Acabara de terminar o 1º Santuário Novo - hoje Basílica - do Divino Pai Eterno, em Trindade - GO, quando a Igreja Católica, imbuída do desejo de triunfalismo, grandeza, poder e luxo - que nada tem a ver com o Evangelho de Jesus de Nazaré - começou a pensar na construção de um 2º Santuário Novo: um Santuário faraônico, uma clara amostra daquilo que a Igreja não deve ser.
“Ambiciosa, a obra foi
idealizada para abrigar 100 mil pessoas, 20 vezes mais o número de fiéis do que
comporta o atual Santuário. Lançada em 2010, foi orçada inicialmente em R$ 100
milhões, mas em uma das últimas entrevistas que concedeu, o então reitor, padre
Robson de Oliveira, mencionou um custo de R$ 1,4 bilhão. Ocupando uma área de
146 mil m2, a construção começou em 2012. Um longo tempo foi dedicado às etapas
de terraplenagem, fundações e estruturas subterrâneas” (O Popular, 11 e
12/12/21, p.14).
O 2º Santuário Novo terá uma
cúpula “com 94 metros de altura, o que equivale a um prédio de 30 andares; e o
campanário, com 100 metros de altura, que vai abrigar ‘o maior sino do mundo’, já batizado de Vox Patris (Voz do Pai),
com 54 toneladas e 4 metros de altura e com imagens fundidas que representam a
devoção ao Divino Pai Eterno, e outros 72 sinos menores. O valor do Vox Patris
foi estimado em R$ 17 milhões”. Os sinos foram “encomendados à empresa polonesa
Metalodlew SA, referência no assunto” (Ib.). Que absurdo!
Enquanto isso, Jesus passando fome e morrendo de inanição
na pessoa de milhões de pobres. Será que a “Vox Patris” deseja isso?
Meditemos!
A Associação Filhos do Pai
Eterno (AFIPE) encontra-se atualmente “no centro de denúncias feitas pelo
Ministério Público de Goiás (MP-GO) em agosto de 2020, quando foi desencadeada
a Operação Vendilhões, que colocou como principal investigado o idealizador e
então presidente da AFIPE, padre Robson de Oliveira. Ele foi acusado de desviar
recursos doados por fiéis” (Ib.).
De acordo com o MP-GO. Padre
Robson “foi responsável por um esquema de desvio de dinheiro arrecadado junto
aos devotos pela AFIPE e outras duas Associações vinculadas ao Santuário
Basílica. Recursos que teriam sido destinados à compra de imóveis de luxo e
fazendas” (Ib.).
Sempre “de acordo com a
AFIPE, até a Operação Vendilhões, a Instituição arrecadava R$ 20 milhões por
mês e as despesas fixas superavam a casa de R$ 17 milhões” (Ib.).
Em tudo isso, existe
uma agravante: a exploração, em nome de Deus, do sentimento religioso do povo.
Cito um exemplo. Num determinado dia, um senhor me confidenciou: eu pagava
mensalmente a contribuição exigida para pertencer à Associação dos Filhos do
Divino Pai Eterno. Há algum tempo, porém, devido a novos problemas que surgiram
na família, não tenho mais condições de continuar pagando. Mas todo mês continuo
recebendo a cartinha do Pe. Robson, cobrando o pagamento da contribuição. Notei
que aquele senhor estava com escrúpulo de consciência. Tive que tranquilizá-lo,
dizendo que - na situação na qual se encontrava - era mais filho do Divino Pai
Eterno não pagando do que pagando. Logo percebi que o senhor ficou aliviado. Parecia
ter tirado um peso de sua consciência. Dá para entender?
Voltando à Operação
Vendilhões, as denúncias levantadas precisam ser investigadas e - se comprovada
sua veracidade - os responsáveis deverão ser julgados, condenados e presos.
Ora -
independentemente das falcatruas que tenham sido cometidas - o que eu quero denunciar neste artigo é o
modelo de Igreja que está por trás do 2º Santuário Novo. Trata-se de um modelo de Igreja que não tem
nada a ver com o Evangelho. É o
oposto da Igreja que Jesus de Nazaré quer: uma Igreja pobre, para os pobres,
com os pobres e dos pobres.
Além de tudo -
diga-se de passagem - no 1º Santuário Novo só não cabe o povo em duas ou três
Missas por ano, no dia da Festa. Se realmente a preocupação fosse não deixar -
nas Missas Campais - o povo ao ar livre e debaixo do sol ou da chuva, com as
técnicas modernas, podiam ser construídos galpões simples, seguros, bonitos e
multiusos, que serviriam também para abrigar os romeiros do Divino Pai Eterno e
para que os romeiros, sentados, pudessem tomar suas refeições e descansar.
Com certeza, uma
Igreja triunfalista, poderosa e toda ornamentada com objetos de ouro, não é a
Igreja de Jesus de Nazaré, que nasceu numa manjedoura, viveu como pobre ao lado
dos pobres e morreu na cruz no meio de dois ladrões.
Que o Divino Pai
Eterno nos ilumine a todos e a todas para que sejamos - em nossa realidade de
hoje - verdadeiros seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré.
Desde já, desejo aos
leitores e leitoras um Feliz Natal! Lembremos: Jesus nasce numa manjedoura,
como “sem-teto”. “Não havia lugar para eles (Maria grávida e José) dentro de
casa” (Lc 2,7).
https://iserassessoria.org.br/e-de-outra-igreja-que-precisamos/
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 16 de dezembro de 2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário