Estamos na iminência de
um novo Parque Oeste Industrial, de uma nova tragédia anunciada para o dia 4 (quarta-feira)
do corrente mês. O nosso Judiciário é total e descaradamente atrelado aos
interesses econômicos dos poderosos. O juiz da Comarca de Corumbá de Goiás,
Levine Raja Gabalha Artiaga - que deu a liminar de despejo - e o desembargador
do Tribunal de Justiça de Goiás, Marcos da Costa Ferreira - que dia 2
(segunda-feira) manteve a liminar - são um exemplo típico desse atrelamento. A
Lei está acima da Vida. A Justiça é injusta e viola permanentemente os Direitos
Humanos fundamentais, como o Direito à Terra, o Direito à Moradia e o Direito
ao Trabalho, que - diz o Papa Francisco - são Direitos Sagrados para todos e
para todas.
Pergunto: cadê o Governo Federal dos Trabalhadores/as?
Por que o Governo não desapropria os latifúndios improdutivos para fins de uma
verdadeira Reforma Agrária Popular? Por que é tão omisso e covarde? Tudo -
inclusive a desavergonhada falta de Ética - é justificado em nome da
governabilidade. Que governabilidade é essa? O que os Trabalhadores/as querem é
a governabilidade popular, que abre caminhos para uma mudança política
estrutural e um novo modelo de sociedade, e não a governabilidade capitalista
neoliberal, que serve para fortalecer o sistema dominante.
O caso do senador Eunício de Oliveira é paradigmático.
Existem graves denúncias sobre a maneira como o senhor Eunício adquiriu suas
pretensas propriedades (incluindo a Fazenda Santa Mônica, parcialmente ocupada
pelos Sem-Terra), sobre a maneira como “se livrou” dos pequenos proprietários,
sobre a maneira como adquiriu a documentação das propriedades, sobre a maneira
como sonegou os impostos, e outras.
Diante
de tudo isso, o que nós temos é o silêncio absoluto do Governo Federal.
Inclusive - conforme me contaram - numa reunião de negociação, um representante
do Executivo deu a entender claramente que o Governo não quer briga com o
senador. Quanta omissão! Quanta mesquinhez! Quanta podridão!
Presidenta
Dilma, deixe de ser covarde! Seja mulher! Honre o seu passado! O Governo
Federal tem a obrigação moral (se é que ainda sabe o que é obrigação moral) de averiguar
as denúncias contra o senhor Eunício e - se comprovadas - de processar, julgar
e condenar o senador. Se o Governo não fizer isso, torna-se conivente com a
criminalidade. E quem é conivente com a criminalidade, é também criminoso.
Chega de tanta maracutaia e de tanta sem-vergonhice!
O
nosso total apoio e a nossa irrestrita solidariedade aos Sem-Terra, ocupantes do
Acampamento Dom Tomás Balduíno. Irmãos e irmãs, como dizia o próprio Dom Tomás
em outra situação semelhante, “eu só posso abençoar a resistência de vocês”.
Deus está do lado de vocês e os responsáveis por um eventual despejo violento
lembrem-se que, combatendo contra vocês, estarão combatendo contra Deus. E
combater contra Deus vai ficar muito caro. Deus é justo e está sempre do lado
dos injustiçados.
Apesar
de tudo, nessas alturas dos acontecimentos, ainda espero que o governador de
Goiás, Marconi Perillo e a presidenta Dilma Rousseff, reflitam e coloquem a mão
na consciência antes de cometer mais uma barbárie contra cerca de três mil e quinhentas
famílias de trabalhadores e trabalhadoras. O governador e a Presidenta têm a
autoridade de - antes de cumprir a liminar de despejo - estipular um prazo
razoável para que se busque uma solução através do diálogo e dentro de
critérios de justiça..
Faço um último apelo aos policiais e aos seus comandantes
que - se não prevalecer o bom senso - serão os executores do despejo dos
ocupantes do Acampamento Dom Tomás Balduíno: em nome da “objeção de
consciência” (que é praticada em muitos países do mundo inteiro) desobedeçam. Sigam
o exemplo heroico daquele trabalhador que, dirigindo um trator, se negou a
derrubar o barraco de um outro trabalhador e preferiu ser preso.
O
próprio Jesus de Nazaré - em sua época - praticou muitas vezes a desobediência
civil e religiosa para defender a verdade e a justiça.
Diante da proibição do Sinédrio de ensinar em nome de
Jesus, Pedro e os outros apóstolos responderam: “é preciso obedecer antes a
Deus do que aos homens” (At 5, 29). É isso o que nós devemos fazer no caso do
Acampamento Dom Tomás Balduíno e em outros casos semelhantes! Desapropriação da
Fazenda Santa Mônica, já! Reforma Agrária Popular, já!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 03 de março de 2015
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