(Continuo a série de artigos sobre o Ser humano, abordando outro tema)
O
Ser humano - por “ser-no-mundo" (“no-espaço” e “no-tempo”) “com-o-mundo” (o
mundo material e vivente e os outros, e o Outro absoluto/Deus), ou seja, por “ser-no-mundo”
conscientemente - percebe-se a si mesmo como um ser histórico.
"Os Seres humanos desenvolvem a consciência
no interior do desenvolvimento histórico real" (Marx, K. e Engels, F. A Ideologia Alemã (I -
Feuerbach). Hucitec, São Paulo, 19865, p. 44, nota *).
A dimensão
da "historicidade" é constitutiva e própria do Ser humano. Ora
- para o Ser humano - “ser-no-mundo" como ser histórico significa
“ser-no-mundo" como "projeto"
(tarefa) que se concretiza e realiza (historiciza) num "processo" contínuo. A "projetualidade" e a "processualidade"
são características do Ser humano enquanto ser histórico (sujeito da história,
que faz a história).
A liberdade humana - uma exigência e, ao
mesmo tempo, uma consequência da racionalidade - como possibilidade de escolha "situada” e "datada", é uma
componente determinante da historicidade.
Por
“ser-no-mundo" historicamente, o Ser humano é sempre um "vir-a-ser". O mundo - que no
Ser humano se torna história - apresenta-se ao Ser humano como algo já dado
(ser dado, realizado) e, ao mesmo tempo, como devir (ser ainda não dado,
possível).
A história do Ser humano (como projeto e
como processo sempre inacabados) é sua
existência e sua existência é, por assim dizer, sua essência.
"O
ser do Ser humano, que é movimento na história, nunca se acha realizado mas vai
se realizando, não está definitivamente dado, pois sua essência é um contínuo
estar-sendo” (Caldera,
A. Serrano. Filosofia e Crise. Pela Filosofia latino-americana. Vozes,
Petrópolis, 1984, p. 42).
Portanto,
"entendemos o ser do Ser humano como um fazer a história e como um
fazer-se pela história. Neste sentido, a própria ontologia, o ser, se torna
história. O ser do Ser humano acontece na história e pela história, e esta, por
seu lado, só se realiza através do desenvolvimento do ser. Há entre o ser e a
história uma unidade dialética (...)" (Ib., p. 44). A história não é a expressão
externa do Ser humano, mas a sua própria manifestação. "O ser do Ser
humano ao se manifestar o faz historicamente e o próprio ser é um manifestar-se
na história" (Ib., p. 45).
Em
síntese, a dimensão da "historicidade"
comporta:
* O fato que o Ser humano se encontra situado
numa tensão entre o passado já realizado por outros Seres humanos (a história
passada: patrimônio cultural, em sentido amplo) e novas possibilidades futuras
a serem realizadas, social e individualmente, pelos Seres humanos de hoje e de
amanhã (a história presente e futura: a cultura que acontece e que irá
acontecer, sempre em sentido amplo);
* A consciência de que o Ser humano - pela sua
racionalidade e liberdade "situadas" e “datadas” - pode intervir no
devir histórico;
* O assumir o mundo e a si mesmo no mundo como
tarefa, sublinhando a responsabilidade, que o Ser humano tem - para com a
história, sobretudo para com o futuro da humanidade (Cf. Gevaert, J. Il problema dell'Uomo. Introduzione all'Antropologia filosófica. Elle Di Ci,
Torino, 19814, p. 185. Ver também: VAZ, H. C. de
Lima. Ontologia e História. Duas Cidades, 1968, p. 267-280 (Cap. IX:
Consciência e História).
O Ser humano é, pois, totalmente histórico
(história), mas a historicidade não é - como veremos - a totalidade do Ser
humano (o Ser humano todo).
(No
próximo artigo começarei a refletir sobre o Ser humano histórico-social)
Compartilhando:
- Para uma visão mais
abrangente e mais aprofundada do tema dos artigos sobre Ética (ou, Antropologia ética), leia o
meu livro: Ética da Libertação: uma
abordagem filosófico-teológica. Editora Lutas Anticapital, Marília - SP,
2023 (384 páginas).
- Se estiver, pois, interessado/a em refletir - teológica e pastoralmente - sobre a Igreja renovada e libertadora (com um enfoque ético-cristão), leia o meu livro: Eclesiologia da Libertação: reflexões teológico-pastorais. Editora: a mesma, 2022 (120 páginas).
Marcos Sassatelli,
Frade dominicanoDoutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP)Professor aposentado de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
25 de outubro de 2023