sábado, 4 de novembro de 2017

Bandidagem política


Quando pensamos que já vimos tudo o que podíamos ver e que não há mais nada a ver a respeito de bandidagem política, é justamente nesse momento que ficamos surpreendidos com novos fatos. A esperteza calculista e a perversidade premeditada de políticos e governantes (graças a Deus, não todos) são de um descaramento e de uma sem-vergonhice tão grande que não têm limites. São atitudes repugnantes e diabólicas! “Os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz” (Lc 16, 8). Hoje, temos políticos e governantes que são verdadeiros demônios a serviço dos interesses dos poderosos e dos seus próprios. São os adoradores do deus dinheiro.
A bandidagem política é fruto de um sistema econômico iníquo, que - diz o Papa Francisco - ninguém aguenta mais e precisamos muda-lo. “Toda árvore boa produz frutos bons e toda árvore má produz frutos maus. Uma árvore boa não pode dar frutos maus e uma árvore má não pode dar frutos bons” (Mt 7, 17-18).
Como amostras dessa bandidagem política - entre muitos que poderíamos lembrar - cito somente três fatos, amplamente divulgados na mídia e nas redes sociais.
Primeiro fato: Empresas privadas devem R$ 450 bilhões à Previdência. É um crime que clama por justiça diante de Deus. Essa dívida foi possível - e continua sendo possível - por causa da omissão e conivência de um Governo (Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário) covardemente submisso e totalmente conivente com os interesses da classe dominante. Por exercerem o papel de conivência criminosa com as empresas privadas, esses políticos e governantes são muito bem remunerados com dinheiro “legalmente” roubado (as leis estão a serviço dos poderosos) da classe trabalhadora.
O golpista Michel Temer (mais uma vez, nego-me a chama-lo de presidente) e seus asseclas - com a maior cara de pau - vêm a público trazendo dados falsos e dizendo que a Previdência, do jeito que está, é inviável. Querem enganar o povo e justificar a Contrarreforma da Previdência, que tem por finalidade acabar com os poucos direitos que os trabalhadores e trabalhadoras conquistaram a duras penas e com muita luta. Essa Contrarreforma, que o Governo pretende aprovar, é a decretação da “pena de morte” para os trabalhadores e trabalhadoras!
Segundo fato: A Portaria do trabalho escravo nº 1.129, do Ministério do Trabalho. É uma Portaria retrógrada e perversa, que - como afirma o Ministério Público - exclui da definição de trabalho escravo quase 90% dos processos. Que vergonha para o Brasil!
Terceiro fato: A negociação política para barrar a investigação de duas denúncias criminais contra o golpista Michel Temer. Essa negociação teve um custo de R$ 32,1 bilhões, que também foi pago a políticos inescrupulosos com dinheiro “legalmente” roubado dos trabalhadores e trabalhadoras.
Reparem: tudo isso só para impedir a investigação de duas denúncias criminais contra o golpista Michel Temer. Não se trata ainda de condenação ou absolvição, mas somente de investigação. Na realidade, essa maracutaia de Michel Temer é uma confissão de culpa. Se não fosse culpado, ele - Michel Temer - seria o primeiro interessado em defender a investigação para - como se costuma dizer - limpar o seu nome.
Ao invés disso, vemos o despudor do golpista quando, em pronunciamento no Palácio do Planalto - depois da votação da 2ª denúncia criminal - afirma que a rejeição do pedido de investigação pela Câmara dos Deputados é uma “conquista do Estado”. Vemos ainda sua mesquinhez quando, depois de tomar conhecimento do resultado da mesma votação, se vinga demitindo pessoas ligadas a políticos que foram a favor da investigação e que ele chama de “traidores”. Que hipocrisia! Que perversidade!
Será que Michel Temer e os políticos, seus cumplices na prática da corrupção, acreditam na justiça de Deus? Ela não se compra com dinheiro “legalmente” roubado do povo! Inclusive, Michel Temer não é mais tão novo e - pelas notícias divulgadas na mídia - parece que Deus enviou-lhe, justamente nesses dias, uma advertência! É muito bom que pense nisso enquanto há tempo! Deixo-lhe um aviso: os frutos da bandidagem política não cabem no caixão. Nele só cabem os frutos da bondade, da justiça, do amor e de todas as boas ações. Michel Temer e seus asseclas aguardem a justiça de Deus. Como diz o ditado, ela tarda, mas não falha! Um dia, se não mudarem de vida, ouvirão as palavras: “Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça” (Lc 13, 27).
Para mudar esse sistema econômico iníquo (ou dar passos que levem à mudança) e para combater a bandidagem política, seu fruto podre mais visível, só há um caminho: a união e organização (respeitando e valorizando as diferenças) dos trabalhadores e trabalhadoras nas Organizações de Classe (Sindicatos e Centrais Sindicais), nas Organizações Sociais (Movimentos Populares e Centrais de Movimentos Populares) e nas Organizações Políticas (Partidos ou Correntes de Partidos Populares e Frentes Partidárias Populares). Unidos e organizados construiremos o Projeto Popular, que é o oposto do Projeto Neoliberal!
Por fim, um questionamento dentro de casa: Seguindo Jesus de Nazaré, os e as que somos cristãos e cristãs não deveríamos ser Profetas e Profetisas da Vida? Os e as que somos religiosos e religiosas não deveríamos ser radicalmente Profetas e Profetisas da Vida? Por que há tanta omissão de nossas Igrejas e - muitas vezes - nossa também, diante da bandidagem política: uma iniquidade estrutural e sistêmica, que - à luz da Fé - é o Anti-Reino de Deus? Onde estão, hoje, os Profetas e Profetisas da Vida, que - doando sua própria vida - anunciam o Reino de Deus, denunciam - sem medo e com coragem - tudo o que é contrário a esse Reino e lutam para fazê-Lo acontecer na história do ser humano e do mundo? Meditemos!







Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 01 de novembro de 2017


Nenhum comentário:

Postar um comentário