A absolvição de Antônio Palocci foi uma verdadeira farsa, que subestima a
inteligência dos brasileiros/as.
Há poucos dias assistimos ao espetáculo deprimente do caso Sarney. Todas as
11 acusações contra o Senador - por pressão dos políticos da base aliada e do
próprio Lula - foram mandadas ao arquivo
pelo Presidente do Conselho de Ética (melhor seria dizer, Conselho de
Antiética) Paulo Duque (PMDB - RJ).
Segunda-feira, 10 de agosto saiu a notícia na imprensa que 33% do Senado é
alvo de inquérito ou ação judicial no Supremo Tribunal Federal (Cf. Folha de S.
Paulo, 10/08/09, p. A4).
Sexta-feira, 28 de agosto, mais uma notícia que deixou a todos/as, que têm
um mínimo de senso ético, indignados. O Supremo Tribunal Federal (STF)
rejeitou, por 5 votos a 4, o pedido do
Ministério Público Federal de abertura de processo criminal contra Palocci,
pela quebra ilegal de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Não
aceitaram a denúncia os ministros Gilmar Mendes (presidente do Tribunal e
relator do processo), Eros Roberto Grau, Ricardo Lewandowski, Cezar Peluso e
Ellen Gracie. Os ministros Joaquim Barbosa e Menezes Direito não estavam
presentes.
O argumento para rejeitar o pedido foi: provas insuficientes. Segundo o
relator do processo só existem "meras suposições que não legitimam por si
só a abertura de ação penal" (Folha de S. Paulo, 28/08/09, p. A4). Sempre
segundo ele, "há apenas um conjunto de ilações que não estão
suficientemente concatenadas para se constituir em elementos de prova"
(Ibidem). A atitude do ministro beira o ridículo. Será que foi um "anjo
mau" que quebrou ilegalmente o sigilo bancário de Francenildo? Por que
será que, quando se trata de poderosos, nunca existem provas suficientes?
Vejamos o que diz o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a
respeito do caso Palocci: "Existe certeza do crime e indícios veementes da
autoria do crime. É o que basta para o recebimento da denúncia. A prova
definitiva será feita no curso dessa investigação" (Ibidem).
A procuradora-chefe da Procuradoria Regional da República da 3a Região,
Luiza Cristina Frischeisen, é do mesmo parecer e afirma que "é
triste" ver o Supremo antecipar a produção de provas e discutir a abertura
de uma ação como se fosse um julgamento. Diz ela: "No recebimento de uma
denúncia, exige-se que a autoria e a materialidade do crime estejam presentes.
Depois, no curso do processo, discute-se se há provas suficientes. O Supremo,
porém, discutiu se o ministro sabia ou não da quebra. Olha, tanto o Palocci
sabia que, na época, ele perdeu o cargo! O que o STF fez foi uma 'absolvição
sumária'" (Folha de S. Paulo, 29/08/09, p. A4).
A procuradora regional da República, Janice Ascari, é ainda mais incisiva,
quando sustenta: "O Ministério Público tinha indícios contundentes para
abrir um processo contra Palocci. A decisão do Supremo, mais uma vez, é
contrária à sociedade" (Ibidem), e eu acrescentaria: sobretudo contrária
aos pobres. Felizmente ainda existem pessoas éticas que não se deixam corromper
pelo poder.
Tudo indica que, na decisão tomada pelo Tribunal, existem artifícios legais
e razões escusas (não éticas). É bom também lembrar que, segundo a imprensa,
"a decisão sepulta a 21a e última investigação no STF contra Palocci"
(Folha de S. Paulo, 28/08/09, p. A4) Dá
para desconfiar. Será que em todas essas investigações faltavam provas
suficientes? Senhores ministros, o povo não é burro!
A corrupção e a total falta de ética andam soltas com atitudes descaradas e
cínicas, muitas vezes em nome da chamada "governabilidade". Para onde
nós vamos? Precisa que o povo se levante e diga: basta!
O 15° Grito dos Excluídos/as 2009, que tem como tema "a vida em
primeiro lugar", nos lembra, no lema, que "a força da trasnformação
está na organização popular".
O 12° Intereclesial da CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), acontecido em
Porto Velho de 21 a 25 de julho de 2009, na "Carta às irmãs e aos irmãos
das CEBs e a todo o Povo de Deus", entre outras coisas, afirma:
"Comprometemo-nos a fortalecer as lutas dos movimentos sociais
populares…" (N° 22). "Assumimos também o compromisso de respaldar
modelos econômicos alternativos…" (N° 24). "Convocamos a todos nós
para o trabalho político de base, para a militância em movimentos sociais e
partidos ligados às lutas populares…" (N° 25).
Na celebração de abertura do 12° Intereclesial das CEBs, Dom Moacir
Crecchi, arcebispo de Porto Velho, lembrou um provérbio africano, que para nós
é motivo de muita esperança: "Gente simples, fazendo coisas pequenas, em
lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias" (N° 5).
É este o caminho para lutar contra todo tipo de corrupção e injustiça -
sobretudo corrupão e injustiça estrutural - e fazer acontecer uma nova
sociedade.
Fr. Marcos Sassatelli,
Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da
UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos
Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do
Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do
Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador
Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 01 de setembro de 2009
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