A Greve Geral do dia 15 último mostrou aos trabalhadores e trabalhadoras - sobretudo aos mais pobres - e a todos e todas nós que “outro Brasil é possível”. Renovou nossa esperança, fortaleceu nossa luta e nos fez experimentar - desde já - a certeza da vitória.
A Greve - com o lema “é Greve porque é Grave” - envolveu cerca de 45 milhões de trabalhadores e trabalhadoras de mais de 200 categorias no Brasil inteiro. Cerca de 400 cidades em todos os Estados registraram protestos: contra o desmonte da Previdência Pública, os cortes na Educação, o desemprego e as privatizações; em defesa da Saúde Pública e dos Direitos que os trabalhadores e trabalhadoras conquistaram com muita luta e a duras penas. “Nenhum Direito a menos”! Muitas dessas cidades paralisaram, total ou parcialmente, o transporte público.
Em Goiânia, houve uma grande Manifestação Pública, que mobilizou cerca de 20 mil pessoas. Iniciou às 10 horas na Praça Cívica e - depois de uma longa caminhada com cartazes, faixas e muitas falas - encerrou por volta das 13 horas na Praça do Trabalhador.
No Estado de Goiás - além de Goiânia - mais 12 cidades registraram Atos Públicos (Anápolis, Catalão, Cidade de Goiás, Formosa, Itapuranga, Itumbiara, Jataí, Mambaí, Orizona, Quirinópolis, Silvânia e Simolândia). Em vários outros Municípios pararam bancos e rede de Educação.
Em Goiás (como em outros Estados), a Greve Geral foi unificada. Apesar das diferenças, participaram ativamente da Greve as Centrais Sindicais: CUT, CSP Conlutas, Força Sindical, Intersindical, CSB e UGT; as Frentes (de Movimentos Populares): Brasil Popular e Povo Sem Medo; o Fórum Goiano contra as Reformas da Previdência e Trabalhista, o Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino, a Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil e muitos outros Coletivos de Trabalhadores e Trabalhadoras. “Povo unido (de maneira organizada) jamais será vencido! A Greve unificada foi um sinal de maturidade! Parabéns!
Lutando por seus Direitos, as Organizações Populares combatem também os atos de corrupção praticados por governantes e políticos e, sobretudo, a corrupção estrutural, legalizada e institucionalizada (o sistema corrupto).
Para ilustrar isso - entre os muitos que poderiam ser lembrados - cito só um exemplo. Com o auxílio-alimentação, o auxílio-pré-escola e o auxílio-transporte dos servidores do alto escalão dos três Poderes, o Governo gasta “legalmente” 3,8 bilhões anuais. Para economizar 1 trilhão, bastaria cortar “legalmente” os privilégios do alto escalão dos três Poderes. Chega de enganação do povo! (Fonte: Redes Sociais e Fórum Goiano contra as Reformas da Previdência e Trabalhista).
Por fim, a Greve Geral do dia 15 último, além de legítima e justa, foi profundamente humana e cristã. “Eu vim para que todos/as tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).
Com muita indignação e dor no coração, denuncio a omissão da Igreja - da minha Igreja - que, se fosse realmente uma “Igreja em saída”, teria declarado publicamente apoio à Greve.
“A Doutrina Social da Igreja reconhece a legitimidade da Greve ‘quando se apresenta como recurso inevitável, e mesmo necessário, em vista de um benefício proporcionado’, depois de se terem revelado ineficazes todos os outros recursos para a composição dos conflitos. A greve, uma das conquistas mais penosas do associacionismo sindical, pode ser definida como a recusa coletiva e concertada, por parte dos trabalhadores, de prestar o seu trabalho, com o objetivo de obter, por meio da pressão assim exercida sobre os empregadores, sobre o Estado e sobre a opinião pública, melhores condições de trabalho e da sua situação social. Também a Greve, conquanto se perfile ‘como … uma espécie de ultimato’, deve ser sempre um método pacífico de reivindicação e de luta pelos próprios direitos; torna-se ‘moralmente inaceitável quando é acompanhada de violências ou ainda quando se lhe atribuem objetivos não diretamente ligados às condições de trabalho ou contrários ao bem comum’”.
(Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Número 304. Em: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/justpeace/documents/rc_pc_justpeace_doc_20060526_compendio-dott-soc_po.html)
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 19 de junho de 2019
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