domingo, 30 de agosto de 2015

Discurso de Francisco aos participantes do 2º EMMP - Vocês são semeadores de mudança -


            Neste 3º artigo sobre o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares destaco o segundo ponto marcante do Discurso do Papa Francisco: vocês são semeadores de mudança.
            Com simplicidade e ternura de irmão, Francisco diz: “aqui, na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: ‘processo de mudança’. A mudança concebida não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social. Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir”.
Por isso - continua o Papa - “gosto tanto da imagem do processo, onde a paixão por semear, por regar serenamente o que outros verão florescer, substitui a ansiedade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos. Cada um de nós é apenas uma parte de um todo complexo e diversificado interagindo no tempo: povos que lutam por uma afirmação, por um destino, por viver com dignidade, por ‘viver bem’”. É a sociedade do bem viver e do bem conviver.
Confiando nos Movimentos Populares, Francisco declara: “vocês, a partir dos Movimentos Populares, assumiram as tarefas comuns motivados pelo amor fraterno, que se rebela contra a injustiça social. Quando olhamos o rosto dos que sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do trabalhador excluído, do indígena oprimido, da família sem teto, do imigrante perseguido, do jovem desempregado, da criança explorada, da mãe que perdeu o seu filho num tiroteio porque o bairro foi tomado pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua filha porque foi sujeita à escravidão; quando recordamos estes ‘rostos e nomes’, estremecem-nos as entranhas diante de tanto sofrimento e comovemo-nos…”.
Com sentimentos de compaixão, ou seja, de partilha da dor dos irmãos e irmãs, o Papa lembra as razões dessa comoção e afirma: “porque ‘vimos e ouvimos’ não a fria estatística, mas as feridas da humanidade dolorida, as nossas feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente da teorização abstrata ou da indignação elegante. Isto comove-nos, move-nos e procuramos o outro para nos movermos juntos. Esta emoção feita ação comunitária é incompreensível apenas com a razão: tem um algo mais de sentido que só os povos entendem e que confere a sua mística particular aos verdadeiros Movimentos Populares”.
Como irmão e companheiro de caminhada, Francisco reconhece: “vocês vivem, cada dia, imersos na crueza da tormenta humana. Falaram-me das suas causas, partilharam comigo as suas lutas. E agradeço-vos. Queridos irmãos, muitas vezes trabalharam no insignificante, no que aparece ao seu alcance, na realidade injusta que vos foi imposta e a que não vos resignais, opondo uma resistência ativa ao sistema idólatra que exclui, degrada e mata”. Reparem as palavras do Papa: “sistema idólatra que exclui, degrada e mata”. Meditemos!
Com muito realismo, o Papa diz: “vi vocês trabalharem incansavelmente pela terra e a agricultura camponesa, pelos vossos territórios e comunidades, pela dignificação da economia popular, pela integração urbana das vossas favelas e agrupamentos, pela autoconstrução de moradias e o desenvolvimento das infraestruturas do bairro e em muitas atividades comunitárias que tendem à reafirmação de algo tão elementar e inegavelmente necessário como o direito aos ‘3 T’: terra, teto e trabalho”.
E acrescenta: “este apego ao bairro, à terra, ao território, à profissão, à corporação, este reconhecer-se no rosto do outro, esta proximidade no dia-a-dia, com as suas misérias e os seus heroísmos quotidianos, é o que permite realizar o mandamento do amor, não a partir de ideias ou conceitos, mas a partir do genuíno encontro entre pessoas, porque não se amam os conceitos nem as ideias; amam-se as pessoas. A entrega, a verdadeira entrega nasce do amor pelos homens e mulheres, crianças e idosos, vilarejos e comunidades... Rostos e nomes que enchem o coração”.   Diz ainda Francisco: “a partir destas sementes de esperança, semeadas pacientemente nas periferias esquecidas do planeta, destes rebentos de ternura que lutam por subsistir na escuridão da exclusão, crescerão grandes árvores, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo”.
E constata: “vejo, com alegria, que vocês trabalham no que aparece ao vosso alcance, cuidando dos rebentos; mas, ao mesmo tempo, com uma perspectiva mais ampla, protegendo o arvoredo. Trabalham numa perspectiva que não só aborda a realidade setorial, que cada um de vocês representa e na qual felizmente está enraizado, mas procuram também resolver, na sua raiz, os problemas gerais de pobreza, desigualdade e exclusão”.
Parabeniza, pois, os participantes dos Movimentos Populares, mostrando a confiança que tem em suas lutas: “felicito-vos por isso. É imprescindível que, a par da reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e as suas organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização da exclusão”. Com profunda convicção, ele reconhece: “vocês são semeadores de mudança”.
Por fim, o Papa faz uma oração: “que Deus vos dê coragem, alegria, perseverança e paixão para continuarem a semear. Podem ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, vamos ver os frutos”. Dirigindo-se, pois, às lideranças, ele pede: “sejam criativos e nunca percam o apego às coisas próximas, porque o pai da mentira sabe usurpar palavras nobres, promover modas intelectuais e adotar posições ideológicas, mas se vocês construírem sobre bases sólidas, sobre as necessidades reais e a experiência viva dos seus irmãos, dos camponeses e indígenas, dos trabalhadores excluídos e famílias marginalizadas, com certeza não se equivocarão”.
Francisco conclui dizendo: “a Igreja não pode nem deve ser alheia a este processo no anúncio do Evangelho. Muitos sacerdotes e agentes pastorais realizam uma tarefa imensa acompanhando e promovendo os excluídos em todo o mundo, ao lado de cooperativas, dando impulso a empreendimentos, construindo casas, trabalhando abnegadamente nas áreas da saúde, esporte e educação. Estou convencido de que a cooperação amistosa com os Movimentos Populares pode robustecer estes esforços e fortalecer os processos de mudança”. Será que nós, cristãos e cristãs, estamos convencidos e convencidas disso?

E faz mais um pedido: “no coração, tenhamos sempre a Virgem Maria, uma jovem humilde duma pequena aldeia perdida na periferia dum grande império, uma mãe sem teto, que soube transformar um curral de animais na casa de Jesus com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Maria é sinal de esperança para os povos que sofrem dores de parto até que brote a justiça. Rezo à Virgem do Carmo, padroeira da Bolívia, para fazer com que este nosso Encontro (reparem: este “nosso” Encontro) seja fermento de mudança”. É o que todos e todas nós desejamos!


Fr Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 19 de agosto de 2015 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Discurso de Francisco aos participantes do 2º EMMP - Precisamos e queremos uma mudança de estruturas -


            Neste 2º artigo sobre o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares destaco o primeiro ponto marcante do Discurso do Papa Francisco: precisamos e queremos uma mudança de estruturas.
            Com firmeza, Francisco declara: “começamos por reconhecer que precisamos duma mudança”. Para que não haja mal-entendidos, ele esclarece: “falo dos problemas comuns de todos os latino-americanos e, em geral, de toda a humanidade. Problemas que têm uma matriz global e que atualmente nenhum Estado pode resolver por si mesmo”. Depois deste esclarecimento, o Papa propõe que nos coloquemos três perguntas.
Primeira: “reconhecemos que as coisas não andam bem num mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade?”
Segunda: “reconhecemos que as coisas não andam bem, quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apodera até dos nossos bairros?”
Terceira: “reconhecemos que as coisas não andam bem, quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça constante?”
Afirma, pois, com objetividade: “então digamo-lo sem medo: precisamos e queremos uma mudança”.
Fraternal e carinhosamente, o Papa lembra: “nas cartas de vocês e nos nossos encontros, relataram-me as múltiplas exclusões e injustiças que sofrem em cada trabalho, em cada bairro, em cada território. São tantas e tão variadas como muitas e diferentes são as formas próprias de as enfrentar. Mas há um elo invisível que une cada uma destas exclusões: conseguimos reconhecê-lo? É que não se trata de questões isoladas”.
Com realismo, Francisco diz ainda: “pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim - insisto - digamo-lo sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos.... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”.
O Papa continua insistindo: “queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que atinja também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença”. Pela coragem de dizer a verdade e pela clareza de suas palavras, Francisco é realmente um grande profeta do nosso tempo!
Como um irmão e companheiro de caminhada, o Papa afirma: “hoje quero refletir com vocês sobre a mudança que queremos e precisamos. Como sabem, recentemente escrevi sobre os problemas da mudança climática. Mas, desta vez, quero falar duma mudança noutro sentido. Uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança - poderíamos dizer - redentora. Porque é dela que precisamos. Sei que vocês buscam uma mudança e não apenas vocês: nos diferentes encontros, nas várias viagens, verifiquei que há uma expectativa, uma busca forte, um anseio de mudança em todos os povos do mundo. Mesmo dentro da minoria cada vez mais reduzida que pensa sair beneficiada deste sistema, reina a insatisfação e sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os liberte desta tristeza individualista que escraviza”.
Francisco - sempre com clareza - continua dizendo: “o tempo, irmãos e irmãs, parece exaurir-se; já não nos contentamos com lutar entre nós, mas chegamos até a ter o assanhamento de lutar contra a nossa casa. Hoje, a comunidade científica aceita aquilo que os pobres já há muito denunciam: produzem-se danos talvez irreversíveis no ecossistema. Castiga-se a terra, os povos e as pessoas de forma violenta”.
 E ainda: “por trás de tanto sofrimento, tanta morte e destruição, sente-se o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia chamava ‘o esterco do diabo’: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o ser humano, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum”.
Em tom coloquial, o Papa continua dizendo: “não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura subtil: vocês os conhecem! Mas também não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de um certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo ilusório ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crônica dos crimes de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer, além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos”.
Identificando-se com os trabalhadores e trabalhadoras explorados e oprimidos, ele declara: “que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos trabalhistas? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador, que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, do meu povoado, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas?”
Francisco - que confia plenamente nos trabalhadores e trabalhadoras -  responde: “Muito! Podem fazer muito”. Vocês, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podem e fazem muito”.
Em sua opção pelos pobres, que, na realidade, é uma entranhável solidariedade para com eles, o Papa conclui: “atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas mãos de vocês, na capacidade de vocês se organizarem e promoverem alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (trabalho, teto, terra), e também na participação de vocês como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!”.
Como já disse, estamos diante de uma revolução evangélica. Na qualidade de “profetas e profetisas da vida”, participemos dessa revolução!
(Leia também: “2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares: seu significado”, em:




Fr Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 12 de agosto de 2015 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares: seu significado

            
Entre os dias 7 e 9 de julho último aconteceu o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (2º EMMP), em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), que reuniu cerca de 1.500 militantes de 40 países. A delegação brasileira contou com 200 representações de diversos Movimentos Populares do país.
No primeiro dia do Encontro, após a mística de abertura, aconteceu o painel “Mãe Terra”, que trouxe importantes dados a respeito do controle que as multinacionais têm sobre a alimentação da humanidade. No debate, dezenas de líderes camponeses relataram a luta em seus países pela soberania alimentar e por um planeta sustentável. O destaque foi a importante participação das mulheres camponesas e indígenas, que com muita garra defendem suas terras e seu povo da gana imperialista, que expulsa os povos originários de suas terras e impõe cruéis e injustas leis de mercado.
Em seguida, os participantes do Encontro receberam a visita do presidente indígena da Bolívia, Evo Morales, que deu as boas vindas a todos e a todas, ressaltando a importância dos Movimentos Populares na luta contra o imperialismo.
No dia seguinte, de manhã, foi a vez do painel “Trabalho”, que reuniu lideranças sindicais de vários países para contar suas experiências de trabalhadores e trabalhadoras na luta contra a exploração e por direitos.
À tarde do mesmo dia, o tema principal foi “A luta pelo teto”. Teve depoimentos de Movimentos Populares do Brasil, Índia, África, Bolívia e Peru sobre suas experiências de luta, cooperativismo e autoconstrução.
No dia 9 aconteceu o Encontro com o Papa Francisco e o presidente Evo Morales, que - depois do Discurso do Papa - encerraram o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (cf. http://averdade.org.br/2015/07/encontro-mundial-dos-movimentos-populares-acontece-na-bolivia/).
Antes de tudo, quero reafirmar o que escrevi no artigo “O significado do 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares”, que representa uma verdadeira revolução na Igreja, uma “revolução evangélica” radical (em: http://www.dm.com.br/texto/198692-o-significado-do-encontro-mundial-de-movimentos-populares ou http://freimarcos.blogspot.com.br/search?updated-max=2014-12-03T14:30:00-08:00&max-results=7&start=28&by-date=false e outros sites).
            Neste artigo (o primeiro de uma série) faço algumas considerações e reflexões sobre o significado do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Em outros artigos - não necessariamente na sequência cronológica - destacarei os pontos mais marcantes do Discurso do Papa aos participantes do 2º Encontro e da declaração final do mesmo, a “Carta de Santa Cruz”, que (como já disse a respeito do 1º Encontro) são luzes para a nossa militância nas Pastorais Sociais e Ambientais, e nos Movimentos Populares.
Qual é, pois, o significado do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares? O que ele representa? Em primeiro lugar, o 2º Encontro tem o objetivo de dar continuidade ao 1º, realizado no Vaticano (Roma - Itália), de 27 a 29 de outubro de 2014. Em segundo lugar, tem também o objetivo de retomar, ampliar e aprofundar os temas refletidos e debatidos no 1º Encontro. O fato que o 2º Encontro tenha sido realizado pouco tempo depois do 1º (ninguém imaginava isso) é um sinal de que a revolução na Igreja (da qual falei no 1º Encontro) - uma “revolução evangélica” radical - está dando os primeiros passos com muita rapidez. É certamente o Espírito Santo (o Amor de Deus) que está presente e age na história do ser humano e do mundo.
             O Papa Francisco, em seu Discurso aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, coloca-se no meio deles e delas - num plano de igualdade - como um irmão, que está em plena sintonia com os anseios e as aspirações dos Movimentos Populares. Dirige-se aos irmãos e irmãs desses Movimentos com toda simplicidade, ternura e confiança.
            Depois de saudar a todos e a todas com uma “Boa tarde!” muito carinhosa, Francisco faz uma saudosa memória do 1º Encontro. “Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro Encontro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-los de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado, senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro”. E, do mais profundo do seu coração, continua dizendo: “então, em Roma, senti algo muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado!”.
Reparem agora o que Francisco diz aos cristãos e cristãs para incentivá-los a participarem ativamente dos Movimentos Populares. “Pelo Pontifício Conselho ‘Justiça e Paz’, presidido pelo Cardeal Turkson, soube também que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este encontro”.
Quanta clareza e quanta paixão nas palavras de Francisco! Ah, se as nossas Igrejas (Comunidades, Paróquias, Dioceses) entendessem e vivessem isso! Infelizmente, existem ainda muita indiferença e omissão por parte da Igreja em relação aos Movimentos Populares! Ah, se as nossas Igrejas ouvissem o apelo do Papa Francisco! Meditemos, irmãos e irmãs! As palavras de Francisco nos questionam, nos incomodam e nos levam a mudar de vida, buscando viver cada vez mais a radicalidade evangélica na sociedade e no mundo de hoje.
Sempre de coração aberto e com muita ternura, Francisco diz ainda: “Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra”.





                                                                                                                                          Fr Marcos Sassatelli,Frade dominicano
                                                                                                     Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
                                                                                                                                    Professor aposentado de Filosofia da UFG
                                                                                                                                                     E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
                                                                                                                                                        Goiânia, 05 de agosto de 2015