- Declaração Final do Encontro Mundial
dos Movimentos Populares (2º parte) -
Neste
artigo continuo a apresentação - sempre com alguns comentários - da “Carta dos
Excluídos aos Excluídos”.
8. Falando que a situação das mulheres
golpeadas pelo sistema vigente merece particular atenção, os participantes do
Encontro afirmam: “reconhecemos nessa realidade a urgente necessidade de um
compromisso profundo e sério com essa causa justa e histórica de todas nossas
companheiras, motor de lutas, processos e propostas de vida, emancipatórias e
inspiradoras”. Exigem também “a finalização da estigmatização, descarte e
abandono das crianças e jovens, especialmente os pobres, afrodescendentes e
migrantes. Se as crianças não têm infância, se os jovens não têm projeto, a
Terra não tem futuro”. Que clareza! Que objetividade!
9. Com firmeza declaram: “longe de ficarmos na autocompaixão e nos
lamentos por todas estas realidades destruidoras, os Movimentos Populares, em
particular os reunidos neste Encontro, reivindicamos que os excluídos, os
oprimidos, os pobres não resignados, organizados, podemos e devemos enfrentar
com todas nossas forças a caótica situação a que este sistema nos levou”. Para
conseguirem alcançar esse objetivo, “foram compartilhadas inúmeras experiências
de trabalho, organização e luta que têm permitido a criação de milhões de
fontes de trabalho digno no setor popular da economia, a recuperação de milhões
de hectares de terra para a agricultura camponesa e a construção, integração,
melhoramento ou defesa de milhões de moradias e comunidades urbanas no mundo”.
E declaram: “a participação protagonizada pelos setores populares em
democracias sequestradas ou diretamente plutocracias é indispensável para as transformações
de que necessitamos”.
10. Considerando “o especial contexto deste Encontro e a inestimável
contribuição da Igreja Católica que, encabeçada pelo Papa Francisco, permitiu
sua realização”, os participantes do Encontro afirmam: “detivemo-nos para
analisar o marco de nossas realidades, o imprescindível aporte da doutrina
social da Igreja e o pensamento de seu Pastor para a luta por justiça social.
Nosso material principal de trabalho foi a ‘Alegria do Evangelho’ (EG), que
levou em conta a necessidade de recuperar pautas éticas de conduta na dimensão
individual, grupal e social da vida humana. É razoável destacar a participação
e intervenção de numerosos sacerdotes e bispos católicos ao longo de todo o Encontro,
encarnação viva de todos aqueles agentes pastorais leigos e consagrados,
comprometidos com as lutas populares que, consideramos, devem ser reforçados no
seu importante trabalho”. É essa a missão dos verdadeiros seguidores e
seguidoras de Jesus!
11. Declaram ainda: “todos e todas, muitos de nós católicos, pudemos
assistir a celebração de uma Missa na Catedral de São Pedro, celebrada por um
de nossos anfitriões, o Cardeal Peter Turkson, onde foram apresentados como
oferendas três símbolos de nossos anseios, carências e lutas: um carro de papelão,
frutos da terra camponesa e uma maquete de uma casa típica dos bairros pobres.
Pudemos contar com a presença de um importante número de bispos de todos os
continentes”. Tudo isso fortalece a nossa esperança!
12. Com gratidão, reconhecem a grande contribuição do Papa Francisco e
sua solidariedade fraterna. “Neste ambiente de debate apaixonado e fraternidade
intercultural, tivemos a inesquecível oportunidade de assistir a um momento
histórico: a participação do Papa Francisco no nosso Encontro, que sintetizou
em seu Discurso grande parte de nossa realidade, nossas denuncias e nossas
propostas. A claridade e contundência de suas palavras não admitem duas
interpretações e reafirmam que a preocupação pelos pobres está no centro do
Evangelho. Em coerência com suas palavras, a atitude fraterna, paciente e
cálida de Francisco com todos e cada um de nós, em especial com os perseguidos,
também expressa sua solidariedade com nossa luta, tantas vezes desvalorizada e
prejudicada, inclusive perseguida, reprimida ou criminalizada”. Sigamos o
exemplo do nosso irmão Francisco!
13. Consideram também como momento importante “a participação do irmão
Evo Morales, presidente da Assembleia Mundial dos Povos Indígenas, que
participou em caráter de dirigente popular e nos ofereceu uma exposição
centrada na crítica ao sistema capitalista e em tudo o que os excluídos podem
fazer em relação à terra, trabalho, moradia, paz e ambiente, quando nos
organizamos e temos acesso a posições de poder, de um poder entendido como
serviço e não como privilégio. Seu abraço com Francisco nos emocionou e ficará
para sempre em nossa memória”.
14. Enfim, os participantes do Encontro afirmam: “entre os
encaminhamentos imediatos do Encontro, levamos duas coisas: a ‘Carta dos
Excluídos aos Excluídos’ para trabalhar com as bases dos setores e Movimentos Populares
- a qual nos comprometemos a distribuir massivamente junto ao Discurso do Papa
Francisco - e as memórias, com a proposta de criar um espaço de Interlocução
permanente entre os Movimentos Populares e a Igreja”. É mais um motivo para
acreditar que um outro mundo é possível e necessário!
15. Terminando, fazem um pedido. “Junto a este breve comunicado, pedimos
especialmente a todos os trabalhadores e trabalhadoras da imprensa que nos
ajudem a difundir a versão completa do Discurso do Papa Francisco que,
repetimos, sintetiza grande parte de nossa experiência, pensamentos e anseios.
Repitamos juntos: Terra, Teto e Trabalho são direitos sagrados! Nenhum
trabalhador sem direitos! Nenhuma família sem moradia! Nenhum camponês sem
terra! Nenhum povo sem território!”. E exclamam: “viva os pobres que se
organizam e lutam por uma alternativa humana à globalização excludente! Longa
vida ao Papa Francisco e sua Igreja pobre para os pobres!”. É essa a Igreja que
nós queremos!
O
Encontro Mundial dos Movimentos Populares é, no mundo atual, a estrela de
Belém, que - como à época conduziu os Reis Magos - nos conduz hoje ao Menino
Jesus na manjedoura. Sigamos a estrela e sejamos estrela! Parafraseando João
XIII e Francisco, os cristãos e cristãs sejamos Igreja pobre, para os pobres, com
os pobres e dos pobres!
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia,
05 de fevereiro de 2015
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