sexta-feira, 21 de junho de 2013

Saúde pública ou vergonha pública?

          Sabemos que em teoria o SUS é um dos melhores planos de saúde pública. Tem todas as condições para oferecer um atendimento de primeira qualidade. Cito, como exemplo, o SUS da Região Noroeste de Goiânia. O Distrito Sanitário da Região, situado na Vila Mutirão, tem três Centros de Apoio Integral à Saúde - CAIS (J. Curitiba, Finsocial e Setor Cândida de Morais), um Núcleo de Apoio à Saúde da Família - NASF (Bairro S. Carlos), um Centro de Atenção Psicossocial - CAPS Noroeste (Jardim Liberdade), a Maternidade Nascer Cidadão (Jardim Curitiba) e 15 Unidades de Atenção Básica à Saúde da Família - UABSF (em diversos Bairros da Região). Trata-se de uma organização, que é uma conquista do povo, através do Forum de Saúde Noroeste, e que, aparentemente, tem tudo para funcionar bem.
            Só a UABSF do Bairro Boa Vista, que foi inaugurada no dia 21 de janeiro deste ano, substituindo duas antigas Unidades da Região (Bairro Floresta e Bairro Boa Vista), possui em sua estrutura física serviços de odontologia, consultório médico, sala de observação, sala de vacina, sala de curativos, auditório e uma ampla farmácia. Tem - sempre em teoria - condições de atender 4 mil famílias do Bairro e também dos Bairros Floresta e São Domingos.
            Infelizmente, porém, a realidade é outra. Os fatos mostram que, na prática, a saúde não é, para o Poder Público, prioridade e, muito menos, prioridade absoluta (ou, prioridade das prioridades). O direito à saúde - que é o direito à vida - é o primeiro de todos os direitos. Podem, em tese, faltar recursos para outras prioridades, mas nunca podem faltar para a saúde. Pergunto: Por que para obras faraônicas, para propaganda governamental com gastos astronômicos, para viagens oficiais com mordomias mirabolantes e para sofisticadas reformas de estádios em preparação à Copa do Mundo sempre tem verbas? Na saúde, o Poder Público não deve aplicar 5 ou 10 %, mas tudo o que for necessário para o bem-estar do povo, sobretudo, dos pobres. A vida em primeiro lugar!
           
           Entre as muitas que poderiam ser lembradas, cito - como amostras - duas situações calamitosas, que naturalmente suscitam a pergunta: será que se trata de saúde pública ou vergonha pública? A primeira é a situação deprimente da saúde pública da própria Região Noroeste de Goiânia. Em todas as Unidades de Saúde há uma falta crônica de material hospitalar básico e de profissionais: médicos, enfermeiros, agentes de saúde da família, gestores, dentistas e outros funcionários. Na maioria das vezes, o povo ou não é atendido em tempo hábil ou é mal atendido. Ó descaso é tanto que clama por justiça diante de Deus. 
Um vídeo enviado à TV Anhanguera pelo telespectador João Paulo Araújo e postado nas redes sociais mostra uma mulher - cujo nome é Letícia Leite Machado, de 34 anos - que, sentada no banco, deu à luz uma criança na recepção da Maternidade Nascer Cidadão, em Goiânia. As imagens, gravadas na noite de terça-feira (dia 11 deste mês), mostram o momento em que o bebê cai no chão, batendo a cabeça e com muito sangue ao seu redor. Mostram também o momento em que, em seguida, o bebê é recolhido por um médico da Unidade de Saúde, a maior da Região Noroeste de Goiânia e que é considerada referência em parto humanizado. O caso, que chocou a todos /as, causou repercussão nacional e indignação geral.
Vejam - a respeito do caso - o depoimento de Thainy Prudência da Silva (esposa de João Paulo que, grávida de 10 semanas, aguardava atendimento). “Quando eu cheguei (por volta das 19h), (a mulher, que passou a tarde toda na Maternidade) estava gritando de dor na sala de uma médica residente, que a atendeu. Ela já saiu da sala sangrando e ficou aguardando no banco. Ela gritava 'gente, me ajuda, vai nascer', mas teve até uma enfermeira que riu dela".  Thainy, que classificou a cena como a mais desumana que já viu e ainda se emociona ao falar do episódio, afirmou: "Eu nunca pensei na minha vida que fosse presenciar uma coisa dessas. Todas as grávidas que estavam lá ficaram indignadas. Quando a criança nasceu (às 20h), comecei a chorar". (http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/06/mulher-da-luz-em-saguao-de-maternidade-e-bebe-cai-veja-video.html).
É realmente uma vergonha pública! Graças a Deus, apesar de tanto sofrimento, mãe e bebê passam bem.
O secretário municipal de Saúde, Fernando Machado, depois de afastar temporariamente todo o corpo técnico para instaurar uma sindicância e apurar as responsabilidades, no dia 17 do mês corrente, constatou (não tinha como não constatar) a falha da gestão da Maternidade e substituiu o diretor técnico, Jony Rodrigues Barbosa e o diretor administrativo, Benômio Pereira Vaz. Sem querer negar a responsabilidade pessoal dos gestores da Unidade de Saúde, esperamos que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) crie as condições necessárias para um atendimento respeitoso e nunca mais se repitam casos como esse.
A segunda situação - que cito como amostra - é da cidade de Anápolis. No início de maio deste ano, uma adolescente, de 12 anos, morreu porque os pais não encontraram vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica na cidade. Depois do fechamento para reforma da Unidade do Hospital Evangélico Goiano (HEG), Anápolis passou a dispor de apenas sete leitos, oferecidos pela Santa Casa de Misericórdia”. Que absurdo! Que descaso!
Para a médica pediatra Gina Tronconi, “uma cidade com uma população próxima dos 400 mil habitantes e que abriga pacientes de pelo menos 30 outras cidades do Estado, não pode dispor de apenas 7 leitos de UTI pediátrica. O mínimo necessário para nossa cidade - diz ela - seriam 20 leitos”. Já o enfermeiro-chefe da Santa Casa de Misericórdia de Anápolis, Júlio César Gomes, “entende que 30 leitos só para Anápolis ainda seriam insuficientes, considerando a demanda que a Santa Casa tem para esse tipo de serviço”.
Deixar uma adolescente (ou qualquer outra pessoa) morrer por falta de leito na UTI, como se fosse uma coisa normal, é crime e o criminoso é o Poder Público, Estadual e Municipal. Se tivesse justiça, os responsáveis seriam processados, julgados e condenados.
Seguindo o exemplo de Irmã Katherine Popowich, que acreditou no SUS e trabalhou incansavelmente pela saúde pública (sobretudo na Região Noroeste de Goiânia), unidos e sem nunca perder a esperança, continuemos a luta pelo direito à saúde, que é de todos e de todas. Uma outra sociedade é possível e necessária! 


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