No dia 14 de abril do corrente ano, um colegiado de três
juízes do Governo ditatorial do Estado de Goiás (entre os quais o juiz da Comarca
de Santa Helena de Goiás) expediu mandado de prisão contra os agricultores Luiz
Batista Borges, Diessyka Santana e Natalino de Jesus, integrantes do
acampamento Pe. Josimo e o geógrafo José Valdir Misnerovicz, conhecido nacional
e internacionalmente como militante e defensor da Reforma Agrária.
Luiz
foi preso - no mesmo dia 14 de abril - ao atender convite para prestar
esclarecimentos na Delegacia local e, diante disso, os outros três buscaram
proteger-se contra a determinação judicial.
Na
tarde do dia 31 de maio foi preso também - em Veranópolis, no Rio Grande do Sul
- Valdir Misnerovicz, coordenador do MST em Goiás e um dos coordenadores
nacionais.
Valdir,
que tem formação acadêmica em nível de pós-graduação (mestrado), estava
ministrando aula para jovens estudantes de cooperativismo agrícola, quando foi
surpreendido por uma Operação - essa sim criminosa - articulada entre a Polícia
Civil de Goiás e do Rio Grande do Sul.
“O
absurdo que salta aos olhos neste processo é que o MST, pela primeira vez, foi
enquadrado na Lei nº 12.850/2013, que tipifica as Organizações Criminosas. A
decisão judicial, ao que tudo indica, foi articulada com o Governo Estadual. Dois
dias antes, em 12 de abril, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de
Goiás, havia baixado a portaria nº 446, que impunha às Polícias Civil e Militar
estado de ‘prontidão’, por dois meses, para suposta ‘proteção da ordem pública
e da paz social’, para acompanhar ‘possíveis delitos em conflitos urbanos e
rurais’. A Secretaria de Segurança antevia violentas manifestações no caso da
prisão de dirigentes do Movimento” (MST e mais 13 Entidades. Nota pública: Lutar
pela terra, um exercício de cidadania. Goiânia, 2 de junho de 2016).
Acusar
os Movimentos Populares de serem Organizações Criminosas e suas lideranças membros
ou chefes dessas Organizações é uma iniquidade diabólica, que clama por justiça
diante de Deus. É essa iniquidade que inúmeras Notas ou Moções de solidariedade
do Brasil e do mundo inteiro denunciam.
Infelizmente,
porém (digo isso com muita dor no coração) temos também pessoas mesmo da Igreja
que - por estarem com o rabo preso e com medo de se comprometer publicamente, reconhecem
a “honestidade pessoal” (o que é louvável) de trabalhadores presos, mas não
denunciam a injustiça institucionalizada que está por trás dessas prisões.
Fazer isso é ser omissos, covardes e - no caso de cristãos - traidores do
Evangelho.
Como homem de Fé, Frade Dominicano e Padre, faço agora uma denúncia-advertência aos responsáveis -
diretos ou indiretos - por essa situação criminosa: do Governo ditatorial do
Estado de Goiás e do Governo Federal do “golpista interino” Michel Temer (seja
do Executivo, seja do Judiciário, seja do Legislativo).
Lembrem: as maldições que Deus proferiu
contra os opressores do povo, pela voz dos Profetas e do próprio Jesus de Nazaré,
Ele as profere hoje contra vocês.
“Ai
daqueles que juntam casa com casa e emendam campo a campo, até que não sobre
mais espaço e sejam os únicos a habitarem no meio do país!” (Is 5,8).
“Ai
daqueles que fazem decretos iníquos e daqueles que escrevem apressadamente
sentenças de opressão, para negar a justiça ao fraco e fraudar o direito dos
pobres do meu povo, para fazer das viúvas a sua presa e despojar os órfãos!”
(Is 10,1).
“Ai
de vocês, os ricos, porque já têm a sua consolação! Ai de vocês, que agora têm
fartura, porque vão passar fome! Ai de vocês, que agora riem, porque vão ficar
aflitos e irão chorar!” (Lc 6,24-25).
Ao
homem rico e ganancioso - cuja terra deu uma grande colheita e dizia para si
mesmo: “meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos;
descanse, coma, beba e alegre-se” - Deus disse-lhe: “louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a
sua vida. E as coisas que você juntou, para quem vão ficar?” (cf. Lc 12,13-21).
Em
especial, Deus profere as maldições contra os senadores - coronéis e
latifundiários - Eunício de Oliveira, Ronaldo Caiado e companhia limitada, que
estão por trás de um Governo (Estadual e Federal) covarde e submisso aos seus
interesses. Pergunto: por que tanta
ganância? Lembrem: os latifúndios, que vocês estão juntando não cabem dentro de
seus caixões, mesmo que sejam de luxo!
Deus
profere também as maldições contra os juízes injustos, como os desembargadores da
1ª Câmara Criminal do Tribunal da (in)Justiça de Goiás: Ivo Favaro, que no dia
7 deste mês - como relator do processo - indeferiu o habeas corpus, impetrado
em favor de Luiz Batista (que está preso em Rio Verde - GO), e José Paganucci
Junior, Nicomedes Domingos Borges e Averlirdes A. Pinheiro de Lemos, que
acompanharam o voto do relator. O desembargador Sinval Guerra pediu vista do processo.
Os
responsáveis por essa iniquidade diabólica legalizada lembrem-se: Deus toma o
partido dos pobres e está sempre ao lado dos injustiçados! Às vezes, a justiça
de Deus pode até tardar, mas nunca falha! Tomem cuidado! Aguardem!
Povo
unido e organizado jamais será vencido! Lutar, construir Reforma Agrária
Popular!
(Acompanhem as informações sobre o
caso nos sites da CPT e do MST).
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 08 de junho de 2016
Parabéns Frei Marcos.
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