“A grande expectativa dos Romeiros
se volta para a Voz do Pai (Vox Patris), como vem sendo chamado o grande sino
que irá ocupar lugar de destaque no Novo
Santuário Basílica. Fabricado em Cracóvia, na Polônia, a peça de 55 toneladas, 4m de altura e 4,5m de
diâmetro, já está pronta e deve chegar a Trindade entre dezembro próximo e
janeiro de 2024” (O Popular, 21 de junho deste ano, p. 11). Será que “a grande
expectativa dos Romeiros” é realmente o “grande sino”? Não acredito!
Antes de tudo, lembro que a grandiosa, luxuosa e imponente obra que está sendo construída - há
mais de 10 anos - em Trindade é o segundo
Novo Santuário Basílica. O primeiro
tinha terminado poucos anos antes de iniciar o segundo.
Como cristão que - mesmo com
suas limitações humanas - procura viver hoje como Jesus de Nazaré viveu no
tempo dele, faço agora - à luz do Evangelho - uma denúncia, que é - ao mesmo tempo - uma crítica construtiva.
A obra faraônica do segundo Novo Santuário Basílica do Divino Pai Eterno em Trindade (GO) - pela sua grandiosidade, luxuosidade e imponência -
1 . Não tem nada a ver com o jeito de ser e viver de Jesus de Nazaré, que:
- foi morador de rua em Belém antes de nascer, com sua mãe Maria e seu pai José;
- nasceu como sem-teto na manjedoura de um estábulo;
- anunciou a boa-noticia do seu nascimento aos pastores, que eram os sem-terra da época;
- foi migrante no Egito, para fugir da ganância de Herodes;
- foi carpinteiro com seu pai José;
- esteve sempre - em sua vida pública - ao lado e do lado dos pobres, excluídos e descartados, libertando-os de doenças e de outros males;
- foi preso com a acusação: “achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc 23, 2);
- morreu na cruz e ressuscitou. “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15, 13). “Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).
2 . Não tem nada a ver com a Boa Notícia (o Evangelho) do Reino de Deus, que Jesus anunciou ao mundo;
3 . Não tem nada a ver com a Igreja que Jesus “amou e se entregou por ela” (Ef. 5, 25), como a Igreja das primeiras Comunidades Cristãs e, hoje, a Igreja das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que é um “jeito evangélico de ser Igreja”, ou seja, um “jeito sempre novo e, ao mesmo tempo, sempre antigo de ser Igreja”.
O
segundo Novo Santuário Basílica,
ainda em construção, reflete um modelo de Igreja imperial, triunfalista,
poderosa e luxuosa que é justamente o contrário da Igreja que - diante da
profissão de fé de Pedro - Jesus prometeu
construir. “Eu te digo que tu é Pedro e sobre esta pedra construirei a
minha Igreja e o poder do inferno (do mal) nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18).
Se
Jesus quisesse uma Igreja imperial, teria nascido no palácio do Imperador de
Roma e não na manjedoura de um estábulo.
A “Voz
do Pai” (Vox Patri) não é a
voz do maior sino do mundo, mas a voz
do povo sofrido: os pobres, explorados, excluídos e descartados; os que estão
passando fome (33 milhões só no Brasil), em consequência de uma sociedade estruturalmente perversa,
cruel e injusta, legitimada muitas vezes em nome de um falso deus e de um falso
evangelho.
Por fim, pergunto: se é
verdade que somente em duas ou três Celebrações anuais - no dia da festa do
Divino Pai Eterno - não cabe o povo no primeiro Novo Santuário Basílica, não
teria sido “mais evangélico” construir
- numa área aberta - galpões cobertos, simples e bonitos que pudessem abrigar o
Povo nas Missas campais e, ao mesmo tempo, nas Romarias (Caminhadas) para que
pudessem tomar seus lanches ou refeições num clima de amizade e confraternização?
Meditemos!
Termino, deixando claro que o juízo ético - humano e cristão - que
fiz nessa denúncia-crítica construtiva,
é um juízo de um fato histórico concreto
e não da consciência subjetiva das pessoas diretamente envolvidas nesse
fato, que só Deus conhece e só Deus pode julgar.
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
09 de julho de 2023
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