sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mais suspeitas de corrupção

               A sujeira escondida debaixo dos tapetes começa a aparecer. No caso dos lanches do TJ-GO, a cada dia que passa, aumentam as suspeitas de corrupção (superfaturamento, desvio de verbas públicas). O e-mail que Mildred Joana Avelar Freire - servidora da Comarca de Rio Verde - enviou ao Diário da Manhã e que foi publicado no Caderno OpiniãoPublica do mesmo Jornal (13/12/11, p. 3), é uma prova concreta de que as minhas suspeitas de corrupção tinham razão de ser.
            Mildred Joana, em seu e-mail, afirma que, com estranheza, leu o meu artigo “Os lanches do TJ-GO” e viu a foto, que o Jornal utilizou para ilustrar o conteúdo do mesmo. Ela diz que - durante 11 anos de trabalho - só em raras oportunidades (como, por exemplo, posse de juízes, eventos especiais, confraternização de fim de ano) viu lanches como o da foto.
            Mildred Joana afirma também que, com maior perplexidade ainda, leu o artigo “A verdadeira face dos lanches do TJ” do diretor financeiro do TJ-GO, Euzébio Ribeiro. De fato, em resposta ao meu artigo, ele informa que “os investimentos mencionados referem-se a despesas gerais de fornecimento de lanches e/ou refeições envolvendo cerca de 400 magistrados e 7.100 servidores/colaboradores, alocados nas diversas Comarcas do Estado de Goiás”.
            O meu e-mail - continua Mildred Joana - “tem a finalidade de esclarecer que nós, servidores da Comarca de Rio Verde, não devemos estar contemplados entre estes ‘7.100 servidores/colaboradores’, pois aqui não é servido lanche aos servidores. Pelo contrário, quem sente fome aqui é compelido a comprar seu subsídio na lanchonete existente no prédio do Fórum, com o dinheiro proveniente dos seus proventos, ou trazer de casa”. Insiste dizendo: “Repito, não são servidos lanches aos funcionários desta Comarca”.
            Através de pesquisa, a servidora de Rio Verde constatou depois que apenas nas Comarcas de Goiânia, Anápolis, Alto Paraíso e Caldas Novas serve-se somente pão aos servidores. Nas Comarcas de Jataí, Luziânia, Itumbiara, Trindade, Goianápolis, Rialma e Formosa, a situação é a mesma de Rio Verde.
            O diretor do Sindicato dos Servidores e Serventuários da Justiça do Estado de Goiás (Sindjustiça), Fábio Pereira de Queiroz, cobrou do diretor financeiro do TJ uma explicação e ele - sempre segundo a servidora de Rio Verde - “garantiu que as verbas são destinadas às Comarcas (Fundo Rotativo), após solicitadas pelo Juiz diretor do Fórum - e que não sabe explicar o motivo de a finalidade não estar sendo alcançada... Ou seja, a verba existe, mas a maioria dos servidores das Comarcas passa fome durante o expediente por falta de lanche do TJ - só comem aquilo que podem (quando podem) comprar!!!!”.
            Pergunto: Será que o pão servido - de 1º de janeiro a 1º de novembro de 2011 - aos funcionários de 4 Comarcas (Goiânia, Anápolis, Alto Paraíso e Caldas Novas), mesmo incluindo algumas festas em ocasiões especiais, custou R$ 519,9 mil? Mas que pão caro é esse! O que os leitores acham? Não dá para suspeitar? O Ministério Público - que tem a obrigação de exigir uma investigação séria a esse respeito - está com a palavra. A sociedade cobra uma explicação e espera que - se forem constatados atos de corrupção - os responsáveis sejam processados, julgados e punidos.
            André Garcia, que se define um dos muitos funcionários do TJ e que diz ter acompanhado de perto a repercussão do caso dos lanches, critica com veemência a gritante desigualdade de tratamento entre os juízes e desembargadores, de um lado, e aqueles que ele chama de “funcionários inferiores”, do outro lado.
Depois conclui: “Com o salário que juízes e desembargadores ganham, tão alto que é considerado o teto do funcionalismo público, não deveriam ter direito a mais nenhuma regalia. Deveriam ir trabalhar com o próprio carro, pagar a própria gasolina, pagar estacionamento, viajar a serviço com seu próprio dinheiro, lanchar e almoçar por conta própria, não ter direito a assessores (que são os que realmente trabalham), trabalhar umas 10 horas por dia sem intervalo e comer o pão que o diabo amassou. Isso seria justiça real” (avestruzgarcia.blogspot.com/2011/12/lanches-do-tjgo.html).
E é essa “justiça real” que todos/as almejamos e que queremos fazer acontecer no Brasil e no mundo de hoje.

                                                 Diário da Manhã, Goiânia, 22/12/11, p. 13


Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
    Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
                                                                                                                                                                      E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

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