"Para que toda a humanidade se abra à esperança de um MUNDO NOVO" (Oração Eucarística VI-D)
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sexta-feira, 15 de junho de 2012
Em solidariedade aos coletores de lixo
“Pegamos o lixo da cidade
e somos tratados como lixo”
(Coletor Samuel de Oliveira)
No dia 29 de maio/12, os coletores de lixo da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), trabalhadores que merecem todo o nosso respeito e gratidão, fizeram uma manifestação em Goiânia por melhorias nas condições de trabalho. Após a manifestação, três coletores de lixo receberam aviso prévio do órgão e um deles, Samuel de Oliveira, desabafou: “Reivindicamos nossos direitos e fomos mandados embora. Pegamos o lixo da cidade e somos tratados como lixo”.
Segundo os trabalhadores, o número de caminhões para realizar a coleta na capital não é suficiente e, além disso, eles estão sucateados. Os responsáveis pela Comurg - diz o coletor - “falam que os caminhões estão sendo revisados toda semana, mas isso é mentira. Muitos trabalhadores relatam que a correia utilizada para segurar na carroceria é improvisada com retalhos”.
Sempre segundo os trabalhadores, há ainda sobrecarga de trabalho e falta de equipamentos de proteção obrigatórios. O servidor Paulo Roberto diz: “Estamos indignados com toda a situação. O que nós fizemos (no dia 29/05) foi apenas uma manifestação, reivindicando melhorias nas condições de trabalho”.
O motorista da Comurg, Joaquim Custódio, confirma a versão dos trabalhadores. “O número de acidentes está acima do normal. Os coletores continuamente cortam as mãos com cacos de vidro e batem os pés e as canelas nas barras de ferro dos caminhões” (http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/05/pegamos-o-lixo-da-cidade-e-somos-tratados-como-lixo-diz-gari-em-go.html - 30/05/12).
Dia 29 de maio/12, um caminhão da Comurg se envolveu em um acidente no Setor Novo Horizonte, causando a morte do motorista de uma caminhonete. O veículo da Prefeitura perdeu o freio e bateu de frente com a caminhonete. O motorista do órgão municipal e os coletores ficaram feridos, mas foram liberados logo em seguida. Se a perícia constatar que o acidente - que provocou a morte do motorista - foi causado pelo mau estado de conservação do caminhão, o Governo Municipal deverá responder judicialmente
Ailma Maria de Oliveira - num e-mail enviado ao Diário da Manhã e publicado na edição do jornal do dia 8 deste mês - diz: “As péssimas condições de trabalho na Comurg têm levado trabalhadores/as a se manifestarem contra essa precarização. Além da falta de manutenção necessária aos equipamentos, alta jornada de trabalho, assédio moral, falta de banheiros e até falta de água potável para os trabalhadores/as na coleta de lixo demonstram essa precariedade”.
Sempre segundo o e-mail de Ailma Maria, a resposta da Comurg - que já tinha dado o aviso prévio a três trabalhadores - “foi a demissão de quase duas dezenas de manifestantes, pais de família que encabeçaram o movimento. Pais de família que se recusaram a sair com caminhões em péssimas condições de funcionamento. Pais de família que se recusaram a trabalhar sem descanso. Pais de família que resolveram pedir ajuda para manter a cidade de Goiânia limpa, arborizada e iluminada com valorização e respeito aos trabalhadores” (Diário da Manhã, 08/06/12, OpiniãoPública, p. 01).
Que falta de respeito do Poder Público Municipal para com os nossos irmãos/ãs trabalhadores/as! Que humilhação! A Comurg procura intimidar os trabalhadores/as - que ganham salários miseráveis (trabalhando quase de graça) - com ameaças e demissões injustas, para que não façam manifestações e não promovam greves. O Poder Público Municipal (como também o Estadual e o Federal), para justificar sua prática política autoritária e opressora, sempre criminaliza os trabalhadores.
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), que (segundo o e-mail de Ailma Maria) resolveu intervir e contribuir com a organização dos trabalhadores/as da Comurg, poderia disponibilizar advogados trabalhistas para defender judicialmente os trabalhadores/as demitidos.
Enfim, pergunto: Será que o presidente da Comurg, Luciano Henrique de Castro, antes de dar o aviso prévio aos trabalhadores/as injustamente demitidos, teve ao menos a preocupação de conhecer a situação em que se encontram suas famílias? Infelizmente, nem isso acontece! As relações de trabalho no sistema capitalista - principalmente em relação aos trabalhadores mais pobres e que merecem mais respeito - são legal e estruturalmente cruéis, iníquas, desumanas e antiéticas.
O Governo Municipal de Goiânia, que se diz do Partido dos Trabalhadores, decepcionou a todos/as, que acreditam numa “outra” política. O partido - que no passado suscitou tanta esperança nos trabalhadores - tornou-se (com a exceção de algumas poucas correntes políticas que procuram manter a fidelidade ao projeto fundacional) o Partido dos Traidores dos trabalhadores/as.
Profundamente indignado com o tratamento dispensado aos coletores de lixo de Goiânia e demais trabalhadores/as da Comurg, espero que o Prefeito Paulo Garcia tome as providências necessárias para reparar tamanha injustiça.
As manifestações e - em última instância - as greves por melhorias nas condições de trabalho são legítimas, são um direito dos trabalhadores/as e o Poder Público deve respeitá-las.
A Comurg afirma que estranhou as manifestações dos trabalhadores, porque - segundo ela - já estava negociando com o Sindicato da categoria e a maioria das reivindicações estava sendo atendida. Será que é verdade ou enganação? Os trabalhadores não iriam fazer manifestações sem motivos. Em todo caso, mesmo se for verdade, as manifestações tem o objetivo de alertar e pressionar a Prefeitura para que atenda, com maior rapidez, às reivindicações dos trabalhadores/as.
Termino com as palavras do Deuteronômio: “Não explore um assalariado pobre e necessitado, seja ele um de seus irmãos ou imigrante que vive em sua terra, em sua cidade. Pague-lhe o salário a cada dia, antes que o sol se ponha, porque ele é pobre e sua vida depende disso” (24, 14-15).
http://www.dmdigital.com.br/novo/#!/view?e=20120615&p=20
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG aposentado
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
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