“Vocês ouviram o que foi
dito: ‘Ame seu próximo e odeie seu inimigo’. Eu, porém, lhes digo: Amem seus
inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês sejam filhos/as de
seu Pai que está no céu. Porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz
chover sobre justos e injustos” (Mt 5,43-45).
O amor que Jesus de Nazaré nos
pede é um amor sem limites, é um amor
que não exclui ninguém, é um amor radical.
Ora, se Jesus nos pede para amar
os nossos inimigos, quer dizer que existem inimigos e que nós temos inimigos. Enquanto
seguidores e seguidoras de Jesus, perguntemo-nos: quais são os nossos inimigos?
A resposta é clara: são todos aqueles/as que com sua maneira de agir e pensar sustentam
e reproduzem um projeto de sociedade e
de mundo (a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum) estruturalmente iníquo, perverso, injusto, desumano, antiético e
anticristão: o Anti-Reino de Deus.
No meio político - sobretudo
político-partidário - costuma-se dizer: “os políticos que pensam diferentemente
de nós devem ser tratados como adversários e não como inimigos”. Não é bem
assim! Essa afirmação precisa ser esclarecida. Vejamos!
Como seres humanos temos
fundamentalmente dois projetos de vida para nós mesmos e para o mundo: um projeto humano natural (e natural
humano) que humaniza naturalizando (e naturaliza humanizando), e um projeto desumano antinatural (e
antinatural desumano) que desumaniza desnaturalizando (e desnaturaliza desumanizando).
É o projeto ético e o projeto antiético,
que - à luz da fé - é também projeto
cristão ou projeto anticristão: o Reino de Deus ou o Anti-Reino de Deus.
Os/as que nos comprometemos
com o primeiro projeto somos objetivamente
inimigos/as dos/as que se comprometem com o segundo projeto. Entre nós podemos
ter diferenças e divergências quanto
aos passos a serem dados e aos meios a serem utilizados para fazer acontecer o
projeto na história do ser humano e do mundo. Porém, por termos o mesmo projeto,
somos adversários e não inimigos.
Concretamente, os/as que nos comprometemos com o Projeto Social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religioso)
Popular (projeto fraterno, comunitário
e socialista) somos objetivamente
inimigos/as dos/as que se
comprometem com o Projeto
Capitalista Neoliberal. Não há
possibilidade de aliança (que é comunhão
de projetos), mas somente de acordos pontuais em casos muito
especiais e, às vezes, por motivos opostos.
Exemplificando, entre os/as
que estão comprometidos/as com Projeto. Capitalista Neoliberal e que, portanto,
são nossos inimigos e inimigas - temos:
- Os que se apresentam como pessoas de bem e - com a maior frieza e indiferença - defendem e apoiam o trabalho escravo doméstico, rural e empresarial.
- Os que
- adoradores do deus dinheiro (o
deus capital) - de maneira cruel e perversa, exploram os trabalhadores/as com salários miseráveis. No mundo - conforme
foi amplamente divulgado - temos atualmente 828 milhões de pessoas passando
fome; destas, mais de 33 milhões
somente no Brasil. As 8 pessoas mais
ricas do mundo possuem tantos bens quanto a metade da população mais
pobre (3,6 bilhões de pessoas). As 5 pessoas mais ricas do
Brasil têm um patrimônio igual à renda da metade da população mais pobre. Na
grande Goiânia, o número de pessoas
em situação de pobreza extrema é atualmente de mais de 500 mil pessoas.
Quanta desigualdade, injustiça, fome, miséria, falta de moradia, de trabalho
e de condições de vida digna para a maioria do povo! É o pecado social ou estrutural institucionalizado e legalizado!
- Os magistrados - juízes e desembargadores - que, com a maior insensibilidade e o maior descaramento, aumentam seus próprios salários, recebendo - muitos deles - mais de R$ 100.000 por mês. Como podemos confiar na justiça desses magistrados?
Todas
essas pessoas e outras não são somente nossos
adversários, mas nossos inimigos. Apesar disso, como seres humanos e, sobretudo, como cristãos e cristãs (radicalmente
seres humanos) devemos amá-las, orar a
Deus por elas e pedir por sua conversão (como aconteceu com Zaqueu no
encontro com Jesus). Lembremos: a única
maneira de amar os inimigos - opressores
do povo - é ser contra o seu projeto de vida.
Por
fim, nas próximas eleições, antes de votar perguntemo-nos: dentro daquilo que “as condições objetivas nos permitem hoje”, quais são
os partidos e os candidatos/as realmente comprometidos/as com o Projeto
Popular? Votemos nesses partidos e nesses candidatos/as!
https://www.ecodebate.com.br/2013/05/03/ba- empresa-de- alimentos-e-processada-por-trabalho-escravo/