Os usuários do transporte coletivo
estão indignados com o aumento da passagem de ônibus, sem as melhorias
prometidas na operação do sistema em 2008. No dia 21/05/11, em toda a região
metropolitana de Goiânia, a passagem passou de R$ 2,25 para R$ 2,50 e a do Eixo
Anhanguera passou de R$ 1,15 para R$ 1,25. “O reajuste foi definido em reunião
da Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC), na noite da última quarta
feira (18), com base numa planilha de custo apresentada pela Companhia
Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC)” (Diário da Manhã, 21/05/11, p.
2). No dia 20 de maio, um dia antes do aumento da tarifa e por causa do próprio
aumento, os usuários do transporte coletivo tiveram muita dificuldade para
adquirir bilhetes de sit pass.
O reajuste do valor das passagens de
ônibus (o contrato prevê que seja anual) é calculado com base no Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), aumento do salário dos motoristas e
elevação do óleo diesel. Segundo o Sindicato das empresas de Transporte Urbano
Coletivo (Setransp), as empresas não calculam tarifas, mas simplesmente
repassam os custos do sistema à CMTC, numa planilha técnica, para que ela faça
o cálculo.
O aumento só não ocorreu no ano
passado (o último foi em 2009) porque “nem as empresas nem o Poder Público
cumpriram todos os investimentos prometidos para o setor em março de 2008,
quando foram renovados os contratos de concessão para a exploração do serviço.
Novos abrigos, nova frota, reforma e ampliação de terminais e garagens, e o
Centro de Controle Operacional (CCO) deveriam ser realizados em cinco anos, e
até agora foram feitos parcialmente” (O Popular, 19/05/11, p. 3). Em
janeiro/11, numa reunião extraordinária da CDTC, os prazos para o cumprimento das
metas foram estendidos em mais um ano.
Segundo um engenheiro, ex-integrante
da CDTC, que pediu sigilo da identidade, “existe a prática, por parte dos
operadores (do sistema do transporte coletivo), de esperar que ônibus fiquem
lotados para cumprir rotas e reduzir custos para as empresas”. Segundo ele, “a
fiscalização da CMTC é ‘fantasiosa’ quanto ao cumprimento de planilhas e que a
CDTC sempre delibera sobre renovação de concessões e aumento de tarifas, mas
jamais sobre as operações”. Afirma textualmente: “Os fiscais não atuam, não há
multas por atrasos. Há redução da frota com o argumento de reduzir custos e
baixar as tarifas. Mas isso só reduz custos para eles mesmos. Porque, para o
usuário, isso significa atrasos constantes e superlotação”. O engenheiro diz
ainda que as planilhas não são cumpridas. “Terminais onde havia nove ônibus que
atendiam três bairros passaram a operar com seis veículos. Para ajustar as
planilhas, os operadores atrasam saídas, quando justamente há mais usuários à
espera, o que gera superlotação. A prática e conhecida como ‘planilhão’”. E
conclui com as palavras: “Deveriam colocar mais ônibus para reduzir intervalos
de espera” (Ib.).
Quantas artimanhas que, por baixo dos
panos, as empresas inventam em sua ganância e em sua sede de lucro, às custas
do sofrimento do povo! È realmente uma grande injustiça social!
Vejam que situação trágica! “Noite de
caos. Terminal destruído, ônibus apedrejados, bombas de efeito moral, correria,
usuários passando mal e outros sendo presos fizeram parte do cenário de guerra
na noite de 20/05, no Terminal Padre Pelágio em Goiânia” (Diário da Manhã,
21/05/11, 1ª e 2ª páginas, Manchetes).
A causa imediata do caos parece ter
sido um acidente entre dois caminhões e a queda de energia na subestação do
setor Campinas, que – segundo a imprensa noticiou – deixaram o trânsito
congestionado e impediram a chegada dos ônibus no terminal. Na realidade,
porém, esse fato só foi o estopim final. A verdadeira causa é que a paciência
do povo, que precisa todo dia do transporte coletivo para ir ao trabalho, para
voltar para casa e para outras necessidades, chegou no seu limite, ou seja,
esgotou.
Não dá mais para aguentar tanto
descaso, tanta falta de responsabilidade do Poder Público a respeito do
transporte coletivo, que é um dos serviços básicos imprescindíveis. Entra
governo, sai governo, e a situação caótica e desumana continua a mesma. Ônibus
superlotados, sujos, muitos deles em condições precárias, e com constantes
atrasos. Parecem mais ônibus de carga do que ônibus de transporte de pessoas
humanas. É a total falta de consideração e de respeito pela dignidade do povo
trabalhador. É uma desumanidade e uma imoralidade pública estrutural e, podemos
dizer, legalizada.
As opiniões dos usuários do transporte
coletivo sobre o aumento da passagem são muito significativas e reveladoras.
Citemos algumas: “Pagaria até mais na passagem se houvesse serviço de
qualidade. Do jeito que está, de graça é caro” (Hélio Junior). “Cadê a
qualidade do serviço prestado que justifica esse aumento?” (Marcelo de Sá).
“Gostaria de ver a planilha de cálculos, cronograma de investimentos e a
fundamentação disso tudo” (Alex De Martini). “Isso é resultado do abuso de
poder da rede privada, que não melhora o transporte público e ainda aumenta a
tarifa” (Jordana Borges). “Lamentável, pois a qualidade é muito ruim!” (Wesley
Rosa Pinheiro). “Desrespeito, não obrigam as empresas a reformar os terminais e
aumentam o preço de um péssimo serviço!” (Paulo Winicius) (O Popular, 19/05/11,
p. 3 – Opinião do leitor). São opiniões que falam por si mesmas.
Faltam realmente, na área do
transporte coletivo (como, aliás, na área da saúde, da educação, do trabalho,
da segurança e em outras áreas), políticas públicas que coloquem como
prioridade absoluta a qualidade de vida do povo e não o enriquecimento das
empresas. Precisamos urgentemente de um transporte coletivo digno. Andar de
ônibus deveria ser prazeroso e repousante, e não cansativo e estressante.
Talvez seja um sonho, mas o sonho pode se tornar realidade. Os recursos materiais
existem. É só uma questão de
vontade política. A pessoa
humana, sobretudo dos pobres e excluídos, deve estar sempre em primeiro lugar.
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 27/05/11, p. 3
Fr. Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em
Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de
Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na
Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão
Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário
Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador
Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
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