Como disse na
primeira parte do artigo, participar da 17ª
Romaria da Terra e das Águas, em Catalão (GO), no dia 03 deste mês de
junho, foi uma experiência boa. Todos e todas ficamos mais unidos e mais fortalecidos,
em nossa vontade de resistir e lutar com
fé, para cuidar da Casa Comum, criando uma cultura ecológica integral.
Entre outras pessoas,
Carla Oliveira, da Comunidade Macaúba, falou sobre o processo de resistência de sua família, que teve a posse da terra
tomada judicialmente pela mineradora MOSAIC. Com muita organização e luta, a família conseguiu o direito a uma
indenização justa pela terra. “Aqui em Catalão - afirma ela - nós chegamos
a um ponto que a gente teve que se unir e percebemos que juntos nós conseguimos
manter a esperança de alcançar a justiça”. Hoje, Carla acompanha famílias
de outras Comunidades que buscam direitos negados pelas mineradoras (Veja a 1ª
parte do artigo em: http://freimarcos.blogspot.com/2023/06/no-dia-03-desde-mes-de-junho-cerca-de.html).
Tendo consciência (apesar
dos ensinamentos do Papa Francisco sobre a Igreja sinodal e a Igreja “em saída”)
da forte corrente conservadora da Igreja hoje, contrária à Igreja renovada e
libertadora do pós-Concílio Vaticano II e da pós-Conferência de Medellín, permito-me
algumas reflexões pessoais, que querem ser uma crítica construtiva e, ao mesmo tempo, um alerta para as próximas Romarias.
- Antes de tudo, lembremos que a Romaria da Terra e das Águas nasceu umbilicalmente ligada ao novo Jeito de ser Igreja das CEBs, que é hoje - em nossa realidade - o jeito de ser de Jesus de Nazaré e das primeiras Comunidades Cristãs.
- Em sua luta, a Romaria deve expressar, testemunhar e celebrar esse novo jeito de ser Igreja.
- Não podemos permitir que a Romaria seja “enquadrada” num modelo de Igreja pré-conciliar, conservador e clerical.
- Tendo consciência que na Igreja de Jesus de Nazaré, todos e todas são iguais, irmãos e irmãs, na variedade e diversidade dos carismas (dons) e ministérios (serviços), devemos combater e evitar toda forma de poder clerical, “mitrado” ou não.
- A
dignidade está na pessoa humana e não no cargo que ela ocupa ou no serviço que
ela presta. É a pessoa humana que dá valor ao cargo ou serviço e não o contrário. O meu irmão ou irmã
Morador ou Moradora de Rua tem a mesma dignidade e o mesmo valor que o Papa. A
única diferença está na intensidade ou
profundidade do amor com o qual a pessoa humana ocupa o seu cargo ou presta
o seu serviço.
- Por ser a Igreja o Povo de Deus, é o Povo de Deus que celebra. Precisamos evitar que a Celebração final da Romaria seja formal, clerical, teatral e atemporal. Ela deve ser preparada pelo Povo, seguindo - na fidelidade ao Mistério Pascal - o método (caminho) “ver, julgar e agir”, ou seja, “analisar, interpretar e libertar”. A Romaria deve celebrar o Mistério Pascal na Vida (na Caminhada) e, ao mesmo tempo, a Vida (a Caminhada) no Mistério Pascal. Não pode ser uma Celebração “enlatada” e “triunfalista”.
- Na Romaria deve ter mais espaços para que o Povo possa se expressar livremente, dando seu testemunho e para que todos e todas possam ouvir a sabedoria que vem de Deus na voz do seu Povo e meditar sobre ela. Por isso, precisam ser valorizados os momentos da “fila do Povo” (como se costuma chamar) e a partilha da Palavra na Celebração final.
- Desejo profundamente que na Romaria da Terra e das Águas seja realmente vivido e testemunhado - na variedade e diversidade de suas expressões - o “jeito de ser Igreja“ das CEBs, que é o ”jeito evangélico de ser Igreja”, hoje.
- Lembro ainda que todo cristão ou cristã e toda Pastoral ou Movimento Eclesial tem a liberdade de fazer e viver experiências de fé radicais ou “de fronteira”, mesmo que não sejam assumidas oficialmente pela Igreja.
- Por fim, quando for necessário - para não perder o sentido original libertador da Romaria da Terra e das Águas num modelo de Igreja conservador e pré-conciliar - a Comissão Pastoral da Terra (CPT) pode assumir diretamente a coordenação da Romaria, sem envolver toda a Igreja local.
É isso que eu queria dizer com toda
sinceridade e amor à Igreja de Jesus de Nazaré. “Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela” (Ef. 5,25).
Goiânia,
19 de junho de 2023
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