quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Grito dos Excluídos e das Excluídas 2025: “Vox Patris”

 


O Grito dos Excluídos e das Excluídas é o conjunto de manifestações populares que acontecem em muitos lugares do Brasil durante a Semana da Pátria, culminando com a grande manifestação do Dia da Independência do País: 7 de setembro.  

O Grito acontece no Brasil desde 1995, a partir da Semana Social Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A iniciativa é da Igreja Católica - com um comprometimento especial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e das Pastorais Sociais Populares - que denuncia as diversas formas de exclusão social, com destaque para a desigualdade econômica e a condição de vida sub-humana da maioria do nosso Povo.

(Por “social” entendo: socioeconômico, sociopolítico, socioecológico ou socioambiental, sociocultural e sociorreligioso. O mesmo no plural)

As atividades do Grito são realizadas em parceria e - porque não dizer - em comunhão de ideais com os Movimentos Sociais Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Entidades de Estudantes, Coletivos de Mulheres, Fóruns ou Comitês de Direitos Humanos e da Mãe Terra Nossa Casa Comum, Comissões de Justiça e Paz e outras Organizações Sociais Populares.

O Grito dos Excluídos e das Excluídas vive o que o Papa Francisco - de saudosa memória - diz sobre a Igreja, os Movimentos Sociais Populares e suas relações mútuas.

Dirigindo-se aos Movimentos Sociais Populares, o Papa Francisco afirma:

“Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas mãos de vocês, na capacidade de vocês se organizarem e promoverem alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (terra, teto e trabalho) e na participação de vocês como protagonistas nos grandes processos de mudança, regionais, nacionais e mundiais”.

Dirigindo-se, pois, à Igreja, Papa Francisco constata:

“Soube que são muitos na Igreja aqueles e aquelas que se sentem mais próximos dos Movimentos Sociais Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão de Justiça e Paz, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Sociais Populares” (bondade do Papa Francisco!). E, convida:

“Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos/as (ou seja, todos os cristãos e cristãs católicos e católicas), juntamente com as Organizações Sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este encontro” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).

Nós que participamos do Grito dos Excluídos e das Excluídas (que o Papa Francisco chamava também Descartados e Descartadas) somos militantes de Comunidades Cristãs - sobretudo de CEBs - de Pastorais Sociais Populares, de Movimentos Sociais Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Entidades de Estudantes, Organizações de Mulheres, Fóruns ou Comitês de Direitos Humanos e da Mãe Terra Nossa Casa Comum, Comissões de Justiça e Paz e Outras Organizações Populares.

Como militantes, somos todos e todas solidários e solidárias para com os nossos irmãos e irmãs, que vivem em condições sub-humanas e degradantes. Juntos e juntas lutamos por um Brasil Novo e um Mundo Novo.

O tema geral do Grito dos Excluídos e das Excluídas é - desde o início - “Vida em primeiro lugar”. Seu objetivo sempre foi - e continua sendo - a luta contra a Exclusão.

Por ser sua atividade principal realizada no dia da Independência, o Grito dos Excluídos e das Excluídas questiona: a quem se refere essa Independência? E busca um País mais inclusivo e justo.

O tema do 31º Grito dos Excluídos e Excluídas em 2025 é: "Cuidar da Casa Comum e da Democracia é luta de todo dia".

(Por “democracia” entendo sempre “democracia popular” e não “democracia burguesa ou capitalista”: falsa democracia).

Neste ano de 2025 - além de denunciar, em todo o país, as desigualdades sociais, a exclusão, a ameaça à democracia popular e ao meio ambiente - o Grito ganha força pela realização:

- do Plebiscito Popular, uma iniciativa que emerge do diálogo entre a Igreja e os Movimentos Sociais Populares para ampliar os direitos no trabalho e promover a justiça fiscal. E:

- da COP 30 em Belém (PA), um evento que reforça a urgência das discussões sobre a crise climática e a necessidade de preparar lideranças para a defesa da Casa Comum. A mobilização busca reforçar a importância da democracia popular e o combate ao sistema capitalista, baseado na desigualdade estrutural - legalizada e institucionalizada - e na precarização da vida da grande maioria do nosso povo (Vejam: https://www.gritodosexscluidos/materiais).

Ao finalizar, com muito amor à Igreja, denuncio mais uma vez que a verdadeira Voz do Pai (“Vox Patris”) não é o maior sino do mundo, que agora faz parte do complexo faraônico e luxuoso do segundo Santuário Novo de Trindade (em construção), mas é o Grito dos Excluídos e Excluídas, seus filhos e filhas.

Luto por uma Igreja que seja realmente conforme o Evangelho, a Igreja que Jesus de Nazaré quis e quer: uma Igreja Pobre, desde os Pobres, com os Pobres e para os Pobres: o único caminho para que a Igreja seja de todos e de todas (Leiam o meu artigo: https://freimarcos.blogspot.com/2025/03/a-verdadeira-vox-patris.html).

 Marcos Sassatelli, Frade dominicano, Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) -  
Professor aposentado de Filosofia da UFG - E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282 -



Meu Irmão e minha Irmã participe e ouça a “Voz do Pai” (Vox Patris):  
o “Grito dos Excluídos e Excluídas”, seus filhos e filhas. 



segunda-feira, 25 de agosto de 2025

“Penduricalhos”: uma artimanha para “legalizar” os supersalários

 


Segundo o DIEESE e o IBGE, no Brasil cerca de 34 milhões de trabalhadores/as recebem até um salário-mínimo, atualmente R$ 1.518,00. Isso representa cerca de 35,63% da população ocupada, ou seja, mais de 34,766 milhões de pessoas. Outra pesquisa do IBGE indica que 60% dos brasileiros/as vivem com até um salário-mínimo por mês.

Essa é a realidade de nossa sociedade capitalista neoliberal ou ultraneoliberal: uma sociedade estruturalmente irracional, injusta, desumana, antiética e anticristã, de uma iniquidade diabólica “institucionalizada”.

É repugnante deparar-se, volta e meia, com reportagens na imprensa e notícias nas redes sociais a respeito da criação desavergonhada de “penduricalhos” para socorrer as “necessidades fictícias” dos desembargadores, juizes, promotores, procuradores e parlamentares (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores).

Entre os muitos que poderiam ser relatados, cito - como exemplos - dois casos do Estado de Goiás:

Primeiro caso: Juízes do Tribunal de Justiça de Goiás chegam a ter a seguinte remuneração:

13 acima de R$ 100 mil; 11 entre R$ 90 mil e R$ 100 mil; 28 entre R$ 80 mil e R$ 90 mil; 19 entre R$ 70 mil e R$ 80 mil; 66 entre R$ 60 mil e R$ 70 mil; 229 entre R$ 50 mil e R$ 60 mil; 101 entre R$ 39,1 mil e 50 mil.

Todos (ou, quase todos) são vencimentos acima do teto constitucional: R$ 39,2 mil. Que vergonha! Uma imoralidade pública legalizada, institucionaliada e, às vezes, legitimada em nome de uma visão religiosa deturpada e hipócrita. Como podemos acreditar na “justiça” desses juízes!?

(Veja mais em: https://opopular.com.br/politica/juizes-do-tribunal-de-justica-de-goias-tem-remuneracão-superior-a-r-100-mil-1.1750259).

Segundo caso: “O Ministério Público de Goiás (MP - GO) pagou R$ 95 milhões em benefícios no primeiro semestre” (O Popular, 18 de agosto de 2025”. Manchete de primeira página).

“As indenizações de membros ativos do Ministério Público de Goiás (MP - GO) custaram R$ 95 milhões entre janeiro e julho de 2025. Neste período, a despesa bruta com esta categoria foi de R$ 267 milhões. Os dados foram consultados no Portal da Transparência do Órgão de controle.

As principais verbas indenizatórias, às quais os promotores e procuradores têm acesso, são auxílios alimentação, creche, saúde e transporte, além de licença-prêmio e abono pecuniário.

Estes benefícios se acumularam ao longo dos anos e foram apelidados de ‘penduricalhos’. Por terem natureza indenizatória, essas verbas não estão sujeitas ao corte do teto constitucional, contribuindo para o pagamento de supersalários” (ib. p. 4).

Resumindo, o Ministério Público de Goiás, de janeiro a julho de 2025, gastou com a Folha total: R$ 267.555.207,01; com a Verba indenizatória: R$ 95.086.248,81 (cf. ib.).

Essa realidade hipócrita - de uma iniquidade diabólica, que clama por justiça diante de Deus - é um insulto aos pobres.

Por fim, fica uma pergunta:

Por que os juízes e desembargadores, os promotores e procuradores de Goiás e do Brasil não criam uma verba indenizatória para os 60% dos brasileiros/as que vivem com até um salário-mínimo por mês (R$ 1.518,00)?

Enquanto não conseguirmos implantar o Projeto Social Popular (PSP) - comunitário e socialista no verdadeiro sentido da palavra - superando o Projeto Social Capitalista (PSC), seria o único “penduricalho” justo e ético.

A esperança nunca morre! A luta continua! Unidos/as e organizados/as, um dia chegaremos lá!

(Obs.: por “social” - no singular ou no plural - entendo: socioeconômico, sociopolítico, socioecológico ou socioambiental, sociocultural e sociorreligioso)

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)   
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282  

Goiânia, 24 de agosto de 2025



MST realiza plantio coletivo nos territórios de Reforma Agrária
em homenagem ao legado de Papa Francisco,
que nos deixou o apoio e a esperança de um futuro com justiça social.
28 de abril de 2025
https://mst.org.br/conteudo/galerias-de-imagens/



O Ser humano meta-histórico “além da morte” (2)

 


(Continua o mesmo tema do último artigo sobre o Ser Humano - parte 2)

Vimos que na existência histórica do Ser humano, o par psicológio angústia-esperança não pode ser separado e corresponde ao par ontológico: desamparo metafísico-plenitude subsistencial. A coexistência destes momentos na vida humana é orgânica e forma uma unidade substancial.

No Ser humano, "a angústia é o sentimento de nosso desamparo ontológico e a esperança é o pré-sentimento de nossa plenitude subsistencial. Há ocasiões em que é a angústia que tem voz cantora e mal-e-mal conseguimos então escutar, simultaneamente, as apagadas vozes da esperança. Outras vezes, apodera-se de nós um bem-estar inefável e ascensional que quase nos faz esquecer que no fundo de nosso ser ainda cisma - embora levemente - a angústia" (DEL VALLE, A. Basave. Filosofia do homem. Fundamentos de Antropologia metafísica. Convívio, São Paulo, 1975, p. 95).

Todo Ser humano pode dizer: "meu afã de plenitude subsistencial existe somente em função de superar meu desamparo ontológico. E meu desamparo ontológico se faz tão-só patente porque tenho um afã de plenitude subsistencial. A plenitude alcançada é sempre relativa e está ameaçada pelo desamparo. Mas, por sua vez, o desamparo se vê corrigido, amparado em parte, pelo afã de plenitude subsistencial que se projeta com toda a sua intenção significativa. Este afã de plenitude subsistencial, mesmo que se dê no tempo, não está submetido ao tempo. Trata-se de um testemunho irrecusável da egrégia vocação humana, de uma humilde submissão do Ser humano integral à sua interioridade aberta para o ser e para a Deidade. Meu afã de plenitude subsistencial, com toda sua significação 'meta-histórica', participa na plenitude absoluta, primeira e transcendente”.

Em outras palavras, “meu afã de plenitude subsistencial, que se me apresenta coexistindo orgânica e dialeticamente com meu desamparo ontológico, com minha insuficiência radical, em forma parecida ao contraponto musical, implica a Plenitude Subsistente e Infinita da qual provém, precisamente, meu concreto afã de plenitude que se dá no tempo. Se existe nosso afã de plenitude subsistencial - o que é um fato evidente - então existiu desde sempre uma Plenitude Subsistente, porque se não tivesse existido, não se dariam todos os nossos concretos afãs de vida e de mais vida. 

Nessa situação humana concreta - e a partir dela - é compreensível que “o primeiro ato do meu afã subsistencial seja o de dirigir um chamamento à Plenitude Infinita que suscita todos os afãs de plenitude. Sem um fundamento em Deus, inicial e final, meu concreto afã de plenitude subsistencial não encontra solução. (...) A razão de ser última de nosso afã de plenitude subsistencial não se encontra numa idéia, mas sim unicamente num Ser Plenário, existente em si e por si" (Ib. p. 263-264. Ver também o pensamento de M. BLONDEL sobre a exigência de Infinito do Ser humano).

O caminho, pois, que parte do "real humano" tenta responder à pergunta: por que o Ser humano histórico "descobre existencialmente" o Absoluto? Chega-se à descoberta da dimensão meta-histórica do Ser humano “além da morte” e da existência do Absoluto pela intuição existencial. O Ser humano histórico, intelectualmente aberto e disposto a viver a vida em profundidade, descobre o Absoluto (Deus) nas coordenadas (na dinâmica, no redemoinho) da própria existência e no encontro interpessoal, pois o Absoluto - de uma forma ou de outra - está sempre presente na vida do Ser humano histórico.

É no encontro interpessoal que Deus se manifesta ao Ser humano histórico e ele adere - livre e concretamente - ao Absoluto. O "existir-perante-Deus" é a possibilidade última e suprema do "existir humano". O Absoluto confere ao "existir humano" a autenticidade definitiva, suscitanto no Ser humano histórico a paz, a alegria e a unidade interior.

As "situações existenciais", particularmente as "situações-limites" (como o fracasso, o sofrimento, o mal, a morte) e a exigência de moralidade (justiça) nos levam a Deus, fundamento do Ser nos seres existentes. Na adesão ao Absoluto - como resposta a um apelo do ser - o Ser humano histórico experimenta sua existência, simultaneamente, como liberdade e como dádiva (dom) de Deus. Quanto mais o Ser humano histórico é livre, tanto mais ele é seguro que não existe (não é) por si mesmo, mas que existe (é) pelo Absoluto e que o Absoluto existe (é) por si mesmo (Ver, a respeito da descoberta existencial de Deus, o pensamento de S. KIERKEGAARD, de K. JASPERS e de G. MARCEL. Cf. também HERRERO, X. O problema de Deus, em "Síntese Nova Fase" 11 (1977) 29-43). 

(No próximo artigo sobre o Ser Humano, continua o mesmo tema: parte 3)

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)   
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282  

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 16 de julho de 2025

                                                                                                      




O artigo foi publicado originalmente em: 

https://portaldascebs.org.br/o-ser-humano-meta-historico-alem-da-morte-2/ (19/08/25)

 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Mais um despejo diabólico em S. Antônio do Descoberto

 


No dia 4 deste mês de agosto começou o perverso e diabólico despejo de mais de 1,6 mil pessoas - trabalhadores e trabalhadoras - de cerca 400 famílias de Antinha de Baixo, no município de Santo Antônio do Descoberto - GO

No primeiro dia do despejo, moradores e moradoras tiveram suas casas demolidas durante uma megaoperação - de uma crueldade e iniquidade inimagináveis - que mobilizou diversos órgãos governamentais. Na região moram famílias de pequenos agricultores. Algumas dessas famílias possuem documentação que comprava mais de um século no local e outras que chegaram na última década.

O Tribunal de (In)Justiça do Estado de Goiás - num ato legal e institucional totalmente desumano e antiético - autorizou o despejo forçado, por ordem do desembargador Breno Caiado, primo do governador Ronaldo Caiado e nomeado por ele.

O processo que autoriza o despejo corre há décadas e já contou com a atuação de diversos familiares do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que alegam ser herdeiros das terras.

Ronaldo Caiado - com a pretensão de ser presidente (que Deus nos livre!) - e os familiares responsáveis pelo despejo - se comportaram como verdadeiros demônios.

Reafirmo mais uma vez: todo despejo é injusto, desumano, antiético e anticristão. Pessoa humana não se despeja.

Deixo a Ronaldo Caiado e aos seus familiares, responsáveis pelo despejo diabólico de Antinha de Baixo, a advertência de Jesus no Evangelho de domingo passado (3 deste mês de agosto).

“Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: ‘Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo’. Jesus respondeu: ‘Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?’ Depois Jesus falou a todos e a todas: ‘Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens’.

E contou-lhes uma parábola: ‘A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: ‘meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se’! Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. As coisas que você acumulou, para quem vão ficar?’”

(Lc 12,13-20).

Uma advertência: Senhor Ronaldo Caiado e familiares, responsáveis pelo despejo de S. Antônio do Descoberto, não se esqueçam: Deus é justo. “Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida”. “Esta mesma noite”, pode ser hoje, amanhã ou depois. Só Deus sabe. Mas com certeza a justiça será feita. E a justiça de Deus é verdadeira! Não é a “justiça” dos “grileiros de terras”. Aguardem!

Por fim, parabenizo o Vereador Fabrício Rosa, o deputado estadual Mauro Rubem, outros políticos e outras políticas que são totalmente solidários e solidárias para com os trabalhadores e as trabalhadoras diabolicamente despejados.  Estamos juntos e juntas. A luta continua!

Um Brasil Novo queremos! Um Mundo Novo queremos!

Vejamos o Vídeo abaixo e meditemos!

         
 
Do vereador Fabricio Rosa


Do Deputado Estadual Mauro Rubens





Foto: Gabriel / Ascom Dep. Mauro Rubem)



Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)   
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282  

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 06 de agosto de 2025

 



terça-feira, 5 de agosto de 2025

Projeto Social Popular x Projeto Social Capitalista

 


(Por “social”, entendo: sociopolítico, socioeconômico, socioecológico ou socioambiental, sociocultural e sociorreligioso).

Muitos Políticos dos Partidos Populares (chamados de esquerda: PT e companhia), que em teoria defendem o Projeto Social Popular (PSP), na prática procuram quase sempre fazer aliança com Políticos dos Partidos Capitalistas, que defendem o Projeto Social Capitalista (PSC) neoliberal.

Ora, o Projeto Social Popular (PSP) e o Projeto Social Capitalista (PSC) são Projetos opostos e a aliança (que significa “comunhão”) entre Políticos dos dois Projetos é impossível.

O que pode haver, entre esses Políticos, são somente acordos pontuais em situações concretas que não podem esperar e que precisam ser resolvidas o mais rápido possível.

Mesmo nessas situações, os Políticos dos Partidos Populares devem ter consciência da ambiguidade desses acordos pontuais: por um lado, eles resolvem, ao menos provisoriamente, situações sociais graves e urgentes; por outro lado, reforçam o Projeto Social Capitalista (PSC).

Sugiro que, no início do mandato, o Governo Federal de Políticos dos Partidos Populares crie ou (se já existe) renove e faça funcionar regularmente o Conselho Nacional Popular (CNP), formado pelos membros do Governo (Presidente e Ministros/as) e por representantes - representativos - das Organizações Sociais Populares (Movimentos Populares, Partidos Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Movimentos de Estudantes, Associações de Mulheres e outros/as).

Esse Conselho - ao menos por enquanto - não pode ser oficial, porque não é contemplado na Constituição Federal, mas pode e deve ser público, como são públicas as atividades das Organizações Sociais Populares. Todos e todas devem conhecer e poder dar sugestões.

Na atual situação social, o Conselho Nacional Popular (CNP) deve ser a expressão concreta das Organizações Sociais Populares no Poder. Chega de Governos que - mesmo sem querer - são “reformistas” e fortalecem o Capitalismo, total e estruturalmente irracional, desumano e antiético.

O Conselho Nacional Popular (CNP) precisa se reunir periódica e publicamente (não oficialmente) para fazer uma análise crítica da conjuntura, na ótica das Organizações Populares - a ótica dos Pobres - que leve o Governo Federal a abrir caminhos novos e a tomar consciência dos passos que podem e devem ser dados para fazer acontecer o Projeto Social Popular (PSP).

Três questões fundamentais deveriam e ainda devem ser analisadas pelo Conselho Nacional Popular (PSP). Primeira: Por que, depois de quase quatro Governos Federais do PT e Partidos aliados, chegamos ao Governo Bolsonaro? Quais as causas? Segunda: O que o atual Governo Federal pode e deve fazer para não chegar a outro Governo Federal parecido ou pior que o de Bolsonaro? Terceira: Quais os passos que o Governo Federal pode e deve dar hoje para que o Projeto Social Popular (PSP) comece a acontecer em nossa realidade?  

De 21 a 25 de julho - Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, Dia Internacional da Agricultura Familiar e Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural - o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promoveu a Semana Camponesa com o lema “Para o Brasil alimentar, Reforma Agrária Popular”: uma Jornada Nacional de Lutas, com mobilização em 22 capitais do Brasil e a participação de cerca 17 mil militantes Sem Terra. O objetivo foi: pressionar o Governo por medidas concretas para a Reforma Agrária Popular.

Nessa Semana Camponesa foi divulgada a “Carta do MST à Sociedade Brasileira” (21/07/25). A Carta - depois de reconhecer que “estamos em luta para ecoar nossa voz coletiva em todo o país, que se conecta ao sentimento da sociedade brasileira e do Presidente Lula na defesa incondicional da soberania nacional, ameaçada pelo imperialismo e pelas ações de Donald Trump” - afirma:

“No entanto, a ameaça à nossa soberania popular e nacional também tem vindo de dentro do próprio país, com a subordinação da nossa agricultura às empresas transnacionais e com as ações do Poder Legislativo, representante dos interesses do agronegócio e da mineração”.

E ainda: “A Reforma Agrária Popular é um instrumento de defesa das terras do país, em contraposição ao agronegócio entreguista, golpista, saqueador e antipatriótico. Soberania nacional só é possível com soberania alimentar. E a soberania alimentar se constrói com a agricultura familiar camponesa e com a Reforma Agrária Popular” (os grifos são meus).

O MST reconhece que: “após quase três anos de Governo Lula, a Reforma Agrária Popular continua paralisada”. Ora, “as famílias acampadas e assentadas se perguntam: Lula, cadê a Reforma Agrária Popular?”  E continuam dizendo: “Somos milhares de Sem Terra! São mais de 122 mil famílias, organizadas em 1.250 acampamentos em todo o país, que precisam de terra para trabalhar e viver. Cerca de 400 mil famílias assentadas seguem à espera de políticas públicas que existem, mas não chegam à base, para melhorar a produção de alimentos e o desenvolvimento dos assentamentos”.

Recordo, agora, alguns passos que podiam e ainda podem ser dados:

Apoiar e fortalecer a agricultura familiar camponesa, que já é responsável por 70% dos produtos consumidos no Brasil. Taxar os super-ricos e reduzir a jornada de trabalho sem redução salarial. Assentar em moradias dignas todos os Trabalhadores e Trabalhadoras das Ocupações rurais e urbanas. Além da Reforma Agrária Popular, precisamos da Reforma Urbana Popular.

E (um dia, quem sabe?) reapropriar-se do supérfluo dos ricos - que é o necessário dos pobres “roubado legalmente” - e devolvê-lo aos seus legítimos proprietários (os próprios pobres).

S. Tomás de Aquino ensina: “ninguém tem direito ao supérfluo, quando o outro ou a outra não tem o necessário”. Como estamos longe ainda da verdadeira justiça!

A luta pelo Projeto Social Popular (PSP) continua! Esperançar é preciso! Desistir nunca!

(Confira a Carta do MST na íntegra: https://mst.org.br/2025/07/21/mst-divulga-carta-a-sociedade-brasileira-em-defesa-da-reforma-agraria-popular-e-da-soberania-nacional/


                                    
                  Foto: Francisco Proner                                                                                                           Foto: Luisa Medeiros 





Marcos Sassatelli, Frade dominicano,
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) 
e Professor aposentado de Filosofia da UFG.
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https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 31 de julho de 2025






segunda-feira, 14 de julho de 2025

O Ser humano meta-histórico “além da morte” (1)

 


Nos três últimos artigos refletimos sobre o Ser humano meta-histórico (meta-social e meta-individual) “já e ainda não”.

Neste, vamos começar a refletir sobre o Ser humano meta-histórico (meta-social e meta-individual) “além da morte”.

Na existência histórica do Ser humano, encontramos, fundamentalmente, dois "caminhos" ("vias") que nos levam: o primeiro, a descobrir a necessidade da existência de Deus (o Outro absoluto), Fonte (Fundamento) do ser nos seres ou (em linguagem teológica) de Deus Criador; o segundo, a descobrir, diretamente, a dimensão da meta-historicidade humana “além da morte” e, indiretamente, a existência de Deus.

O primeiro "caminho" parte do "real" como tal (portanto, também do "real humano"). Antes de tudo, tenta responder à pergunta: por que existe o "real"? Esta pergunta é racional e perfeitamente legítima. Não basta explicar o real e mostrar como funciona (que é o papel das ciências); é preciso também questionar a própria existência do real. "Se se consegue não só 'falar' esta questão, mas também 'pensá-la' realmente, percebe-se que a existência do real, considerado no seu todo, faz surgir uma outra questão: ele não explica a sua própria existência (...). O real 'existe', é um ponto, eis tudo" (PODEUR, L. Imagem moderna do mundo e fé cristã. Paulinas, São Paulo, 1977, p. 131).

É esta a "contingência" do real. Se pararmos por aqui, o "real" torna-se um "absurdo". Continuemos o movimento da razão que interroga, inscrevendo o próprio real num contexto emglobante. "Neste caso, a existência do real (...) torna-se exigência de um fundamento (...). Somos levados então a propor a hipótese de uma fonte, da qual nada sabemos a não ser que seria 'completamente diferente' do mundo, porque seria o fundamento do mundo e ela mesma não teria que ter um fundamento" (ib., p. 132).

Chegamos, assim, ao tema da "presença ontólogica" de Deus - em linguagem filosófica - ou "presença criadora” de Deus (criação) - em linguagem teológica.

A hipótese da existência de um Deus - fundamento do ser nos seres existentes - não é irracional e irreal. "Mesmo que a ciência pudesse explicar cabalmente as existências que aparecem e desaparecem do universo, ela não poderia dizer nada a respeito da existência como tal da realidade: ela simplesmente a pressupõe e funciona tomando-a por base" (ib.).

Em seguida, o "caminho", que parte do "real" como tal, tenta responder à pergunta: qual é o "sentido" do real? É próprio do Ser humano histórico procurar um "sentido" (um "significado") não só para a sua existência, mas também para o "real" (a "realidade") considerado em si mesmo (e não neste ou naquele indivíduo).

O conhecimento "científico" dos mecanismos do real (material e vivente) - mesmo supondo a ciência totalmente acabada (o que é impossível na condição existencial do Ser humano) - não oferece nenhum dado concernente à existência e à natureza do sentido (significado) último das coisas (cf. ib., p. 133-134). Portanto, "a afirmação de um Deus-fundamento pode inserir-se em nossa concepção do real sem opor-se ao projeto científico e sem obrigar, por nada deste mundo, a repor em questão os nossos conhecimentos do universo" (ib., p. 134).

O segundo "caminho" - que nos leva a descobrir, diretamente, a meta-historicidade do Ser humano “além da morte” e, indiretamente, a existência de Deus - parte do "real humano" (da realidade humana). Antes de tudo, tenta responder à pergunta: por que o Ser humano "necessita estruturalmente" de Infinito? A "necessidade estrutural" (a "exigência estrutural") de Infinito mostra que o Ser humano histórico - embora limitado em suas possibilidades - é infinito em seus anseios e aspirações (tensões, projeções); ele vive em estado de busca permanente e nunca se satisfaz; ele anseia uma plenificação, ou seja, uma vida plena (completa), uma realização plena (total), que possa trazer-lhe uma felicidade plena (verdadeira).

Será que tais anseios (aspirações) são infundados e levam o Ser humano histórico à frustração (e/ou ao desespero), ou será que são fundados e levam este mesmo Ser humano histórico à esperança? Sua vida desenvolve-se numa contínua disputa entre a angústia (ou a inquietude constante) - que pode levar, às vezes, à frustração e/ou ao desespero - e a esperança - que leva ao Absoluto, ao Infinito (Veja o pensamento de S. Agostinho a respeito da inquietude constante do Ser humano).

Na existência histórica do Ser humano, "o par angústia-esperança não se pode cindir. Este par psicológico corresponde a este outro par ontológico: desamparo metafísico-plenitude subsistencial. A coexistência destes momentos na vida humana é orgânica e forma uma unidade substancial. Os vaivéns da vida devem-se ao predomínio do sentimento de nosso desamparo ontológico ou ao predomínio do pré-sentimento de nossa plenitude subsistencial. No 'ser contingente' ('ens contingens') que é o Ser humano, há um desfiladeiro para o nada e uma escada para o Absoluto. Somos, os humanos, um misterioso amálgama de nada e de eternidade" (DEL VALLE, A. Basave. Filosofia do homem. Fundamentos de Antropologia metafísica. Convívio, São Paulo, 1975, p. 95).

(No próximo artigo sobre o Ser humano continua o mesmo tema: parte 2)

 

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)   
Professor aposentado de Filosofia da UFG
    E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282
  
https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 15 de maio de 2025









O Artigo foi publicado originalmente em

https://portaldascebs.org.br/o-ser-humano-meta-historico-alem-da-morte-1/   (10/07/25)

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos