quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Em defesa da Vida antes e depois do nascimento


No dia 14 de agosto, participei da 1a. MARCHA GOIANA DA CIDADANIA EM DEFESA DA VIDA.             Ver tantas pessoas (crianças, jovens, adultos, idosos) de diversos Movimentos, Organizações socias, Escolas, Universidades e Igrejas, gritanto unidos "Vida sim! Aborto não!", é um sinal de esperança.
Gostaria, porém, de sugerir ao Movimento Nacional em Defesa da Vida e ao Comitê Goiano em Defesa da Vida que, nas próximas Marchas, o "grito" seja em defesa da Vida antes e depois do nascimento. A vida  deve ser defendida em todas as situações, em todas as circunstâncias e em todas as idades. Só para lembrar, no mundo morrem de fome ou de suas consequências imediatas 100 mil pessoas, a cada dia (cf. Análise de conjuntura. Mimeo, Brasília, maio de 2008)
 Mesmo tendo consciência disso, neste Artigo, quero referir-me à vida das crianças antes do nascimento (desde a concepção) e depois do nascimento (até os 10 anos de idade). A nossa sociedade "aborta" (mata) crianças antes e depois do nascimento; é uma sociedade estruturalmente "abortista" e "infanticida".
Falando dos abortos (antes do nascimento), em 2007 Demétrio Weber escrevia: "o Relatório da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na sigla em inglês) divulgado nesta quarta-feira estima que 19 milhões de abortos clandestinos serão realizados no mundo este ano, provocando a morte de 70 mil mulheres, além de deixar seqüelas em milhares de outras. O estudo diz que mais de 96% das gestantes que perdem a vida ou sofrem danos à saude por causa de abortos inseguros vivem nos países mais pobres do planeta, a maioria na África. De acordo com a Federação, o Brasil é responsável por um milhão de interrupções de gravidez de forma insegura a cada ano e, segundo a ex-coordenadora de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde Maria José Araújo, os abortos ilegais são responsáveis pela morte de 180 a 360 mulheres por ano no país" (oglobo.globo.com/pais/mat/2007/05/30/295957896.asp).
Embora reconhecendo a gravidade dos fatos, como defensor da Vida, não posso  concordar nem com o aborto "legal" ou "seguro" nem com o aborto "clandestino" ou "inseguro". Sei, porém, que os abortos clandestinos, em sua grande maioria, são realizados em situações desumanas (quando não dramáticas e de desespero) por causa de uma sociedade estruturalmente injusta, uma sociedade que viola os direitos fundamentais do Ser humano, uma sociedade baseada em "um sistema econômico iníquo" (Documento de Aparecida - DA, 385) e uma sociedade com leis que descriminam as pessoas (Para lembrar um exemplo da nossa realidade: no Caso do Parque Oeste Industrial, num documento do Poder público estava escrito que "aquela área era imprópria para habitação popular").
É por isso que, diante de determinadas situações nas quais o oborto é realizado (sem querer eliminar totalmente a responsabilidade moral das pessoas envolvidas - só Deus sabe), temos que ter muita sensibilidade humana, acolher bem as pessoas e saber compreender.
Lembremos agora os "abortos" (matanças) de crianças que a nossa sociedade provoca depois do nascimento. A nossa sociedade injusta, desumana e anti-cristã é uma sociedade "abortista" e "infanticida".
No mundo, 12,9 milhões de crianças  morrem a cada ano antes dos seus 5 anos de vida (cf. www.webciencia.com); 11 mil crianças morrem de fome a cada dia (cf. www.pime.org.br - “Mundo e Missão”); uma criança, menor de dez anos, morre de fome ou de suas consequências imediatas, a cada cinco segundos. Em 2007, foram mais de 6 milhões de crianças mortas (cf. Análise de conjuntura. Mimeo, Brasília, maio de 2008)
Na América Latina, um milhão de crianças morrem, ao ano, pela pobreza extrema: 2.700 por dia, 114 por hora, quase 2 por minuto (cf. Agenda Latino-americana, 2005)
Precisamos refletir. “Este massacre diário ocasionado pela fome não obedece de modo algum a uma fatalidade. Por trás de cada vítima, há um assassino. A atual ordem mundial não é só mortífera, também é absurda. O massacre se produz no meio de uma normalidade glacial. A equação é simples: quem tem dinheiro come e vive. Quem não tem sofre, converte-se em um inválido ou morre. Não se trata de fatalidade. Todo aquele que morre de fome é assassinado”.
“Sobre bilhões de Seres humanos, os senhores do capital financeiro mundializado exercem um direito de vida e de morte. Mediante suas estratégias de inversão, suas especulações, as alianças que estabelecem e as campanhas de conquista de mercados que organizam, decidem dia-a-dia quem tem direito de viver neste Planeta e quem está condenado a morrer” (ZIEGLER, J. Direitos Humanos e Democracia mundial. Em: Agenda Latino-Americana, 2007, p. 26). Esta é uma situação de pecado social ou estrutural.
Existem alternativas. “Frente à usurpação dos recursos naturais, temos que advogar pela soberania alimentar: que as comunidades controlem as políticas agrícolas e de alimentação. A terra, as sementes, a água têm de ser devolvidas aos camponeses para que possam alimentar-se e vender seus produtos às Comunidades locais. Isso requer uma reforma agrária integral da propriedade e da produção da terra e uma nacionalização dos recursos naturais” (VIVAS, E. Frente à crise alimentar, que alternativas? www.correiocidadania.com.br, 25/11/08).
“Todo homem, mulher, criança, tem o Direito inalienável de  ser  livre  da fome  e  da desnutrição” (Nações Unidas. Conferência Mundial sobre Alimentação, Roma,1974).
Continuemos gritando e lutando em defesa da Vida. A esperança - sobretudo para os Cristãos - nunca morre. Um "mundo novo" é possível. Já existem "sinais" que ele está acontecendo.

Fr. Marcos Sassatelli, Frade Dominicano 
    Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
Goiânia, 20 de agosto de 2009

                             
A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos