domingo, 31 de janeiro de 2021

Um Governo que mata por asfixia Fora Bolsonaro!

 

            

           

O caso de Manaus representa o mais alto grau da irresponsabilidade do Governo Bolsonaro: um Governo que deixa faltar oxigênio e mata as pessoas por asfixia, morrendo sufocadas. Não dá para acreditar que, em pleno século XXI, possa acontecer tamanha barbárie! Trata-se de uma perversidade e iniquidade diabólicas! Se o Governo Bolsonaro fosse minimamente sério, humano e ético - numa situação dramática como a de Manaus (que seria muito difícil acontecer) - imediatamente tudo passaria em segundo plano, a fim de garantir com urgência o oxigênio necessário para as pessoas puderem respirar e continuar vivendo.

Diante da tragédia de Manaus - anunciada - e das que ainda poderão acontecer em outras regiões do Brasil - também anunciadas - o Governo mostra-se totalmente insensível e não toma nenhuma providência. É um descaso total!

“A rede pública de Saúde de Goiás - por exemplo - não entrou em colapso na primeira onda da pandemia de coronavírus em 2020 por conta da grande abertura de novos leitos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria. No entanto - alerta a rede - essa quantidade alta de novas vagas para a internação de pacientes com Covid-19 pode não se repetir na segunda onda em 2021” (O Popular, 22/01/21, p. 14)

Mesmo sabendo dessa realidade tão desumana, o Judiciário e o Legislativo - Câmara Federal e Senado - tornam-se coniventes com a criminalidade do Executivo. O Judiciário, pela inércia: nem fede e nem cheira; o Legislativo, pela ação ou omissão publicamente declaradas. É deplorável!

Reparem: “Parlamentares não veem motivo para o impeachment” (O Popular, 23 e 24/01/21, p. 4 - manchete). Dos senadores e deputados “a grande maioria não concorda que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ou acredita que não seja o momento para a ação” (Ib.).

O deputado Francisco Junior (PSD), por exemplo - que se diz cristão católico - afirma que o impeachment neste momento “não colabora em nada para o País” (Ib.). Pergunto: o que é que colabora para o País? Será que é a covardia e a conivência com a imoralidade pública dos deputados federais? Que absurdo!

O Brasil tem mais de 215 mil mortes por Covid-19 (Goiás, mais de 7 mil). Isso não diz nada aos nossos parlamentares e aos nossos juízes?

Bolsonaro - só no que diz respeito à pandemia - cometeu, e continua cometendo; três grandes crimes:

  1. O crime de deboche. Desde o início da pandemia da Covid-19, Bolsonaro debochou - e continua debochando - com uma frieza incrível e um cinismo sádico - da gravidade da pandemia, contrariando o parecer dos cientistas e da Organização Mundial de Saúde (OMS).
  2. O crime de falta de planejamento. Bolsonaro não fez - e continua não fazendo - nenhum planejamento sério, com a assessoria de cientistas, de combate à pandemia e de distribuição da vacina. Tudo foi feito - e continua sendo feito - na base do “toma-lá-dá-cá”.
  3.  O crime de responsabilidade. Bolsonaro é responsável por milhares de mortes - todas as mortes por asfixia (falta de oxigênio) e muitas outras - que poderiam ter sido evitadas com um planejamento de enfrentamento da pandemia que seguisse as orientações dos cientistas e da OMS. Ora, Bolsonaro fez - e continua fazendo - “corpo mole”, demostrando total indiferença e matando pessoas humanas por asfixia

O próprio reitor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Sylvio Puga Ferreira - diante da trágica situação de Manaus - enviou um ofício à Justiça Federal pedindo que a União seja obrigada - por decisão judicial - a fornecer com urgência o oxigênio.

Felizmente, no Brasil inteiro e até fora do Brasil - mesmo diante da surdez dos deputados e senadores e da inércia dos juízes - nas manifestações e carreatas do povo ecoa cada dia mais forte o grito: Fora Bolsonaro! Impeachment já! Vacinação já!

“Atrevo-me a dizer - declara o papa Francisco aos Movimentos Populares - que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas mãos de vocês, na capacidade de vocês se organizarem e promoverem alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (trabalho, teto, terra), e também na participação de vocês como protagonistas nos grandes processos de mudança, regionais, nacionais e mundiais” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).

Que as palavras do nosso irmão Francisco nos animem, renovem a nossa esperança e nos fortaleçam na luta! Unidos e organizados, já somos vencedores!

 



         


Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 25 de janeiro de 2021

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Uma fala irresponsável!

 


Depois de refletir muito sobre o assunto, senti a necessidade de manifestar publicamente a minha indignação - profundamente doída - de cidadão e de cristão católico diante da fala do padre Elenildo Pereira (da Canção Nova, na homilia da Missa do último dia 1º) contra o uso da vacina para combater a pandemia da Covid-19. 


Diz o padre: "Tá vindo aí revestido de coisa boa, chamada de vacina contra o coronavírus. Vindo revestido de uma coisa belíssima: proteção, saúde, salvar vidas. Cuidado que é só a capa, só a capa". Depois, percebendo (talvez) que poderia ser criminalizado - para amenizar sua fala - acrescenta: "Não tô dizendo que sou contra a vacina, não sou, sendo bem claro. Desde que passe por todos os testes possíveis e imagináveis. Todas as fases necessárias. Uma comprovação científica. Aí eu tomarei. Enquanto não houver comprovação científica, padre Elenildo não tomará vacina".


Pede, pois, uma resposta sobre o uso do medicamento ao Governo Federal. “Ministério da Saúde, que já comprou essa vacina me responda. Como eu compro um produto, sem comprovação científica, sem passar por todas as fases científicas e depois eu corro atrás da legalização? Dê um jeito. Mande um e-mail ou ligue para mim. Como se coloca em risco a vida das pessoas?”.


A fala de padre Elenildo é de uma irresponsabilidade inacreditável e inaceitável. Objetivamente falando (a consciência das pessoas só Deus julga), o padre cometeu duas faltas gravíssimas:


  1. Do ponto de vista social, a fala é criminosa por contribuir - e muito - com o aumento diário do número de doentes e de mortes por causa da pandemia do coronavírus.
  2. Do ponto de vista eclesial, é uma fala contra a comunhão, por “confrontar direta e desrespeitosamente” toda a Igreja, Povo de Deus (não: “toda a hierarquia”, como foi dito). Cidadãos e cidadãs, irmãos e irmãs, estamos pleiteando - e o mais rápido possível - a vacina contra a Covid - 19 como um direito de todos e de todas, a partir dos mais vulneráveis.

“Eu acredito que eticamente todo mundo deveria tomar a vacina. É uma opção ética  porque você aposta na saúde, na sua vida, mas também na vida dos outros” (Papa Francisco, 09/01/21). O papa foi vacinado contra a Covid-19 no dia 13 desse mês.


“Agora cabe a nós garantir que a vacina esteja disponível para todos, especialmente os mais vulneráveis. É uma questão de justiça. Devemos mostrar, de uma vez por todas, que somos uma única família humana” (Cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, 04/01/21).


“Não podemos nos render à indiferença de alguns, negacionismos de outros ou à tentação de nos aglomerarmos, permitindo que nos contaminemos e nos tornemos instrumentos de contaminação, sofrimento e morte de outras pessoas. Não deixemos que o cansaço e a desinformação nos levem a atitudes irresponsáveis. Sejamos fortes! Permaneçamos firmes” e que "a vacina seja para todos" (CNBB. 1º de janeiro/21).


“Prezado Povo de Deus, essa (a do padre Renildo) não é a posição da igreja no Brasil, dada pela CNBB. Procurem ler o pronunciamento da igreja, com as devidas orientações. Essas posições pessoais dividem, é um desserviço. Paz e vacina autorizada pelas autoridades sanitárias para todos” (Dom Joaquim Mol, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte - MG, e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB). 


Cristãos católicos e cristãs católicas sejamos uma Igreja em comunhão entre nós, em comunhão ecumênica com todos e todas que creem em Cristo e em comunhão macro ecumênica com todos os seres humanos e a Irmã Mãe Terra, nossa Casa Comum.


Meditemos! Unidos e unidas como família humana de irmãos e irmãs, exijamos nossos direitos! A vacina contra a Covid-19, pública e gratuita, é nosso direito!



Médico dando vacina a criança usando luvas Foto gratuita



Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br


Goiânia, 17 de janeiro de 2021


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Ser Igreja pobre


“O Vaticano II faz-nos passar de uma Igreja-poder para uma Igreja pobre, despojada, peregrina” (Dom Aloísio Lorscheider).       

Igreja pobre: é Igreja para os pobres, com os pobres e dos pobres; é Igreja que está do e ao lado dos pobres, caminhando juntos em busca da libertação e da vida; é Igreja simples, misericordiosa e solidária - a simplicidade, a misericórdia (a compaixão) e a solidariedade (a partilha) são o amor acontecendo; é Igreja de irmãos e irmãs, em comunhão entre si, com a Irmã Mãe Terra - nossa Casa Comum - e com Deus; é Igreja sinal visível (sacramento) da presença de Jesus de Nazaré no mundo; é Igreja que vive a pobreza-virtude e combate a pobreza-falta de condições por uma vida digna para todos e todas, que é uma violência institucionalizada, um mal social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural e religioso): pecado estrutural, anti-Reino de Deus.

Todos e todas somos chamados e chamadas a fazer parte dessa Igreja pobre. “Para servir de apoio aos pobres, é fundamental viver pessoalmente a pobreza evangélica” (Papa Francisco. Mensagem para o IV Dia Mundial dos Pobres, 2020, 4).

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres” (Lc 4,18). “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). A Opção pelos Pobres não é “preferencial” (uma alternativa entre duas ou mais alternativas), mas exclusiva. É a Opção de Jesus de Nazaré, é o caminho que Ele fez e é o único caminho para quem quer segui-lo. 

Sobre a Igreja pobre, meditemos os textos do Pacto das Catacumbas (16 de novembro de 1965) e do Pacto das Catacumbas pela Casa Comum (20 de outubro de 1919), em: http://www.ihu.unisinos.br/.

Igreja despojada: é Igreja pobre que, em sua caminhada de renovação - com avanços e recuos - se despojou de muitas influências negativas da sociedade imperial, feudal e capitalista, mas que tem ainda uma longa estrada a percorrer para voltar a ser hoje Igreja realmente evangélica. Vejamos! A Igreja precisa se despojar e libertar: 

- do poder temporal (do Estado do Vaticano: Jesus de Nazaré nunca quis uma Igreja-Estado); do poder clerical hierárquico (por exemplo, das cátedras: Jesus e São Pedro nunca sentaram em cátedras, a não ser na “cátedra” da cruz); dos comportamentos diplomáticos (“diga apenas ‘sim’, quando é ‘sim’ e ‘não’, quando é ‘não’” - Mt 5,37); 

- da construção de Santuários, Catedrais e Igrejas suntuosas (um exemplo histórico: a Igreja de S. Francisco de Assis - logo S. Francisco! - em Salvador - BA, com todo o interior coberto em ouro; um exemplo atual: o mirabolante e absurdo projeto do segundo Santuário novo do Divino Pai Eterno - o primeiro terminou há poucos anos - com o maior sino do mundo, em Trindade - GO; observação: a respeito das denúncias do Ministério Público de Goiás sobre o caso, veja o meu artigo: “A exploração dos pobres em nome da fé”, em: http://freimarcos.blogspot.com/);

- dos títulos honoríficos (‘Monsenhor’, ‘Sua Excelência ou Eminência Reverendíssima’, ‘Sua Santidade’ e outros); do barrete e das vestes cardinalícias de cor vermelho-púrpura (a farisaicamente chamada “sagrada púrpura”, um verdadeiro aparato imperial; hoje, os “cardeais” são os trabalhadores e trabalhadoras que representam legitimamente os “mártires da caminhada” e que - com fita vermelha no pescoço e boné vermelho na cabeça - organizam romarias e/ou celebrações em sua memória); das mitras e dos brasões dos bispos (outro aparato imperial, que não tem nada a ver com o Evangelho); das celebrações triunfalistas e cheias de pompa; dos paramentos e objetos litúrgicos luxuosos (por exemplo, um ostensório de ouro transportado em procissão, com Jesus - presente na pessoa dos pobres e descartados - assistindo deitado na calçada ao lado).

Igreja peregrina (romeira): é Igreja pobre e despojada “em saída” permanente, fazendo acontecer o Reino de Deus na história do ser humano e do mundo (retomaremos o assunto no último artigo da série: “Ser Igreja-missão”).

Um feliz tempo de Natal e um 2021 de muita luta e esperança. Lembremos: “O Natal de Jesus tem lado”  (veja em: http://www.ihu.unisinos.br/ ou http://freimarcos.blogspot.com/). 


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Reparem: dois irmãos em Cristo




Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 23 de dezembro de 2020


 


O artigo foi publicado originalmente em:

https://portaldascebs.org.br/2020/12/23/ser-igreja-pobre/ 

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos