“Escravidão
moderna e mudanças climáticas:
o
compromisso das cidades e de seus prefeitos”
A Declaração conjunta do Encontro de
cerca de cem prefeitos das maiores cidades do mundo com o Papa
Francisco - realizado no Vaticano nos dias 21 e 22 de julho de 2015 -
começa dizendo: “Nós,
abaixo-assinados, nos reunimos aqui, naAcademia
Pontifícia das Ciências e naAcademia
Pontifícia das Ciências Sociais, com o objetivo de abordar duas dramáticas emergências
correlacionadas: as mudanças climáticas induzidas pelo ser humano e
a exclusão social nas formas extremas de radical pobreza, da
escravidão moderna e do tráfico de pessoas”.
E ainda: “Chegamos até aqui de diversos
âmbitos e diferentes culturas e, assim, somos o fiel reflexo do
desejo, compartilhado por toda a humanidade, de paz, felicidade,
prosperidade, justiça e sustentabilidade ambiental. Seguindo o que
afirma a encíclica ‘Laudato
si', consideramos a
esmagadora evidência científica que confirma a existência de uma
mudança climática provocada pelo ser humano, assim como a perda de
biodiversidade e a vulnerabilidade dos mais pobres aos desastres
econômicos, sociais e ambientais”.
Diante das urgências representadas “pelas
mudanças climáticas antropogênicas, a exclusão social e a pobreza
extrema”, os prefeitos - como fruto de consenso - fazem as
declarações que se seguem.
Em primeiro lugar, eles reconhecem a
realidade. “As mudanças climáticas antropogênicas são uma
realidade cientificamente comprovada, e o seu controle efetivo é um
imperativo moral que atinge toda a humanidade. Neste fundamental
espaço moral, as cidades de todo o planeta cumprem um papel-chave.
Todas as nossas tradições culturais afirmam a inerente dignidade e
a responsabilidade social de cada indivíduo em sua relação com o
bem comum de toda a humanidade. Elas proclamam a beleza e a maravilha
do mundo natural, assim como a sua inerente bondade, e a valorizam
como um dom precioso que foi confiado ao nosso cuidado comum; por
isso, é nosso dever moral respeitar, e nunca devastar, este jardim
que é a nossa ‘casa comum’. Os pobres e os excluídos, embora
participem minimamente na disrupção do clima, estão expostos a
temíveis ameaças por causa de perturbações climáticas
antropogênicas, tais como a maior frequência de secas, tempestades
extremas, ondas de calor e o aumento incessante do nível do mar”.
Em segundo lugar, os prefeitos sabem que o
ser humano tem hoje a possibilidade de mudar a realidade. “Hoje, a
humanidade conta com os instrumentos tecnológicos, os meios
financeiros e o conhecimento adequado para reverter as mudanças
climáticas antrópicas, pondo fim, ao mesmo tempo, à pobreza
extrema, mediante a aplicação de soluções relativas ao
desenvolvimento sustentável, tais como a adoção de sistemas de
baixo carbono, com o respaldo das tecnologias da informação e da
comunicação. O financiamento das iniciativas em prol do
desenvolvimento sustentável, tais como as destinadas a manter um
efetivo controle das mudanças climáticas antropogênicas, deve ser
impulsionado por incentivos que ajudem na transição para energias
de baixo carbono e renováveis, e deve incorporar a busca incansável
da paz, o que permitirá que os orçamentos dos governos passem a
priorizar os investimentos na sustentabilidade, que tanto fazem
falta, em detrimento dos gastos bélicos. O mundo deve saber que a
cúpula sobre as mudanças climáticas (COP
21, realizada em Paris no fim de 2015)
pode ser a última oportunidade efetiva de negociar acordos para
manter o aquecimento antropogênico abaixo dos 2ºC e para apontar,
para uma maior segurança, a que se mantenha o clima do planeta bem
abaixo desse limiar. No entanto, se continuar a trajetória atual, a
humanidade poderia facilmente alcançar a devastadora cifra de 4ºC
ou mais”.
Em terceiro lugar, os prefeitos lembram a
responsabilidade dos políticos. “Os líderes políticos de todos
os Estados-membros daONU têm
a especial responsabilidade de concordar, no marco daCOP
21, um ousado acordo em prol
do clima que limite o aquecimento do planeta a um nível seguro para
a humanidade e que proteja os mais pobres e vulneráveis das mudanças
climáticas ininterruptas que colocam as suas vidas em grave perigo.
Tal como prometeram, os países com altos níveis de renda devem
ajudar a financiar os custos da mitigação das mudanças climáticas
nas nações mais necessitadas”.
A Declaração nos convida a uma profunda
reflexão!
(Continua no próximo artigo).
Fr
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
27 de janeiro de 2016
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