sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Vida Religiosa radicalmente profética

               Na Igreja, a Vida Religiosa (Vida Consagrada, Vida Religiosa Consagrada, Vida de especial Consagração) - na diversidade de suas formas e de seus carismas - nasce, pela ação do Espírito Santo, da Consagração Batismal - que é a primeira e fundamental Consagração - como projeto de vida cristã radical, em resposta aos desafios que o mundo apresenta.
            Todos os cristãos e cristãs, seguidores e seguidoras, discípulos missionários e discípulas missionárias de Jesus de Nazaré são chamados a ser profetas e profetisas da vida, buscando a radicalidade evangélica, que é radicalidade profética.
            Os religiosos e religiosas assumem esse projeto de vida cristã radical por um chamado especial de Deus e - como setas que indicam o caminho - se comprometem a apontá-lo, pelo testemunho e pela palavra, a todos e todas aqueles e aquelas que desejam segui-lo.
“Como profetas da vida, queremos insistir que, nas intervenções sobre os recursos naturais, não predominem os interesses de grupos econômicos que arrasam irracionalmente as fontes da vida, em prejuízo de nações inteiras e da própria humanidade”.
Queremos também “procurar um modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma autêntica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens, e que supere a lógica utilitarista e individualista, que não submete os poderes econômicos e tecnológicos a critérios éticos” (Documento de Aparecida - DA, 471.473, c).
Hoje, na América Latina e no Caribe, “a Vida Consagrada é chamada a ser uma vida discipular, apaixonada por Jesus-caminho ao Pai misericordioso, e por isso, de caráter profundamente místico e comunitário. É chamada a ser uma vida missionária, apaixonada pelo anúncio de Jesus-verdade do Pai, por isso mesmo radicalmente profética, capaz de mostrar à luz de Cristo as sombras do mundo atual e os caminhos de uma vida nova, para o que se requer um profetismo que aspire até à entrega da vida em continuidade com a tradição de santidade e martírio de tantas e tantos consagrados ao longo da história do Continente. E, a serviço do mundo, uma vida apaixonada por Jesus-vida do Pai, que se faz presente nos mais pequeninos e nos últimos, a quem serve a partir do próprio carisma e espiritualidade” (DA, 220).
Dentro das possibilidades humanas, a entrega dos religiosos e religiosas a serviço da vida - fazendo acontecer o Reino de Deus - deve ser total e exclusiva, tendo sempre como referencial a vida de Jesus de Nazaré. Essa entrega acontece (se torna história) nas situações concretas da realidade humana e cósmica, a partir dos empobrecidos, oprimidos e excluídos da sociedade (Opção pelos Pobres). “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13). “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
No Diálogo sobre a Vida Religiosa “Despertem o mundo” (06 de janeiro de 2014) - dirigindo-se aos religiosos e religiosas e falando de coração aberto - o nosso irmão papa Francisco diz: “deverão ser testemunhas reais de um modo diferente de ser e agir. Mas, na vida, é difícil as coisas sempre serem claras; precisas, bem delineadas. A vida é complicada, consistindo de graça e pecado. Aquele que não peca não é humano. Todos cometemos erros e precisamos reconhecer nossas fraquezas. Um religioso que se reconhece como fraco e pecador não nega o testemunho ao qual é chamado a dar; pelo contrário, ele o reforça, e isso é bom para todos. O que espero de vocês é, pois, dar testemunho. Quero este testemunho especial por parte dos religiosos”.
 Num tom coloquial, Francisco - dizendo que “a Igreja deve ser atraente” - continua, fazendo um caloroso apelo aos religiosos e religiosas: “despertem o mundo! Sejam testemunhos de uma forma diferente de fazer as coisas, de agir, de viver! É possível viver neste mundo de forma diferente. Estamos falando de uma perspectiva escatológica, dos valores do Reino aqui encarnados sobre esta terra. Trata-se de deixar todas as coisas para seguir ao Senhor. Não, não quero dizer ‘radical’. A radicalidade evangélica não é apenas para os religiosos: ela é exigida de todos. Porém, os religiosos seguem ao Senhor de forma especial, seguem-no profeticamente. É este testemunho que espero de vocês. Os religiosos e as religiosas deveriam ser pessoas capazes de despertar o mundo”.
Com objetividade e clareza, Francisco fala de como podemos entender a realidade: “estou convencido de uma coisa: as grandes mudanças na história ocorreram quando a realidade não era vista a partir do centro, mas sim da periferia. Trata-se de uma questão hermenêutica: entende-se a realidade apenas se ela for olhada da periferia, e não quando nosso ponto de vista está equidistante de tudo (diríamos nós: em cima do muro). Para verdadeiramente entendermos a realidade, precisamos nos distanciar da posição central de calmaria e de paz, e nos dirigirmos às áreas periféricas”.
Qual é, então, a prioridade da Vida Consagrada? O papa responde: “a profecia do Reino, que não é negociável. A ênfase deverá cair sobre os profetas, e não em brincar de sê-los. Naturalmente, o demônio nos apresenta suas tentações, e uma delas é: apenas parecer sermos profetas. Porém, não se pode jogar com estas coisas. Eu mesmo tenho visto coisas tristes a esse respeito. Não, os religiosos e as religiosas são homens e mulheres que iluminam o futuro” (http://www.ihu.unisinos.br/noticias/526970-qdespertem-o-mundoq-integra-do-dialogo-do-papa-francisco-sobre-a-vida-religiosa).
Que assim seja! Religiosos e religiosas, meditemos! Precisamos voltar às fontes, mas sempre atentos aos sinais dos tempos! Sejamos - cada vez mais - verdadeiros profetas e profetisas na Igreja e no mundo de hoje!

 16 de agosto: Dia da Vida Religiosa! Participemos com alegria da Celebração da CRB Regional!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
                                                                                       Goiânia, 14 de agosto de 2014

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