Presidente
Lula, parabéns pela sua vitória, que é também a vitória de muitos e muitas de
nós: a vitória da Democracia, a vitória do Brasil.
Irmão
e Companheiro Lula, o seu Governo - como todos os Governos democráticos -
deverá, antes de tudo, cumprir a Constituição Federal, dialogando, sempre com o
Congresso (Senado e Câmara), o Judiciário e - em nível Estadual e Municipal -
os Governadores e os Prefeitos.
Além
disso, por estarmos na mesma caminhada, a partir de minha longa experiência de
Trabalho de Base e com a única intenção de colaborar, tomo a liberdade de - publicamente
- dar a você Lula e aos demais membros do seu novo Governo uma sugestão
concreta: criem - em caráter extraoficial - o Conselho Político Popular - CPP
(um Conselho nacional permanente, com reuniões periódicas), para assessorá-los, garantindo inclusive o
permanente contato com o Trabalho de Base.
O
CPP deve ser formado por representantes
- eleitos por eles e elas - dos Movimentos Sociais Populares, Sindicatos de
Trabalhadores e Trabalhadoras, Partidos Políticos Populares, Organizações dos
Povos Indígenas e Quilombolas, Comitês ou Fóruns de Defesa e Promoção dos
Direitos Humanos e da Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum e outras Organizações
Populares (com seus “intelectuais orgânicos”), que - mesmo tendo, em determinados aspectos, visões diferentes (deverão
ser respeitadas e valorizadas) - estão
unidos e unidas na luta por um Projeto Político alternativo ao Projeto Político
Capitalista Neoliberal: o Projeto
Político Popular.
Lula,
pessoalmente, penso que a sua atuação
política e a dos demais do seu Governo devem
acontecer em duas grandes frentes de
trabalho: a conjuntural e a estrutural.
- Na frente conjuntural, vocês devem enfrentar corajosamente a situação (que se tornou dramática) de fome, de miséria, de pobreza e falta de condições de vida digna, em que vive a maioria doe trabalhadores e trabalhadoras. Trata-se de uma situação tão perversa e tão desumana, que clama diante de Deus e não pode esperar.
- Na frente estrutural, vocês devem dar passos históricos concretos marcantes e significativos no caminho que - a médio e longo prazo - levará:
o
à superação do Projeto Político Capitalista
Neoliberal, que é de
uma desigualdade e injustiça legalizadas e institucionalizadas gritantes e (o que é pior) legitimadas - hipócrita e diabolicamente - em nome da Natureza (é
natural!) e de Deus (é vontade de
Deus!);
e, ao mesmo tempo:
o à implantação do Projeto Político Popular, que quer ser, cada vez mais, igualitário, justo, humano, ético, fraterno, comunitário (verdadeiramente “socialista”).
Irmão
e Companheiro Lula, você e os demais do seu Governo - assessorados pelo CPP - devem também fazer permanentemente
a leitura - análise e interpretação -
dos Sinais dos Tempos desde os Pobres (na ótica dos Pobres) e ter, em cada
momento histórico, a consciência crítica dos
passos “possíveis” a serem dados e das
estratégias “possíveis” a serem utilizadas para fazer acontecer, no Brasil
e no mundo, o Projeto Político Popular.
Lula, cuidado com as artimanhas dos poderosos! Seu Governo não pode cair na tentação de ser
um “Governo reformista”, que trai as expectativas dos trabalhadores e trabalhadoras e que - mesmo amenizando, com programas sociais de
assistência, situações de extrema pobreza - acaba fortalecendo o Projeto Político Capitalista Neoliberal (Ultra
- neoliberal).
No
entusiasmo da vitória, falou-se e escreveu-se muito sobre o seu novo Governo como
um “Governo de conciliação”. Mais
uma vez, cuidado! A expressão é ambígua e - de certa forma - perigosa. Entre o Projeto Político Capitalista Neoliberal
e o Projeto Político Popular, não há
possibilidade de “conciliação” e nem
de “aliança” (a não ser meramente
formais). São Projetos objetivamente opostos. Só poderá haver, em casos muitos especiais
e por razões diferentes, “acordos
pontuais”.
E
ainda: não confundamos “luta de classe”
com “ódio de classe”. Por defenderem
Projetos Políticos opostos, entre a classe
dos trabalhadores e a classe dos capitalistas há luta de classe, mas não necessariamente ódio de classe. Aliás, o ser
humano consciente de sua dignidade e, mais ainda, o cristão ou cristã não odeia ninguém, ama a todos e a todas.
Jesus
nos ensina que devemos amar até os
nossos inimigos (ora, se devemos amar até os nossos inimigos, quer dizer
que eles existem) e o educador Paulo Freire nos recorda que a única maneira de amar os opressores é
lutar contra o Projeto de Vida que eles defendem.
Por
fim, ouçamos as palavras do Papa Francisco. No 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, ele pergunta: “Reconhecemos
que este Sistema (o Sistema Capitalista Neoliberal) impôs a lógica do lucro a
todo o custo, sem pensar na exclusão social e nem na destruição da natureza?” E
responde: “Se é assim - insisto - digamo-lo sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este
Sistema é insuportável: não o suportam os Camponeses, não o suportam os Trabalhadores,
não o suportam as Comunidades, não o suportam os Povos.... E nem sequer o
suporta a Terra, a Irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco” (Santa
Cruz de la Sierra - Bolívia, 07-09/07/15. O grifo é meu).
Peço a Deus, Lula, que seu Governo “tenha lado”: o lado de Jesus de Nazaré,
o lado dos Pobres (marginalizados, oprimidos, excluídos e descartados) de nossa
sociedade brasileira. Estamos com você! Conte conosco!
O caminho está aberto! Com muita esperança, sigamos
em frente!
(ou também: Jorge Braga. O Popular, 04/11/22, p. 2)
Goiânia, 07 de novembro de 2022
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