“O seguimento de Jesus é
fruto de uma fascinação
que responde ao desejo de
realização humana,
ao desejo de vida plena”
(Documento de Aparecida - DA, 277)
Toda verdadeira Espiritualidade
é “da Libertação”, porque “liberta” de tudo aquilo que impede a vida. “Eu vim para que todos e todas
tenham vida e a tenham em plenitude” (Jo 10,10).
As Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs) - mesmo diante dos inúmeros desafios que precisam enfrentar no dia
a dia - são uma Igreja que vive a Espiritualidade da Libertação: uma espiritualidade humana, cristã, pascal e do
seguimento de Jesus.
A Espiritualidade da
Libertação é, antes de tudo, espiritualidade
humana. Ela envolve o ser humano todo, em todas as suas dimensões
(corpóreas, biopsíquicas e espirituais ou pessoais) e em todas as suas relações
(sociais, econômicas, políticas, ecológicas,
culturais e religiosas) com o mundo material e vivente, com os
outros-semelhantes e com o Outro absoluto-Deus. A Espiritualidade perpassa,
impregna e absorve a totalidade do ser humano, a totalidade de sua existência.
Portanto, ser espiritual significa antes de tudo ser
“humano”, viver o “humano” em graus crescentes de profundidade. Nunca o ser
humano é “humano” demais, nunca o ser humano exagera em ser “humano”.
“Não se encontra nada verdadeiramente
humano que não ressoe no coração dos discípulos e discípulas de Cristo” (Concílio
Vaticano II. A Igreja no mundo de hoje - GS 1).
Para
os que somos cristãos e cristãs, à luz da fé, a espiritualidade humana é espiritualidade cristã (evangélica). Não
são duas espiritualidades diferentes. É a mesma espiritualidade. A
espiritualidade não pode ser cristã se não for humana e, se for humana, é -
implícita ou explicitamente - cristã.
"A
fé esclarece todas as coisas com luz nova. Manifesta o plano divino sobre a
vocação integral do ser humano. E por isso orienta a mente para soluções
plenamente humanas" (GS 11).
O plenamente humano inclui a dimensão da fé.
Quando verdadeira, a fé humaniza, torna o ser humano mais ser humano. O
autêntico cristianismo é um humanismo pleno (radical). Ser cristãos e cristãs é ser plenamente (radicalmente) humanos.
Trata-se
de uma solidariedade (compaixão) entranhável dos que somos cristãos e cristãs
para com todos os seres humanos e com a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum, a
partir dos pobres, marginalizados, explorados, oprimidos, excluídos e
descartados.
A espiritualidade cristã é,
pois, espiritualidade pascal, ou seja, espiritualidade que brota da
vivência, sempre mais profunda, da Páscoa (o mistério do Cristo crucificado,
sepultado e ressuscitado). Para os que somos cristãos e cristãs, o mistério
pascal é o centro da nossa vida na sociedade e no mundo. Do ponto de vista
celebrativo, ele é o centro do ano litúrgico. A liturgia é a celebração do
mistério pascal na vida e a celebração da vida no mistério pascal.
Viver o mistério pascal - a espiritualidade pascal - significa viver
como Jesus viveu, morrer como Jesus morreu, ressuscitar como Jesus ressuscitou.
A espiritualidade
pascal é "espiritualidade de
comunhão" (DA 181, 307, 316); é “espiritualidade de comunhão com todos
os e as que creem em Cristo” (DA 189); e é “espiritualidade de comunhão
missionária" (DA 203).
A alma (a vida) da
espiritualidade pascal é o Espírito
Santo, o Amor de Deus, que nos faz mergulhar no mistério da Santíssima
Trindade, a “melhor Comunidade”, nos torna testemunhas do Cristo Ressuscitado e
nos compromete com o seu Projeto de Vida, que é o Reino de Deus na sociedade e
no mundo.
A espiritualidade pascal é,
pois, espiritualidade do seguimento de
Jesus de Nazaré. "Todo aquele que segue Cristo, o Homem perfeito,
torna-se ele também mais ser humano" (GS 41).
“No seguimento de Jesus Cristo, aprendemos e praticamos as bem-aventuranças do Reino, o estilo de
vida do próprio Jesus: seu amor e obediência filial ao Pai, sua compaixão
entranhável frente à dor humana, sua proximidade aos pobres e aos pequenos, sua
fidelidade à missão, seu amor serviçal até à doação de sua vida” (DA 139).
Os
cristãos e cristãs somos chamados a ser hoje “profetas e profetisas da vida” nas situações concretas da realidade
do ser humano e do mundo. Vivamos essa espiritualidade! É o caminho da
felicidade!
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 15 de outubro de 2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário