No dia 27 de novembro passado, o governador de Goiás,
Ronaldo Caiado sancionou a Lei Estadual Nº 22.419/2023, aprovada pela
Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO) no dia 21 do mesmo mês.
A Lei “estabelece a política estadual de segurança pública nas faixas de domínio e nas lindeiras das rodovias estaduais,
bem como das rodovias federais delegadas ao Estado de Goiás” (Art. 1º).
Segundo
a Lei, “compete ao Poder Público, para viabilizar a política instituída
por esta Lei, observada a legislação aplicável a cada medida, entre outras
ações:
- adotar medidas de desforço imediato para garantir a dominialidade do bem público;
- lavrar autuação administrativa (...);
- realizar autuação por infração ambiental (...);
- identificar os invasores e cruzar os dados para verificar quais deles são beneficiários de programas sociais do Governo Estadual;
- promover medidas judiciais para a responsabilização civil dos invasores;
- conduzir coercitivamente os invasores para a oitiva deles pelas autoridades policiais;
- realizar busca e apreensão de materiais usados para invadir as faixas de domínio;
- requerer o afastamento de sigilos, nos termos da lei, bem como busca domiciliar, quando forem necessários para a efetivação da política pública;
- e promover o indiciamento dos invasores por crimes porventura cometidos na ocorrência do ilícito” (Art. 3º, I-IX. Leia o texto da Lei na íntegra).
- Lembrar também que os moradores e moradoras dos Acampamentos ou Ocupações não são “invasores” e “criminosos”, mas pessoas que lutam pela Reforma Agrária Popular e ocupam terrenos - que por direito já são delas - para morar e trabalhar.
A questão específica dos Acampamentos
“nas faixas de domínio e nas lindeiras das rodovias”, da qual trata a Lei,
denuncia a urgência da Reforma Agrária Popular.
Segundo a CPT, “mais de 3 mil famílias que vivem nos 51 Acampamentos localizados às margens de rodovias em Goiás ficam agora sob risco de despejo, sem garantia de seu direito de defesa e de seus direitos fundamentais” (cptnacional.org.br). Que descaramento! Que crueldade!
O “Goiás Social” -
do qual o governo faz tanta propaganda - deveria se preocupar não só em dar
assistência em situações de vulnerabilidade ou de extrema necessidade (o que
é necessário), mas - também e sobretudo - enfrentando as injustiças sociais
estruturais, como:
- Apoiando os trabalhadores e trabalhadoras,
que lutam pelos três T (como diz o Papa Francisco): Terra, Teto
(ou Moradia) e Trabalho, direitos fundamentais de toda pessoa humana.
- Combatendo a concentração de terra nas mãos de
poucos, o latifúndio improdutivo e o trabalho escravo. “Goiás retoma
liderança de trabalho escravo” (O Popular, 13/12/23, p. 11. Manchete). Em 2023
número parcial do Ministério do Trabalho aponta 729 resgates (Cf. Ib.).
Que vergonha, senhor governador Ronaldo Caiado!
- Humanizando o sistema
prisional de Goiás para
que os nossos irmãos e irmãs presos sejam tratados como pessoas humanas
e não como rejeitos da sociedade (Cf. https://www.cnj.jus.br/link-cnj-retrata-situacao-dos-presidios-em-goias/). Feliz Natal e um 2024 de muitas lutas e vitórias!
“Direitos
Humanos não se pede de joelhos,
exige-se
de pé” (Dom Tomás Balduino).
Marcos Sassatelli, Frade
dominicanoDoutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP)Professor aposentado de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 16 de dezembro de
2023
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