Entre
os dias 7 e 9 de julho último aconteceu o 2º Encontro Mundial dos Movimentos
Populares (2º EMMP), em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), que reuniu cerca de
1.500 militantes de 40 países. A delegação brasileira contou com 200
representações de diversos Movimentos Populares do país.
No primeiro dia do Encontro, após a
mística de abertura, aconteceu o painel “Mãe Terra”, que trouxe importantes
dados a respeito do controle que as multinacionais têm sobre a alimentação da
humanidade. No debate, dezenas de líderes camponeses relataram a luta em seus
países pela soberania alimentar e por um planeta sustentável. O destaque foi a importante
participação das mulheres camponesas e indígenas, que com muita garra defendem
suas terras e seu povo da gana imperialista, que expulsa os povos originários
de suas terras e impõe cruéis e injustas leis de mercado.
Em seguida, os participantes do Encontro
receberam a visita do presidente indígena da Bolívia, Evo Morales, que deu as
boas vindas a todos e a todas, ressaltando a importância dos Movimentos Populares
na luta contra o imperialismo.
No dia seguinte, de manhã, foi a vez
do painel “Trabalho”, que reuniu lideranças sindicais de vários países para
contar suas experiências de trabalhadores e trabalhadoras na luta contra a
exploração e por direitos.
À tarde do mesmo dia, o tema principal
foi “A luta pelo teto”. Teve depoimentos de Movimentos Populares do Brasil,
Índia, África, Bolívia e Peru sobre suas experiências de luta, cooperativismo e
autoconstrução.
No dia 9 aconteceu o Encontro com o
Papa Francisco e o presidente Evo Morales, que - depois do Discurso do Papa - encerraram
o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (cf. http://averdade.org.br/2015/07/encontro-mundial-dos-movimentos-populares-acontece-na-bolivia/).
Antes de tudo, quero reafirmar o que escrevi
no artigo “O significado do 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares”, que representa
uma verdadeira revolução na Igreja, uma “revolução evangélica” radical (em: http://www.dm.com.br/texto/198692-o-significado-do-encontro-mundial-de-movimentos-populares ou http://freimarcos.blogspot.com.br/search?updated-max=2014-12-03T14:30:00-08:00&max-results=7&start=28&by-date=false e outros sites).
Neste artigo (o primeiro de uma série) faço algumas
considerações e reflexões sobre o significado do 2º Encontro Mundial dos
Movimentos Populares. Em outros artigos - não necessariamente na sequência cronológica
- destacarei os pontos mais marcantes do Discurso do Papa aos participantes do
2º Encontro e da declaração final do mesmo, a “Carta de Santa Cruz”, que (como
já disse a respeito do 1º Encontro) são luzes para a nossa militância nas
Pastorais Sociais e Ambientais, e nos Movimentos Populares.
Qual
é, pois, o significado do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares? O que
ele representa? Em primeiro lugar, o 2º Encontro tem o objetivo de dar
continuidade ao 1º, realizado no Vaticano (Roma - Itália), de 27 a 29 de
outubro de 2014. Em segundo lugar, tem também o objetivo de retomar, ampliar e
aprofundar os temas refletidos e debatidos no 1º Encontro. O fato que o 2º Encontro
tenha sido realizado pouco tempo depois do 1º (ninguém imaginava isso) é um
sinal de que a revolução na Igreja (da qual falei no 1º Encontro) - uma “revolução
evangélica” radical - está dando os primeiros passos com muita rapidez. É
certamente o Espírito Santo (o Amor de Deus) que está presente e age na
história do ser humano e do mundo.
O Papa Francisco,
em seu Discurso aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos
Populares, coloca-se no meio deles e delas - num plano de igualdade - como um
irmão, que está em plena sintonia com os anseios e as aspirações dos Movimentos
Populares. Dirige-se aos irmãos e irmãs desses Movimentos com toda
simplicidade, ternura e confiança.
Depois de saudar a todos e a
todas com uma “Boa tarde!” muito carinhosa, Francisco faz uma saudosa memória
do 1º Encontro. “Há
alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro Encontro.
Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me
vê-los de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves
situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado, senhor
Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro”. E, do
mais profundo do seu coração, continua dizendo: “então, em Roma, senti algo
muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz
de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado!”.
Reparem
agora o que Francisco diz aos cristãos e cristãs para incentivá-los a
participarem ativamente dos Movimentos Populares. “Pelo Pontifício Conselho ‘Justiça
e Paz’, presidido pelo Cardeal Turkson, soube
também que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos
Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas
abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada
Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e
comprometida com os Movimentos Populares. Convido-vos a todos, bispos,
sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias
urbanas e rurais, a aprofundar este encontro”.
Quanta
clareza e quanta paixão nas palavras de Francisco! Ah, se as nossas Igrejas (Comunidades,
Paróquias, Dioceses) entendessem e vivessem isso! Infelizmente, existem ainda
muita indiferença e omissão por parte da Igreja em relação aos Movimentos
Populares! Ah, se as nossas Igrejas ouvissem o apelo do Papa Francisco!
Meditemos, irmãos e irmãs! As palavras de Francisco nos questionam, nos
incomodam e nos levam a mudar de vida, buscando viver cada vez mais a
radicalidade evangélica na sociedade e no mundo de hoje.
Sempre
de coração aberto e com muita ternura, Francisco diz ainda: “Deus permitiu que
nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu
povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o
e repito: são direitos sagrados.
Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja
escutado na América Latina e em toda a terra”.
Fr Marcos Sassatelli,Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 05 de agosto de 2015
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