No dia 26 de fevereiro passado, em visita ao município de Caucaia na Região Metropolitana de Fortaleza (CE), o presidente Bolsonaro afirmou: "A pandemia nos atrapalhou bastante, mas nós venceremos este mal, pode ter certeza. Agora, o que o povo mais pede, e eu tenho visto em especial no Ceará, é para trabalhar. Essa politicalha do 'fica em casa, a economia a gente vê depois' não deu certo e não vai dar certo. Não podemos dissociar a questão do vírus e do desemprego".
E ainda: "São dois problemas que devemos tratar de forma simultânea
e com a mesma responsabilidade. E o povo assim o quer. O auxílio emergencial
vem por mais alguns meses e, daqui para frente, o governador que fechar seu
estado, o governador que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxílio
emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do
Presidente da República essa responsabilidade”.
Com suas palavras e comportamentos, o
presidente revela-se um homem de uma insensibilidade e crueldade diabólicas. Não só desrespeita
publicamente as medidas básicas de proteção contra a Covid-19, como a
máscara, o distanciamento e a higienização das mãos, mas também ridiculariza
acintosamente as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e dos
cientistas, incentivando o povo a fazer o mesmo. O presidente
demostra fria e cinicamente que - para ele - a vida dos pobres,
sobretudo idosos/as, não tem valor nenhum. Sua morte - bem representada na
charge de Jorge Braga - “vai ser um alívio para a Previdência” (O Popular,
25/02/21, p. 2).
Se o presidente se importasse com a vida dos pobres
- por se tratar de calamidade pública - teria cobrado com urgência, através de medida
provisória, uma “taxa especial” dos que possuem grandes fortunas para elaborar
um projeto político sério e realmente eficaz de combate à pandemia da Covid-19.
Infelizmente, para Bolsonaro e seu governo, a única coisa que importa - e que não
pode parar de crescer - é o lucro dos ricos, obtido com a exploração e o
descarte dos trabalhadores/as.
Um ano após registrar o primeiro caso em seu território, o Brasil é o
segundo país do mundo em números absolutos de mortes, com mais de 251.500. No
total, o Brasil tem cerca de 10,3 milhões de infectados. Nesses dias, o país
atingiu o recorde de 1.726 mortes por Covid-19 em 24 horas.
Segundo o depoimento de pessoas que trabalham na Saúde, a maioria dessas
mortes podia ter sido evitada. O principal responsável por elas é o presidente
Bolsonaro, um criminoso que - se houvesse justiça - deveria ser preso,
processado e condenado.
Infelizmente, essa trágica situação - ao menos por enquanto - torna-se cada
vez mais grave por duas razões: em primeiro lugar, pela omissão conivente e
criminosa do Legislativo e do Judiciário diante de um governo federal claramente
genocida; em segundo lugar, pela “legitimação religiosa” desse mesmo
governo por parte dos “anticristos” de hoje (tanto da Igreja Católica como das
Igrejas Evangélicas).
Esses “anticristos” andam por aí de batina e colarinho branco ou com a
Bíblia debaixo dos braços, pregando um evangelho que não tem nada a ver com a
Boa Notícia de Jesus de Nazaré; “abençoando” um governo, que - como diz o papa
Francisco - “exclui, degrada e mata”; e até (pasmem!) apoiando a compra de armas
pela população.
Para ficar “dentro de casa”, ouvir - por exemplo - a pregação de
“padre” Paulo Ricardo e ver o seu comportamento é assustador e deixa qualquer
pessoa com um mínimo de bom senso profundamente indignada. É uma vergonha para
a Igreja Católica! Pena que a Igreja seja omissa e não tome as providências
cabíveis. “Padre” Paulo é um “anticristo” de batina, que - hipócrita e
oportunisticamente - “legitima e abençoa” o comportamento dos “diabos” de hoje
- comandados por um presidente também diabólico - que se aproveitam de seus
cargos públicos para - fria, cínica e sadicamente - matar os pobres, a grande
maioria do nosso povo.
No primeiro Domingo da
Quaresma deste ano - na alocução que precede a oração mariana do “Angelus” - o
Papa Francisco, refletindo sobre o Evangelho do dia (Mc 1,12-15) afirma: “Na sua vida, Jesus nunca teve um diálogo com o
diabo, nunca. Ou o afasta dos possuídos ou o condena ou mostra a sua malícia,
mas nunca um diálogo (...). Coloquem isso na cabeça e no coração: com o diabo nunca se dialoga, não há
diálogo possível. Somente a Palavra de Deus”.
Que Jesus nos dê a graça de nunca dialogarmos
com os “diabos” de hoje - e os “anticristos” que os apoiam - mas de combatê-los
com toda força e perseverança, certos da vitória. “Neste mundo vocês terão
aflições, mas tenham coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33): o mundo do mal.
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/02/26 (reparem:
todos sem máscara)
https://midianinja.org/fabiopy/padre-paulo-ricardo-cavaleiro-de-batina-do-apocalipse-pandemico/
O Popular,
25/02/21, p. 2
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 03 de março de 2021
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