Há pouco tempo denunciei a imoralidade pública dos fura-tetos do Governo de Goiás que -
para burlar o teto salarial do funcionalismo público de R$ 39,2 mil (que os fura-tetos devem considerar um salário de fome)
criou a lei estadual das “verbas
indenizatórias”, por R$ 18,4 milhões
anuais. O Governo não está preocupado com a moralidade, mas somente com a legalidade
de seus atos para não ter problemas.
A lei estadual das “verbas indenizatórias” para os
funcionários fura-tetos do Poder
Executivo já foi estendida - com aprovação da Assembleia Legislativa - ao Tribunal
de Justiça de Goiás (TJ - GO), ao Tribunal de Contas do Estado e dos Municípios
(TCE e TCM - GO) e, por fim, à própria Assembleia Legislativa (ALEGO).
“O projeto de lei que
permitirá à Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO) furar o teto de gastos para
o funcionalismo, por meio da transformação dos valores excedentes em verba
indenizatória, foi aprovado em primeira votação na Casa, no dia 22 de março.
Assim - como os Tribunais goianos - o Legislativo pegou carona na minirreforma
administrativa do Poder Executivo, que abriu essa brecha” (O Popular, 23/03/23,
p. 5).
É impressionante ver a “esperteza”
que esses políticos têm na busca de caminhos que permitam legalizar a “imoralidade” pública. É um descaramento que dá nojo! Como
diz Jesus, muitas vezes “os filhos das trevas são mais astutos que os filhos da
luz” (Lc 16,8).
(Léia
o meu artigo: “Fura-tetos x 403.634 famílias na extrema pobreza”, em: http://freimarcos.blogspot.com/2023/03/fura-tetos-x-403634-familias-na-extrema.html; IHU, Correio da Cidadania e outros)
Nestes dias - ainda indignado
com o caso dos “fura-tetos” - li mais uma notícia, que mostra até que ponto
chegou a desfaçatez da maioria (graças a Deus, não todos/as) dos nossos
deputados/as estaduais. Vejam só!
A “ALEGO vai comprar 41 caminhonetes 4x4 para uso dos deputados estaduais” (O Popular,
04/04/23, manchete, p. 2): uma para cada deputado/a, que são 41. “O custo
estimado de cada veículo é de R$ 265,1
mil” (Ib.).
É demais! Não dá para
tolerar tanta desfaçatez! É uma verdadeira
farra com o dinheiro público, que é do Povo, sobretudo dos que estão passando
fome. É muita crueldade! O Povo precisa tomar consciência dessa realidade
perversa e derrubar os deputados que - sem nenhuma vergonha na cara - usam e
abusam do dinheiro público.
Os trabalhadores que
têm carro (na nossa sociedade já são trabalhadores privilegiados) para os
gastos relacionados ao seu trabalho, usam o próprio carro. Ora, os deputados
não têm carro? Será que o salário que ganham não é suficiente para arcar com os
gastos relacionados ao seu trabalho de deputados?
Faço
agora um pedido aos deputados/as que estão do lado do Povo e a serviço do Povo:
renunciem juntos - num gesto público de denúncia - à caminhonete e exijam que o
dinheiro correspondente seja utilizado para amenizar situações de fome e falta de
moradia digna de irmãos/ãs nossos.
Aliás, pessoalmente
acho que a militância político-partidária
deveria ser voluntariado. Todo vereador/a e deputado/a deveriam exercer sua
profissão e viver de seu trabalho.
Termino fazendo minhas as
palavras do Papa Francisco: ”Reconhecemos
que este sistema (o sistema capitalista neoliberal) impôs a lógica do lucro a
todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é
assim - insisto - digamo-lo sem medo: queremos
uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o
suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as
comunidades, não o suportam os povos... E nem sequer o suporta a Terra, a Irmã
Mãe Terra, como dizia São Francisco”.
Este
sistema insuportável “exclui, degrada e
mata!”. “A globalização da
esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir
esta globalização da exclusão e da
indiferença” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de
la Sierra - Bolívia, 09/07/15).
Que
assim seja!
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
11 de abril de 2023
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