sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Comentando o “Manifesto do Grito dos Excluídos de Goiânia”

Na cidade de Goiânia, o Grito dos/as Excluídos/as aconteceu no dia sete deste mês, das 8 às 12h. Houve um número muito significativo de participantes, representando movimentos populares, comunidades, paróquias, igrejas, e outras organizações da sociedade civil. Os participantes concentraram-se na Praça A, ao lado do Terminal de ônibus. Depois de uma rápida passagem pelo Terminal, percorreram com muita animação e esperança a Avenida Independência, fazendo quatro paradas programadas com antecedência e encerraram o Grito em frente a Câmara Municipal, na Praça do Trabalhador.
O Grito dos/as Excluídos/as de Goiânia foi o grito da Vida contra a Corrupção, a Violência e a Morte, no Transporte Coletivo, na Saúde Pública e na Segurança Pública
Com este enfoque, o Forum do Grito dos Excluídos e as Assembleias Populares lançaram o “Manifesto do Grito dos Excluídos de Goiânia”.
Na primeira parte, o Manifesto constata o contraste que existe entre as leis que garantem ao povo direitos e as regras da ganância que de fato predominam na nossa sociedade capitalista.
Diz o Manifesto: “As leis garantem ao povo direitos, mas as regras da ganância impõem-lhe penúrias e castigos. A trabalhadora e o trabalhador são explorados cotidianamente do valor do seu trabalho.
Quem deveria representar os interesses de todos utiliza-se de seu poder em seu próprio privilégio. Pervertem a Política e colocam o Estado e a coletividade a serviço de seus mesquinhos interesses. A vida de joelhos e a ganância no altar.
A classe dominante ignora o grito dos excluídos e apenas nas eleições fingem escutar o lamento e a dor do povo, respondendo-lhes com promessas que rasgam tão logo assumem o poder. Transporte de qualidade, saúde, segurança... Tudo vira moeda para o enriquecimento ilícito de uns poucos.
Quantas vezes disseram resolver o transporte público na capital? Quantas vezes a saúde era prioridade? Quantas vezes fomos amedrontados pela ineficiência da Segurança Pública?”
Na segunda parte, o Manifesto apresenta alguns dados concretos da realidade de vida do nosso povo sofrido e excluído, que são a consequência lógica das regras da ganância.
Continua o Manifesto: “Em Goiânia, 90% do transporte coletivo, que deveria ser público, está privatizado, nas mãos de pouquíssimas empresas que operam um sistema altamente lucrativo e oferece um péssimo serviço à sociedade. A trabalhadora e o trabalhador, principais usuários, não participam de nenhuma instância de deliberação e controle.
Os interesses privados prevalecem em detrimento do interesse público. Enquanto isso, a cultura do automóvel e da solução individual congestiona o trânsito e deprecia a qualidade de vida na capital.
A Saúde Pública em Goiás está na UTI e, na contramão do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o Governo Estadual entrega importantes hospitais como HUGO, HGG, HUAPA a grupos econômicos. Novamente o povo paga a conta da péssima gestão estatal! Como no IPASGO, a improbidade administrativa gera prejuízos ao servidor e a toda coletividade”.
Na terceira e última parte, o Manifesto aponta, com muita esperança, caminhos de mudança, buscando construir um projeto popular para o Brasil.
Conclui o Manifesto: “Contudo, a força do povo está em sua organização. Não existe salvador para suas causas, apenas a classe trabalhadora pode cuidar de seus próprios interesses. A morte permeia as instituições fracassadas pela ausência real da participação democrática e popular no uso do poder. Sozinhos e isolados as trabalhadoras e os trabalhadores são apenas massa de manobra.
Somos todos um só povo, de uma só raça e com um só destino. Sem luta não haverá vitória possível. Organize-se em sua comunidade, faça parte dos movimentos populares e sociais, não se isole no individualismo medíocre ou no consumismo destrutivo.
É preciso ocupar as ruas e reivindicar, é preciso juntar-se a luta e a solidariedade coletiva, é preciso não calar diante das atrocidades e violências, é preciso coragem para gritar: Basta de morte, injustiças e iniquidade!
            A luta é de todos e somente juntos poderemos vencer a CORRUPÇÃO, a VIOLÊNCIA e a MORTE!”
Finalizando este breve comentário sobre o “Manifesto do Grito dos Excluídos de Goiânia”, lembro que a inseparável relação entre o amor a Deus e o amor ao próximo “convida todos a suprimir as graves desigualdades sociais e as enormes diferenças no acesso aos bens. Tanto a preocupação por desenvolver estruturas mais justas como por transmitir os valores sociais do Evangelho, situam-se neste contexto de serviço fraterno à vida digna" (Documento de Aparecida - DA, 358).

Portanto, os que somos cristãos - unidos a todas as forças vivas da sociedade - temos o dever de contribuir "para a transformação das realidades e para a criação de estruturas justas segundo os critérios do Evangelho" (DA, 210).
                Goiânia, Diário da Manhã, Opinião Pública, 09/09/11, p 1


Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

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