A
sujeira escondida debaixo dos tapetes começa a aparecer. No caso dos lanches do
TJ-GO, a cada dia que passa, aumentam as suspeitas de corrupção
(superfaturamento, desvio de verbas públicas). O e-mail que Mildred Joana Avelar
Freire - servidora da Comarca de Rio Verde - enviou ao Diário da Manhã e que foi
publicado no Caderno OpiniãoPublica do mesmo Jornal (13/12/11, p. 3), é uma
prova concreta de que as minhas suspeitas de corrupção tinham razão de ser.
Mildred Joana, em seu e-mail, afirma
que, com estranheza, leu o meu artigo “Os lanches do TJ-GO” e viu a foto, que o
Jornal utilizou para ilustrar o conteúdo do mesmo. Ela diz que - durante 11
anos de trabalho - só em raras oportunidades (como, por exemplo, posse de
juízes, eventos especiais, confraternização de fim de ano) viu lanches como o
da foto.
Mildred Joana afirma também que, com
maior perplexidade ainda, leu o artigo “A verdadeira face dos lanches do TJ” do
diretor financeiro do TJ-GO, Euzébio Ribeiro. De fato, em resposta ao meu
artigo, ele informa que “os investimentos mencionados referem-se a despesas
gerais de fornecimento de lanches e/ou refeições envolvendo cerca de 400
magistrados e 7.100 servidores/colaboradores, alocados nas diversas Comarcas do
Estado de Goiás”.
O meu e-mail - continua Mildred
Joana - “tem a finalidade de esclarecer que nós, servidores da Comarca de Rio
Verde, não devemos estar contemplados entre estes ‘7.100
servidores/colaboradores’, pois aqui não é servido lanche aos servidores. Pelo
contrário, quem sente fome aqui é compelido a comprar seu subsídio na
lanchonete existente no prédio do Fórum, com o dinheiro proveniente dos seus
proventos, ou trazer de casa”. Insiste dizendo: “Repito, não são servidos
lanches aos funcionários desta Comarca”.
Através de pesquisa, a servidora de
Rio Verde constatou depois que apenas nas Comarcas de Goiânia, Anápolis, Alto
Paraíso e Caldas Novas serve-se somente pão aos servidores. Nas Comarcas de
Jataí, Luziânia, Itumbiara, Trindade, Goianápolis, Rialma e Formosa, a situação
é a mesma de Rio Verde.
O diretor do Sindicato dos
Servidores e Serventuários da Justiça do Estado de Goiás (Sindjustiça), Fábio
Pereira de Queiroz, cobrou do diretor financeiro do TJ uma explicação e ele -
sempre segundo a servidora de Rio Verde - “garantiu que as verbas são
destinadas às Comarcas (Fundo Rotativo), após solicitadas pelo Juiz diretor do
Fórum - e que não sabe explicar o motivo de a finalidade não estar sendo
alcançada... Ou seja, a verba existe, mas a maioria dos servidores das Comarcas
passa fome durante o expediente por falta de lanche do TJ - só comem aquilo que
podem (quando podem) comprar!!!!”.
Pergunto: Será que o pão servido -
de 1º de janeiro a 1º de novembro de 2011 - aos funcionários de 4 Comarcas (Goiânia,
Anápolis, Alto Paraíso e Caldas Novas), mesmo incluindo algumas festas em
ocasiões especiais, custou R$ 519,9 mil? Mas que pão caro é esse! O que os
leitores acham? Não dá para suspeitar? O Ministério Público - que tem a
obrigação de exigir uma investigação séria a esse respeito - está com a
palavra. A sociedade cobra uma explicação e espera que - se forem constatados
atos de corrupção - os responsáveis sejam processados, julgados e punidos.
André Garcia, que se define um dos
muitos funcionários do TJ e que diz ter acompanhado de perto a repercussão do
caso dos lanches, critica com veemência a gritante desigualdade de tratamento
entre os juízes e desembargadores, de um lado, e aqueles que ele chama de “funcionários
inferiores”, do outro lado.
Depois conclui: “Com o salário que juízes e
desembargadores ganham, tão alto que é considerado o teto do funcionalismo
público, não deveriam ter direito a mais nenhuma regalia. Deveriam ir trabalhar
com o próprio carro, pagar a própria gasolina, pagar estacionamento, viajar a
serviço com seu próprio dinheiro, lanchar e almoçar por conta própria, não ter
direito a assessores (que são os que realmente trabalham), trabalhar umas 10
horas por dia sem intervalo e comer o pão que o diabo amassou. Isso seria
justiça real” (avestruzgarcia.blogspot.com/2011/12/lanches-do-tjgo.html).
E é essa “justiça real” que todos/as
almejamos e que queremos fazer acontecer no Brasil e no mundo de hoje.
Diário da Manhã, Goiânia,
22/12/11, p. 13
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG
(aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em
Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e
Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato
Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da
Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
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