Conforme foi amplamente divulgado nas redes sociais, na noite do dia 21 deste mês, por volta das 23:45 horas, a Polícia Militar do Estado de Goiás fez uma incursão no Acampamento Fidel Castro do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Setor Vera Cruz II, Goiânia - GO, causando terror e fazendo ameaças aos moradores e ao coordenador da Ocupação.
Quando um dos membros da Ocupação (líder do MTST) perguntou se a PM tinha um mandado judicial, o sargento e outro policial, foram à viatura, empunharam fuzis H47, voltaram e - em tom de ameaça - disseram: “aqui está o nosso mandado, fala alguma coisa de novo”. Que absurdo! Que desrespeito!
Pergunto: Por que uma ofensiva policial noturna (reparem: noturna!) tão arrogante e tão violenta? É um crime - um comportamento ilegal e antiético - que clama a Deus por justiça. O Governo do Estado de Goiás e os responsáveis diretos dessa operação militar devem ser processados e julgados. Chega de impunidade!
Muitos Movimentos Populares e outras Entidades da sociedade civil manifestaram - presencialmente ou por escrito - sua solidariedade aos Sem-Teto. O Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno - composto por mais de 90 Organizações - divulgou uma “Moção de Apoio” aos acampados, em condições extremamente vulneráveis, exigindo do Poder Público que cumpra sua função constitucional de garantir a todos/as segurança e proteção, além dos direitos básicos à saúde, educação, cultura, trabalho e moradia.
A Igreja (que somos todos os cristãos e cristãs) - através de seus maiores responsáveis - não pode deixar de denunciar profeticamente um fato como esse, tomando o lado dos pobres na defesa de seus direitos. Se não o fizer, com seu silêncio cometerá um grave pecado de omissão, deixará de ser a Igreja de Jesus de Nazaré e tornar-se-á a “Igreja de Pilatos”, que lava as mãos, ou a “Igreja de Judas”, que trai Jesus nos pobres. Pensemos!
O que aconteceu no Acampamento dos Sem-Teto do Setor Vera Cruz II e muitos outros fatos mostram claramente que o Governo do Estado de Goiás e o Governo Federal estão a serviço dos interesses financeiros do sistema capitalista neoliberal, que é um "sistema econômico iníquo" (CELAM. Documento de Aparecida - DA, 385) ou - em outras palavras - um "sistema nefasto", porque considera "o lucro como o motivo essencial do progresso econômico, a concorrência como lei suprema da economia, a propriedade privada dos bens de produção como um direito absoluto, sem limites nem obrigações correspondentes" (São Paulo VI. Desenvolvimento dos Povos - PP, 26). “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24).
“Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”. Esse sistema “exclui, degrada e mata!”.
“Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que atinja também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença” (Papa Francisco. 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).
Lutemos por “outro mundo possível! Não tenhamos medo! Deus está do lado dos pobres! Unidos e organizados somos fortes! A vitória é nossa!
(No próximo artigo apresentarei o Tema da Campanha da Fraternidade 2019 com algumas reflexões. Em seguida, retomarei o conteúdo do Documento sobre “A Fraternidade Universal...”, com pequenos comentários. Devido ao tamanho menor dos artigos, as partes serão 6 e não 3 - como foi anunciado. Depois disso, retomarei também - embora não sempre na sequência - a “Gotas de Medellín”).
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 27 de fevereiro de 2019
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