A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 (CFE 2016) -
cujo tema é “Casa comum, nossa responsabilidade” - quando no Agir (que é a
terceira parte do Texto-Base) fala de “educar para a sustentabilidade”, limita-se
a apontar algumas “práticas simples” (que são necessárias e não exigem grandes
recursos) como: não desperdiçar a água, usar criteriosamente a água potável, apagar
as luzes, separar o lixo, manter o quintal limpo, descartar adequadamente produtos
eletrônicos, conectar a casa à rede de esgoto e outras. Não discute e não
aprofunda - embora a mencione - a questão fundamental da educação para a
sustentabilidade: “os pressupostos e consequências do desenvolvimento atual”
(Texto-Base, 174). Precisamos, sim, educar para a sustentabilidade, mas qual
sustentabilidade?
No
final dos anos 1980, diante de um desenvolvimento tecnológico predatório -
destruidor da vida humana e da natureza - começou-se a falar de “sustentabilidade”,
“desenvolvimento sustentável”, “planeta sustentável”, “mundo sustentável”,
“Brasil sustentável” (ou, de “ecodesenvolvimento”).
Desde então, o discurso da sustentabilidade ou do
desenvolvimento sustentável é apresentado como a solução para todos os
problemas. Cuidado! Pode ser uma armadilha! Pode ser uma enganação!
Hoje,
“o discurso da sustentabilidade é o vetor mediático da ecologia
sobredeterminada pelo consumo, O ser humano ‘sustentável’ está docemente
integrado às estruturas de dominação e mercantilização da vida, onde se é livre
para fazer o que se queira, desde que se faça a coisa certa: não atrapalhar os
negócios”. (Marques Casara. O discurso do desenvolvimento sustentável,
marketing e simulacro. Vida Pastoral, janeiro-fevereiro/16, p. 13).
Trata-se
de uma "conversão ou reconversão superficial", que busca "modos
de ajustar o modelo de desenvolvimento atual para reduzir ao mínimo o impacto
ambiental, sem chegar ao problema de fundo que incide sobre o que produzir, para
quem e como”.
Quando
se fala de sustentabilidade, geralmente, "o que se busca é um crescimento
econômico sem contaminar a natureza, porém dando sempre a prioridade ao
crescimento, segundo o modelo atual de desenvolvimento“. A sustentabilidade “sempre se move dentro do
marco da ideologia do crescimento econômico ilimitado e, no que se deve
'sustentar', dá a prioridade ao desenvolvimento” (REGIDOR, J. Ramos. Ressarcir
os Povos e a Natureza. Em busca de uma reconversão socioecológica da sociedade.
I Encontro Latino - Americano "Cultura, Ética e Religião frente ao desafio
ecológico", Buenos Aires, 2-5/12/90).
O termo “sustentabilidade” ou “desenvolvimento
sustentável” é usado - ao menos em teoria - “para definir ações e atividades
humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem
comprometer o futuro das próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está
diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o
meio ambiente, usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles
se mantenham no futuro. Seguindo estes parâmetros, a humanidade pode garantir o
desenvolvimento sustentável” (http://www.suapesquisa.com/ecologiasaude/sustentabilidade.htm).
Como
ações relacionadas à sustentabilidade destacam-se:
- “A exploração dos
recursos vegetais de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio
sempre que necessário.
- A preservação total de
áreas verdes não destinadas à exploração econômica.
- Ações que visem o
incentivo à produção e consumo de alimentos orgânicos, pois estes não agridem a
natureza além de serem benéficos à saúde dos seres humanos.
- A exploração dos
recursos minerais (petróleo, carvão, minérios) de forma controlada,
racionalizada e com planejamento.
- O uso de fontes de
energia limpas e renováveis (eólica, geotérmica e hidráulica) para diminuir o
consumo de combustíveis fósseis. Esta ação, além de preservar as reservas de
recursos minerais, visa diminuir a poluição do ar.
- A criação de atitudes
pessoais e empresariais voltadas para a reciclagem de resíduos sólidos. Esta
ação além de gerar renda e diminuir a quantidade de lixo no solo, possibilita a
diminuição da retirada de recursos minerais do solo.
- O desenvolvimento da
gestão sustentável nas empresas para diminuir o desperdício de matéria-prima e o
desenvolvimento de produtos com baixo consumo de energia.
- Atitudes voltadas
para o consumo controlado de água, evitando ao máximo o desperdício.
- A adoção de medidas
que visem a não poluição dos recursos hídricos, assim como a despoluição
daqueles que se encontram poluídos ou contaminados”.
Como benefícios relacionados à sustentabilidade destacam-se:
- “A adoção de ações de
sustentabilidade garante, a médio e longo prazo, um planeta em boas condições
para o desenvolvimento das diversas formas de vida, inclusive a humana.
- Garante os recursos
naturais necessários para as próximas gerações, possibilitando a manutenção dos
recursos naturais (florestas, matas, rios, lagos, oceanos) e uma boa qualidade
de vida para as futuras gerações” (ib.).
Atualmente o discurso da sustentabilidade ou
desenvolvimento sustentável é usado seja por aqueles e aquelas que - buscando
torná-lo mais aceitável - querem “reformar” (retocar) o sistema capitalista
neoliberal pintando-o de “verde”, seja por aqueles e aquelas que - reconhecendo
a iniquidade estrutural do sistema - querem mudá-lo, abrindo caminhos para um
projeto de mundo e de sociedade alternativo. (Voltarei
sobre o assunto em outro artigo).
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
Goiânia, 09 de março de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário