terça-feira, 19 de novembro de 2024

CEBs: rostos diferentes, mas a mesma identidade

 


Com todo respeito e estima que tenho pelos meus Irmãos Pe. Manoel Godoy que levantou o assunto e Pedro A. Ribeiro de Oliveira que o desenvolveu (cf. https://portaldascebs.org.br/um-novo-jeito-de-ser-ceb/ - 24/08/24), não há a necessidade - no meu entender - de encontrar “um novo jeito de ser Comunidade Eclesial de Base” (CEB). Esse “novo jeito” não existe. Explico.


·     As CEBs sempre tiveram, têm e terão rostos diferentes, conforme as realidades históricas nas quais elas estiveram, estão e estarão - consciente e criticamente - inseridas. É nessas realidades que as CEBs nasceram, nascem e nascerão; cresceram, crescem e crescerão, cumprindo sua missão libertadora, que é a continuação da missão de Jesus de Nazaré.


·   As CEBs - com rostos diferentes - sempre tiveram, têm e terão a mesma identidade: a identidade evangélica.

Por terem rostos diferentes, as CEBs foram, são e serão sempre um “novo jeito de ser Igreja”

Por terem identidade evangélica, as CEBs foram, são e serão sempre um “antigo jeito de ser Igreja”: o “jeito” de ser das Primeiras Comunidades Cristãs, o “jeito” de ser de Jesus de Nazaré.

Atualmente, as CEBs - mesmo quando são tratadas com indiferença e desinteresse pelo Poder Eclesiástico Clerical e, às vezes, obrigadas a viver nas Catacumbas - estão vivas e não morrem, porque o Espírito Santo está com elas. É por isso que as CEBs - como ideal e meta a ser perseguida - são também um “novo jeito de toda a Igreja ser”.

Pela minha experiência de mais de cinquenta anos de convivência com o Povo de Deus nas CEBs e com suas Pastorais Socioambientais, dou testemunho que nas CEBs temos muitos irmãos e irmãs, cristãos e cristãs que são verdadeiros santos e santas.

Infelizmente, a Igreja Católica como Instituição - no decurso de sua história - cedeu à tentação do Poder (ao contrário de Jesus que a venceu) e se tornou uma Igreja Estado de três classes: Leigos/as (a grande maioria), Religiosos/as e Clero (diáconos, presbíteros e bispos) com muitos paramentos imperiais e títulos honoríficos (Monsenhor, Excelência, Eminência e outros): uma Igreja piramidal, hierárquica e clerical, que nada tem a ver com o Evangelho de Jesus de Nazaré.

Atualmente, as CEBs estão sendo propositalmente esquecidas pelo Poder Eclesiástico, que quer um modelo de Paróquia e de Diocese piramidal e clerical, contrário ao ensinamento do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín. 

Diante dessa realidade, precisamos tomar posição, denunciando profeticamente esse comportamento farisaico da Igreja Instituição e defendendo o jeito de ser Igreja das CEBs, que é o jeito de ser Igreja conforme o Evangelho: nosso jeito de ser Igreja, com a certeza que o Espírito Santo está do nosso lado.

Há alguns anos que a Igreja no Brasil, diplomaticamente, não fala mais de CEBs, mas de Comunidades Eclesiais Missionárias. Ora, será que a Igreja não sabe ou - o que é pior - finge de não saber que as Comunidades Eclesiais, para serem Missionárias, têm que ser de Base?

(Veja: https://freimarcos.blogspot.com/search?q=Comunidades+Eclesiais+de+Base+mission%C3%A1rias            

ou: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/597412-comunidades-eclesiais-de-base-missionarias e outros sites)

Nos Documentos atuais da Igreja, os Documentos da Conferência de Medellín não são lembrados nem na Lista de Siglas. Ora, para a Igreja do Brasil e da América Latina, esquecer a Conferência de Medellín, significa esquecer o Concílio Vaticano II.

Apesar de tudo isso, “as CEBs continuam sendo um ‘sinal da vitalidade da Igreja’ (Redemptoris Missio - RM 51). Os discípulos e as discípulas de Cristo nelas se reúnem na escuta e na partilha da Palavra de Deus. Buscam relações mais fraternas, igualitárias e inclusivas. Superam a cultura machista e o clericalismo. Celebram os mistérios cristãos e assumem o compromisso de transformação da sociedade e a defesa da criação, a Nossa Casa Comum” (Carta do 14º Intereclesial das CEBs).

Lembro mais uma vez: nos ensinamentos da Conferência de Medellín, a CEB (Comunidade de Fé, Esperança e Caridade) “é o primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve, em seu próprio nível, responsabilizar-se pelo valor da fé e sua expansão, como também do culto, que é sua expressão. Ela é, pois, célula inicial da estrutura eclesial e foco de evangelização e, atualmente, fator primordial da promoção humana e do desenvolvimento”. A CEB é uma “Comunidade local ou ambiental, que corresponde à realidade de um grupo homogêneo e que tenha uma dimensão tal que permita o trato pessoal fraterno entre seus membros” (Medellín, XV, 10).

A Paróquia passa a ser “um conjunto pastoral unificador das Comunidades de Base” (Ib. 13). Reparem: Comunidades de Base! (Por estar falando da Igreja, a palavra “cristã” ou “eclesial” está subentendida).

Se a Igreja do Brasil - dando o mau exemplo - não se sente obrigada a aceitar os ensinamentos da Conferência de Medellín, nós também - como cristãos e cristãs - não nos sentimos obrigados a aceitar os ensinamentos da Igreja do Brasil.

Aqueles e aquelas que querem acabar com a Igreja Povo de Deus e, mais especificamente, com as CEBs, lembrem que estão lutando contra o Espírito Santo.

Como foi dito no 1º Intereclesial (6-8/01/75) - e continua válido - as CEBs são “uma Igreja que nasce do Povo pelo Espírito de Deus”. E, se nasce do Povo pelo Espírito de Deus, não morre nunca.

Por fim, as CEBs são uma Igreja Pobre, para os Pobres, com os Pobres e dos Pobres. Elas são a Igreja de Jesus de Nazaré. Todos e todas somos convidados e convidadas a entrar nessa Igreja, inclusive os ricos. 

O Evangelho registra dois casos de encontro de Jesus com ricos: Zaqueu e mais um do qual o Evangelho não diz o nome. Na presença de Jesus, eles sentem-se obrigados a tomar uma decisão (não ficam “em cima do muro”, como se costuma dizer).

Zaqueu, encontrando-se com Jesus, ficou de pé, e disse: “A metade dos meus bens, Senhor, eu dou aos Pobres; e, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais” (Lc.19,8). O outro homem rico, dialogando com Jesus, disse-Lhe que observava os mandamentos desde jovem. Diante dessa afirmação, “Jesus olhou para ele com amor e disse: ‘Falta só uma coisa para você fazer: vá, venda tudo, dê o dinheiro aos Pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me’. Quando ouviu isso, o homem ficou abatido e foi embora cheio de tristeza (ao menos naquele momento), porque ele era muito rico” (Mc 10,21-22).

O caminho de Jesus - que as CEBs sempre seguiram, seguem e seguirão - está aberto a todos e todas.

O convite para entrar nesse caminho é de Jesus. A resposta é nossa e não tem meio-termo. Deve ser radical.


Marcos Sassatelli  Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 18 de novembro de 2024

                                                                                                                                                                      História das CEBs - Portal das CEBs

  


quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Aos Prefeitos/as e Vereadores/as eleitos dos Partidos Políticos Populares - Carta Aberta

 


Aos Irmãos/ãs, Companheiros/as de caminhada e de luta dos Partidos Políticos Populares (chamados “de esquerda”), que assumirão o Mandato - Serviço de Vereadores/as ou Prefeitos/as no início de 2025.

Junto com os meus parabéns pela vitória, desejo que vocês - na prática da Política Partidária Popular de Vereadores/as ou Prefeitos/as - sejam sempre coerentes com o Projeto de Sociedade e de Mundo (a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum) que vocês defendem e querem ajudar a construir.

Como Irmão e Companheiro de vocês - que por mais de 50 anos frequentou a “Universidade do Povo”, conviveu com o Povo nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nas Pastorais Sociais, nos Movimentos Populares e aprendeu muito com a sabedoria de vida dos Pobres (marginalizados, oprimidos, excluídos e descartados) - permito-me (a título de colaboração) apontar para vocês, novos Vereadores/as e Prefeitos/as dos Partidos Políticos Populares, alguns caminhos que vocês devem  percorrer no cumprimento de seu mandato.  


1.  ANUNCIEM com seu testemunho de vida e com sua palavra - de maneira clara e sem ambiguidades - o Projeto de Sociedade e de Mundo pelo qual vocês lutam: um Projeto igualitário (sem classes), justo, fraterno, comunitário (socialista e comunista, no verdadeiro sentido da palavra), com condições de Vida digna para todos/as, que denomino: Projeto Social Popular (PSP).

(Por “social” - no singular ou no plural - entendo sempre: socioeconômico, sociopolítico, socioecológico ou socioambiental, sociocultural e sociorreligioso)


2.   FAÇAM do seu mandato uma Comunidade de Companheiros/as, que - coordenada por vocês - presta serviços ao Povo, desde os Pobres e com os Pobres.


3.   VALORIZEM a diversidade na unidade: nos Partidos Políticos Populares e entre eles; nas Organizações Sociais Populares e entre elas; nas CEBs e Pastorais Sociais e entre elas. Todas essas Entidades Populares estão comprometidas com a construção do Projeto Social Popular (PSP): um Brasil Novo e um Mundo Novo acontecendo. “Trabalhador/a unido/a (e organizado/a) jamais será vencido/a”.


A diversidade na unidade se revela nas diferenças e divergências que - às vezes - há entre os Companheiros/as dessas Entidades Populares: na leitura - analise e interpretação - da realidade; na definição dos passos que podem e devem ser dados para transformá-la; e na disputa - que é legítima - por “serviços” (funções) em suas Entidades Populares.


A diversidade (diferenças e divergências) entre os/as que lutam pelo mesmo ideal, fortalece a caminhada.


4.    LUTEM - unidos/as e organizados/as - pelo Projeto Social Popular (PSP), fazendo Aliança entre os Partidos Políticos Populares; com as Organizações Sociais Populares (Movimentos Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Coletivos de Mulheres, Entidades de Estudantes, Comitês ou Fóruns de Direitos Humanos e de Cuidado para com a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum, Comissões de Justiça e Paz e outras); com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e com as Pastorais Sociais (Pastoral da Terra, Pastoral da Moradia, Pastoral da Saúde, Pastoral Operária, Pastoral Carcerária, Pastoral do Migrante, Pastoral do Povo da Rua e outras).


Essa Aliança lembra a todos/as que os Partidos Políticos Populares, as Organizações Sociais Populares, as CEBs e as Pastorais Sociais têm lado - o lado dos Pobres - e que suas lutas, por mudanças estruturais, conjunturais e pessoais, acontecem sempre desde os Pobres e com os Pobres. O maior exemplo disso é Jesus de Nazaré.


Os Partidos Políticos Populares, porém, nunca devem fazer Aliança (palavra que significa “Comunhão de Projetos) com os Partidos Políticos Conservadores (chamados “de direita”) que defendem a manutenção e o fortalecimento do Projeto Capitalista Neoliberal: um Projeto totalmente irracional, desumano, antiético e anticristão, que “exclui, degrada e mata” (Papa Francisco). É uma questão de coerência humana e ética.


Para nós, os Políticos desses Partidos não são somente adversários (que podemos ter também dentro dos nossos Partidos), mas inimigos. O errado - desumano e antiético - não é ter inimigos, mas odiar os inimigos. Nós temos inimigos, mas - seguindo o ensinamento de Jesus - amamos os inimigos e pedimos a Deus por eles para que mudem de vida. A única maneira, porém, de amar os inimigos (os opressores) é - como lembra Paulo Freire - lutar contra o Projeto de Vida deles.


Com os Partidos Políticos Conservadores, que defendem o Projeto Capitalista Neoliberal, só podem ser feitos Acordos pontuais em casos especiais e para resolver questões sociais emergenciais (que não podem esperar mudanças estruturais: um novo de Projeto Social).


5. RETOMEM - em seus Partidos Políticos Populares - o Trabalho de Base entre os Trabalhadores/as da cidade e do campo, formando Grupos de Pessoas interessadas em refletir crítica e comunitariamente sobre a Política Partidária Popular e - libertando-se da dominação ideológica dos Opressores - participar dela ou colaborar com ela conscientemente. Precisamos muito disso!


Os/as que nos comprometemos - de uma forma ou de outra - com a Política Partidária Popular, somos ainda uma minoria. Basta lembrar - por exemplo - que nas últimas Eleições Municipais, os Partidos Políticos Populares elegeram somente 749 Prefeitos, enquanto os Partidos Políticos Conservadores elegeram 4.511 Prefeitos (TSE).

A luta continua! Esperançar é preciso! A vitória é e será nossa! Abraços!

"Continuem a combater a economia criminosa com a economia popular”

(Papa Francisco. Aos Movimentos Populares, Roma, 20/09/24)


Marcos Sassatelli  Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 08 de novembro de 2024


domingo, 27 de outubro de 2024

O Ser humano histórico-individual (5)

 


(Continua a série de artigos sobre o Ser humano)

No Ser humano histórico-individual as dimensões da corporeidade, bio-psiquicidade e espiritualidade ou pessoalidade - que são dimensões "sexuadas" - inter-penetram-se (misturam-se, confundem-se), inter-dependem e inter-agem na unidade. Podem ser, logicamente, distinguidas, mas nunca, na prática, separadas.

A "corporeidade" nunca é só corporeidade (natural), mas é sempre corporeidade bio-psíquica e espiritual ou pessoal (corporeidade "humana"); a "bio-psiquicidade" nunca é só bio-psiquicidade (natural), mas é sempre bio-psiquicidade corpórea e espiritual ou pessoal (bio-psiquicidade "humana"); a "espiritualidade" ou pessoalidade nunca é só espiritualidade ou pessoalidade (desincarnada), mas é sempre espiritualidade ou pessoalidade corpórea e bio-psíquica (espiritualidade ou pessoalidade "humana").

Nas relações com os outros/as - relações individuais ou inter-individuais (que - como vimos - sempre acontecem numa sociedade historicamente determinada) - o Ser humano individual é, antes de tudo, "presença”.

"O termo 'presença' deriva de 'pré-ser' (prae-esse), que significa 'estar diante de alguém'. A ele liga-se também o presente temporal (passado - presente - futuro). A presença diz respeito só e unicamente a Seres humanos. As coisas não estão presentes. Elas estão simplesmente lá. As coisas nem estão ausentes, mas estão ou não estão aí. O mesmo uso linguístico mostra, portanto, a percepção da especificidade da presença humana. Aquilo que caracteriza a presença humana e a distingue do presente cronológico (tempo objetivo e matemático) e espacial (por exemplo, um cão na casa, uma árvore diante da porta) é a orientação aos outros Seres humanos" (GEVAERT, J. Il Problema dell'Uomo. Introduzione all'Antropologia filosofica. Elle Di Ci, 19814, p. 73-74).

A primeira e mais fundamental forma de presença do Ser humano individual (ser consciente de “ser-no-mundo", “ser-com-o-mundo”) é o fato que todo Ser humano individual vivente pertence ao gênero humano, à espécie humana. Encontra-se, por isso, num contexto de comunicabilidade e reconhecimento. Ele precisa ser tratado como Ser humano individual (não como coisa). Ele é um possível interlocutor de todos os outros Seres humanos individuais.

A segunda forma de presença do Ser humano individual é o fato da pertença a uma sociedade concreta (formação social), a um grupo humano concreto que vive num determinado ambiente sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religioso (Cf. Ib., p. 74).   

A terceira forma de presença pode ser caracterizada como "presença benévola, presença de amor: isto é, vontade de responder, de amar, de promover o outro; e isso não em abstrato, mas no efetivo assumir os problemas do outro. Esta forma de presença orienta-se diretamente ao tu do outro e se traduz em atenções cuidadosas, fidelidade, criatividade, previdência e providência. Esta é, no sentido forte do termo, uma presença criadora" (Ib.).

Nas relações com os outros/as, o indivíduo experimenta também muitas formas de “ausência”. Toda existência (convivência) humana torna-se, assim, um mixto de presença e ausência (união e separação, alegria e dor). A grande e fundamental ausência é, porém, a morte (passagem definitiva da história para a meta-história). Nela o indivíduo singular deixa (cessa) de "ser-no-mundo" e de se relacionar (comunicar) com os outros (voltaremos sobre o tema da morte).

Nas relaçôes com os outros/as, o Ser humano individual é ainda "expressão" (manifestação, revelação). Ele "exprime-se" (manifesta-se, revela-se) a si mesmo, em primeiro lugar, na realização ou não de suas possibilidades: corpóreas, bio-psíquicas e espirituais ou pessoais e, em segundo lugar, na utilização ou não das diversas formas de linguagem, que também são corpóreas, bio-psíquicas e espirituais ou pessoais (as expressões faciais, as maneiras de posicionar o corpo, de estar sentado, de caminhar, as manifestações afetivas, a comunicação de idéias pelo trabalho, pela palavra, etc.).

No Ser humano individual, "a consciência que pensa o objeto 'em-si' (natureza), deposita a significação que lhe confere na exterioridade da palavra; a consciência que pensa o objeto 'para-si' (liberdade), é ainda na palavra que encarna a significação de sua mais rigorosa autoposição. Dupla saída, duplo êxtase da consciência: aquele que manifesta a significação do 'objeto' e aquele que indica o sentido da 'decisão'. A palavra circunscrita pelos conteúdos do mundo, e a palavra suscitada pelas iniciativas da liberdade. Dupla linha de intencionalidade, intersecando-se em cada plano da consciência e em cada projeção no discurso, no 'logos' pensado e no 'logos' proferido: a intencionalidade da coisa e a intencionalidade do evento, a palavra 'natureza' e a palavra 'história'.

Ora, o paradoxo da exterioridade da consciência no sinal não se explica, se o 'para-si' da consciência não se apresenta no Ser humano, dentro da unidade de um mesmo movimento, como para-o-outro, como comunicação”.

E continua: “No Ser humano a consciência não é interioridade absoluta, puro espírito. Ela se dá a si mesma um corpo: não é o corpo-objeto, sujeito às causalidades físicas e biológicas, mas o corpo em permanente gênese de significação, o corpo do gesto, da palavra, do sinal em suma. A consciência, no Ser humano, é essencialmente anunciadora: ela proclama, invoca, define. Tal condição estaria condenada a uma total ininteligibilidade, se a face da consciência que se prolonga na exterioridade do sinal não fosse voltada para outra consciência, não projetasse, ao descobrir-se, o espaço humano da comunicação" (VAZ, H. C. de Lima. Ontologia e História. Duas Cidades, 1968, p. 274-275).

Enfim, podemos concluir estas reflexões dizendo que "o verdadeiro valor espiritual (portanto, também, corpóreo e bio-psíquico) do indivíduo depende do valor de suas relações reais" (MARX, K. e ENGELS, F. A Ideologia alemã - I Feuerbach. Hucitec, São Paulo, 19865, p. 54).

Obs.: Por achar que os “bens” são bons, mas que a “riqueza” indica uma relação desigual, injusta, desumana e antiética para com os “bens”, no texto citado - mantendo seu sentido figurado - troquei a palavra “riqueza” pela palavra “valor”).

No proximo artigo a respeito do tema, começaremos a refletir sobre o Ser humano meta-histórico.


 

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Cel. e WA: (62) 9 9979 2282
https://freimarcos.blogspot.com/

Goiânia, 23 de outubro de 2024

 

 

O artigo foi publicado originalmente em:

https://portaldascebs.org.br/o-ser-humano-historico-individual-5/  (08/10/24)


sexta-feira, 11 de outubro de 2024

“Uma administração séria sem ideologia” é possível?



A resposta é taxativa. Não! Toda Práxis humana (Prática ou Ação e Teoria ou Conhecimento), por ser histórica - situada (no espaço) e datada (no tempo) - é ideológica. O que vale é saber se se trata de uma Práxis ideológica que oprime e desumaniza ou de uma Práxis ideológica que liberta e humaniza.

Infelizmente, no Brasil o que mais ouvimos dos candidatos e candidatas a Prefeitos ou Prefeitas no 1º turno da Campanha das Eleições Municipais foram as palavras: “tenho experiência e farei uma administração séria sem ideologias” (ou outras semelhantes).

Essa afirmação revela ingenuidade política (prefiro pensar que seja isso) ou vontade premeditada de enganar o Povo: os Pobres.

Depois de dizer isso, esses mesmos candidatos e candidatas a Prefeitos ou Prefeitas - e até muitos candidatos e candidatas a Vereadores ou Vereadoras - costumavam apresentar uma lista de obras que - caso ganhassem - pretendiam fazer ou (no caso dos Vereadores e Vereadoras) ajudar a fazer, sem dizer o por que e o para que. Não diziam se era:

  • para reproduzir e fortalecer o Projeto Capitalista Neoliberal (o Projeto dominante): um Projeto de classes, de uma desigualdade gritante, perverso, desumano, injusto e antiético,

ou se era:

  • para abrir caminhos novos que - a partir dos Pobres e junto com os Pobres - fizessem acontecer um Projeto de Sociedade e de Mundo alternativo, que chamo Projeto Popular Socioambiental (PPS),        sociopolítico, socioeconômico, socioecológico, sociocultural e sociorreligioso: um Projeto sem classes, igualitário, fraterno, comunitário, humano, justo e ético (Projeto Socialista e Comunista no verdadeiro sentido da palavra), como foi e continua sendo o Projeto de Jesus de Nazaré, que (se não for deturpado, como muitas vezes costuma acontecer) é o mais revolucionário que existe.

Por fim, parabenizando os irmãos e irmãs, companheiros e companheiras de caminhada e de luta pelas vitórias (mesmo parciais) conseguidas no 1º turno das Eleições Municipais, permito-me - por uma questão de coerência humana e ética - dar três sugestões aos membros dos Partidos Políticos Populares (chamados “de esquerda”), que continuam Candidatos ou Candidatas a Prefeitos ou Prefeitas no 2º turno das Eleições Municipais, ou que pretendem candidatar-se a cargos políticos nas futuras Eleições Municipais, Estaduais e Federais.

Primeira sugestão: Anunciem, com convicção e clareza (sem acordos oportunistas), o Projeto Popular Socioambiental (PPS), sociopolítico, socioeconômico, socioecológico, sociocultural e sociorreligioso pelo qual lutam.

Segunda sugestão: Digam, com sinceridade, quais são os passos possíveis que, em seu mandato político, pretendem dar para que esse Projeto se torne - a

curto, médio e longo prazo - uma realidade.

Terceira sugestão: Apresentem, com firmeza e objetividade, quais são as ações assistenciais e promocionais que querem realizar para resolver situações desumanas emergenciais, que não podem esperar as mudanças estruturais.

Lembrem: “A misericórdia sempre será necessária, mas não deve contribuir para criar círculos viciosos que sejam funcionais para um Sistema econômico iníquo. Requer-se que as obras de misericórdia sejam acompanhadas pela busca de verdadeira justiça social, que vá elevando o nível de vida dos cidadãos e cidadãs, promovendo-os como sujeitos de seu próprio desenvolvimento” (Documento de Aparecida - DA 385).

Por fim, os e as que pertencemos aos Partidos Políticos Populares, aos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, e às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Renovada e Libertadora, precisamos voltar a nos comprometer - seriamente e em caráter permanente - com o Trabalho de Base (lembro-me, por exemplo, do tempo em que, para uma pessoa se filiar ao PT, era necessário que primeiro participasse de um Grupo Político de Base).

O Trabalho de Base é o único caminho para fazer acontecer o Projeto Popular Socioambiental (PPS), sociopolítico, socioeconômico, socioecológico, sociocultural e sociorreligioso no Brasil e no mundo.

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”
(https://www.ebiografia.com/frases_de_paulo_freire_explicadas_para_entender_suas_ideias/).
“Eleições livres de dominadores não abolem os dominadores nem os escravos”
(https://kdfrases.com/autor/herbert-marcuse).
Esperançar sempre! Nunca desistir!


Urna eletrônica - Foto: Reprodução/TRE

De acordo com dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE),
290.868 eleitores deixaram de comparecer às urnas em Goiânia
(número maior que os votos do 1º colocado: 214.253).
E a consciência política? Sem palavras!




Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282


Goiânia, 09 de outubro de 2024

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Antes de votar, “escutemos os Sinais dos Tempos”

 


No ano das Eleições Municipais para Vereadores ou Vereadoras e Prefeitos ou Prefeitas (como no ano das outras Eleições), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e dos Regionais, costumam publicar “Notas oficiais”, dirigidas aos Cristãos Católicos, Cristãs Católicas e a todo o Povo, sobre a Política Partidária.

Normalmente, essas Notas reafirmam princípios gerais da chamada Doutrina Social da Igreja, válidos para qualquer época e qualquer lugar. São Notas a-históricas, que não “escutam os sinais dos tempos”, fazendo a leitura crítica - análise e interpretação - dos acontecimentos à luz do Evangelho, como nos pede o Concílio Vaticano II.

“A Igreja para desempenhar sua missão, a todo momento (reparem: a todo momento e, portanto, também no momento das Eleições), tem o dever de escutar (perscrutar) os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho”. “É necessário, por conseguinte, conhecer e entender o mundo (repito: conhecer e entender o mundo) no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua índole frequentemente dramática" (A Igreja no mundo de hoje - GS 4).

Infelizmente, a Igreja Católica como Instituição, no decurso da história, cedeu à tentação do poder e incorporou em suas estruturas o pior do Imperialismo, o pior do Feudalismo, o pior do Escravismo e o pior do Capitalismo. Digo isso com muita dor no coração, por amar a Igreja e lutar para que ela - mesmo pecadora - seja realmente conforme o Evangelho.

Por exemplo, como pode a Igreja Instituição - em pleno século 19 - ensinar que a virtude do escravo era a submissão e a virtude do dono de escravos, a benevolência. E, pior ainda, como pode conviver com escravos e escravas em seus próprios quadros? Como conseguia conciliar isso com o Evangelho!?

Hoje, se a Igreja escutasse a todo momento os sinais dos tempos, interpretando-os à luz do Evangelho, com certeza denuciaria profeticamente o Sistema Capitalista Neoliberal como sendo a historicização do “pecado do Mundo”, do “pecado social ou estrutural” institucionalizado.

Um dado recente da realidade - entre muitos que poderiam ser citados - é suficiente para confirmar isso. “A riqueza dos cinco homens mais ricos mais que dobrou, entre 2020 e 2023, saindo de 405 bilhões de dólares para 869 bilhões de dólares. Enquanto 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres no mesmo período. A desigualdade e a fome aumentam dia após dia” (Jornal “Grito dos Excluídos e Excluidas”, ano 30 - número 81 - março/abril - 2024).

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e dos Regionais - com seus pronunciamentos a-históricos, que reafirmam valores universais sem escutar os Sinais dos Tempos - não acabam legitimando, consciente ou inconscientemente (só Deus sabe), situações conjunturais e estruturas socioambientais, socioeconômicas e sociopolíticas perversas, desumanas, injustas, antiéticas e sobretudo, anticristãs, que matam a maioria do nosso Povo? Do ponto de vista histórico, não é uma alienação? A Igreja Instituição não está usando das benesses do Sistema Capitalista Neoliberal, como usou das benesses da Escravidão?

“Pergunto-me - diz o nosso Irmão Papa Francisco - se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um Sistema que se tornou global. Reconhecemos que este Sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim - insisto - digamo-lo sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este Sistema é insuportável: não o suportam os Camponeses, não o suportam os Trabalhadores, não o suportam as Comunidades, não o suportam os Povos... E nem sequer o suporta a Terra, a Irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”. Este Sistema exclui, degrada e mata!” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15). E ainda: com muito realismo, Francisco afirma que hoje os Pobres não são excluídos (somente), mas descartados.

Depois do Concílio Vaticano II, e da Conferência de Medellín (o Concílio para a América Latina e Caribe), vivemos na Igreja, com muito entusiasmo, um período de profunda renovação, mas infelizmente - há algum tempo - a Igreja está voltando atrás. As palavras: “Libertação”, “De Base” e “Popular” tornaram-se praticamente “palavras proibidas”.

Na Igreja - como “Instituição capitalista” - existe muita hipocrisia, muito farisaismo. Os Documentos de Medellín, por exemplo, não são citados nem na Lista das Síglas! Hoje, a Igreja fala muito em Comunidades Eclesiais Missionárias, mas esquece-se de dizer que as Comunidades Eclesiais - para serem Missionárias - têm que ser De Base, ou seja, encarnadas na vida do Povo. Até os palácios episcopais estão voltando. Que vergonha! É uma afronta ao Evangelho.

E agora, uma advertência: os e as que pensam que “a Igreja das CEBs acabou”, estão enganados. O Espírito Santo não vai permitir. Mesmo nas catacumbas, elas estão muito vivas e vão voltar com mais força. É Jesus que quer!

Também atualmente, apesar de tudo, existe - graças a Deus - o outro lado da moeda e falo isso por experiência pessoal. Mergulhando na Igreja Povo de Deus, Povo Pobre das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), percebi que, nessas Comunidades, existe muita sabedoria e santidade que vem de Deus e que me fez crescer como Ser humano e como Cristão. Sou profundamente grato às CEBs. Tudo isso é motivo de esperança!

Por fim, pessoalmente - depois de escutar os Sinais dos Tempos - declaro com toda sinceridade: nenhum Ser humano consciente e, mais ainda, nenhum Cristão (Ser humano radicalmente consciente) deve votar em Partidos e Candidatos, que - em sua ideologia - apoiam, defendem e sustentam o Sistema Capitalista Neoliberal - totalmente irracional, perverso, desumano, antiético e anticristão (mesmo que, hipocritamente, esses Partidos e Candidatos ofereçam ao Povo algumas “balinhas” para enganá-lo e mantê-lo submisso, sem greves e sem revoltas).

Unidos e unidas vencemos e vencermos! Jesus está e estará sempre do nosso lado! “Somos Mundo Novo, Mundo Novo queremos”!




Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282


Goiânia, 23 de setembro de 2024


sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Por uma Política Partidária Ética

 


“O Ser humano, por um lado, experimenta-se limitado de muitas maneiras, por outro lado, sente-se ilimitado (infinito) em seus desejos e chamado a uma vida superior" (Conc. Vat. II. A Igreja no mundo de hoje - GS 10).

Em sua experiência existencial, o Ser humano percebe-se, ao mesmo tempo, como um ser histórico e meta-histórico: “já e ainda não” (na passagem de situações históricas menos humanas para situações históricas mais humanas) e “além da morte” (na passagem definitiva: a plenitude da Páscoa).

As dimensões da historicidade e meta-historicidade, são constitutivas do Ser humano.

Enquanto Ser histórico, o Ser humano é um ser situado (no espaço) e datado (no tempo). Por isso, sua Práxis (Prática e Teoria dialeticamente unidadas) é tambem situada e datada (com as limitações próprias do espaço e do tempo).

Na Práxis como Prática (Ação), a Teoria (Conhecimento: comum, científico, filosófico, teológico) está sempre presente; na Práxis como Teoria (Conhecimento: comum, científico, filosófico, teológico), a Prática (Ação) está sempre presente. 

Toda Práxis (Prática e Teoria) humana - com Fé cristã ou sem Fé cristã, com Religião ou sem Religião - é política:

- comprometida com a construção de um Novo Projeto de Cidade (Pólis), de Sociedade e de Mundo, justo, humano e ético, que é o Projeto Político Popular (PPP), Projeto Comunitário de Irmãos e Irmãs, ou

- comprometida - direta ou indiretamente - com a manutenção e o fortalecimento do Projeto de Cidade, de Sociedade e de Mundo injusto, desumano e antiético (legalizado e institucionalizado), que é o Projeto Capitalista Neoliberal ou Ultraneoliberal dominante. “Esse Sistema é insuportável, exclui, degrada e mata”. “Os Pobres não são só excluídos, mas descartados” (Papa Francisco).

Um dado recente da realidade - que ostenta acintosamente uma iniquidade social repugnante - confirma as palavras de Francisco. “A riqueza dos cinco homens mais ricos mais que dobrou, entre 2020 e 2023, saindo de 405 bilhões de dólares para 869 bilhões de dólares. Enquanto 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres no mesmo período. A desigualdade e a fome aumentam dia após dia. E as políticas sociais continuam sendo cortadas dos orçamentos públicos, porque a vida das pessoas que acessam os serviços públicos pouco importa” (Jornal “Grito dos Excluídos e Excluidas”, ano 30 - número 81 - março/abril – 2024, 1ª página).

Como Seres humanos - mesmo sendo diferentes - não temos todos e todas a mesma dignidade, o mesmo valor e os mesmos direitos? Por que então temos uma Sociedade - e até uma Igreja - de classes? Por que há tanta desigualdade e tanta injustiça institucionalizada?

A Práxis (Prática e Teoria) Político-Partidária é um dos meios - hoje fundamental - para fazer Política. Temos muitos outros meios, como a Práxis Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras, a Práxis Socioambiental dos Movimentos Populares, dos Coletivos de Mulheres, das Entidades de Estudantes, dos Fóruns de Direitos Humanos e de Cuidado com a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum e de muitas outras Organizações Populares.

Como cristãos e cristãs, temos ainda a Práxis das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), das Pastorais Sociais, das Comissões de Justiça e Paz e Outras.

Para que essa Práxis (Prática e Teoria) dos Partidos Políticos Populares chamados de esquerda) - como também das outras Organizações Populares - seja um meio para fazer Política ética só há um caminho: os Partidos Políticos Populares e todas as Organizações Populares - devem, clara e publicamentete, ter lado, o lado dos/as Pobres (Opção pelos Pobres). É com eles e elas que devem lutar, abrindo caminhos novos que fazem acontecer o Projeto Político Popular (PPP), Projeto Comunitário, baseado na Igualdade, na Justiça e na Fraternidade. Todos/as somos convidados e convidadas a entrar nesse caminho.

Aliança significa Comunhão de Projeto, mesmo com diferenças (que são positivas) na maneira de realizá-lo. Ora, por coerência ética, com os Partidos Políticos e as Organizações Sociais que defendem a manutenção e o fortalecimento do Projeto Capitalista Neoliberal só pode haver Acordos Pontuais para resolver situações emergenciais, mas nunca Alianças.

As “Alianças” oportunistas - mesmo que possibilitem algumas obras sociais de carater assistencial e promocional (o que em si é positivo) - na realidade fortalecem o Projeto Capitalista Neoliberal, evitando manifestações e greves de protesto do Povo Trabalhador. No fundo, essas “Alianças”, retardam a realização do Projeto Político alternativo: o Projeto Político Popular (PPP). 

E ainda: dizer que não podemos misturar Fé ou Religião com Política Partidária é um grande equivoco, que faz o jogo do Poder Dominador e Opressor e mantém o Povo submisso. Se eu sou um Ser humano de Fé Cristã (um Ser humano radical), é como tal que faço política partidária. A vida humana não se separa.

Ora, é uma hipocrisia muito grande usar a Fé ou a Religião para justificar e legitimar uma sociedade legal e estruturalmente injusta e antiética.

Por fim, mesmo diferentes, unidos/as e organizados/as, já somos vitoriosos e vitoriosas! Esperançar é preciso! Parabéns a todos os candidatos e candidatas dos Partidos Políticos Populares que estão do lado e ao lado dos Pobres e, com eles e elas, lutam pelo Projeto Político Popular (PPP), que é um Brasil Novo e um Mundo Novo acontecendo.


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Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP)

e em Teologia Moral (Assunção - SP)

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Goiânia, 05 de setembro de 2024



A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos