segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Sínodo do Povo de Deus

 


Nesse tempo do Sínodo sobre Sinodalidade (outubro 21 - outubro 24), tivemos, e ainda temos, a possibilidade de viver - presencial ou virtualmente - o processo sinodal em todas as suas etapas: local, regional, nacional, continental e mundial. O tema é: “Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão”.

A 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre Sinodalidade será realizada em duas sessões: a primeira de 4 a 29 de outubro deste ano e a segunda em outubro de 2024.

Na vivência de todo o processo sinodal, a Igreja - graças a Deus e ao apoio do nosso irmão Papa Francisco - deu um passo, que a marcou profundamente e a tornou mais comunitária e mais de acordo com os ensinamentos do Concílio Ecumênico Vaticano II.

Mesmo mantendo o nome, “foram introduzidas novidades e mudanças em relação à composição dos participantes da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos de outubro deste ano no Vaticano: 70 ‘não bispos’ também participarão como membros votantes”. Eles e elas “são nomeados pelo Papa a partir de uma lista de 140 pessoas identificadas pelas Conferências Episcopais e pela Assembleia de Patriarcas das Igrejas Católicas Orientais (20 cada). Em outras palavras, cada Assembleia continental terá que propor uma lista de 20 nomes e o Papa escolherá 10 dentre eles”. Pede-se “que as mulheres sejam em 50% e que a presença dos jovens seja valorizada”.

Entre os 70 ‘não bispos’ temos presbíteros (padres), pessoas de particular consagração (chamadas Religiosos e Religiosas) e outros cristãos e cristãs (chamados leigos e leigas), provenientes das Igrejas locais.

Outra novidade é que a Assembleia contará também com a participação - mas sem direito a voto - de facilitadores, especialistas em vários aspectos do assunto em questão. Haverá também delegados fraternos, membros de outras Igrejas e Comunidades Eclesiais.

Os cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich (respectivamente Secretário-Geral e Relator-Geral do Sínodo) apresentaram as novidades na Sala de Imprensa da Santa Sé, no dia 26 de abril deste ano.

(Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2023-04/sinodo-coletiva-de-imprensa-vaticano-leigos-2023.html).

Tudo isso que aconteceu e está acontecendo no processo sinodal é positivo, mas falta muito ainda para que a Igreja volte às Fontes do Novo Testamento e dos Primeiros Pensadores Cristãos e seja realmente uma Comunidade de Irmãos e Irmãs (sem classes: Clero, Vida Religiosa, Laicato), iguais em dignidade e valor, que - na variedade dos dons e na diversidade dos serviços ou ministérios - vivem em comunhão à luz do Espírito Santo.

Jesus - antes de se entregar livremente para morrer na Cruz por amor -  pediu ao Pai: “Eu não te peço só por estes (os discípulos), mas também por aqueles/as que vão acreditar em mim por causa da palavra deles, para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. E para que também eles/as estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17, 20-21).

O Concílio Ecumênico Vaticano II no ensina: “O mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado. (...) Cristo manifesta plenamente o ser humano ao próprio ser humano e lhe descobre a sua altíssima vocação” (A Igreja no mundo de hoje - GS 22).

“A fé esclarece todas as coisas com luz nova. Manifesta o plano divino sobre a vocação integral do ser humano. E por isso orienta a mente para soluções plenamente humanas” (Ib. 11). “Todo aquele ou aquela que segue Cristo, o Homem perfeito, torna-se ele/ela também mais ser humano” (Ib. 41).

Ser cristãos ou cristãs na Igreja e no mundo significa ser plenamente ou radicalmente seres humanos. Ora, se a democracia é um valor humano, ser cristãos ou cristãs na Igreja e no mundo, significa também ser plenamente ou radicalmente democráticos/as.

Portanto, pela lógica e, sobretudo, pela coerência para com seus ensinamentos, a Igreja - como Comunidade de cristãos e cristãs, irmãos e irmãs - deve (ou, deveria) ser plenamente ou radicalmente democrática: um testemunho vivo de democracia. A própria Sinodalidade na Igreja, só será completa, quando for plena ou radicalmente democrática.

A Igreja Povo de Deus do Concílio Ecumênico Vaticano II é:

  • o jeito de ser Igreja que Jesus de Nazaré quis;
  • o jeito de ser Igreja das Primeiras Comunidades Cristãs e, hoje;
  • o jeito de ser Igreja das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

Para caminhar rumo a esse ideal - profundamente evangélico e plenamente sinodal - apresento uma Proposta concreta:

Que o Sínodo dos Bispos e sua Assembleia Geral (1ª sessão), de outubro deste ano de 2023, criem - em nível local, regional, nacional, continental e mundial - seus próprios substitutos: o Sínodo do Povo de Deus e sua Assembleia Geral.



(Entre outras, lembro duas experiências de Igrejas profundamente evangélicas e plenamente sinodais (democráticas): a Igreja local (Prelazia) de S. Felix do Araguaia-MT e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Por exemplo, à época de Dom Pedro Casaldáliga, na Assembleia da Igreja de S. Felix, o voto do bispo tinha o mesmo valor do voto de qualquer outro cristão ou cristã, membro da Assembleia)





Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 18 de setembro de 2023




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