Como foi amplamente divulgado na
mídia, no dia 25 de abril deste ano, os vereadores de Goiânia, por 24 votos a
7, aprovaram o projeto de lei que altera o Plano Diretor. Posteriormente, o
prefeito Paulo Garcia (PT) sancionou a lei aprovada. As alterações visam
atualizar a Lei complementar 171, que determina as normas urbanísticas do
município e sua regulamentação. Elas dizem respeito ao sistema viário, à
ocupação de grandes áreas e à drenagem urbana
A votação das alterações, na Câmara
Municipal, foi marcada por protestos e confusão. Contrários a algumas mudanças,
cerca de 230 manifestantes, entre alunos dos cursos de arquitetura e geografia
da UFG e integrantes de entidades de proteção ao meio ambiente, protestaram
durante toda a sessão e tentaram invadir
o plenário por uma porta lateral, gerando confronto entre os manifestantes e os
seguranças da Câmara.
O motivo de
maior polêmica se refere a uma área próxima à Avenida Perimetral Norte. A
alteração proposta autoriza a construção de galpões e grandes empresas no
trecho de 350 metros
às margens da via. A região é cortada por dois dos mais importantes mananciais
da cidade: o Ribeirão João Leite e o Rio Meia Ponte. Os manifestantes afirmam
que a execução dessas alterações prejudicará mananciais e nascentes.
O presidente
do Sindicato dos Biólogos e da Associação dos Acadêmicos e Profissionais de
Biologia do Estado de Goiás, Ygor Brandão, afirma: “Essa revisão do Plano
Diretor interfere diretamente em toda a cidade. Falamos, para começar, de um
breve futuro caótico para o trânsito em vias como a T-9, a T-7 e a T-63; isso,
sem considerarmos as questões ambiental, logística e de qualidade de vida” (O
Popular, 23/05/13, p. 4).
Em nome do chamado progresso, todas as
emendas apresentadas ao projeto de alteração do Plano Diretor foram rejeitadas.
O relator do
projeto, vereador Paulo Borges (PMDB), defendeu as mudanças enviadas pelo
Executivo. "Esses pontos - diz ele - foram analisados pelo Poder Executivo.
Eu tenho certeza que esses técnicos estão preparados e quando eles submetem à
Câmara esses artigos, existe um estudo técnico para tal" (http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/04/alteracao-no-plano-diretor-de-goiania-e-aprovada-em-meio-protestos.html).
O senhor,
vereador Paulo Borges, deveria saber que a questão não é meramente técnica, mas
é sobretudo humana. Pergunto: Que tipo de progresso nós queremos? A serviço de
quem? Quais os interesses que estão por trás das alterações ao Plano Diretor?
Quem vai ser beneficiado com isso? Por que a população não é consultada? Quem é
que realmente tem poder de decisão em Goiânia? É a população ou são os
“coronéis urbanos” (leia: os grandes empresários do setor imobiliário)?
A realidade
(como exemplo, basta lembrar a barbárie do Parque Oeste Industrial, que até
hoje clama por justiça) mostra que os “coronéis urbanos” agem como uma
verdadeira “máfia”; elegem ou compram políticos que defendem seus interesses
econômicos; desrespeitam os direitos humanos, sobretudo o direito à moradia; e
não têm nenhuma preocupação com a preservação da natureza e do meio ambiente.
O objetivo
do projeto de alteração do Plano Diretor não é certamente o “Bem Viver” e o
“Bem Conviver” da população. “O conceito do ‘Bem Viver’ está na
contramão de um modelo de desenvolvimento que considera a terra e a natureza
como produtos de consumo (...). O ‘Bem Viver’ é um sistema de vida que se
contrapõe ao capitalismo, porque este último se constitui num modelo de morte e
de exploração (...). Para praticarmos o ‘Bem Viver’ é necessário dar ouvido ao
que dizem aqueles que lutam a cada dia por um mundo mais fraterno e justo”
(Conselho Indigenista Missionário - CIMI. Agenda Latino-Américana Mundial 2012,
p. 11).
No dia 22 de
maio deste ano, representantes da sociedade civil organizada lançaram no Câmpus
2 da Universidade Federal de Goiás (UFG) “um movimento para coletar pelo menos
50 mil assinaturas com o objetivo de anular, por meio de um Projeto de Lei de
Iniciativa Popular, a lei de revisão do Plano Diretor de Goiânia (...). A
campanha, batizada de Salve Goiânia!, será levada, até o dia 28 de junho -
conforme cronograma prévio de ações -, a bairros de diferentes regiões da
cidade, do Setor São Judas Tadeu ao Residencial Brisas da Mata” (O Popular,
Ib.).
Entre
estudantes, associações ambientais, sindicatos e igrejas, a iniciativa conta
com a adesão de moradores de praticamente toda a região metropolitana. Como
exemplos, citamos - além do Sindicato dos Biólogos e da Associação dos
Acadêmicos e Profissionais de Biologia - a Associação Ecológica Verdivale, o
Diretório Central da UFG, a Associação de Moradores do Conjunto Caiçara e o
Conselho de Arquitetura e Urbanismo.
O Projeto de
Lei de Iniciativa Popular - previsto na Lei Orgânica do Município, na
Constituição Federal e no Regimento Interno da Câmara Municipal de Goiânia -
para ser apresentado, deverá conter pelo menos 5% de assinaturas do eleitorado
da cidade. Depois de apresentado, o Projeto deverá ser aprovado em caráter de
urgência, com prazo máximo de tramitação estimado em 45 dias. O Projeto conta
também com o apoio de alguns vereadores (infelizmente, poucos) que continuam
contrários à revisão do Plano Diretor (Cf. Ib.).
Vamos aderir
à Campanha “Salve Goiânia!”. Sua participação é importante! E, nas próximas
eleições municipais, vamos votar em candidatos, que estejam realmente do lado
do povo e comprometidos com o “Bem Viver”.
Fr. Marcos
Sassatelli, Frade dominicano,
Doutor em
Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 29 de maio de 2013
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