Na Nota pública “Em repúdio à manifestação de Mourão exaltando Ustra”, do dia 9 deste mês de outubro, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns) “manifesta seu mais veemente repúdio à declaração do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em entrevista para a rede alemã Deutsche Welle, de que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (reparem o descaramento e o cinismo!) foi ‘um homem de honra, que respeitou os Direitos Humanos dos seus subordinados’. As palavras do vice-presidente, que é um general reformado do Exército, não apenas desonram as Forças Armadas, como agridem a dignidade dos que padeceram nas mãos desse torturador já condenado pela Justiça”.
Trata-se de uma declaração que, para qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade humana, dá nojo. Hamilton Mourão deve estar pensando que os brasileiros e brasileiras são todos e todas idiotas.
A tortura é o pior crime contra os Direitos Humanos. Os torturadores são perversos, sádicos e revelam um grau de maldade inimaginável. São monstros, verdadeiros demônios. Ora, quando pensamos ter chegado no limite máximo possível dessa maldade humana, deparamos com aqueles que - como Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e outros - enaltecem e exaltam, com arrogância e sarcasmo, os torturadores. Com certeza esses seres humanos (se é que merecem serem chamados de seres humanos) são duplamente demônios. São demônios exaltando demônios.
“Não é de hoje - diz a Nota - que autoridades do atual governo exaltam a figura macabra do ex-chefe do DOI-Codi do 2º Exército, em São Paulo, de cujos porões emergiram inesquecíveis relatos de terror e sadismo contra cidadãos brasileiros. Para se ter ideia da barbárie autorizada como política de Estado, entre 1970 e 1974, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, liderada por Dom Paulo Evaristo Arns, patrono da Comissão Arns, reuniu mais de 500 denúncias de tortura no DOI-Codi comandado por Ustra”.
E relata: “Passaram-se mais de 30 anos para que, finalmente em 2008, Ustra fosse reconhecido como autor de sequestro e tortura, em ação declaratória movida pela família Telles, cujos membros puderam sobreviver para testemunhar as crueldades perpetradas por esse militar e seus ‘subordinados’, nos porões da ditadura”: verdadeiras sucursais do inferno.
Por fim, declara: “Hoje e sempre, serão inaceitáveis homenagens a esse violador da Carta Constitucional de 1967/9, do Código Penal Militar de 1969 e das Convenções de Genebra de 1949, como documentado no Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV)”.
Termina, pois, com uma denúncia profética: “Ao proferir tais elogios, Hamilton Mourão conspurca, de saída, a honra dos militares brasileiros. Ao fazê-lo na condição de vice-presidente, constrange a Nação e desrespeita a memória dos que tombaram sob Ustra. E, ao insistir em reverenciar o carrasco, fere mais uma vez o decoro do cargo em que foi investido sob juramento de respeitar a Constituição. É ela que nos ensina: ‘Tortura é crime inafiançável, insuscetível de graça ou anistia’”.
Seguem as assinaturas dos membros da Comissão Arns.
Muitas Entidades - como a “Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil - manifestaram total apoio à Comissão Arns e irrestrita solidariedade às famílias das vítimas dos horrores da ditadura.
Jair Bolsonaro - que já tinha feito a apologia da ditadura militar - “chamou de ‘herói nacional’ o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado pela Comissão da Verdade como responsável por 47 sequestros e homicídios, além de ter atuado pessoalmente (com choques elétricos e rindo) em sessões de tortura durante o regime. "Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer", disse Bolsonaro (cf. https://www.brasil247.com/brasil/bolsonaro-diz-que-o-torturador-ustra-e-heroi-nacional). Que sadismo!
Perguntamo-nos: Como é possível que - em pleno século 21 - o Brasil seja governado por políticos dessa laia? Façamos uma análise e interpretação crítica da situação. Que Deus nos livre dessa “pandemia política” e nos dê a força para lutar por um novo Brasil.
Aproveitemos as eleições municipais para iniciar um verdadeiro processo de mudanças! Chega de tanta barbárie! Chega de demônios na política!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 13 de outubro de 2020
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