À luz da Fé Cristã, a Páscoa é o acontecimento central da história do ser humano e do mundo. É o mistério do Amor Infinito de Deus - para com o ser humano e o mundo - que faz o Reino de Deus acontecer. “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Tornar presente a Páscoa de Jesus, fazendo sua memória, significa fazer acontecer hoje - na história do ser humano e do mundo - a passagem da morte para a vida (vida nova em Cristo, vida segundo o Espírito de Deus, vida eterna, vida de ressuscitados e ressuscitadas), até a plenitude da vida, que é a plenitude do Reino de Deus, na meta-história.
"A criação toda geme e sofre dores de parto até agora. E não somente ela, mas também nós, que possuímos os primeiros frutos do Espírito, gememos no íntimo, esperando a adoção, a libertação para nosso corpo” (Rm 8, 22-23).
A vida toda de Jesus de Nazaré é Páscoa, é passagem. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Para cumprir sua missão de ser Páscoa, Jesus, o Filho de Deus, o Libertador e Salvador do mundo, torna-se próximo e solidário com todos os excluídos e excluídas da vida, com todos os descartados e descartadas da sociedade.
Ainda no seio de Maria, Jesus é “morador de rua”. “Não havia lugar para eles dentro de casa” (Lc 2,7). Nasce, como “sem-teto”, numa manjedoura. Exerce a profissão de carpinteiro. Em sua vida pública, denuncia - com palavras duras e sem medo - a hipocrisia religiosa dos fariseus e mestres da Lei. Sempre se coloca - como defensor - ao lado dos pobres, dos doentes, dos leprosos, dos sofredores e de todos aqueles e de todas aquelas que não têm voz e não têm vez.
Basta lembrar os sete sinais de Jesus narrados por João, que visam libertar as pessoas de todas as barreiras que impedem a vida e a vida em plenitude: Jesus muda a água em vinho (2,1-12); Jesus cura o filho do funcionário do rei (4,46-54); Jesus faz o paralítico andar (5,1-18); Jesus realiza a partilha dos pães (6,1-15); Jesus caminha sobre as águas (6,16-21; Jesus faz o cego de nascença enxergar (9,1-41); Jesus ressuscita Lázaro (11,1-45).
A Páscoa de Jesus completa-se com sua morte na cruz, com seu sepultamento e com sua Ressurreição, que é a vitória da vida sobre a morte. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1). “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo, 15,13).
“Deus é Amor. Nisto se tornou visível o Amor de Deus entre nós: Deus enviou seu Filho único a este mundo, para dar-nos a vida por meio dele” (1Jo 4,8-9). O ser humano, que é imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26), também é Amor. Ele é chamado a "amorizar” o mundo e a sociedade na qual vive, isto é, a impregnar o mundo e a sociedade de amor.
Fazer acontecer a Páscoa é fazer acontecer o Amor onde a vida do ser humano e do mundo é ameaçada, negada e assassinada, como nas situações existenciais: dos Moradores e Moradoras de Rua; dos Catadores e Catadoras de Lixo; dos Encarcerados e Encarceradas; dos Sem-Terra; dos Sem-Moradia; dos Sem-Trabalho; dos Subempregados e Subempregadas; dos Trabalhadores e Trabalhadoras em condição de trabalho escravo; dos Doentes que não são atendidos pela Saúde Pública; dos Doentes que morrem à míngua por falta desse atendimento; das Crianças e Jovens que não têm uma Educação Pública de qualidade; das Crianças e Jovens que se envolvem com as drogas por falta de Políticas Públicas; das Crianças e Jovens que são assassinados por causa desse envolvimento; das Crianças e Jovens abandonados; dos Idosos e Idosas abandonados; das Mulheres marginalizadas e violentadas; do Povo que não tem uma Segurança Pública humanizada; do Povo que não tem um Transporte Público digno; das Vítimas da Fome e Subnutrição; das Vítimas do Tráfico Humano para a exploração no trabalho; das Vítimas do Tráfico Humano para a exploração sexual; das Vítimas do Tráfico Humano para a extração de órgãos; das Vítimas do Tráfico Humano de Crianças e Jovens; das Vítimas da Exploração da Terra e das Àguas; das Vítimas da Violência institucionalizada e de toda Violência; dos Descartados e Descartadas da sociedade; de todos os Excluídos e Excluídas.
Fazendo acontecer a Páscoa, ou seja, fazendo acontecer o Amor nessas situações existenciais, seremos Bons Samaritanos e Boas Samaritanas, Profetas e Profetisas da vida, hoje. “Amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês” (Jo 15,12). Durante a última ceia, depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus perguntou: “Vocês compreenderam o que acabei de fazer? E disse: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,12.15).
Como cristãos e cristãs somos chamados - dentro das nossas possibilidades humanas - a ser Páscoa e a fazer a Páscoa acontecer (ser sinais e testemunhas da Páscoa, ser sinais e testemunhas do Reino de Deus) na história do ser humano e do mundo. Temos, porém, que reconhecer, com humildade, que, muitas vezes, irmãos e irmãs nossos - que não se dizem cristãos e cristãs - são Páscoa e fazem a Páscoa acontecer mais do que nós. Em diversas ocasiões, eu pude experienciar isso.pessoalmente e dou graças a Deus.
Jesus não quer que o grupo dos seus seguidores e seguidoras se torne seita fechada e monopolize sua missão. Toda e qualquer ação que liberta do mal o ser humano e o mundo, é parte integrante da missão de Jesus. “Quem não está contra nós, está a nosso favor” (Mc 9,40).
À luz da Fé, de toda pessoa humana (cristão e cristã ou não) - cuja vida (como a de Jesus de Nazaré) sempre foi Páscoa e fez a Páscoa acontecer - em sua passagem última e definitiva para a “vida além da morte”, podemos dizer: “completou a sua Páscoa” (Lembrancinha de Missa de 7º dia). Feliz Páscoa 2014!
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