“Hoje - como escreve Waldemar Rossi (metalúrgico aposentado e coordenador
da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo) - estamos assistindo à mais
vergonhosa capitulação das centrais sindicais tradicionais aos interesses do
capital nacional e internacional. Sobretudo a CUT e a Força Sindical -
verdadeiras inimigas entre si nos anos 90 - tornaram-se cúmplices da entrega
dos nossos direitos ao capital e se unem para abafar a consciência e memória
histórica dos trabalhadores”.
Celebrar, pois, o 1º de Maio hoje “é retomar a organização autônoma dos
trabalhadores, a começar pelos locais de trabalho (fábricas, comércio,
hospitais, escolas, unidades públicas e também nas comunidades), para reforçar
os sindicatos que continuam comprometidos com os trabalhadores; é fazer novas
experiências de organização e de lutas visando a construção de um outro
instrumento de lutas, que não repita os desvios ideológicos como vem
acontecendo nos últimos 20 anos; é entrar nas lutas em defesa dos nossos
direitos, pelas 40 horas semanais, contra as reformas que visam eliminar
direitos conquistados e que estão circulando no Congresso Nacional, entre
tantas outras importantes” (www.correiocidadania.com.br
– 27/04/11).
Em nossa realidade atual existem diversos sinais da “retomada da
organização autônoma dos trabalhadores”. Um desses sinais foi a caminhada que
aconteceu no dia 1º de Maio, de manhã,
na Região Noroeste de Goiânia. Durante a caminhada foi distribuída, nas feiras
livres e para todas as pessoas que se encontravam nas ruas, a Carta aberta
“Prioridades da Região Noroeste”, elaborada na Assembleia Popular, que
aconteceu no dia 9 de abril, na Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida do
bairro S. Domingos. A Carta apresenta as seguintes reivindicações, como
direitos da população.
Saúde: Implantar o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), aprovado desde 1999.
Aumentar o número de Agentes Comunitários da Saúde para cobrir as áreas em
déficit - atualmente 60% da região. Construir a unidade PSF (Programa Saúde da
Família) no bairro S. Domingos. Aumentar o número de médicos nos CAIS (Centros
de Assistência Integral à Saúde). Implantar o Hospital de Urgências na região;
Educação: Melhorar a estrutura física e pedagógica dos espaços educativos. Cobrir
o déficit de professores nas escolas. Implantar Colégio integral. Ampliar o
atendimento dos CEMEIS (Centros Municipais de Educação Infantil) - Construir
novas salas.
Assistência
Social: Melhorar a rede de atendimento à criança e
ao adolescente: Escolas, Conselho tutelar, Creas (Centros de Referência
Especializados de Assistência Social), Cras (Centros de Referência de
Assistência Social), PSF (Programas Saúde da Família), etc.. Implementar
políticas públicas para adolescentes e jovens com dependência de drogas.
Implantar programa de abrigo para adultos que estão em situação de rua.
Transporte: Aumentar o número de ônibus e diminuir os intervalos entre os carros de
todas as linhas que servem os bairros da região, especialmente das linhas que
vão à Estação Recanto do Bosque. Implantar novas linhas: da região ao Campus da
Universidade Federal e uma linha circular entre os bairros da região. Ampliar
os horários das linhas Expressos (Vitória e Floresta) - Circular o dia todo.
Segurança
Pública: Divulgar a finalidade da Polícia
Comunitária e interagir com a população. Fazer campanha de prevenção,
fiscalização, e conscientização contra a violência policial na periferia.
Construir uma comissão mista entre sociedade civil, governo e judiciário para
apurar as denúncias de violência.
Trabalho: Criar centro de qualificação profissional na região. Inserir os jovens
no mercado de trabalho (Programa Primeiro Emprego). Fiscalizar o trabalho
infantil.
Cultura/Lazer/Esporte: Implantar um centro cultural na região. Ampliar as atividades
artísticas e esportivas nos CRAS (Centros de Referência de Assistência Social).
Ampliar praças, parques, pistas de caminhada, ciclovia, ginásios ou quadras de esporte
e gramar os campos de futebol. Descentralizar os programas culturais e
valorizar os artistas populares da região.
Moradia/Infraestrutura: Regulamentar os lotes da região (escritura). Erradicar o déficit de
habitação popular na região. Implantar rede de esgoto.
Meio
Ambiente: Implantar parque de proteção ambiental e
preservar o cerrado na região. Implantar a coleta seletiva do lixo em todas as
áreas.
Participação
Popular: Discutir os projetos, o orçamento, as
políticas públicas e as prioridades com a comunidade local.
São estas as reivindicações que a população da Região Noroeste de Goiânia
apresenta ao Poder Público em sua Carta aberta, para que sejam atendidas o mais
rápido possível. A população não quer migalhas (concedidas muitas vezes como se
fossem favores dos governantes), mas exige seus direitos.
É urgente lutar contra a cooptação dos trabalhadores/as por parte do
governo (mesmo que se diga - de fato não é - governo “popular” e “dos
trabalhadores”) e o consequente atrelamento de suas organizações sindicais e
movimentos populares ao Poder Público e aos interesses do capital. “É urgente -
como afirma Waldemar Rossi - somar forças com os setores do movimento sindical
e popular que ainda resistem aos ataques do capital e renovar o compromisso de
lutar em defesa dos nossos direitos” (Ib.).
Quando necessário e quando possível, diálogo e negociação, sim, mas com
liberdade, independência e autonomia, de igual para igual e defendendo sempre
os direitos dos trabalhadores/as (sem covardias e sem traições).
Como diz o ditado: “O
Povo que ousa lutar, constrói o Poder Popular”!
Diário da Manhã, Opinião Pública,
Goiânia, 04/05/11, p. 2
Fr. Marcos Sassatelli, Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil
/ PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da
Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa
Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário