O sequestro e a execução do menino
Lucas, de doze anos, é o cúmulo da iniquidade humana. Não dá para entender como
possa existir, em pleno século XXI, tanta crueldade. Como pessoas humanas e,
sobretudo, como cristãos não podemos ficar calados diante de tanta barbárie.
Exigimos justiça.
Lucas morava na Vila Brasília, em
Aparecida de Goiânia. Era um menino franzino e nasceu com um defeito nos pés.
Começou a andar depois de uma cirurgia, realizada no Hospital da Clínicas da
UFG. Usava crack desde os oito anos e, para alimentar o vício, praticava
pequenos furtos, passando várias vezes pela polícia.
No dia 16 de julho deste ano,
"Lucas foi retirado da porta de casa, na Rua Juçara, por volta das três
horas, por homens que ocupavam um carro preto de vidro fumê. O garoto ainda
gritou a mãe, mas ela não conseguiu abrir o portão a tempo. Meia hora depois a
Polícia Militar de Senador Canedo foi acionada por um chacareiro que viu o
corpo de Lucas estendido na estrada (próximo ao Goiás Carne) depois de ouvir o
barulho de um carro e quatro disparos" (O Popular, Cidades, 17/07/10, p.
8). Meu Deus, em que sociedade nós vivemos! Além do mais, se tratava de uma
criança! Que brutalidade!
Eliete, a mãe de Lucas, é uma mulher
sofrida e aparenta muito mais idade da que tem. Depois de separar do marido,
cuidou sozinha dos seis filhos. Na madrugada do dia 16, "Eliete
acordou com os gritos de Lucas, o filho que nasceu com
problema nos pés. Por causa do problema congênito e do uso do crack, Lucas era
o filho que mais preocupava Eliete. A mãe tentou de todo jeito abrir o portão.
Eliete chora o tempo todo como se cobrasse de si mesma por não ter salvado a
vida do filho. (…) Eliete se sente fracassada por não ter conseguido tirar
Lucas do vício. Há mais de quatro anos buscou ajuda em órgãos públicos, em
vão" (Ib.).
É muito doído ouvir a Eliete dizer
que "há mais de quatro anos buscou ajuda em órgãos públicos, em vão".
Será que essa decepção da Eliete, manifestada em forma de desabafo, não diz
nada à consciência dos responsáveis desses órgãos públicos? Quando será que o
Poder Público cumprirá a Constituição Federal? Ela nos lembra que os direitos
das crianças e dos adolescentes devem ser assegurados "com absoluta
prioridade" e que as crianças e os adolescentes devem ser colocados a
salvo "de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão" (Art. 227).
A Eliete, não precisa se sentir
fracassada por não ter conseguido tirar Lucas do vício. Ela é uma verdadeira
heroína. Infelizmente, é a nossa sociedade que ainda é muito hipócrita, injusta
e desumana. Tenho certeza na fé que Lucas, totalmente liberto, está agora junto
de Deus na plenitude da vida e da felicidade. Está também - embora de maneira
diferente - junto de sua mãe Eliete, dando-lhe paz e força para que possa
continuar a caminhada.
Exigimos da nova Secretária de
Segurança Pública do Estado de Goiás, Renata Cheim, que o crime bárbaro da
execução de Lucas, uma criança de doze anos, seja investigado e que os culpados
sejam processados, julgados e punidos. É o mínimo que pode ser feito para que
haja justiça. Tudo indica que se trata, mais uma vez, de um crime de violência
policial, com requinte de crueldade, por ser a vítima uma criança. O advogado
da Eliete - conforme noticiou a imprensa - "disse que foi a P2"
(Ib.).
Lembrem-se os assassinos de Lucas que Deus é justo.
Aguardem!
Fr. Marcos Sassatelli, Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia
Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof.
na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão
Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de
Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
Goiânia, 02 de agosto de 2010
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