A “constitucionalização” da corrupção é a Antirreforma Política que a
maioria dos deputados federais quer fazer.
No dia 3 deste mês, a
“Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas” (OAB, CNBB,
Contag, CTB Nacional, CUT Brasil, MCCE, Plataforma dos Movimentos Sociais pela
Reforma do Sistema Político, UNE), num “Comunicado Urgente aos companheiros e
companheiras”, escreveu: “na semana passada tivemos o início da votação da
Reforma Política na Câmara dos Deputados. Derrotamos o ‘distritão’ e o
financiamento empresarial das eleições na votação de segunda-feira. Todavia,
numa manobra do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, ilegalmente fez
nova votação e ‘legalizaram’, em primeiro turno, a ‘constitucionalização’ da
corrupção, com a intenção de colocar na Carta Magna o financiamento de empresas
em campanhas eleitorais”.
Vejam a relação dos deputados federais que, em
primeiro turno, votaram contra a sociedade e a favor da PEC da corrupção, ou
seja, da “constitucionalização” da mesma (cf. em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/05/financiamento-empresarial-conheca-os-deputados-que-mudaram-os-votos.html). Esses
deputados devem ser banidos, uma vez por todas, da vida pública como traidores
do povo. Seu oportunismo interesseiro é tão descarado, que chega a ser arrogante,
cínico e despudorado. É um deboche para com o povo brasileiro. Mas a luta
continua!
Segundo a Coalisão citada, “64 deputados,
integrantes de diversos partidos políticos, ajuizaram um mandato de segurança
no Supremo Tribunal Federal, com pedido de liminar contra esta manobra do
presidente da Câmara”, que - diga-se de passagem - foi suja, desonesta, ilegal,
antidemocrática e antiética. Na Câmara, o segundo turno da votação da Reforma
Política recomeça no dia 16/06/2015.
A “Plataforma dos
Movimentos Sociais (Populares) pela Reforma do Sistema Político”, em “Manifesto
a favor da democracia e de uma verdadeira Reforma do Sistema Político”, afirma
que, neste momento, está engajada “em duas grandes estratégias de intervenção,
construídas pela sociedade: a Iniciativa Popular da Reforma Política
Democrática e Eleições Limpas, e o Plebiscito da Constituinte Exclusiva e
Soberana do Sistema Político”.
A exemplo da Plataforma citada, todos os Movimentos
Populares e todos os Sindicatos autênticos de Trabalhadores e Trabalhadoras da
sociedade - unidos, organizados e mobilizados - devem assumir essas “duas
grandes estratégias de intervenção”.
Assumir a primeira - a Iniciativa Popular da
Reforma Política Democrática e Eleições Limpas - significa, antes de tudo, ocupar
a Câmara Federal, que é a Casa do Povo, e exigir dos deputados que votem contra
o financiamento de empresas privadas em campanhas eleitorais. Assumir a segunda
- o Plebiscito da Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político - significa
exigir dos mesmos deputados a imediata convocação do Plebiscito.
Com a coleta de assinaturas (que - ressaltamos -
continua importante, visto que os temas da Iniciativa Popular serão ainda
debatidos, seja na Câmara dos Deputados que no Senado), a força da mobilização
popular e a pressão nominal sobre os parlamentares, podemos impedir a Antirreforma
Política - que seria um retrocesso - e, quem sabe, conseguir alguns avanços na
Reforma Política, pela qual tanto lutamos.
Se queremos, porém, ser realistas, com o Congresso que
temos - em sua maioria reacionário e conservador - não iremos muito longe na
Reforma Política. Já será uma grande vitória, se conseguirmos impedir a Antirreforma
Política.
Somente com a convocação do Plebiscito da
Constituinte Exclusiva e Soberana, é que teremos realmente as condições de
conseguir uma Reforma Política, que seja uma verdadeira mudança estrutural do
Sistema Político.
A “Coalisão pela Reforma Política Democrática e
Eleições Limpas” precisa se tornar, o quanto antes, a “Coalisão do Plebiscito
da Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político”.
Termino perguntando:
por que será que as empresas privadas estão tão interessadas no financiamento
de campanhas eleitorais? Certamente não é porque fizeram, por amor, a opção pelos
pobres e estão preocupadas com a promoção da justiça, dos direitos humanos e da
sociedade do “bem-viver”, que - à luz da Fé - é o Reino de Deus acontecendo na
história do ser humano e do mundo. As empresas privadas, financiando campanhas
eleitorais, sempre visam seu próprio interesse econômico, ou seja, um retorno
financeiro compensatório. Por isso, elas só financiam campanhas eleitorais de
candidatos ricos, nunca de candidatos pobres.
Se a Câmara Federal (em segundo turno) e o Senado
aprovarem a “constitucionalização” do financiamento de empresas privadas em campanhas
eleitorais, estarão aprovando a “constitucionalização” da corrupção e - porque
não dizer - da sem-vergonhice política. Temos que impedir isso a qualquer
custo. Como afirma a Plataforma dos Movimentos Populares citada: “desistir
jamais, lutar sempre”. Não à “constitucionalização” da corrupção! Plebiscito,
já! Reforma Política, já!
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP)
e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
Goiânia, 10 de junho de 2015
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