medellín representam o ‘ato de fundação’ da Igreja da América Latina e Caribe a partir e em função de seus povos e de suas culturas”. Esses textos “constituem a ‘carta magna’ da Igreja do Continente.
Relendo hoje os documentos de Medellín “fica-se impressionado com o vigor e a audácia de sua expressão, ou, para dizer numa palavra, com seu ‘pathos profético’,
típico dos textos originários e fundantes de uma tradição. Aquilo é linguagem de verdadeiros ‘Pais da Igreja’, Pais da Igreja latino-americana e caribenha como tal (Pe. José Comblin)”.
Até Medellín, “a Igreja no Continente era a reprodução do modelo da Igreja europeia, em seu modo de organização, em sua problemática teológica e em suas propostas pastorais. Era uma ‘Igreja-reflexo’ e não uma ‘Igreja-fonte’ (Pe. Henrique. de Lima Vaz)”.
Portanto, podemos dizer que “a Igreja latino-americana e caribenha, mais que ser Igreja da América Latina e do Caribe, era Igreja europeia na América Latina e no Caribe”, ou seja, “uma Igreja em estado de minoridade, tutelada, privada de sua legítima autonomia institucional”. Em outras palavras, a Igreja do Continente, até Medellín, “era substancialmente a extensão da Igreja europeia na América Latina e no Caribe”.
De fato, “num primeiro momento, a Igreja na América Latina e Caribe foi uma Igreja ibérica, espanhola ou portuguesa que fosse. Era, no sentido cultural do termo, uma Igreja ‘colonial’”.
Os grandes Sínodos realizados na América Latina no século XVI, como o do México e o de Lima, “são meras aplicações do Concílio de Trento ao novo Continente. De resto, Trento foi um Concílio extremamente eurocêntrico: ele não viu a América Latina e o Caribe e não disse uma palavra sequer da trágica realidade da destruição dos povos e culturas ameríndias, também pela ausência naquele Concílio dos bispos do Novo Mundo e de sua voz própria”.
Num segundo momento, temos na América Latina e Caribe uma Igreja ‘romanizada’, que era “um modelo de Igreja extremamente centralizado no clero, na prática dos sacramentos e nas devoções de santos recentes e ‘oficiais’, destacando-se a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. O I Concílio Plenário Latino-Americano, realizado em Roma em 1899, representou a aplicação direta do Vaticano I ao Continente”.
Foi com o Concílio Vaticano II “que se deram as condições de emergência de uma Igreja continental em sua originalidade e em sua diferença em relação ao modelo da Igreja europeia”. O Vaticano II significou a "deseuropeização" da Igreja e sua abertura verdadeiramente "católica" (Karl Rahner).
À época da realização de Medellín, “quando os modelos de desenvolvimento e os primeiros Regimes de Segurança Nacional, como o do Brasil, não conseguiam mais esconder sua verdadeira natureza elitista e opressiva, várias Igrejas latino-americanas
estavam questionando sua aliança secular com o poder. Medellín, no caminho aberto
pelo Vaticano II, que rompeu a ‘aliança constantiniana’ (M.-D. Chenu), foi decisivo para dar à Igreja da AL o perfil de uma Igreja livre do poder, próxima dos pobres e companheira do povo em sua caminhada libertadora. No Brasil em particular, com o documento do Regional Centro Oeste da CNBB ‘Marginalização de um povo’ e o documento do Nordeste II ‘Ouvi os gritos do meu povo’, a Igreja marcava, de modo resoluto, sua ruptura com o Poder e ao mesmo tempo sua aproximação com o povo pobre”. A Igreja da América Latina e do Caribe “se caracteriza por ser uma ‘Igreja social’: uma igreja profética, dos pobres e libertadora”.
Medellín “constitui ou foi o verdadeiro ‘divisor de águas’ na história da Igreja do Continente, de tal modo que se pode falar do ‘antes de Medellín’ e do ‘depois de Medellín’. Os bispos que fizeram aquela Conferência estavam conscientes da importância histórica daquele momento. Na ‘Introdução às Conclusões’ proclamam explicitamente uma "nova época da história" e a definem precisamente em termos de ‘libertação’”.
As três marcas que constituem a identidade do modelo eclesiológico de Medellín são: a Opção pelos Pobres, a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
A Opção pelos Pobres (Empobrecidos, Excluídos e Descartados) indica o caminho que devemos seguir para sermos a Igreja de Jesus de Nazaré: uma Igreja a partir da “manjedoura” e de tudo o que ela significa hoje.
A Teologia da Libertação é a leitura - análise e interpretação - à luz da Palavra, que as Comunidades cristãs e seus teólogos fazem da Práxis (Teoria e Prática) de Libertação.
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) são Comunidades “encarnadas” na vida do povo, são um jeito novo e, ao mesmo tempo, antigo de ser Igreja. São “o primeiro e fundamental núcleo eclesial” ou “a célula inicial da estrutura eclesial” (Medellín, XV, 10), que transformam a Paróquia em “um conjunto pastoral unificador das Comunidades de Base” (ib. 13).
E nós? E as nossas Igrejas? O que esse modelo eclesiológico representa para nós? Em outras “gotas” teremos a oportunidade de voltar sobre o assunto.
(Fonte: Clodovis Boff. A originalidade histórica de Medellín: em http://servicioskoinonia.org/relat/203p.htm 1/8).









Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 21 de março de 2018


terça-feira, 20 de março de 2018

Medellín em gotas: 2ª- Método adotado


A II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho de Medellín adotou e vivenciou o método (caminho) de trabalho “ver-julgar-agir” (“analisar-interpretar-libertar”) e “celebrar”. Para fazer algumas reflexões sobre esse método - a 2ª gota” - sirvo-me ainda das informações do historiador e teólogo José Oscar Beozzo.
Em Medellín, o primeiro passo “foi sempre o estudo atento da realidade tanto econômica, política e social, quanto eclesial do Continente latino americano e caribenho” (ver, analisar).
O segundo passo “consistiu em identificar as interpelações que brotavam da realidade, analisando-as à luz da Palavra de Deus, do Vaticano II, do magistério e da experiência de toda a Igreja” (julgar, interpretar).
O terceiro passo - talvez o mais importante - “foi o de propor pistas de ação pastoral, visando transformar, no sentido do Reino de Deus e da libertação dos pobres, a realidade atravessada por estruturas de pecado e pelo clamor e esperança dos pequenos” (agir, libertar).
Para o estudo da realidade, Medellín contou com as contribuições das 8 Conferências preparatórias, com a assessoria do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS), “encarregado de oferecer aos participantes os dados sócio religiosos do Continente e uma análise da sua significação para a pastoral”.
Nas Comissões, o trabalho em grupos “permitiu cruzar a experiência pessoal dos participantes com os dados apresentados, colocar em comum a visão dos bispos com a prática de leigos e leigas, religiosos e religiosas, peritos e teólogos, párocos e observadores não católicos”.
A dinâmica dos trabalhos “previa que os textos elaborados nas Comissões fossem submetidos ao Plenário para sugestões e modificações. Uma vez incorporadas estas sugestões e modificações, deviam ser confiados a uma Comissão de redação, encarregada de sintetizar e fundir os textos das 16 Comissões num único Documento final. A falta de tempo e também a convicção de que a síntese faria perder muito da riqueza dos textos das Comissões, levou à feliz decisão de transformar nas Conclusões da II Conferência a contribuição de cada uma das Comissões, depois de submetidas a um voto do Plenário”.
Pela decisão tomada, os textos finais da Assembleia de Medellín compreendem: a Mensagem aos Povos da América Latina, a Introdução às Conclusões e as Conclusões propriamente ditas (16 Documentos, agrupados em três blocos: Promoção Humana, Evangelização e Crescimento na Fé e Igreja Visível e suas Estruturas).
A Conferência de Medellín “transformou-se num exemplo singular de recepção colegial do Concílio, pelas Igrejas da América Latina e do Caribe”. É “o intento maior realizado pelas Igrejas de todo um Continente para receber o Concílio Vaticano II. Essa dimensão está expressa já no título escolhido para a II Conferência: ‘A Igreja na atual transformação da América Latina, à luz do Concílio’. Em todo acontecimento eclesial, mormente naqueles, como os Concílios, destinados a marcar em profundidade a vida da Igreja, três elementos devem ser tomados em consideração: o evento em si, os documentos nele aprovados e finalmente a sua recepção”.
O método de trabalho adotado na Conferência possibilitou uma recepção do Concílio Vaticano II fiel, mas crítica e, ao mesmo tempo, criativa.
Medellín “caracteriza-se pela radicalidade com que determinadas orientações de fundo do Vaticano II foram plenamente assumidas. A primeira delas é a pastoralidade, que o Papa São João XXIII quis imprimir ao conjunto da obra conciliar. Nem todos os documentos conciliares alcançaram assimilar, plenamente, este horizonte que se encontra melhor expresso naquela que seria chamada de Constituição Pastoral da Igreja no Mundo de Hoje (Gaudium et Spes - GS)”.
Todos os seus 16 documentos “devem ser lidos à luz da pastoralidade. Eles arrancam da preocupação pastoral dos bispos frente à realidade pungente do Continente e terminam sempre com orientações, de caráter prático, para os trabalhos pastorais. Vários deles trazem impresso, no seu próprio título, a dimensão da pastoralidade”. E mais ainda, “esta dimensão constitui, explicitamente, a terceira parte de todos os 16 documentos”
Outra dimensão conciliar, “plenamente vivida por Medellín foi a colegialidade episcopal, não enquanto debate teórico ou aprimoramento de sua definição, mas como exercício prático inovador. Foi todo um Continente que buscou colegialmente a melhor maneira de aplicar o espírito e as determinações da Concílio à vida de suas Igrejas particulares”.
As Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano, a partir de Medellín, “ainda que de maneira penosa e sofrendo crescentes restrições por parte de Roma, conquistaram um espaço de realização da colegialidade episcopal, em profunda comunhão com a Sé de Pedro, mas sem abdicar do pleno exercício de sua própria responsabilidade de pastores desta porção do Povo de Deus, deliberando e propondo às suas Igrejas um magistério próprio e investido de autoridade. Esta forma de exercício da colegialidade ganhou um selo excepcional, ao acolher Paulo VI, o pedido expresso pelos bispos de levar imediatamente para suas Igrejas (antes da versão oficial aprovada em Roma) as Conclusões que acabavam de ser aprovadas, em Medellín”.
A Conferência de Medellín constitui, assim, “um modelo alternativo à maneira de se exercer a colegialidade episcopal consubstanciada nos Sínodos dos Bispos, reduzidos à condição de um órgão consultivo do Romano Pontífice. Medellín preservou, na sua inteireza, ao lado da voz papal, a voz dos bispos latino-americanos e caribenhos; ao lado da autoridade petrina e, em harmonia e comunhão com a mesma, a autoridade própria dos bispos; ao lado do magistério pontifício, o magistério próprio das Igrejas locais”.
No exercício da colegialidade, Medellín inovou também em outro sentido. “Uma das intuições, que permitiu a revolução eclesiológica do Vaticano II foi a de ancorar a noção de Igreja na figura do Povo de Deus, lutando-se tenazmente para que este capítulo precedesse o da constituição hierárquica da Igreja, deixando claro que bispos, padres e o conjunto dos batizados formam parte do mesmo Povo de Deus”.
Em Medellín, pela método adotado, trabalharam lado a lado, nas 16 Comissões e Subcomissões, bispos, peritos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas, além dos observadores não católicos, participando todos ativamente da elaboração dos textos”.
Podemos dizer que “simbolicamente, a Igreja toda estava ali implicada na busca dos caminhos para melhor servir ao povo latino-americano, no sentido de sua redenção e libertação, ainda que nas votações tomassem parte apenas os bispos e outra pequena fração da assembleia constituída pelos padres diocesanos ou religiosos. De todos os modos, o voto, em Medellín, não se restringiu apenas aos bispos. O que ali aconteceu, aponta na direção de que todos os membros do Povo de Deus tenham voz e voto nos assuntos pastorais, seja nos Conselhos pastorais paroquiais e nos Conselhos pastorais diocesanos, seja na prática já consagrada das Assembleias diocesanas para aprovação das diretrizes e prioridades pastorais de uma Igreja particular. Esta noção alargada de colegialidade, implicando o conjunto do Povo de Deus nas responsabilidades pela vida e missão da Igreja esteve esboçada no método de trabalho adotado em Medellín e, em parte, nas votações ali realizadas”.
Em Medellín, o Concílio Vaticano II “não é tomado, nem como ponto de partida e nem mesmo como ponto de chegada”. O ponto de partida “é sempre a realidade do povo e dos países latino-americanos lida como sinais do tempo, onde a voz de Deus se faz ouvir e se torna interpelação premente que exige a resposta generosa da ação pastoral e social”. Como afirma a Introdução às Conclusões da Conferência, "não basta refletir, obter maior clareza e falar. É preciso agir. Esta não deixou de ser a hora da palavra, mas tornou-se, com dramática urgência, a hora da ação".
O Concílio “não é tampouco o ponto de chegada, mas sim as pistas pastorais que nos convocam para agir. Os documentos conciliares entram bem mais, junto com a Palavra de Deus, como um dos elementos de iluminação da realidade e critério para o discernimento evangélico de qual deva ser o nosso juízo sobre esta realidade e qual o nosso compromisso perante a mesma. Processa-se, assim, uma releitura significativa dos textos conciliares que coloca em relevo dimensões que tiveram inclusive dificuldades em encontrar sua plena expressão no desenrolar-se
do Concílio” (Fonte: José Oscar Beozzo. Medellín: inspiração e raízes. Em: http://www.servicioskoinonia.org/relat/202.htm).
Por fim, podemos afirmar que o método de trabalho adotado na Conferência de Medellín vivenciou e levou para a prática a Teologia dos sinais dos tempos do Concílio Vaticano II, que afirma categoricamente: “Para desempenhar sua missão (ou como diz hoje o Papa Francisco: ser ‘Igreja em saída’) a Igreja, a todo momento (reparem: ‘a todo momento’ e não ‘de vez em quando’), deve (reparem também: ‘deve’ e não ‘pode’) perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de tal modo que possa responder, de maneira adaptada a cada geração, às interrogações eternas sobre os significados da vida presente e futura e de suas relações mútuas. É necessário, por conseguinte, conhecer e entender (reparem ainda: ‘conhecer e entender’) o mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua índole frequentemente dramática" (A Igreja no mundo de hoje - GS, 4).



Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 14 de março de 2018



Medellín em gotas: 1ª- Contexto histórico


Neste ano de 2018, celebramos o Jubileu de ouro - 50 anos - da II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, que foi aberta por Paulo VI em Bogotá (Bolívia), no dia 24 de agosto de 1968 e realizada em Medellín (Colômbia) entre os dias 26 de agosto e 6 de setembro daquele ano.
Fazer a memória desse importante acontecimento significa voltar às fontes e reviver, em nossa realidade, os ensinamentos de Medellín, mostrando sua atualidade, que - aliás - é uma tarefa urgente no meio eclesial e, sobretudo, eclesiástico de hoje. Tem-se a impressão que muitas Igrejas esqueceram de Medellín e do papel fundamental que exerceu e ainda exerce na caminhada de renovação da Igreja latino-americana e caribenha depois do Concílio Vaticano II. Às vezes, parece até que seus ensinamentos foram descartados e jogados no lixo.
No decorrer deste ano e, se for necessário, continuando também em 2019, numa série de artigos, com o título geral “Medellín em gotas”, pretendo - de cada um dos 16 documentos - destacar e divulgar, com algumas reflexões e utilizando ao máximo as palavras dos próprios documentos, as principais contribuições (ideias-chave) das Conclusões de Medellín para a Igreja na América Latina e no Caribe, hoje.
Só as primeira três “gotas” (Contexto histórico, Método adotado e Modelo eclesiológico) serão de caráter geral, com a finalidade de situar, social e teologicamente, o sentido da Conferência de Medellín como um todo.
Por serem as “gotas” numeradas, se houver a necessidade de escrever artigos sobre outros assuntos, sua publicação poderá ser momentaneamente interrompida, sem causar nenhum problema ao leitor ou à leitora.
Para fazer algumas reflexões sobre o contexto histórico de Medellín - a 1ª gota” - sirvo-me das informações do historiador e teólogo José Oscar Beozzo.
A Conferência - diz ele - “encontra suas raízes e inspiração, de uma parte, nos clamores e esperanças do povo latino-americano e caribenho e, de outra, no Concílio Vaticano II (1962-1965) e nos processos e sonhos por ele desencadeados na vida da igreja”.
A América Latina “era o único Continente que, ao chegar ao Concílio, já contava com uma estrutura episcopal de caráter colegial, o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM)”, fundado na I Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, Rio de Janeiro, 1955.
Entretanto, seu Presidente, o Cardeal do México, Mons. Dario Miranda y Gómez, “ao chegar a Roma, para a abertura do Concílio, em outubro de 1962, recebeu uma notificação da Cúria Romana de que o CELAM não podia convocar reuniões durante o Concílio. A imprevista suspensão da assembleia conciliar, logo em sua primeira sessão, a pedido do cardeal Achille Lienart, arcebispo de Lille na França e de outros cardeais que o secundaram, para que os bispos e Conferências episcopais pudessem se consultar para elaborar as listas de candidatos às Comissões conciliares, provocou o primeiro encontro não oficial dos bispos do CELAM. Da segunda sessão, em diante, já dentro do clima de liberdade do Concílio, o CELAM realizará suas assembleias, durante o próprio Concílio, além de inúmeras sessões de estudos, em função dos debates conciliares”.
Dessas reuniões, surgiu - muito forte - o desejo de uma II Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho por duas razões. Primeira: “a convicção da necessidade de um grande esforço conjunto do Continente para encaminhar a aplicação à vida da Igreja da América Latina, das Resoluções, Decretos e Reformas urgidas pelo Concílio”. Segunda: “a consciência de que temas fundamentais para o Continente não conseguiam entrar na pauta conciliar determinada, em grande parte, pelos episcopados centro-europeus. Mesmo a grande esperança depositada no esquema XVII, transformado em esquema XIII e, finalmente, na Constituição Pastoral sobre a ‘Igreja no mundo de hoje’ (Gaudium et Spes - GS), cumpriu-se apenas parcialmente. Os países subdesenvolvidos da América Latina, África e Ásia, não sentiam que seus problemas fossem compreendidos e, finalmente, assumidos pela já sobrecarregada agenda conciliar”.
Medellín, “espiritualmente, deita raízes no grupo da ‘Igreja dos Pobres’ que se organizou já na primeira sessão do Concílio, com alguns bispos da Europa, da África e da América Latina, por inspiração de Paul Gauthier que fora professor no Seminário Maior de Dijon na França e partira para Nazaré, onde levava vida de pobreza como operário na imitação de Jesus Carpinteiro”. Terminado o Concílio, “este grupo propôs o Pacto das Catacumbas, em que se comprometia em levar vida de pobreza e de compromisso com as lutas dos pobres e solidariedade em suas necessidades e penas”.
Após o Concílio, Paulo VI - atendendo também ao pedido de diversos bispos - na Encíclica “Desenvolvimento dos Povos” (Populorum Progressio - PP, 1967), retomou os temas do clamor e das angústias dos povos da América Latina, África e Ásia, e da necessária solidariedade internacional. A Encíclica exerceu “profunda e duradoura influência sobre o Continente e sobre as atitudes da Igreja, frente ao desenvolvimento, ‘o novo nome da paz’, no dizer da própria Encíclica. Tornou-se, ao lado dos Documentos do Vaticano II, uma das principais fontes de Medellín”.
Entre os objetivos desta nova Conferência, “perfilavam-se uma revisão das Conclusões da I Conferência Geral do Rio de Janeiro (RJ), mas, sobretudo, a aplicação à América Latina e Caribe das Constituições, Decretos e Declarações do Concílio Vaticano II, a partir das realidades e aspirações, dores e esperanças do Continente”. 
Por ocasião do décimo aniversário do CELAM, Paulo VI - em seu discurso de 23 de novembro de 1965 aos cerca de 600 bispos latino-americanos - “acena, pela primeira vez, publicamente, com a realização da II Conferência, como meio de estabelecer um Plano de Pastoral para a aplicação do Concílio no Continente”.
Mesmo “com muitas dificuldades práticas nascidas, de um lado, da instável situação político-social da América Latina e, de outro, dos problemas entre o CELAM e a Santa Sé, representada pela Comissão para a América Latina (CAL), na repartição das responsabilidades e no estabelecimento do regulamento”, é neste contexto histórico que - depois de diversos encontros de preparação imediata, promovidos pelo CELAM - foi realizada a II Conferência Latino-americana e Caribenha e foram publicadas suas Conclusões.
(Fonte: José Oscar Beozzo. Medellín: inspiração e raízes. Para maiores informações, leia o texto - muito bem documentado - na íntegra, em: http://www.servicioskoinonia.org/relat/202.htm).


Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 07 de março de 2018




Pedro Casaldáliga: pastor-profeta, pobre e irmão dos pobres

No dia 16 de fevereiro último, Pedro Casaldáliga - que chegou em São Félix do Araguaia em 1970, vindo da Catalunha, Espanha e é “bispo do povo” desde 1971 -  completou 90 anos de vida. Comemorar o aniversário de nascimento de Pedro, significa fazer a memória da vida de um poeta que - com muito realismo e com muita fé - canta as maravilhas de Deus na vida do povo; de um pastor-profeta, pobre e irmão dos pobres, e de um intrépido defensor - enfrentando também a ditadura civil e militar - dos direitos dos povos indígenas. Pedro foi, e continua sendo, um Evangelho vivo e uma luz que brilha no caminho daqueles e daquelas que querem seguir - de maneira cada vez mais radical - Jesus de Nazaré.
Pessoalmente, tive a felicidade de me encontrar diversas vezes com Pedro - em reuniões de pastoral - na década de setenta e na primeira metade da década de oitenta do século passado, quando a Prelazia de São Félix do Araguaia pertencia ao Regional Centro-Oeste da CNBB e eu prestava o serviço de Coordenador da Pastoral - e, mais tarde, também de Vigário Geral - da Arquidiocese de Goiânia. À época, Dom Fernando Gomes dos Santos, arcebispo de Goiânia, sempre manifestou total apoio e irrestrita solidariedade a Pedro, sobretudo nos momentos de maior perseguição, com a constante ameaça de ser expulso do pais. Após esse período, por diversas razões, encontrei-me com Pedro poucas vezes.
Não tendo tido, porém, a oportunidade de conviver mais de perto e mais longamente com Pedro, sempre acompanhei o seu testemunho de vida e seu jeito evangélico de ser pastor-profeta que foram - e continuam sendo para mim - uma referência cativante. É - acredito eu - a força arrebatadora da Palavra de Deus, vivida e testemunhada por Pedro. Ele, na sua simplicidade, nunca usou insígnias episcopais de poder. Pedro é realmente um santo do nosso tempo. Para aqueles e aquelas que, talvez, estranhem essa afirmação, lembro que o Apóstolo Paulo chamava a todos os batizados e batizadas, seguidores e seguidoras de Jesus de “santos/as”, eleitos/as” de Deus.
Só para citar um dos tantos testemunhos que nos edificam sobre a vida de Pedro, o Cardeal Cláudio Hummes, da Comissão Episcopal para a Amazônia, que visitou a Prelazia de São Félix em junho de 2017, revela a emoção do encontro com Pedro. “Pude encontrar o nosso caríssimo e tão amado bispo Dom Pedro Casaldáliga, um homem que marcou e ainda está marcando, com sua história, com sua profecia, a Igreja no Brasil e aquela região. Encontrá-lo era também relembrar toda a história bonita da Igreja nesta região. Com saúde debilitada, Dom Pedro vive em sua comunidade religiosa, assistido por alguns freis, em uma casa (muito simples) na cidade de São Félix”.
Continua Dom Cláudio: “Ele está bastante fragilizado por causa da idade e da doença de que sofre, que, claro, o incapacita na comunicação... Ele tem certa dificuldade de falar, mas acompanha muito bem, está muito lúcido. Para mim foi uma experiência muito emocionante, muito forte, porque há muito tempo eu estava querendo encontrá-lo de novo, porque é claro que ele não consegue mais vir às nossas reuniões e assembleias. Tem sido um homem de referência para nós aqui no Brasil e não só no Brasil, por causa de sua luta na região onde mora e onde ele sofreu muita perseguição, muitas ameaças de morte...; no entanto, ele nunca teve medo. Sempre esteve à frente de seu povo, dando coragem, dando esperança, denunciando. No início teve também muitos problemas com as fazendas enormes aonde havia trabalho escravo. Ele denunciou isso muito fortemente e por isso foi bastante perseguido”.
O Cardeal conclui o seu bonito testemunho dizendo: “Dom Pedro, mesmo com dificuldade para falar, deixou dois recados importantes: uma das palavras que a gente sempre entende quando ele fala, com a voz muito sumida, é ‘esperança’, que não percam a esperança. Ele acompanha, recebe as notícias do que está ocorrendo no Brasil. Também outra palavra que me disse em um certo momento, que era para dizer ao Papa Francisco, que ele está plenamente apoiando o Papa em todo o seu trabalho. A gente via como ele está feliz com o Papa Francisco” (http://br.radiovaticana.va/news/2017/06/16/dom_pedro_casald%C3%A1liga,_op%C3%A7%C3%A3o_pelos_pobres_sempre_e_sem_medo/1319343).
Diante do testemunho de vida profundamente humano e evangélico de Pedro, é lamentável e, ao mesmo tempo, muito doído, constatar que hoje na Igreja há uma corrente - por sinal muito forte e organizada - de bispos, padres, diáconos, religiosos/as e outros cristãos/ãs que, na contramão daquilo que o Papa Francisco diz e faz, querem voltar a uma Igreja pré-conciliar, com insígnias de poder imperial, feudal e capitalista.
Na minha vida, nunca pensei que - após uma longa e bonita caminhada de renovação da Igreja depois do Concílio Vaticano II e da II Conferência Episcopal Latino-americana e Caribenha de Medellín - voltaria a ver (antes da Páscoa definitiva) bispos morando em palacetes, distantes da vida povo e com a segurança da polícia militar do Estado; seminaristas que - antes ainda de serem diáconos - já usam roupa clerical; padres novos que pelas alfaias que vestem e, sobretudo pela maneira autoritária de agir, fazem questão de serem diferentes do povo; e ainda - pasmem - padres novos que voltam a usar o solidéu e o barrete pretos (roxos só os bispos e vermelhos só os cardeais). Para minha surpresa, contaram-me que estas insígnias são hoje muito procuradas e que sua fabricação está aumentando, cada vez mais. Que vergonha! Tudo isso não tem nada a ver com o Evangelho de Jesus de Nazaré, que nunca usou roupa diferente dos outros. É uma verdadeira idolatria das alfaias (“alfaiolatria”). Além disso, penso que esses padres perderam o senso do ridículo. Estão fazendo o papel - muito mal representado - de atores de um circo de péssima qualidade.
Por exemplo, se convidássemos hoje esses padres para participar de um Seminário sobre os Documentos de Medellín (que neste ano completam 50 anos) ou de um Congresso sobre a História da Teologia da Libertação na América Latina, tenho certeza que ninguém (ou quase ninguém) iria comparecer. Ora, se convidássemos esses mesmos padres para um Encontro sobre o último modelo de casula, tenho certeza que todos (ou quase todos) iriam comparecer. É realmente muito triste!
Voltando ao nosso querido irmão Pedro Casaldáliga, ah, se todos nós padres e todos os bispos seguíssemos o exemplo de Pedro! Ah, se todos nós, cristãos e cristãs, discípulos e discípulas de Jesus de Nazaré, chamados e chamadas - na diversidade dos ministérios e carismas - a participar da missão do Bom Pastor no mundo de hoje, seguíssemos também o exemplo de Pedro! Com certeza a nossa Igreja seria bem diferente. Outra Igreja é possível e necessária! A esperança - como diz sempre Pedro - nunca morre. Pedro, somos seus irmãos e irmãs. Ore por nós!

A mão de Pedro sobre uma Bíblia




Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 28 de fevereiro de 2018