No 3º Encontro Mundial dos Movimentos
Populares (3º EMMP. Roma, 02-05/11/16) foram aprovados dois
documentos finais: “Propostas de ação transformadora assumidas
pelos Movimentos Populares do mundo em diálogo com o Papa Francisco”
e “Síntese dos trabalhos de
grupo: estratégias comuns em todas as linhas de ação”. (Os
documentos foram traduzidos por mim do texto italiano “Documenti
finali approvati al 3º Incontro Mondiale dei Movimenti Popolari”).
O 1º documento começa denunciando com
muita objetividade e clareza: “Os
descartados do sistema, homens e mulheres, reunidos no 3º EMMP,
identificam a causa comum e estrutural da crise socioambiental na
tirania do dinheiro, isto é, no sistema capitalista dominante
(reparem: no sistema capitalista dominante!) e numa ideologia que não
respeita a dignidade humana”.
Denuncia ainda: “Somos credores de uma
dívida histórica, social, econômica, política e ambiental que
deve ser saldada. Para isso, temos formulado coletivamente centenas
de propostas derivadas dos dez compromissos assumidos no Encontro de
Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, em 2015”.
Todas as propostas são importantes, mas
nesta ocasião - dizem os participantes do 3º EMMP - limitamo-nos a
partilhar as seguintes afirmações:
-
“Queremos lembrar Bertha Cáceres, porta-voz do nosso 1º Encontro, assassinada por sua luta em favor dos processos de mudança, e exigimos um fim à perseguição de todos os lutadores populares. Nossos povos defendem o direito à paz, baseada na justiça social.
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Na perspectiva de uma democracia participativa e plena, propomo-nos a fazer avançar os mecanismos institucionais que garantam o acesso efetivo dos Movimentos Populares, das comunidades originais e do povo no processo decisório em âmbito político e econômico.
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Na perspectiva da destinação universal dos bens da natureza, rejeitamos a privatização da água e exigimos que seja considerada como um bem de domínio público, em consonância com a Declaração das Nações Unidas, de modo que nenhuma pessoa seja privada do acesso a esse direito humano fundamental.
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Na perspectiva de uma reforma agrária integral e popular, propomos de proibir as patentes e a manipulação genética de todas as formas de vida, em particular, das sementes. Reafirmamos o nosso compromisso em defender a soberania alimentar e o direito humano a uma alimentação sadia, sem venenos agrícolas, para por fim aos graves problemas de nutrição, que afetam bilhões de pessoas.
-
Na perspectiva de uma reforma urbana integral, que garanta o acesso a uma casa digna e ao habitat adequado, propomos que seja declarada a inviolabilidade do domicílio familiar, para por fim aos despejos que deixam as famílias sem um teto.
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Na perspectiva da construção de pontes entre os povos, propomos de construir uma cidadania universal que, sem desconhecer as identidades originárias, derrube os muros da exclusão e da xenofobia, acolhendo todos os que são obrigados a abandonar suas casas. Temos a intenção de trabalhar em conjunto com Francisco para que tais propostas sejam transformadas em realidade concreta como direitos que devem ser exigidos e respeitados em nível local, nacional e internacional. Encorajamos as Igrejas locais a transformar em realidade as mensagens do Papa”.
Perguntemo-nos: será que as Igrejas locais
estão realmente empenhadas “em transformar em realidade as
mensagens do Papa”? Meditemos!
Em síntese, as principais exigências dos
Movimentos Populares são: o fim da perseguição de todos os
lutadores populares; o aceso efetivo no processo decisório em âmbito
político e econômico; a água como um bem de domínio público e um
direito humano fundamental; a soberania alimentar e o direito humano
a uma alimentação sadia; um salário social universal para todos os
trabalhadores/as; a declaração da inviolabilidade do domicílio
familiar e o fim dos despejos; uma cidadania universal que derrube os
muros da exclusão e da xenofobia.
Irmãos e irmãs, companheiros e
companheiras reparem o que dizem os Movimentos Populares na 7ª
afirmação: “Temos a intenção de trabalhar em conjunto com
Francisco para que tais propostas sejam transformadas em realidade
concreta como direitos que devem ser exigidos e respeitados em nível
local, nacional e internacional”. A afirmação mostra claramente
que o Papa (considerado por eles um irmão e companheiro) está de
acordo e apoia as propostas de ação transformadora dos Movimentos
Populares.
Nessas propostas eles nos oferecem um
roteiro de um programa político de governo. Ah, se os nossos
governos - ao menos os ditos populares - assumissem essas propostas!
Lutemos para que isso aconteça! É uma exigência urgente de nossa
consciência cidadã e - se formos cristãos e cristãs - também de
nossa fé! “Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado
junto é realidade”.
Fr.
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
01 de março de 2017
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