Depois
de destacar - na 1ª parte do artigo - os
pontos positivos e significativos da caminhada
sinodal até o momento, apresento agora alguns questionamentos e duas
propostas: pequena contribuição de um irmão para que a
Igreja (que somos todos e todas nós) se torne - cada vez mais - conforme o
Evangelho de Jesus de Nazaré.
Questionamentos:
1. Sobre a Igreja e o poder
- Por que, na história, a Igreja cedeu à tentação do poder e incorporou em suas estruturas internas elementos do imperialismo, do feudalismo, do escravismo e do capitalismo totalmente contrários ao Evangelho?
- Por exemplo, como pôde a Igreja no Brasil - em pleno século 19 - ter ensinado e pregado que a virtude do escravo era a submissão e a virtude do dono de escravos, a benevolência? Essa prática não foi - e continua sendo - repugnante, desumana e antiética?
- A convivência e conivência com o poder não é o pecado estrutural (eclesial e, sobretudo, eclesiástico) da Igreja, farisaicamente legitimado, legalizado e institucionalizado?
2. Sobre a Igreja e a hierarquia
- Os seres humanos não são criados à imagem e semelhança de Deus? Não são todos filhos e filhas de Deus, iguais em dignidade e valor?
- Então, por que na Igreja se fala tanto em hierarquia?
- Se a dignidade e o valor estão na pessoa humana e não no cargo que ela ocupa ou no serviço que ela presta, pode-se falar de superior ou superiora? Por uma questão de raciocínio lógico e coerência ética, não se deveria falar de coordenador ou coordenadora?
- Numa Igreja hierárquica pode haver verdadeira comunhão? A chamada comunhão hierárquica não é uma enganação do povo?
3. Sobre
a Igreja e a democracia
- Por que na Igreja temos cristãos e cristãs - sobretudo ministros ordenados - que fazem sempre questão de sublinhar que a “sinodalidade” não é “democracia” e que os Conselhos Pastorais são consultivos e não deliberativos?
- Por que há tanto medo da democracia? A Igreja não ensina que a democracia é um valor humano e um direto humano? Ela não defende todos os valores humanos e todos os direitos humanos?
- Ainda por uma questão de raciocínio lógico e de coerência ética, se os cristãos e cristãs devem ser plenamente ou radicalmente seres humanos, não deveriam ser também plenamente ou radicalmente democráticos? Não deveriam ser um modelo de democracia?
- A sinodalidade (o caminhar juntos) não deveria ser democracia radical? É possível a sinodalidade sem democracia? Não é - mais uma vez - uma enganação o povo?
Há tempo, um conhecido jurista
brasileiro (se não estou enganado: Fábio Konder Comparato) escreveu com certa ironia:
“por incrível que pareça, a palavra ‘superior’
ainda é usada somente no meio militar
e no meio religioso”. Meditemos!
A Igreja - nos ensina o Concílio
Vaticano II - é o Povo de Deus. Por isso -
sempre por uma questão de raciocínio
lógico e de coerência ética -
proponho:
- Que a 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos - em sua 2ª sessão (outubro 2024) - crie o Sínodo da Igreja Povo de Deus e a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo da Igreja Povo de Deus, em todos os níveis: local, regional, nacional, continental e mundial. (Retomo aqui a proposta que já tinha apresentado para a 1ª sessão da Assembleia).
- Que essa mesma Assembleia crie também os Sínodos Setoriais da Igreja Povo de Deus (Bispos, Presbíteros, Diáconos, Agentes das Pastorais Sacramentais ou Catequistas e Agentes das Pastorais Sicioambientais) e suas Assembleias Gerais Ordinárias.
Serão essas Assembleias Sinodais que, em seus
níveis ou em suas áreas de atuação - com
as luzes do Espírito Santo e num clima de Comunhão e Participação na Missão
- tomarão as decisões necessárias para a caminhada da Igreja no mundo.
Como estamos longe ainda do jeito de
ser de Jesus de Nazaré e do jeito de ser Igreja que Ele sonhou! Não podemos
desanimar! Um dia chegaremos lá! Esperançar é preciso!
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