segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Uma fala irresponsável!

 


Depois de refletir muito sobre o assunto, senti a necessidade de manifestar publicamente a minha indignação - profundamente doída - de cidadão e de cristão católico diante da fala do padre Elenildo Pereira (da Canção Nova, na homilia da Missa do último dia 1º) contra o uso da vacina para combater a pandemia da Covid-19. 


Diz o padre: "Tá vindo aí revestido de coisa boa, chamada de vacina contra o coronavírus. Vindo revestido de uma coisa belíssima: proteção, saúde, salvar vidas. Cuidado que é só a capa, só a capa". Depois, percebendo (talvez) que poderia ser criminalizado - para amenizar sua fala - acrescenta: "Não tô dizendo que sou contra a vacina, não sou, sendo bem claro. Desde que passe por todos os testes possíveis e imagináveis. Todas as fases necessárias. Uma comprovação científica. Aí eu tomarei. Enquanto não houver comprovação científica, padre Elenildo não tomará vacina".


Pede, pois, uma resposta sobre o uso do medicamento ao Governo Federal. “Ministério da Saúde, que já comprou essa vacina me responda. Como eu compro um produto, sem comprovação científica, sem passar por todas as fases científicas e depois eu corro atrás da legalização? Dê um jeito. Mande um e-mail ou ligue para mim. Como se coloca em risco a vida das pessoas?”.


A fala de padre Elenildo é de uma irresponsabilidade inacreditável e inaceitável. Objetivamente falando (a consciência das pessoas só Deus julga), o padre cometeu duas faltas gravíssimas:


  1. Do ponto de vista social, a fala é criminosa por contribuir - e muito - com o aumento diário do número de doentes e de mortes por causa da pandemia do coronavírus.
  2. Do ponto de vista eclesial, é uma fala contra a comunhão, por “confrontar direta e desrespeitosamente” toda a Igreja, Povo de Deus (não: “toda a hierarquia”, como foi dito). Cidadãos e cidadãs, irmãos e irmãs, estamos pleiteando - e o mais rápido possível - a vacina contra a Covid - 19 como um direito de todos e de todas, a partir dos mais vulneráveis.

“Eu acredito que eticamente todo mundo deveria tomar a vacina. É uma opção ética  porque você aposta na saúde, na sua vida, mas também na vida dos outros” (Papa Francisco, 09/01/21). O papa foi vacinado contra a Covid-19 no dia 13 desse mês.


“Agora cabe a nós garantir que a vacina esteja disponível para todos, especialmente os mais vulneráveis. É uma questão de justiça. Devemos mostrar, de uma vez por todas, que somos uma única família humana” (Cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, 04/01/21).


“Não podemos nos render à indiferença de alguns, negacionismos de outros ou à tentação de nos aglomerarmos, permitindo que nos contaminemos e nos tornemos instrumentos de contaminação, sofrimento e morte de outras pessoas. Não deixemos que o cansaço e a desinformação nos levem a atitudes irresponsáveis. Sejamos fortes! Permaneçamos firmes” e que "a vacina seja para todos" (CNBB. 1º de janeiro/21).


“Prezado Povo de Deus, essa (a do padre Renildo) não é a posição da igreja no Brasil, dada pela CNBB. Procurem ler o pronunciamento da igreja, com as devidas orientações. Essas posições pessoais dividem, é um desserviço. Paz e vacina autorizada pelas autoridades sanitárias para todos” (Dom Joaquim Mol, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte - MG, e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB). 


Cristãos católicos e cristãs católicas sejamos uma Igreja em comunhão entre nós, em comunhão ecumênica com todos e todas que creem em Cristo e em comunhão macro ecumênica com todos os seres humanos e a Irmã Mãe Terra, nossa Casa Comum.


Meditemos! Unidos e unidas como família humana de irmãos e irmãs, exijamos nossos direitos! A vacina contra a Covid-19, pública e gratuita, é nosso direito!



Médico dando vacina a criança usando luvas Foto gratuita



Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br


Goiânia, 17 de janeiro de 2021


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