Em 2010, no
centenário de nascimento (04/04/1910 - Patos - PB) e nos 25 anos da Páscoa
definitiva (01/06/85 - Goiânia - GO) de Dom Fernando Gomes dos Santos, publiquei
o artigo “Dom Fernando: pastor-profeta” (Diário da Manhã. Opinião Pública, 23/12/10,
p. 17).
Neste ano de 2025, nos
40 anos de sua Páscoa definitiva (01/06) - pelo significado que o testemunho de
vida de Dom Fernando tem para a Igreja, sobretudo hoje - achei por bem retomar,
com reformalizações e atualizações, o que disse naquela época.
Desde o início da
década de 1970, quando - depois do Concílio Vaticano II (1962-65) e da
Conferençia de Medellín (1968) - vivíamos, com muito entusiasmo, um tempo de
profunda renovação da Igreja, tive a felicidade - que considero uma graça de
Deus - de trabalhar em Comunidades da periferia de Goiânia e, ao mesmo tempo, de
ser amigo e colaborador direto de Dom Fernando Gomes dos Santos como
Coordenador da Pastoral e Vigário Geral da Arquidiocese de Goiânia. Por isso,
fazendo a memória dos 40 anos de sua Páscoa definitiva, não posso deixar de dar
publicamente - mais uma vez - o meu testemunho.
Por ocasião de sua
morte ou, melhor dizendo, do dia em que "completou sua Páscoa", falei
que Dom Fernando foi "um Pastor-Profeta dos nossos tempos",
"fiel à Palavra de Deus e fiel aos apelos da realidade" (Revista da
Arquidiocese. Goiânia, ano 28, n. 6/7, junho/julho 1985, p. 393 e 426-427).
Dom Fernando tinha
uma personalidade forte, mas um coração muito grande. Era uma figura de
extraordinária profundidade humana; sabia compreender, com amor de pai e
ternura de mãe, as fraquezas do ser humano; ele foi sempre um irmão solidário
de todos e todas, especialmente dos mais pobres.
No depoimento, que
ele deu à Revista Eclesiástica Brasileira (REB), poucos meses antes de sua
Páscoa definitiva, depois de falar da ação pastoral do Secretariado da Pastoral
Arquidiocesana (SPAR), diz que ela "se complementa naturalmente no
gabinete do arcebispo, sempre aberto a ouvir a todos e todas, a qualquer hora.
Nesses encontros - em sua maior parte com pessoas pobres, marginalizadas e
oprimidas - tem acontecido que, além das palavras de estímulo, recebam, alguma
vez, o sacramento da Penitência, sem que ninguém saiba ou perceba.
Transforma-se, assim, em lugar privilegiado de reconciliação e de perdão"
(REB, março de 1985).
Quando, por causa de
sua tomada de posição clara, destemida e firme em defesa do povo, o acusavam de
ser contra o Governo, Dom Fernando dizia: “eu sou a favor do povo; quando o Governo
estiver a favor do povo, eu estarei com ele, quando estiver contra o povo, eu
estarei contra ele".
Como tive a graça de
conviver com Dom Fernando e ser - pela afinidade que tínhamos - pessoa da sua
confiança, quando alguém o procurava para tratar de um assunto que podia ser
resolvido no Secretariado da Pastoral Arquidiocesana (SPAR), o ouvi diversas
vezes dizer: "isso é com Frei Marcos".
Dom Fernando -
sobretudo depois do Concílio Vaticano II - era um homem que acreditava na
"Igreja dos Pobres" e vivia a comunhão e participação, numa Igreja
toda ela ministerial. Por isso, partilhava com os Padres, as Religiosas/os e os
Agentes pastorais leigas/os a responsabilidade do pastoreio.
Honra-me muito - e
considero isso uma graça de Deus - o reconhecimento de Dom Fernando a respeito
do SPAR, no depoimento já citado: "O SPAR tem sido o grande centro de
convergência e de irradiação de tudo o que se passa na Arquidiocese no campo
pastoral. Dotado de sede própria, que integra o conjunto Catedral-Cúria Metropolitana-Spar,
no centro da cidade, constitui o ponto mais dinâmico da Arquidiocese. Hoje o SPAR
conta com o coordenador da Pastoral, Frei Marcos Sassatelli, que é também
vigário geral, e com uma extraordinária equipe de sacerdotes, religiosas/os e
leigas/os competentes, de rara dedicação e eficiência. No SPAR, funcionam oito
Comissões que dinamizam as atividades fundamentais, referentes às prioridades
do Plano Pastoral, elaborado em Assembleia Arquidiocesana e constantemente
estudado nas reuniões e encontros. O SPAR produz, também, grande número de
boletins e impressos, que são divulgados nas Paróquias da Arquidiocese,
principalmente nas Comunidades da periferia, e que são encomendados por outras
Igrejas particulares do Brasil afora. Grande é também o número de cursos
ministrados nas Comunidades da capital e do interior" (REB, ib.).
À luz dos ensinamentos
da Conferência de Medellím, no Plano de Pastoral - aprovado em Assembleia
Arquidiocesana e publicado em forma de Cartilha e de Documento - as Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs) eram a prioridade das prioridades. E hoje!?
Como todo ser
humano, Dom Fernando tinha também suas limitações e seus defeitos, mas era um
homem de uma só palavra, um homem íntegro, um homem "sem violência e sem
medo". Com inabalável fidelidade, amava muito a Mãe Igreja, mesmo, às
vezes, sofrendo profunda e silenciosamente por causa das incompreensões de
irmãos da própria Igreja (cf. O Testamento de Dom Fernando. Revista da
Arquidiocese. Goiânia, ano 28, n. 6/7, junho/julho 1985, p. 356).
Dom Fernando, como
"pastor-profeta dos nossos tempos" e como "defensor e advogado
do povo" (capa da REB de março de 1985), era também implacável na denúncia
e na luta contra as injustiças sociais. Era respeitado e temido pelos
poderosos, sobretudo nos tempos difíceis da ditadura militar.
Dom Fernando era um
homem fiel à Palavra de Deus e fiel aos apelos da realidade, "Para desempenhar sua missão,
a Igreja, a todo momento, tem o dever de escutar os sinais dos tempos e
interpretá-los à luz do Evangelho (...). Por conseguinte, é necessário conhecer
e entender o mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua
índole frequentemente dramática" (Concílio Vaticano II, A Igreja no mundo de
hoje - GS, 4).
Que a memória
do testemunho de Dom Fernando Gomes dos Santos - primeiro arcebispo da
Arquidiocese de Goiânia - nos 40 anos de sua Páscoa definitiva, nos ajude a
sermos, sempre mais, uma Igreja verdadeiramente evangélica, comprometida com a
Boa-Notícia do Reino de Deus no mundo de hoje, “desde os pobres, com os pobres
e para os pobres”: o único caminho para sermos uma Igreja para todos e todas. A
caminhada continua! Esperançar é preciso!
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