No dia 16 de junho deste ano é o 60º
aniversário - Jubileu de Diamante - da instalação da Arquidiocese
de Goiânia (sua criação - por decreto do Papa Pio XII - foi no dia
26 de março de 1956) e da posse de seu 1º arcebispo Dom Fernando
Gomes dos Santos (1957).
Cinco anos depois começou o Concílio
Ecumênico Vaticano II, que - no dizer do Papa S. João XXIII - abriu
as janelas da Igreja para o mundo. Podemos dizer que a Arquidiocese
de Goiânia nasceu e deu seus primeiros passos no clima do Concílio.
Cresceu e se desenvolveu como uma Igreja renovada (pós-conciliar)
com as janelas - e também as portas - abertas para o mundo: 60 anos
de caminhada.
Em comemoração ao Jubileu de Diamante, a
Arquidiocese realizou duas Celebrações: a Missa no Santuário
Basílica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Matriz de Campinas)
no dia 31 de maio (Festa da Visitação de Nossa Senhora) e a Missa
na Praça Cívica (Centro) no dia 15 de junho (Solenidade do Corpo e
Sangue de Cristo).
Durante a Jornada da Cidadania (24-27 de
maio) - promovida pela PUC em conjunto com a Arquidiocese - realizou
também uma “Linha da História” com a exposição de fotos e
textos, produzida pelo Vicariato da Comunicação - com o apoio da
PUC e da agência Iltda Comunicação - no Centro de Convenções da
Universidade.
Faço agora duas reflexões. Primeira: o
Ano Jubilar da Arquidiocese de Goiânia não pode ser reduzido a
algumas Celebrações “formais” e a uma “exposição histórica”
feita por comunicadores. É a Igreja Povo de Deus (sobretudo os
pobres das nossas Comunidades) que - a partir de sua experiência de
fé - deve viver este Ano Jubilar como um ano de “memória
compartilhada” dos 60 anos de sua caminhada.
Do ponto de vista bíblico, fazer a memória
da caminhada significa torna-la presente hoje, para que seja, para
todos e todas nós, motivo de alegria, de ação de graças, de
pedido de perdão, de renovação da esperança e de fortalecimento
do compromisso com o Projeto de vida de Jesus de Nazaré - que é o
Reino de Deus na história humana e cósmica - em Goiânia, em Goiás,
no Brasil e no mundo de hoje.
Na “memória compartilhada”, ”o
“ver-julgar-agir” (“analisar-interpretar-libertar”) nos leva
ao “celebrar” e o “celebrar” nos leva novamente - num
processo vivencial comunitário contínuo e de maneira sempre
renovada - ao “ver-julgar-agir”. É somente vivendo esse processo
- cada vez mais intensa e radicalmente - que podemos ser seguidores e
seguidoras, discípulos missionários e discípulas missionárias de
Jesus de Nazaré. Em caso contrário, corremos o risco de sermos
fariseus hipócritas.
No 2º semestre do Ano Jubilar, a Paróquia
Nossa Senhora da Terra (Jardim Curitiba III), para dar sua
contribuição, promoverá - com o apoio, a colaboração e a
participação de outras Organizações (CEBs, CEBI, CRB, CPT, Curso
de Verão, Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil,
Cajueiro, Centro Cultural Cara-Vídeo, Economia Solidária) e
Movimentos Populares - os seguintes acontecimentos comemorativos:
-
Um Encontro de “memória compartilhada” dos 60 anos de caminhada da Arquidiocese de Goiânia (em setembro: local, data e horário a definir);
-
Um “espaço” também de “memória compartilhada” - destacando sobretudo o papel fundamental da Arquidiocese de Goiânia na caminhada das CEBs no Regional Centro-Oeste da CNBB (Goiás e Distrito Federal) - no Mini-Intereclesial das CEBs, que acontecerá na Paróquia Nossa Senhora da Terra (20 - 22 de outubro)
-
A 1ª Romaria das CEBs a Nossa Senhora da Terra - Mãe dos excluídos e excluídas - padroeira de todos e todas que lutamos em defesa de nossa Mãe Terra (em sintonia com as Campanhas da Fraternidade de 2016 e 2017). A Romaria celebrará a “memória compartilhada” (feita pela Igreja Povo de Deus nos dois Encontros anteriores e em outros Encontros) dos 60 anos da Arquidiocese de Goiânia. Durante a caminhada, teremos a Celebração Penitencial e a Celebração da Palavra; na Igreja Nossa Senhora da Terra, a Celebração da Ceia (domingo 26 de novembro: Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Horário e trajeto da Romaria a definir).
Pedimos ao Espírito Santo que estes
acontecimentos sejam “tempos fortes” de graça de Deus, para que
a nossa Igreja Povo de Deus da Paróquia Nossa Senhora da Terra e de
toda a Arquidiocese de Goiânia seja realmente uma Igreja evangélica,
“pobre, para os pobres, com os pobres e dos pobres”, comprometida
(como já dissemos) com o Projeto de vida de Jesus de Nazaré - que é
o Reino de Deus na historia humana e cósmica - em Goiânia, em
Goiás, no Brasil e no mundo de hoje.
Segunda reflexão: os Documentos de
Medellín (1968: 2018 será o ano do Jubileu de Ouro) - que encarnam
os Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II na América Latina
e no Caribe - nos ensinam que a Comunidade Eclesial de Base (CEB) é
“o primeiro e fundamental núcleo eclesial” ou “a célula
inicial da estrutura eclesial”, e que a Paróquia é “um conjunto
pastoral unificador das Comunidades de Base” (Medellín, XV, 10 e
13). As palavras são muito claras. Não precisam de explicação. Só
não entende quem não quer entender.
Infelizmente, muitas de nossas Igrejas, há
tempo, jogaram os Documentos de Medellín (e, consequentemente,
também do Concílio Vaticano II) no “lixo”. Ora, pela lógica
(um pouco de lógica aristotélico-tomista faz sempre bem!), as
Igrejas que não aceitam os ensinamentos dos Documentos de Medellín
- que são os Documentos fundantes da Igreja latino-americana e
caribenha enquanto latino-americana e caribenha - não têm moral
para exigir que aceitemos os ensinamentos de seus Documentos). Como
uma Lei Municipal ou Estadual que vai contra a Constituição Federal
(a Lei Magna) não tem valor, assim também um Documento de uma
Igreja Particular que vai contra os Documentos de Medellín (a
Constituição - a Lei Magna da Igreja Latino-americana e Caribenha),
não tem valor.
Em comunhão com os ensinamentos de
Medellín, a Arquidiocese de Goiânia - em seu Plano de Pastoral -
considerou por muitos anos as CEBs como a prioridade das prioridades
pastorais. Infelizmente, há alguns anos, na Igreja de Goiânia e em
muitas outras, as CEBs (como o Centro de Estudos Bíblicos - CEBI e
outras Organizações eclesiais que tanto bem fizeram à Igreja no
Brasil) foram praticamente “descartadas” ou simplesmente
“toleradas” (muitas vezes, com um sorrisinho cínico e irônico
contido, estampado no rosto de bispos, padres e outros agentes de
pastoral) como um “grupinho” que não tem nenhum peso na
estrutura eclesial. “Não há lugar para as CEBs nos ‘espaços
físicos’ da Igreja oficial!”. Lembrem os responsáveis pelo
“descarte” ou pela “mera tolerância” das CEBs que terão de
prestar conta a Deus!
Uma advertência: aqueles que pensam que as
CEBs morreram se enganam redondamente. Elas estão muito vivas e
nunca morrerão, porque nasceram no Dia de Pentecostes. As CEBs são
“um jeito antigo e sempre novo de ser Igreja”; são a Igreja de
Jesus de Nazaré, que foi “morador de rua” antes de nascer,
nasceu como “sem-teto” e nunca morou em palácios ou mansões
episcopais. Hoje, a Igreja das CEBs é a Igreja das catacumbas. Tenho
certeza na fé que ela voltará mais forte, mais experimentada e mais
madura. Aguardem!
Meditemos e oremos pela Igreja que está em
Goiânia e por toda a Igreja.
Fr.
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
14 de junho de 2017
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