sábado, 17 de junho de 2023

Resistência e Luta com Fé - 17ª Romaria da Terra e das Águas (1)

 


No dia 03 desde mês de junho, cerca de duas mil pessoas, vindas de diversos lugares da Diocese de Ipameri, de outras regiões do Estado de Goiás e do Distrito Federal reuniram-se em Catalão (GO) para a 17º Romaria da Terra e das Águas.

De Goiânia, participaram pessoas da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Paróquia Nossa Senhora da Terra (Jardim Curitiba, Região Noroeste), entre as quais este abaixo assinado (que teve a felicidade de acompanhar e conviver com as comunidade da Paróquia por diversos anos) e de Movimentos Sociais Populares. A ida de um ônibus lotado foi organizada – com muito entusiasmos – por um “Coletivo de Mulheres de luta” da Região, o apoio de jovens da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e a colaboração do nosso companheiro deputado estadual Mauro Rubem.

Tivemos ainda a presença de diversos religiosos e religiosas, padres e os bispos das Dioceses de Ipameri (a anfitriã), Dom Francisco; de Goiás, Dom Jeová Elias (referencial da CPT Goiás na CNBB); de São Luís de Montes Belos, Dom Lindomar; de Rubiataba e Mozarlândia, Dom Francisco Agamenilton; de Luziânia, Dom Waldemar (presidente da CNBB-Centro Oeste).

O tema da Romaria – como já é de conhecimento público – foi: “Cuidar da Casa Comum – Por uma Cultura ecológica integral” e o lema: “Convertei-vos e vivereis” (Ez. 18, 32).

A concentração para a caminhada se deu por volta das 13:30 horas “em frente à nova Igreja da cidade de Catalão, Paróquia de São Francisco de Assis, onde as caravanas foram acolhidas calorosamente. Todos e todas puderam se alimentar, assistir as primeiras apresentações culturais do dia e visitar a Tenda da Educação, onde crianças e jovens da Região expuseram trabalhos inspirados no tema da 17ª Romaria”.

Na abertura, Dom Francisco falou sobre o tema da Romaria e alertou: "A Igreja ao celebrar este momento, chama atenção de toda a Comunidade para os problemas maiores que vivemos. O Papa Francisco, ao nos brindar com a 'Laudato Sì', nos chama atenção para problemas que rondam a sociedade, sobretudo o aquecimento global, pelo descuido com a natureza. Se continuar assim, infelizmente, um futuro próximo deixará para a humanidade um saldo negativo, que pode tornar impossível a humanidade sobreviver. Há certas situações que são maiores, que dizem respeito ao que os políticos das Nações podem fazer acontecer, mas se não tomarmos consciência, acabamos aplaudindo ações que não são boas”.

Em depoimentos, Comunidades rurais - locais e de outros Municípios da Diocese de Ipameri - e Movimentos Sociais Populares denunciaram os impactos negativos das empresas de mineração da região sobre suas vidas e compartilharam o êxito das experiências de Resistência e Luta com Fé, alertando sobre a necessidade de tomar consciência das questões socioambientais.

Representantes dos Acampamentos Ana Ferreira e Oziel Alves Pereira do MST e da Comunidade de pequenos proprietários da Vala do Rio do Peixe “compartilharam também experiências de Resistência e Luta na terra, de práticas agroecológicas de produção de alimentos sem veneno nas lavouras comunitárias e de recuperação de nascentes”. 

A caminhada “foi um momento de fortes reflexões, que culminaram - na Praça Marca Tempo - com a apresentação teatral Caminho de Emaús, a encenação da passagem bíblica e a partilha real dos alimentos entre todos os participantes”.

Chamada dos Mártires - “um momento emocionante de memória dos agentes pastorais, religiosos e religiosas que perderam suas vidas na defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo - foi encerrada com uma homenagem às vítimas do COVID-19, simbolizadas pela presença do violão do agente e animador da CPT Goiás, Romerson Alves, que faleceu em 16 abril de 2021, sem ter a chance de se vacinar”.

A caminhada terminou na praça da Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde foi montada a estrutura para a realização da Missa Campal. A Celebração da Eucaristia foi encerrada com a entrega da cabaça simbólica da Romaria da Terra e das Águas para o bispo da Diocese de São Luís de Montes Belos, que irá sediar a próxima edição do evento.

Enfim, a participação na Romaria foi uma experiência muito bonita de Resistência e Luta com fé de irmãos e irmãs, seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré, que nos fez crescer na unidade e no compromisso para com um outro Brasil e um outro Mundo possíveis; o Reino de Deus acontecendo na história do Ser humano e da Mãe Terra, Nossa Casa Comum.

(Na segunda parte do artigo, farei algumas reflexões pessoais como crítica construtiva e, ao mesmo tempo, como alerta para as próximas Romarias da Terra e das Águas) 







Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 16 de junho de 2023




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos