Dia
20 de junho do corrente ano: uma data histórica. O gigante, que parecia
adormecido, acorda e um novo Brasil emerge com toda força. O Brasil, antes do
dia 20, é um e, depois do dia 20, é outro. O dia 20 é o ponto alto de uma
maciça e - ao que tudo indica - duradoura mobilização nacional sem precedentes
e que surpreendeu a todos e todas. O povo nas ruas - a grande maioria jovens -
mostra publicamente sua profunda indignação, exigindo mudanças e reivindicando
seus direitos.
Nas manifestações, que se espalham
pelo Brasil afora, sobretudo nas grandes cidades e capitais do país, as
bandeiras de luta levantadas são muitas. A gota d’água, que provocou o
transbordamento desta onda de insatisfações, protestos e reivindicações, foi o
aumento das tarifas do transporte coletivo.
No
dia 20 deste mês, o Movimento Passe Livre (MPL) foi às ruas contra o aumento
das tarifas. “A manifestação de hoje - diz o Movimento - faz parte dessa luta:
além da comemoração da vitória popular da revogação, reafirmamos que lutar não
é crime e demonstramos apoio às mobilizações de outras cidades. Contudo, no ato
de hoje presenciamos episódios isolados e lamentáveis de violência contra a
participação de diversos grupos. O MPL luta por um transporte verdadeiramente
público, que sirva às necessidades da população e não ao lucro dos empresários.
Assim, nos colocamos ao lado de todos que lutam por um mundo para os debaixo e
não para o lucro dos poucos que estão em cima. Essa é uma defesa histórica das
organizações de esquerda, e é dessa história que o MPL faz parte e é fruto.
O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário. Repudiamos os
atos de violência direcionados a essas organizações durante a manifestação de
hoje, da mesma maneira que repudiamos a violência policial. Desde os primeiros
protestos, essas organizações tomaram parte na mobilização. Oportunismo é
tentar excluí-las da luta que construímos juntos. Toda força para quem luta por
uma vida sem catracas”
(http://saopaulo.mpl.org.br/2013/06/21/sobre-o-ato-de-5a-206-nota-publica/).
As manifestações do MPL continuam em todo o Brasil.
O
Movimento “Vem pra rua e muda o Brasil!” elaborou - numa petição pública - uma
ampla pauta de reivindicações: A revogação em âmbito nacional de todos os
aumentos de tarifas do transporte público urbano (que já é uma vitória do
povo) e a realização de estudos e audiências públicas a respeito da "tarifa
zero". A troca do comando geral da PM nos Estados onde a repressão
policial passou dos limites, a punição aos policiais envolvidos nas
agressões e excessos, e a criação de um protocolo nacional para atuação da PM
em manifestações populares. O comprometimento do Governo Federal com a
destinação de 10% do PIB para
investimentos em educação, incluindo a valorização pessoal e salarial de
funcionários e professores. A abertura da CPI das Copas, com auditoria séria de todas as obras relacionadas
e restituição aos cofres públicos dos valores superfaturados. A revogação do
decreto 8.028/13, chamado de “Bolsa-Copa”. A saída de Renan Calheiros da
presidência do Senado, de Henrique Eduardo Alves da presidência da Câmara dos
deputados federais, de Guido Mantega do cargo de ministro da Fazenda e de
Marcos Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humano da Câmara dos
deputados. A retirada das PEC 33 e 37 da pauta do Congresso Nacional.
Esclarecemos
que a PEC 33 tem como principal objetivo restringir a atuação do Supremo
Tribunal Federal (STF), a mais alta Corte judiciária brasileira. Esta proposta
pretende alterar a quantidade mínima de votos de membros do STF para declaração
de inconstitucionalidade de leis. A PEC 37 (que pretendia impedir promotores e
procuradores de promover investigações criminais, restringindo esta atribuição
às polícias civil e federal, ambos vinculados ao Poder Executivo) já foi
rejeitada, por ampla maioria, pelos deputados federais, na noite de ontem, dia
25, e representa mais uma vitória do povo.
Continuam
as reivindicações do Movimento “Vem pra rua e muda o Brasil!”. Fim do Foro
privilegiado, que fere o artigo 5º da Constituição Brasileira. e fim do
voto secreto no Congresso Nacional. A conclusão do processo do mensalão e
cumprimento das condenações, tanto dos sentenciados à prisão, como dos que
receberam penas menores e tem direito à prestação de serviços comunitários ou
cumprimento da pena em regime semiaberto. Chega de corrupção!
O
Movimento conclui a lista de reivindicações dizendo: “Não esqueçam que isso é
só o começo! O gigante está acordado! Vem para rua e muda o Brasil! (Vejam a íntegra das reivindicações em: http://www.avaaz.org/po/petition/LISTA_DE_REIVINDICACOES_DO_MOVIMENTO_VEM_PRA_RUA_E_MUDA_O_BRASIL/?eOxTZab).
Além
das reivindicações acima, que merecem todo nosso apoio, acrescento duas, que
foram levantadas pelo povo nas ruas e que são de fundamental importância. A
primeira é a luta pelo comprometimento dos Governos Federal, Estaduais e
Municipais com a saúde pública. O direito à saúde é o próprio direito à vida e
a questão da saúde pública - que atualmente é uma calamidade em quase todo o
Brasil - deve ser prioridade absoluta, ou seja, a prioridade das prioridades. À
política de saúde pública não deve ser destinado somente 5 ou 10% do PIB, mas tudo o que for necessário para um
atendimento de qualidade para todos e todas. A segunda é a luta pela
descriminalização dos movimentos sociais populares, dos trabalhadores e dos
pobres em geral.
Nestes
dias, representantes de movimentos sociais populares - sempre abertos, embora
com autonomia, ao diálogo com o Poderes Públicos, Federal, Estaduais e
Municipais - realizaram, e continuam realizando, reuniões em busca de uma maior
unidade e de uma melhor definição da pauta conjunta de reivindicações, que -
como tudo indica - gira em torno dos seguintes eixos temáticos: direitos
humanos, Justiça e criminalização, reforma e participação política, mídia e
comunicação, transformações estruturais e serviços públicos, e Copa do Mundo
Enfim, ainda é cedo para prever o resultado das
manifestações e avaliar suas conseqüências, mas uma coisa é certa: elas revelam a insatisfação acumulada
da população (que não aguenta mais) e apontam para mudanças estruturais (não só
para reformas), ou seja, para um novo modelo econômico e um novo modelo de
sociedade.
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